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Ilhas Cíclades, privilégio grego

Por Ana Isabel Mineiro
Cíclades, ilhas gregas
Cíclades, ilhas gregas

Chamaram-lhes Cíclades (Kykládhes) por formarem uma espécie de círculo (kyklos) à volta da ilha sagrada de Delos. Mesmo não sendo verdade, vale a pena ir confirmar o posicionamento privilegiado destas ilhas gregas, ancoradas em pleno Mediterrâneo. Aqui fica um olhar sobre as ilhas Mýkonos, Delos, Naxos, Iráklia, Amorgós, Thíra (Santoríni) e Anáfi, na Grécia.

Grandes e pequenas, turísticas e remotas, percorremos sete destas ilhas gregas irmãs, e verificámos que é difícil gostar mais de uma do que de outra. Só as nossas idiossincrasias pessoais podem levar-nos a preferir o cosmopolitismo de Mykonos ao isolamento de Iráklia, a beleza de Amorgós ao charme de Thíra, mas todas elas sabem proporcionar momentos perfeitos.

Mýkonos, a cubista

Entardecer em Mýkonos, Grécia
Entardecer em Mýkonos, Grécia

É a mais popular e cara das Cíclades. Possui a mais bonita e bem preservada khora, com ruelas labirínticas que se destinavam a desorientar os piratas, uma vez que se situa junto ao porto. Hoje são as multidões de turistas que por aqui se perdem durante a estação estival.

Junto ao porto passeiam-se pelicanos e, mais adiante, fica o bairro de Alefkándra, conhecido por “pequena Veneza” graças às suas casas quase lacustres. A vida nocturna é intensa e variada, reflectindo o cosmopolitismo desta ilha, que também concentra uma grande comunidade gay.

Quanto às praias, a maior e mais sossegada tem sido a de Elía, na costa sul, também por o acesso não ser muito fácil – o melhor é alugar uma motorizada.

Árida e seca, Mykonos é mais interessante pelas povoações do que pela sua natureza tão inóspita. Cá em baixo, à beira de água, encontramos a alva Igreja de Paraportianí, ex-líbris de uma ilha cor de terra. Aos fins de tarde, um padre vestido a rigor vem tocar o sino, lembrando que a religião ortodoxa também faz parte da vida insular.

A primeira visão, à chegada, fica como última memória: o aglomerado de casinhas brancas coroadas por uma fila de moinhos de vento, coladas umas às outras, como um pequeno monte de cubos de açúcar com esquinas arredondadas e chaminés “algarvias” – o ponto máximo de uma arquitectura cubista muito típica das Cíclades.

Delos, a ilha-museu

Facilmente acessível a partir de Mýkonos, é servida por barcos que começam a sair do porto às 8h30. A viagem é curta e o último barco regressa às 3 da tarde. Como em todos os museus, é proibida a permanência depois da hora de fecho, e encerra ao público às segundas-feiras. Não falamos apenas do edifício do museu, onde se exibem algumas das descobertas mais preciosas, mas de toda a área da ilha, que está, inclusive, proibida a barcos de recreio.

Delos, a ilha-museu
Delos, a ilha-museu

É uma experiência única chegar no primeiro barco e deambular quase em solitário pelo que resta da cidade: ruas, casas, belíssimos mosaicos, templos, estátuas – os famosos leões de Delos, por exemplo -, um teatro, o lago sagrado e muitas colunas trabalhadas vão surgindo, enquanto nos dirigimos ao cume do monte Khíntos.

A vista abrange uma vasta área de mar azul turquesa, de onde se levantam as manchas pardas das Cíclades. Provavelmente, foi neste ponto que surgiu a ideia enganadora de Delos ser o centro do arquipélago. Foi um importante centro, sim, mas religioso, com apogeu entre os séculos III e II a.C. E ainda lhe sobram abundantes vestígios dessa antiga grandeza, como os templos de Apolo e Dionísio, perto do museu.

Naxos, em terra firme

Nunca precisou do negócio do turismo, mas ele chegou e impôs-se. Naxos é a maior e a mais fértil das Cíclades, a única com nascentes de água no seu interior e uma agricultura pujante que a leva, por exemplo, a “exportar” batata de semente para o resto do país. São famosos os seus citrinos, produz-se mel, queijo, azeitona e legumes, para além de vinho.

Graças ao seu tamanho, é o único lugar do arquipélago onde podemos esquecer o mar. Viajando pelo seu interior montanhoso, encontramos não só o ponto mais alto das Cíclades – os 1.000 metros do monte Zás – como povoações de pedra, que em nada lembram as aldeias piscatórias do costume. Bem no interior fica Khalkí, que já foi a cidade mais importante, até o mar recuar, e o porto ficar longe demais.

