Predestinada por Shiva, que ali deixou, um dia, duas gotas do Ganges, as ilhas Maurícias são um paraíso terrestre flutuando em pleno oceano. Um lugar onde as águas, pela acção de invisíveis pincéis nas mãos de exímios artistas, oscilam continuamente entre o verde-esmeralda e o azul-turquesa. Um roteiro de viagem à República das Maurícias, aguarela no Índico!
Sobre a República das Maurícias
Reza a lenda que Lord Shiva e sua mulher Parvati estavam a circundar a Terra num aparelho feito de flores, quando repararam na deslumbrante beleza de uma ilha e do mar esmeralda que a rodeava. Shiva, que estava a carregar o Rio Ganges na sua cabeça para proteger o mundo das cheias, decide aterrar. Durante a acidentada descida, um par de gotas de água escorreram de sua cabeça e caíram na cratera de um vulcão, formando um lago natural.
O Ganges expressou a sua indignação por água sua ser deixada numa terra desabitada, mas Shiva delicadamente respondeu que habitantes das margens do Ganges iriam um dia colonizar a ilha e levariam a cabo uma peregrinação anual ao lago, durante a qual parte da água seria retirada do lago e utilizada como sagrada oferenda.
Reza a realidade que a profecia se cumpriu. Não só a ilha se encontra habitada por mais de um milhão de pessoas como, anualmente, durante três festivos dias de Fevereiro ou Março, uma boa parte dos mais de quinhentos mil hindus existentes na ilha se deslocam a Grand Bassin – o lago sagrado – para prestar homenagem a Lord Shiva, numa celebração considerada o maior e mais importante festival hindu a ter lugar fora de território indiano.
É o Maha Shivaratri – o mais emblemático acontecimento destas ilhas a que hoje chamamos República das Maurícias.
Reza por fim a imaginação que Shiva não terá obstado a que outros credos se tivessem instalado na Maurícias – a principal ilha da homónima República. Isto porque, apesar da origem vulcânica, há muito que a lava revoltosa não semeia a discórdia entre as diferentes crenças religiosas que pacificamente convivem, porta com porta, em perfeita e cordial harmonia. Uma experiência única percorrer uma rua onde, lado a lado, se encontra uma igreja, uma mesquita e um templo hindu.
Plantadas no coração do Oceano Índico – oitocentos quilómetros a este de Madagáscar – e rodeadas de recifes de coral, as ilhas Maurícias são um local onde a natureza foi delicadamente generosa. Generosa no verde da paisagem, generosa no povo que nelas habita, magnânime nas águas que as circundam.
As águas
De tonalidades oscilando entre o verde-esmeralda e o azul-turquesa, as águas das ilhas Maurícias, protegidas da fúria das marés pelos recifes de coral, convidam a uma contemplação inerte e demorada. Peixes de variadas e curiosas formas, engalanados com naturais vestes coloridas, povoam as baías de coral longe do apetite voraz dos grandes predadores marinhos. Um inesquecível delírio cromático.
As gentes
O povo, mistura de raças oriundas de várias partes do globo, é afável e hospitaleiro. Seja o comportamento natural ou moldado em face do peso crescente das rupias deixadas na ilha pelo turismo – uma das principais fontes de receita do país, juntamente com o açúcar e a indústria têxtil -, a verdade é que os habitantes locais tratam os estrangeiros – facilmente identificáveis – com uma inquietante deferência.
Extraordinariamente simpáticos e prestáveis, os locais aparentam uma simplicidade sincera.
Excepção feita, porventura, a Port-Luis – a capital e maior cidade do país – não há o mínimo sinal de violência nas restantes urbes da ilha. Talvez seja este um dos espelhos do facto do desemprego na ilha ser nulo, tal o crescimento acelerado, nas últimas décadas, da indústria têxtil e do turismo.
Passeios nas ilhas Maurícias
Apesar do tamanho relativamente reduzido das Maurícias, as solicitações naturais são inúmeras e variadas, a começar, obviamente, pelas praias de areia branca, de mar vagaroso e corais submersos. Lugar de eleição para os amantes da praia, Grand Baie – situado no norte da ilha – é certamente o maior centro turístico das Maurícias.
