Londres, a cidade do peão vermelho

Londres
Londres

Há muitas Londres dentro de Londres. A dos monumentos, palácios, abadias e casas do parlamento, naturalmente. Mas também a de Charing Cross, a rua dos livros, a de Redhill e Reigate, pacata e verde, a do desconhecido Pollock’s Toy Museum, e até a Londres que deixa tempo para uma visita a Brighton. Um roteiro de viagem a Londres sem postais ilustrados, em tons de vermelho e preto.

À descoberta de Londres

London Victoria, 11 horas de uma manhã chuvosa – um céu já esperado, cinza londrino a fugir para o rosa bebé -, o aeroporto a uns 70 km e, finalmente, a aterragem: era aqui, neste centro vitoriano e húmido, a verdadeira pista, o ponto de partida para a viagem.

Hyde Park, Londres
Wellington Arch, em Hyde Park, Londres

A estação, misto de hotel do século XIX e de centro comercial a camuflar a estrutura de ferro de outros tempos, contrastava com o céu, pelo estalar das cores do rosto e da roupa de quem passava, sempre a correr, transportando bagagens rolantes. Fora, duas cores a encher a cidade de movimento: o preto dos táxis e o vermelho dos autocarros de dois andares. Por onde seguir?

Primeiro passo: libertar as malas (aconselha-se a estação rodoviária, onde se guardam os haveres por menos 5 libras do que na congénere ferroviária).

Segundo passo: procurar no posto de turismo informação junto de alguém que fale francês, espanhol… e constatar que só se fala inglês, ponto final. Abrem-se as nuvens e o sol aparece para mostrar todas as cores de uma cidade viva e diversa. Ninguém fecha os guarda-chuvas, porque toda a gente circula sem eles… as quatro estações deslizam pacificamente nestes dias de verão tardio. Nas ruas há já lãs e casacos compridos, botas e agasalhos, ao lado das t-shirts saídas dos impermeáveis.

Terceiro passo: percorrer tudo a pé. De Victoria Street a Buckingham Palace Road, passando pelo verde de St. James’s Park e de Hyde Park. Subir a Oxford Street e procurar a “pérola” dos museus desconhecidos: o Pollock’s Toy Museum, em Scala Street, o encontro com a meninice dos séculos passados, com os comboios e as bonecas de porcelana, com os cavalos de baloiço e os soldadinhos de chumbo, os teatros, as casas de cartão, os puzzles. A não perder.

Caem mais umas gotas.

Quarto passo: descida às catacumbas e finalmente o metro. Engenharia toupeira difícil de imaginar, esta de construir túneis sobrepostos, desde o séc. XIX. Uma Londres esburacada e cheia de vida, de rostos, de música e de calor – uma temperatura alta que vem do centro da terra, à medida que descemos mais uma escada rolante. As linhas coloridas são de fácil leitura: queremos ler, vamos a Charing Cross, a rua dos livros.

Uma das mais antigas livrarias de Charing Cross, Londres
Uma das mais antigas livrarias de Charing Cross

As livrarias são a presença, o pulsar da rua. As fachadas antigas convidam a entrar em espaços recheados de saberes. Os sabores ficam do outro lado – tailandeses, chineses, indianos, perfumam a outra margem com propostas gastronómicas. Alimento da alma e do corpo, o desta paragem londrina. Nota negativa para a Foyles (o que lhe terão feito?), cuja fachada nem consegui fotografar. Espreitei os livros pela montra larga, cobicei alguns títulos, mas esmoreci com a falta de charme do edifício.

A luz declina, a Chinatown fervilha ali ao lado, de Trafalgar Square vê-se ao longe o pôr-do-sol no Big Ben. Hora de regressar a casa, trinta minutos no Southern de Victoria Station até Redhill. Os amigos estão à espera. Amanhã é outro dia.

Redhill é a Inglaterra verde, pacata, onde podemos ir à mercearia, levar os meninos ao parque ou vê-los jogar à bola no jardim enquanto fazemos o jantar. Reigate, mesmo ao lado, é outra manta de relva a perder de vista, com moinhos e casas baixas, de madeira e telha vermelha, muito cuidadas, muito “posh” (como dizem os locais). Surrey no seu melhor!

De Brighton a Londres

Dia seguinte – sol, calor e um comboio para apanhar.

St. Pancras International Station – os Jogos Olímpicos 2012 instalados num dos mais imponentes edifícios do séc. XIX. Ferro, fogo, o vermelho do tijolo ao sol do meio-dia. Pausa para observar uma despedida – a estátua dos amantes no seu beijo de bronze.

