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León, charme autêntico e despretensioso

Por Filipe Morato Gomes
Centro histórico de León, Nicarágua
Centro histórico de León, Nicarágua

É certo que os holofotes estão virados para a encantadora cidade de Granada, mas León pouco fica a dever à jóia maior entre as cidades coloniais da Nicarágua. Ganha em autenticidade, em juventude e animação nocturna e tem uma palavra a dizer quando se fala de vulcões e paisagem, dominada pela Cordilheira dos Marrabios, terreno fértil para caminhadas e actividades ao ar livre. Um roteiro de viagem à velha mas bem viva León.

León, cidade alegre e jovem

Muitos viajantes que visitam a Nicarágua ignoram León depois do fulgor arquitectónico de Granada. Mas outros há que por lá passam, ficam mais do que o previsto e não têm dúvidas em declarar a sua preferência por León. Tenho, para mim, que isso se deve à autenticidade ímpar da cidade, à sua juventude e, porventura, também, à sua localização.

Igreja em León
Fachada da Igreja do Calvário, no centro de León

O noroeste da Nicarágua é considerado a região mais vulcânica de toda a América Central.

É dominado pela Cordilheira dos Marrabios, que segue paralela à costa do Pacífico e inclui dez vulcões, alguns dos quais actualmente activos e cujos cones é possível conhecer em longos trekkings organizados por agências reputáveis como a Quetzaltrekkers, organização sem fins lucrativos que guia os viajantes aos vulcões Momotombo e Cerro Negro, entre outros.

León é uma cidade jovem, de estudantes. A vida corre quase como se não houvesse turistas a vaguear de pescoço esticado.

De quando em vez os sons compassados de ferraduras em contacto com o empedrado das ruas fazem-se ouvir – uma carroça puxada por um cavalo ainda é um meio de transporte utilizado em León. Uma criança corre despreocupada no frontispício da imponente Catedral. Bancas de rua na praça central vendem pratos de vigorón, petiscos, bananas e refrescos. No mercado central a azáfama matinal enche de sons e pregões as ruas do centro histórico. As noites são animadas, os bares bem frequentados. León é uma cidade vibrante, autêntica, jovem.

Claro que há atracções turísticas, mormente edifícios de cariz religioso, e é possível caminhar com objectivos predefinidos a visitar, se disso necessitar.

León, Nicarágua
Meio de transporte ainda utilizado em León

A magnífica Catedral de León; o amarelo forte da fachada da Igreja da Recolecção ao entardecer; a colorida fachada da Igreja do Calvário, especialmente bela se vista a partir do topo da Catedral, secundada pelos muitos vulcões que circundam a cidade; os artísticos murais que contam a sofrida história recente da Nicarágua; a Igreja de São João, entre outras.

E, se a arqueologia é assunto que interessa ao viajante, há ainda as bem preservadas ruínas de León Viejo para visitar, localizadas na base do vulcão Momotombo.

Foram classificadas Património Mundial pela UNESCO no ano 2000, por serem “um dos mais antigos aglomerados urbanos coloniais nas Américas” e um “testemunho excepcional das estruturas sociais e económicas no Império Espanhol no século XVI”, construído com a “adaptação de conceitos europeus de planeamento urbano e arquitectónico ao Novo Mundo”.

Muitos viajantes ignoram León, dizia. Mas fazem mal!

Voluntariado em León

Para quem tem tempo e vontade de o partilhar ajudando outras pessoas, a América Central é terreno fértil para projectos de cariz social orientados por organizações não governamentais. Em León, a agência de turismo de aventura Quetzaltrekkers oferece um programa de voluntariado para amantes do montanhismo, com duração mínima de três meses, sendo que os voluntários se tornarão guias nos programas de trekking pelos vulcões existentes perto de León. Boa preparação física, inglês fluente e gosto por montanhismo são fundamentais; conhecimentos de espanhol e de primeiros socorros são um bónus apreciado.

De referir que a Quetzaltrekkers funciona quase exclusivamente com voluntários e utiliza os rendimentos que advêm dos trekkings para financiar uma organização de solidariedade social chamada Las Tias e, mais recentemente, com o aumento dos lucros, ajudar um novo projecto: o centro de dia para crianças Los Ositos.

Entardecer na igreja da Recolecção, León, Nicarágua
Entardecer na Igreja da Recolecção, León, Nicarágua
Catedral de León, Nicarágua
Uma criança passa defronte da Catedral de León
Igreja do Calvário vista do topo da Catedral de León
A Igreja do Calvário vista a partir do topo da Catedral de León, com os vulcões que circundam a cidade em pano de fundo

Guia prático

Este é um guia prático para viagens a León, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.