Vista de Naxos, a maior das ilhas gregas das Cíclades
Vista de Naxos, a maior das ilhas gregas das Cíclades

É difícil encontrar nas ilhas lugares tão facilmente identificáveis com a Grécia continental: campos de oliveiras e limoeiros, capelas e alminhas espalhadas pelos montes em volta, e uma curiosidade: a original Panagía Dhrossianí, um dos mais antigos mosteiros do arquipélago, datado do século VI.

Como fez parte do ducado veneziano entre os séculos XII e XVI, a sua arquitectura é realmente diferente, com casas e torres fortificadas – os pirgi – espalhadas pelas aldeias e pela costa. A própria khora, que nos espera junto ao porto, tem um cheirinho italiano. Os mais famosos vestígios helénicos são as estátuas inacabadas em mármore local, os kouri, e o grande portal do templo de Apolo, que anuncia aos barcos a chegada à “ilha menos ilha” do arquipélago.

Iráklia, tamanho é formosura

Faz parte do grupo de ilhas a que se costuma chamar “as pequenas Cíclades”. Mas Skhinoússa, as duas Koufoníssi (Grande e Pequena), Dhonoússa e Kéros, ainda são mais pequenas. Pelo seu tamanho diminuto e população reduzida, possui apenas uns cerca de três quilómetros e meio de estrada, entre o porto e a khora. O resto são carreiros, que atravessam a terra pedregosa e coberta de arbustos sem quase nunca conseguir chegar muito perto do mar, que fica no fundo de falésias. A melhor excepção é a praia de Livádhi, uma extensão plana de areia onde o mar se espraia sem sobressaltos.

Um ferryboat em Iráklia, ilhas Cíclades, Grécia
Um ferryboat em Iráklia, ilhas Cíclades, Grécia

Atravessando a velha khora, um caminho rodeado de muros de pedra passa o monte em direcção à gruta de Ágios Ioánnis. O interior da gruta é amplo, com abundantes formações que só são visíveis com o auxílio de uma lanterna bem forte. Mas o passeio até lá descobre também uma visão fantástica sobre as outras ilhas mais pequenas, para além de Naxos e Amórgos.

O maior prazer de Iráklia acaba por ser a sua atmosfera arcaica, própria dos lugares pequenos, onde se revisitam as Cíclades de antigamente. À hora da sesta, os gatos passeiam por entre as casinhas brancas de portadas azuis, procurando a sombra mais próxima do polvo deixado a secar. O momento mais excitante do dia é a chegada do barco: descarrega-se mercadorias, aparecem turistas novos que depressa enchem o punhado de pensões, fazem-se despedidas. Depois, desaparecem todos e a calma regressa.

Amorgós, o bulício adiado

Tem o tamanho ideal: nem é demasiado grande para explorar por conta própria, nem é tão pequena que se conheça toda a gente em dois dias. Eyiáli é considerada a melhor praia, mas nadar em Ágia Anna, mesmo ao largo do Mosteiro de Khozoviótissas, é uma experiência única – só do mar se pode avistar por completo a mancha branca do edifício, encravado nas falésias vermelhas.

A tranquilidade da ilha Amorgos
A tranquilidade da ilha Amorgós

A parte sul de Amorgós é a mais bonita, e a que reserva mais surpresas. A povoação de Arkessini, por exemplo, proporciona um excelente passeio aos que descem até à sua antiga localização, num promontório que sai directamente do mar, encimado por uma capelinha de cúpula azul.

Os antigos campos em socalcos e os muros altos, que escondem o caminho de pedra, contrastam com a actividade que encontramos no porto de Katápola, ajardinado com árvores e buganvílias.

A estrada sobe aos ziguezagues, oferecendo vistas excelentes sobre a baía, até atingir a khora, um conjunto de casas brancas quase perfeito, empoleirado nuns montes rochosos muito acima do porto. Diferente da de Mýkonos, – esquinas mais aguçadas, casas subidas por um declive maior – não deixa de ser uma das mais bem estimadas das ilhas. Com excelentes praias e belas povoações, o turismo tem vindo a crescer muito, mas Amorgós ainda pode ser considerada uma ilha a descobrir.

Thíra (Santoríni), em cima do vulcão

Também é conhecida por Santorini, e só pelo espectáculo da chegada vale a pena passar por aqui: o barco atravessa literalmente a caldeira de um vulcão, mostrando de forma evidente que a ilha é a vertente que sobrou da explosão. As povoações de Firá e Ía parecem escorrer pela encosta escura até à água.

Ilha Santoríni, uma das mais turísticas ilhas gregas das Cíclades
Ilha Santoríni, uma das mais turísticas ilhas gregas das Cíclades

Antigamente havia uma rampa que se subia de burro, mas agora há uma estrada, e os burricos passaram a curiosidade turística.