Reigate, em Priority Park, Londres
Reigate, no londrino Priority Park

Mais tarde, de Bus para o Tamisa: Londres a leste, com pontes, piratas, torres, masmorras e torneios medievais. Lado a lado, monumentos de séculos passados dão o braço à modernidade. Misturam-se edifícios de metal e vidro a arranhar o céu com paredes de pedra cinzenta já sem idade. É curioso este coabitar da arquitetura antiga com a moderna, como se o ambiente tolerante da cidade estivesse também estampado na fachada das casas. Apreciámos mais uma vez a diversidade do burgo, a pacífica coexistência dos estilos, terra e Tamisa, pontes a ligar povos. Cidade aquática, entre o rio, os canais e o mar mais a sul.

Para se ver o mar vai-se sempre em frente (mas de comboio!) até Brighton, na costa sul de Inglaterra. Aí, queríamos provar Fish and chips, mas Cod and chips é melhor aposta, sobretudo para portugueses saudosos de bacalhau.

Brighton é uma cidade simpática, de edifícios baixos, ruas comerciais e habitantes descontraídos, muito “anos sessenta”. A marginal é o passeio da Foz do nosso Porto, ampla, piso superior, piso inferior com esplanadas e diversões, praia de seixos ali postos à inglesa, muito direitinhos. Os frequentadores são poucos e tímidos como o sol, que só espreita de vez em quando. A grande atração é o pier, Brighton Pier, onde até há montanha-russa e uma série de sítios onde os putos se instalam para gastar as libras dos pais. Do outro lado do oceano, imagina-se o norte de França.

Tudo isto dito a propósito do mar, do peixe, do bacalhau fresco… Voltemos a Londres.

Viagem a Londres: Bairro de Redhill
Bairro de Redhill, Londres

Para beber e petiscar, vai-se a um pub. Os pubs londrinos são antigos e autênticos, cheios de flores a anunciá-los. Só que quando entrámos fomos logo postos na rua – estávamos acompanhados por uma criança de nove anos.

No último dia, ainda o vermelho. Como no Porto – senti-me em casa -, as cabines telefónicas vermelhas, o marco do correio vermelho, o mesmo formato, o mesmo toque. Somos muito “British“, pensei – menos numa coisa: os londrinos não respeitam o vermelho do peão nas passadeiras. Foi a primeira coisa que me fez estacar quando cheguei: o sinal do peão está vermelho e passam dezenas de cores, uma massa de homens e mulheres de todo o mundo, com carrinhos de bebés e crianças pela mão, a atravessar descontraidamente ruas onde circulam, à velocidade londrina, táxis, autocarros e outros veículos com travões bem afinados. Não ouvi grandes protestos – também nisso somos diferentes.

Se visitámos os monumentos, os palácios, as abadias, as casas do parlamento, os museus? Claro que sim! Mas isso toda a gente conhece e pode ver nos postais ilustrados.

Praia de Brighton
Praia de Brighton
St Pancras Station, Londres
Exterior da St. Pancras Station, Londres
Tower Bridge, uma das mais famosas imagens de Londres
Tower Bridge, uma das mais famosas imagens de Londres
Casas do Parlamento com a Torre do Big Ben, Londres
Casas do Parlamento com a Torre do Big Ben, símbolo maior da capital britânica

Veja também os posts sobre morar em Londres, um roteiro de 24 horas em Londres e o que fazer em Londres.

Guia prático

Este é um guia prático para viagens a Londres, em Inglaterra, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis de Londres e sugestões de actividades na capital britânica.

Quando ir

A cidade de Londres – e o Reino Unido em geral – não é especialmente conhecida pelo seu bom clima, com muita chuva e o celebérrimo smog em boa parte do ano. Em todo o caso, para maximizar as hipóteses de bom tempo, tente a sua sorte durante os meses de primavera e verão e visite Londres, nomeadamente, entre maio e setembro.

Como chegar a Londres

A TAP, a British Airways e companhias low cost como a Ryanair e a easyJet têm voos regulares desde Portugal continental para vários aeroportos londrinos, nomeadamente Heathrow, Gatwick e Stansted. Sendo uma rota com grande concorrência, os preços das passagens aéreas raramente ultrapassam as poucas dezenas de euros. 

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Onde dormir

A capital britânica é uma das cidades europeias onde a hotelaria é mais cara, pelo que não é fácil pernoitar nos melhores hotéis em Londres sem despender uma fortuna. Sugiro a leitura do texto sobre onde ficar em Londres; ou consulte pesquise unidades hoteleiras ordenadas em função das opiniões de hóspedes que nelas pernoitaram.

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Informações

O sites oficiais do Turismo Britânico e do Turismo de Londres oferecem informação atualizada sobre toda a Grã-Bretanha, com especial ênfase nas atrações turísticas e atividades de lazer em Londres e cidades vizinhas.

Seguro de viagem

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Anabela Tomás

Anabela Tomás

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