Localização geográfica da Nicarágua

A Nicarágua é um país localizado no coração da América Central, encravado entre as Honduras, a Norte, e a Costa Rica, a Sul. Muito perto desta fronteira fica o enorme Lago Cocibolca, também conhecido por Lago Nicarágua, cujas águas bordejam a cidade de Granada e dão abrigo à ilha de Ometepe.

Quando ir

Nas regiões próximas da costa do Pacífico a estação das chuvas vai de Maio a Novembro, com especial predominância nos meses de Setembro e Outubro, pelo que a melhor altura para visitar León é entre Novembro e Abril, época coincidente com o chamado Verão ou estação seca.

Como chegar a León

A Iberia tem voos para Manágua, via Madrid, com preços mínimos de 1.100 euros. Uma vez no aeroporto internacional da capital Manágua, sugere-se autocarros públicos de passageiros ou, se preferir o conforto, negoceie um táxi até León. Para viagens terrestres desde países como a Costa Rica ou as Honduras, sugere-se que verifique as rotas e preços do Tica Bus, pois o custo extra quando comparado com o transporte em múltiplos autocarros locais é compensador em termos de rapidez, conforto e facilidade na travessia das fronteiras. Os autocarros da Tica passam em Granada e León.

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Onde ficar

Em León, os locais mais populares entre os mochileiros situam-se frente a frente e chamam-se Via Via e Big Foot Hostel, embora quem prefira alguma tranquilidade deva evitar ambos e optar por localizações alternativas. Nestes casos, o verdejante Hostel Tortuga Boluda é uma alternativa interessante, embora simples, que oferece aos viajantes com menor orçamento a vantagem de se poder cozinhar; espreite também o novíssimo Lazybones antes de se instalar.

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Gastronomia da Nicarágua

No que toca à gastronomia local, não há como escapar ao tradicional gallo pinto e ao vigorón. O primeiro é o nome dado ao omnipresente arroz com feijão frito que acompanha a maioria das refeições, pequeno-almoço incluído. Quanto ao vigorón, trata-se de um prato composto por yucca frita (um tubérculo parecido com batata muito utilizado em vários locais da América Central e Caraíbas), chicharrón (torresmos – pele de porco frita) e salada de couve.

Onde passear

A partir de León, sugere-se sem reservas as actividades de turismo activo organizadas pela já referida Quetzaltrekkers, nomeadamente trekkings de um, dois ou três dias aos vários vulcões existentes em redor da cidade, alguns dos quais activos – vulcões Cosiguina, Momotombo, San Cristóbal, Telica e Cerro Negro -, à lagoa Asososca e ao Canyon de Somoto.

León à noite

León é uma cidade marcadamente estudantil e jovem, com grande dinamismo e uma vida nocturna agitada em ambientes descontraídos. Numa rua sem nome que sai do Parque Central há pelo menos três opções distintas que merecem referência.

Especial destaque para o impecável Taquezal Café – Bar, com bom ambiente, gente bonita e uma equilibrada mistura entre locais de classe média e jovens turistas. Não muito longe, o bar – restaurante Snakes é frequentado apenas por leoneses; entre ambos, para horas mais adiantadas, a discoteca O2 (lê-se oxygen) garante diversão e suor noite dentro.

O que comprar

León oferece uma boa selecção de produtos artesanais tradicionais, mormente nas lojas Kamañ (esquina sudoeste do Parque Central) e Flor de Luna (Rua Ruben Darío), entre outras. O mercado central de León é, naturalmente, outro local a perscrutar.

Vistos de turismo

Os cidadãos portugueses não necessitam de visto de turismo para entrar na Nicarágua. À chegada ao aeroporto há que pagar cinco dólares norte-americanos de taxa turística (pagos em notas de dólares).

De resto, saiba que está em vigor um acordo transfronteiriço que deveria isentar de pagamentos adicionais quem quer que circule entre a Nicarágua, El Salvador, as Honduras e a Guatemala. A realidade nos postos fronteiriços é um pouco distinta e nem sempre o acordo é cumprido; muitas vezes são exigidos aos turistas pequenos montantes de entrada ou saída nas fronteiras entre os quatro países, dinheiro esse que, muito provavelmente, segue directamente para os bolsos de alguns guardas.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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