Outrora uma pequena vila piscatória, apresenta actualmente uma atmosfera demasiado cosmopolita para o que seria porventura desejável. Apesar do elevado número de turistas que por estas paragens circula, Grand Baie merece, pelo menos, uma visita.
Por oposição, a inabitada Ille aux Cerfs – um ilhéu ainda dentro do recife de coral que envolve a ilha Maurícias – é o lugar ideal para desfrutar calmamente de uns salgados salpicos de mar. Incrivelmente transparente, esse mar, de mágicos tons turquesa, roça suavemente a areia – fina e branca como em nenhuma outra parte da costa – num colorido bailado acompanhado pelo chilrear incessante de uma orquestra formada por incontáveis pássaros.
Não será por acaso que nas imediações da Ille aux Cerfs – numa privativa ilhota adjacente – se encontra o Le Touessrok Sun, considerado um dos melhores hotéis de todo o mundo.
Percorrendo a costa em direcção a sul, eis que se vislumbra a praia de Blue Bay, situada no sudeste da ilha Maurícias, e em cuja areia alguns barcos de pesca repousam inertes. Será seguramente – excluindo as semi-privativas praias dos principais hotéis – um dos mais apetecíveis areais de toda a ilha. Tal como Flic en Flac, na costa oeste, onde os pássaros – sempre os pássaros – vigiam agitadamente, da copa das árvores, o imenso areal.
A escassos minutos de distância de Flic en Flac – curioso como nas Maurícias, antes de ter tempo de saborear uma povoação, já se vislumbra a seguinte – encontra-se o Casela Bird Park, originalmente criado para combater a extinção de pássaros como o pombo cor-de-rosa, transformado actualmente em refúgio de algumas espécies de aves e não só, menos livres é certo, mas igualmente incansáveis no orquestral chilrear. Visitar o parque é uma agradável e interessante experiência, colorida pelas frondosas flores multicolores e abrilhantada pela simpatia calorosa dos expressivos tucanos.
Vagueando para o interior, em direcção à parte mais alta da ilha, eis que surgem, mágicas e misteriosas, as areias coloridas de Chamarel. É um espectáculo grandioso, assim o sol colabore, observar a invulgar e natural palete de cores que as rudes e onduladas areias oferecem, qual arco-íris esbatido, ao olhar do visitante.
Tão invulgar como aquelas palmeiras Talibot – espécie presente no mundialmente famoso jardim botânico de Pamplemousses, que fica situado a norte da capital Port Louis e provavelmente será a maior atracção terrestre da ilha -, que floresce uma vez ao cabo de sessenta anos de vida e depois… morre.
Referência obrigatória pelas facilidades próprias dos meios urbanos, Port-Louis, Curepipe e Mahébourg são, por esta ordem, as maiores e mais importantes cidades da ilha.
Sendo certo que muito haveria para escrever sobre estes locais – a agitação, as drogarias de proprietários invariavelmente chineses, os vendedores ambulantes de petiscos e afins, a desregrada condução automobilística, alguns edifícios de interesse arquitectónico e muito, muito mais -, fica somente a referência aos animados e muito frequentados mercados de rua que têm lugar nestas cidades, aos quais vale bem a pena dedicar particular atenção.
Os ritmos do Séga
Originalmente interpretada por escravos – desprovidos da sua liberdade e independência mas não do seu optimismo -, a dança Séga permanece um símbolo de esperança e liberdade no íntimo de todo o maurício. Diz-se, aliás, que o seu ritmo bate no coração de cada habitante. Orgulhosamente.
Apesar de novos instrumentos, mais modernos, terem praticamente feito desaparecer instrumentos tradicionais como o ravane – um simples barril de madeira que estica uma pele de cabra e, simultaneamente, o instrumento mais importante no ritmo da Séga – há ainda aldeias piscatórias que “teimam” em não o deixar desaparecer definitivamente. Para o bem de tradições seculares e, obviamente, em nome dos nobres desígnios da dança Séga.
