Chamam a Sentosa o “parque de diversões preferido da Ásia”. Mas a verdade é que só visitámos a ilha Sentosa como alternativa ao plano inicial de fazer um passeio na copa das árvores numa das maiores reservas naturais de Singapura. Só não saímos desiludidos porque as expectativas já eram praticamente nulas – Sentosa é o exemplo perfeito de um mundo de plástico.
Dedicámos um dos últimos dias da nossa curta estadia em Singapura à ilha Sentosa. Foi a alternativa ao plano inicial, que era levar a Pikitim a fazer um pequeno trilho junto à copa das árvores: o tree top walk na Reserva Natural MacRitchie. Mas os corpos ainda acusavam muito o jet lag, e o plano que implicava quatro a cinco horas de caminhada acabou por nos parecer demasiado pesado. Um passeio na ilha Sentosa seria potencialmente prazenteiro e fisicamente menos exigente.
O parque de Sentosa é uma ilha situada ao sul de Singapura com pouco mais de cinco quilómetros quadrados. E foi transformado num parque de diversões – sem que com isto se deva pensar que há qualquer semelhança com os muitos parques temáticos que há pelo mundo. Sim, também tem um parque de diversões temático (é lá que está instalado o parque da Universal Studios, onde se pode conviver com as personagens dos filmes Shrek e Madagascar), mas é muito mais do que isso. Sentosa é antes casa de muitas outras atrações, e para quase todos os gostos. Por exemplo, o Marine Life Park, ainda por abrir, apresentado como um dos maiores oceanários do mundo com o maior rio de floresta tropical jamais construído pelo homem.
Este rio (que nós não fomos ver, porque tudo em Sentosa se paga e nós, em termos de pagamento, ficámo-nos pela entrada no recinto, que custa dois dólares por pessoa) pode ser um bom exemplo do que é Sentosa, e, numa escala maior, do que é toda a cidade-ilha-país de Singapura: tudo é perfeito, mas é tudo artificial. Não diremos artificialmente perfeito (porque as coisas, de facto, funcionam, e quem transgride é penalizado), mas não nos deixa esquecer que, de alguma maneira, tudo é fabricado, nada é natural. A cidade de Singapura pareceu-nos, muitas vezes, um gigantesco centro comercial, onde tudo está planeado e arquitetado e tudo é zelosamente gerido por uma qualquer administração. E a comparação com os centros comerciais é real e não forçada, já que é possível andar quilómetros no subsolo, entre redes de metro e túneis de acesso a estes centros comerciais.
Por exemplo: uma das formas de entrar no recinto de Sentosa é utilizando um pequeno comboio (“ó mãe, não há ninguém a conduzir este comboio!”, reparou logo a sempre atenta Pikitim), transporte esse que se apanha… no terceiro andar de um centro comercial (o VivoCity). A outra forma de entrar em Sentosa é percorrendo a pé um passadiço que nos deixa vislumbrar a intensa atividade do porto de Singapura, uma das maiores potências económicas não só do país, mas de toda a região. Foi o que nós optámos por fazer. E esse percurso não escapa ao paradigma da falsidade irrepreensível; ao longo dos poucos mais de 1.500 metros, o troço tem passadeiras rolantes para poupar as pernas dos mais preguiçosos e está decorado com paisagem e vegetação a simular vários ambientes marinhos. Tudo perfeito, tudo artificial.
O recinto funciona como um gigantesco condomínio fechado, onde há hotéis, campos de golfe, spas (como alguns dos famosos fish spa, um tratamento que consiste em mergulhar os pés num tanque onde pequenos peixinhos se dedicam a remover as peles mortas com as suas mordidelas), museus, parques naturais e parques de diversões. Pior: tudo foi idealizado não apenas para que os visitantes se sintam bem mas, sobretudo, para que consumam.
Exemplo? O nosso único objetivo real em Sentosa era conhecer a praia (artificial) de Palawan, mas o percurso a pé não estava sinalizado – a sinalética na Beach Station do Sentosa Express apontava para uma casinha onde se alugavam Segway. O acesso à praia de Palawan funciona na perfeição para os que entram na ilha através do Sentosa Express e posteriormente apanham um autocarro no recinto (ou alugam as tais Segway). Para os que querem passear a pé, sem gastar dinheiro, não.
Alheia a todos estes paradoxos, para a Pikitim a ilha de Sentosa era apenas mais um sítio para correr e saltar. E estava feliz. Mas o que foi, então, para a Pikitim, “o maior parque de diversões da Ásia”? Foi, sobretudo, o sítio onde se estreou nos mares asiáticos; e onde experimentou, pela primeira vez, a água quentinha destas paragens. E foi o sítio onde disse que havia uma “ilha dos piratas”, com uma casinha na árvore, acessível por uma ponte suspensa. A ilha dos piratas era, afinal, aquilo que era indicado como o ponto mais a sul da Ásia continental, na praia de Palawan; e a casinha na árvore foi o miradouro onde a Pikitim quis subir e espalhar as suas Polly Pocket para mais um momento de brincadeira.
Tínhamos lido várias opiniões sobre Sentosa. As que diziam que uma visita a Singapura não ficava completa sem uma incursão a esta ilha; e outras que diziam que Sentosa, afinal, queria dizer “So Expensive and Nothing TO See Also” (tradução: “tão caro e nada para ver”). No final, Sentosa só não nos desiludiu porque as expectativas eram quase nulas. Mas a verdade é que também não convenceu. É o exemplo acabado de um mundo de plástico.
O site oficial da ilha Sentosa está acessível em www.sentosa.com.sg.
Guia prático
Onde ficar em Singapura
Eu fiquei alojado no simples mas decente hostel Mitraa Inn. É relativamente bem localizado, na zona de Little India; mas o principal motivo para a escolha foi o preço. Entre os hotéis em Singapura com melhor relação qualidade/preço estão o incrível AMOY by Far East Hospitality e as cápsulas do moderno Cube Boutique Capsule Hotel @ Chinatown.
Se quiser ficar alojado em Marina Bay, um dos melhores hotéis é o The Fullerton Bay Hotel Singapore, embora o mais emblemático e popular seja, de longe, o Marina Bay Sands. São ambos dispendiosos, mas consta que valem pela experiência. Para outras opções utilize o link abaixo.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Sobre o Diário da Pikitim
Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.
Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.
Os mundos de plástico asiáticos fazem certamente parte da experiência. Imagino que se viva numa dimensão muito diferente nessas gigantescas cidades!
Obrigada pelo relato :)
Bem…nem sei que diga! É impressionante! Gostei de ler e saber que existe mas estou com dificuldade em ‘visualizar’! Parece tirada do ‘admirável mundo novo’ (e eu nunca gostei do raio do livro! :P)