
Todos temos momentos-chave nas nossas vidas, daqueles que mudam definitivamente o curso das mesmas. Pode ser um acontecimento, quase sempre teoricamente negativo, como um divórcio, um problema de saúde, a morte de alguém querido ou um despedimento. Ou então uma frase lida algures, um livro que marca e impele a agir. Ou uma conversa.
Eu tenho três ou quatro desses momentos em 45 anos de vida. E o mais interessante é que as pessoas que, nesses momentos decisivos influenciaram o meu rumo, não fazem a menor ideia de o terem feito. Não têm noção da importância que tiveram na vida de outrem.
Vivo com esses pequenos segredos há muito, mas nunca tinha parado para pensar que o oposto pode também suceder: que eu possa ter influenciado decisivamente a vida de alguém sem fazer a mais pequena ideia disso. Até que esse alguém nos conta. Foi o que me aconteceu nos últimos dias, por duas vezes.
Quando era adolescente, fui praticante federado de hóquei em patins, primeiro no Famalicense Atlético Clube e, mais tarde, no Hóquei Clube de Braga. Defrontei centenas de jovens de outras equipas do Norte de Portugal, dos quais pouco sei.
Certo dia, há uns bons 10 anos, encontrei um desses jovens feito homem num aeroporto de Frankfurt. Tínhamos sido adversários durante anos, cada um defendendo a sua equipa o melhor que podia e sabia. Naquele dia, tínhamos os dois escalas noturnas prolongadas em Frankfurt, acabámos por dormir ali mesmo junto aos balcões de check-in e, de permeio, conversar bastante. Sobre viagens (eu tinha regressado há pouco tempo da minha volta ao mundo), sobre a vida, sobre as mudanças operadas na minha vida com essa longa viagem – confesso que não me lembro bem. Nunca mais soube nada dele, até que no fim de semana passado nos encontrámos no Porto.
Foi então que me disse: “tu não sabes, talvez nem te lembres, mas aquela conversa no aeroporto mudou a minha vida”. E contou-me as mudanças entretanto operadas ao nível pessoal, profissional e de estilo de vida. Os detalhes são pessoais e não vêm ao caso, mas a verdade é que ele decidiu mudar, libertar-se, ser feliz – e o catalisador foram as minhas palavras. Fiquei embasbacado, tinham passados 10 anos e eu não fazia ideia de que as minhas palavras naquela noite pudessem ter tido tamanha influência na vida de alguém.
Estava eu ainda a digerir este episódio quando recebi um email cujo assunto era “Obrigado pela inspiração, Filipe”. Foi ontem, e dizia assim:
Olá Filipe! O meu nome é João [nome fictício porque a identidade, uma vez mais, não vem ao caso] e sigo o teu blog. Escrevo-te este mail para te agradecer a inspiração uma vez que, após ler há cerca de 2 anos o teu post “Trabalhar pela internet e outras soluções para mudar de vida“, posso dizer que de facto mudou a minha vida.
Sou Farmacêutico e recentemente despedi-me do meu emprego na farmácia onde comecei e trabalhei durante os últimos 3 anos.
Recordo-me de, durante o meu 1º ano, começar a poupar dinheiro para um dia comprar um novo carro. Como calcularás por este mail, acabei por mudar de ideias, sobretudo depois de ler o referido post. E assim continuei a poupar durante os 2 anos seguintes, mas para viajar mais e um dia mudar de vida.
Mudei vários aspetos da minha vida em geral para viajar mais durante as férias: mudei de banco, estilo de condução, hábitos alimentares e comecei a vender tudo o que tenho de dispensável em casa pelo OLX e eBay, entre outras mudanças.
Nestes 3 anos viajei por 19 países, fiquei em 38 hostels e fiz Couchsurfing 3 vezes no Japão. Concretizei todas as viagens de sonho que tinha até à data e há 1 mês regressei do maior projeto de viagem que tinha: 2 meses e meio pela Ásia (1 mês no Japão, 1 mês na Tailândia e 2 semanas no Camboja), para onde parti a seguir à minha rescisão contratual. Foi a melhor viagem de sempre e estou Feliz.
Depois de regressar concretizei a minha desvinculação definitiva da Farmácia após, num volte-face, ser informado pela direção de que não iriam precisar mais de mim, apesar de ter sido acordado, antes de partir, eu vir a substituir 6 meses uma colega que iria entrar em Licença de Maternidade aquando do meu regresso da Ásia. Decidiram durante a minha ausência recrutar outro colaborador para o meu lugar e eu “podia ir à minha vida”.
Fez-me recordar a referência que fizeste num post sobre o momento em que viste a ligação ao teu anterior “emprego normal” terminar de forma inesperada. E teres visto isso como uma oportunidade para mudar de vida definitivamente. No meu caso, apenas antecipei em 6 meses o desfecho do processo de desvinculação que eu já tinha tido a coragem de iniciar por mim.
Agora não penso trabalhar em Farmácia pelo menos durante 2016. De momento estou à procura de um hostel em Lisboa para trabalhar durante alguns meses e poupar mais algum dinheiro antes de voltar a viajar, pois os hostels sempre foram para mim uma casa longe de casa. Também irei procurar iniciar-me como freelancer online em traduções, aulas de inglês ou aplicar alguns conhecimentos de design gráfico.
Enquanto isso, irei começar a criar o meu próprio blog de viagens, um dos grandes sonhos que tenho para o futuro. Na pior das hipóteses será um espaço meu onde poderei expressar a minha paixão pelas viagens e quem sabe inspirar outras pessoas. Na melhor das hipóteses poderei monetizá-lo mais tarde, escrever guias de viagem e obter algum rendimento extra para utilizar a viajar. Sonho tornar-me um Travel Blogger como tu e um Digital Nomad.
Os meus pais têm tido muita dificuldade em compreender a minha decisão em renunciar a um “emprego normal” e consideram os meus sonhos “ilusões sem cabimento”. O meu desafio será mostrar com o tempo que os meus sonhos são possíveis.
Por escrever este mail para alguém que é uma inspiração e muito mais experiente nesta filosofia de vida. Irei continuar a seguir o teu blog e ver onde a estrada me leva. Mais uma vez obrigado pela inspiração Filipe.
Continua o excelente trabalho, grande abraço. ;)
Fiquei sem palavras. Emocionei-me. Com os meus humildes escritos contribui para que alguém tivesse a coragem de perseguir os seus sonhos, de ir atrás dessa coisa chamada felicidade.
Lá está, “Viajar. Partilhar. Inspirar“!
Sim, as minhas palavras ajudaram alguém a ser mais feliz. E esta é provavelmente a recompensa mais valiosa que o autor de um simples blog de viagens pode receber. Obrigado.
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