O ritmo da Séga é simples e melodioso. Ao som das batidas saídas do ravane, de início lentas e suaves, o corpo facilmente interioriza o ritmo da dança, em constante crescendo de intensidade. A dança, essa, sensual e provocante, é elegante e visualmente atractiva, sendo colorida pelas vistosas vestes tradicionais dos intérpretes, um pouco à imagem dos trajes festivos das baianas.
E as regras da dança são mínimas: recomendam os entendidos – acredite-se ou não – que o fundamental é, simplesmente, deixar o corpo sentir o ritmo contagiante do ravane. Sem mais.
E quando se ouvir o pregão “Em bas! Em bas!”, o lema é obedecer. Descem-se as ancas até ao chão, bamboleando o corpo a preceito e rapidamente se está envolvido numa dança sensual e irresistível.
Gastronomia das Maurícias
Verdadeiro desafio sensorial, a gastronomia das Maurícias é uma combinação extraordinária de cozinhas tão diversas como a crioula, a francesa, a indiana e a chinesa, com natural predominância da primeira.
À parte dos variados restaurantes especializados numa dessas cozinhas, outros há que apresentam buffets contendo deliciosas combinações de pratos com origens diversas.
Não será de todo invulgar encontrar, lado a lado, um apurado caril de galinha tipicamente indiano, um prato chinês de porco com bambu e afins, um gratinado de batatas com vegetais – de origem francesa – e um bife ou peixe fresco com molho crioulo carregado de tomate e piripiri. Tudo, regra geral, acompanhado por um omnipresente arroz branco que eclipsa, pela sua assiduidade, todos os outros acompanhamentos usuais no ocidente.
Apesar da diversidade, uma vez nas Maurícias, seria “criminoso” não provar a simplicidade excêntrica da culinária de origem crioula.
Sendo inteiramente dominada por molhos de tomate espessos e apurados, a gastronomia crioula requer, no entanto, alguma adaptação por parte de estômagos ocidentais mais sensíveis – se bem que a maior parte dos restaurantes das zonas com maior afluência turística tenha já suavizado os cozinhados para agradar aos viajantes que por estas paragens se aventuram.
Guia prático
Este é um guia prático para viagens pelas ilhas Maurícias, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Quando ir
Depende do que pretender. A época alta, embora tenuemente definida, ocorre sensivelmente entre Dezembro e Março, com temperaturas muito altas e alguns turistas em excesso. É, no entanto, a época ideal para mergulhar, dado que a turbulência das águas é reduzida e a visibilidade excelente.
No chamado Inverno – com temperaturas a rondar os vinte graus -, o sossego é bem mais recomendável, embora as condições meteorológicas sejam ligeiramente instáveis. Nesta época – entre Junho e Agosto -, não será de todo anormal sentir fortes e repentinos aguaceiros – que a superior vontade do vento trata rapidamente de afastar – alternados com alegres mas matreiros raios de sol, falsamente inofensivos, que devolvem a temperatura agradável a este paraíso tropical. É a época ideal para a prática de desportos como o surf e o windsurf.
Como chegar às Maurícias
Não há voos directos de Portugal para as Maurícias, sendo no entanto possível voar para o arquipélago com as companhias Air France e British Airways, por exemplo, via uma capital europeia.
Onde ficar
Há inúmeros hotéis e resorts de excelente qualidade nas Maurícias mas boa parte dos viajantes chega ao arquipélago em pacotes de férias com estadia previamente organizada. Se viaja de forma independente, use o link abaixo para encontrar os melhores hotéis das Maurícias.
Pesquisar hotéis nas Maurícias
Aviso: turismo ecológico
Manda o respeito pela preservação dos recifes de coral e ambiente marinho que envolve a ilha, que resista à tentação da deslumbrante beleza natural de conchas e artefactos feitos de coral, que os simpáticos e afáveis – mas insistentes – vendedores de praia tentam ilegalmente “impingir” aos turistas, a “bom preço”.
Tanto mais que – se a consciência ecológica não lhe parecer motivo suficientemente forte para se abster desta prática -, caso seja detectado à saída do país com esse material, além do inevitável confisco, incorre numa desagradável multa que pode mesmo ser agravada caso não consiga provar não ter sido o autor da apanha ilegal de espécies protegidas.
Seguro de viagem
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