Aliás, deve dizer-se que toda a ilha se transformou num imenso parque de diversões, onde não se descortina grande coisa da sua vida original. A não ser, talvez, a produção de magníficos pistácios e o vinho, que nasce das vinhas baixinhas encravadas nas pedras calcinadas do chão.

De resto, tudo é quartos e casas de férias, lojas variadas para turistas, agências de viagem, guarda-sóis e camas de aluguer, que enchem as praias quase sem deixar espaço para quem só vem dar um mergulho.

A explosão do vulcão deu-se por volta de 1550 a.C. e arrasou a ilha, onde florescia a civilização Minóica, originária de Creta. Vale a pena visitar as ruínas de Akrotíri, embora os magníficos frescos estejam agora no Museu Nacional, em Atenas. A ilha foi “descoberta” por artistas desde os anos 60, e muitos têm aqui casa com vistas para a caldeira do vulcão, e para a ilha fumegante que nasceu no meio. Diga-se em abono da verdade que, depois do terramoto de 1956, a reconstrução foi um trabalho brilhante, e o casario de Ía tem de ser considerado uma obra única no mundo.

Anáfi, a desconhecida

Apenas a noventa minutos, fica o fim da linha para os barcos que passam em Thíra – Anáfi, uma pequena ilha pouco conhecida e menos procurada, que preserva ainda um ambiente genuíno.

Igreja em Anáfi
Igreja em Anáfi

A sua pequena frota de barcos estacionada no porto, no fundo de uma ladeira que custa a subir nas horas de calor, continua bem activa, e fornece diariamente de peixe fresco as duas únicas povoações.

Lá no alto, na khora, os cafés esvaziam à hora do calor para tornar a encher-se ao fim da tarde. No casario branco sobressaem estranhamente as casas anti-sismo, em forma de barril, e uma igrejinha em forma de suspiro.

Para conhecer o resto, só a pé: a ilha oferece um passeio soberbo, que une praias desertas e capelas, até chegar ao Mosteiro de Kalamiótissa, construído sobre um templo de Apolo. É um prazer ir percorrendo o rosário de pequenas baías, experimentando a temperatura da água em todas elas, até chegar ao mosteiro com vista para a costa norte, de mar suave e transparente.

Tal como Iráklia, Anáfi não é para quem procura agitação e ambientes sofisticados, mas sim os prazeres simples do isolamento num lugar de sonho.

Guia de viagens às ilhas Cíclades

Este é um guia prático para viagens às ilhas gregas das Cíclades, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades nas ilhas.

Quando ir

O Verão é muito quente, cheio de multidões em busca de sol, os preços disparam e o vento meltémi chega a soprar dias a fio. O resto do ano é mais agradável, sobretudo a Primavera e o Outono.

Como chegar às ilhas gregas

Voar para Atenas. Do próprio aeroporto há autocarros directos para o porto de Pireu, de onde saem todos os barcos para as Cíclades. No pino do Verão poderá ter de esperar por um lugar, mas no resto do ano consegue partir no próprio dia em direcção à ilha que escolheu. A frequência de barcos é maior entre Junho e Setembro. Uma vez nas ilhas, as que têm tamanho suficiente para ter mais de dois ou três quilómetros de estrada (não é o caso de Anáfi ou Iráklia), também têm transportes locais. Nas mais turísticas é possível alugar carros, motorizadas, barcos, etc.

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Hotéis em Santoríni, Naxos e Mýkonos

Apenas alguns exemplos de hotéis, bem centrais e localizados nas cidades principais de três das ilhas: na ilha de Thíra (Santoríni), em Firostefáni, o Hotel Villa Haroula; em Naxos, na Rua Apollonos, o Hotel Pantheon; em Mýkonos, o Hotel Elysium, Rua Skholíou Kálon Tehnon. Os preços dependem muito da época. Veja os links abaixo para todas as opções.

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Gastronomia grega

Em Thíra: Restaurante Bella Thíra, na Rua 25 Martiou. Em Naxos: Restaurante Papagalos, entre o porto e a praia de Áyios Yeóryios. Em Mýkonos: na Rua Mitropóleos, o Yavroutas Estiatorio.

Para além de comida internacional para todos os gostos, da mexicana à italiana, os restaurantes oferecem comida típica mediterrânica – grega -, onde abundam os legumes e o peixe. A não perder: o frappé, café frio batido; as saladas – de tomate, pepino, queijo feta e azeitonas – e as dolmades, folhas de vinha recheadas com carne ou arroz.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro

1 comentário em “Ilhas Cíclades, privilégio grego”

  1. Oi Filipe, estou planejando uma viagem para a Grécia, iremos na segunda quinzena de agosto, pretendemos ficar de 10 a 12 dias. Esse tempo é suficiente para fazermos esse roteiro que você comenta aqui, incluindo Atenas? Deveremos chegar em Atenas dia 20 de agosto e sairmos para nosso próximo destino dia 30 ou 31.

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