Agora que o Irão está na moda como destino turístico, é natural que cidades como Esfahan, Shiraz ou Yazd comecem a ficar demasiado concorridas para quem idealizava um Irão com pouco turismo. Mas o Irão é, felizmente, muito mais do que esse triângulo dourado e há, de norte a sul do país, locais de uma beleza incrível que merecem uma visita. Um desses sítios, conhecido por Kaluts, é um dos locais mais belos que já tive oportunidade de conhecer em todo o planeta. É sobre ele que hoje escrevo.
Antes de mais, importa saber que os Kaluts são formações rochosas que se assemelham a “castelos de areia”, construídos ao longo de milhões de anos pelo efeito da erosão provocada pelo vento e pela água. Ficam no Dasht-e Lut, um dos grandes desertos do Irão e onde se diz terem sido registadas temperaturas de 70 graus centígrados ao nível do solo, facto que faz do Dasht-e Lut um dos pontos mais quentes do planeta.
É quente. Mesmo muito quente! E essa é uma das razões pela qual, salvo durante o inverno, os Kaluts são quase sempre visitados ao nascer ou ao pôr do sol. Ou ambos.
Pôr do sol nos Kaluts
Na verdade, eu já tive oportunidade de visitar os Kaluts em três ocasiões distintas. Na primeira viajava sozinho e cheguei a Kerman de comboio. Logo na estação de caminhos-de-ferro juntei-me a dois companheiros de ocasião, procurámos quem nos levasse aos Kaluts e alugámos um táxi para o efeito. Partiríamos depois de almoço.
Chegámos a meio da tarde, e fomos diretos para junto dos Kaluts assistir ao pôr do sol. A paisagem era verdadeiramente arrebatadora. Um deserto de areia mas poucas dunas onde, a espaços, formações rochosas se elevam nos céus – quais tepuis venezuelanos – formando uma paisagem única, misteriosa, quase lunar.
Caminhei de rocha em rocha, subi a umas quantas, até que me detive na mais alta de todas à espera do adeus do astro-rei. Só depois nos dirigimos à homestay onde iria pernoitar, na aldeia de Shafig Abad.
No dia seguinte, pouco passava das quatro da manhã quando o despertador tocou. Era hora de voltar aos Kaluts para novo espetáculo grandioso: o nascer do sol.
Cheguei ainda noite escura. Aos poucos, o céu se ia iluminando e aquecendo as cores dos Kaluts. Por incrível que pareça, não era a cor do sol ou do céu que tornava o momento espetacular. Era o local, ele mesmo. A luz. A aridez. A energia. A paz.
Estava verdadeiramente fascinado. Conheço poucos locais no mundo tão “mágicos” quanto os Kaluts.
Após um pequeno-almoço retemperador na homestay, era tempo de visitar o caravanserai da aldeia de Shafig Abad. É um edifício extraordinário, aos poucos e poucos restaurado, e onde está já instalada uma pequena loja de artesanato que visa dar independência financeira às mulheres da aldeia. Se fechar os olhos, consigo perfeitamente imaginar um hotel de qualidade naquele caravanserai. A ver vamos.
Segui depois para outro local peculiar: um qanat.
Já visitei inúmeras vezes o Museu da Água em Yazd, onde se explica detalhadamente o processo de construção dos qanats – canais subterrâneos que traziam a água das montanhas para as povoações -, mas nunca tinha estado no interior de um qanat tão bem preservado como aquele da aldeia de Shafig Abad. Mais um momento único, para terminar em beleza a estadia nos Kaluts.
Só depois disso regressei a Kerman, mal dormido mas de alma cheia. Os Kaluts tornaram-se num dos meus lugares preferidos em todo o Irão.
Guia prático
Como chegar aos Kaluts
Assumindo que não viaja no Irão em carro alugado, a forma mais fácil de visitar os Kaluts é recorrendo aos serviços de um taxista ou agência na cidade de Kerman. Com muitos anos de experiência no assunto, os irmãos responsáveis pela gestão do Hotel Akhavan são uma aposta segura para organizar a visita. É, igualmente, o local onde a probabilidade de encontrar outros viajantes para dividir o custo do transporte é maior.
Recomendo que saia de Kerman ao início da tarde, pernoite perto dos Kaluts e volte apenas no dia seguinte. Se tiver interesse, pode aproveitar para visitar Mahan ou a cidadela de Rayen. A cidadela de Bam, por seu lado, apesar de magnífica, fica demasiado longe para ir e voltar no mesmo dia.
Onde dormir
Nas aldeias mais próximas dos Kaluts, nomeadamente em Shafig Abad, os habitantes locais aproveitam as suas casas para receber os visitantes. São quase sempre homestays muito básicas, com dormidas no chão e casas de banho partilhadas, mas que proporcionam experiências autênticas.
Se organizar o tour em Kerman, a agência (ou taxista) tratará da dormida.
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Muito bom, bem haja. Cumprimentos.