No Sul do Irão existe uma pequena cidade onde a discrição muçulmana local inventou um costume curioso: as mulheres usam máscaras coloridas para cobrir a parte superior do rosto. Um roteiro de viagem a Minab.
As máscaras de Minab
À primeira vista parecem máscaras de Carnaval, daquele tipo que estamos habituados a ver nos mascarados mais festivos, em cores que vão do castanho ao vermelho vivo, linhas geométricas bordadas e uma prega no lugar do nariz. Ficam de fora a boca e o queixo, já que a cabeça está coberta por um chador que pode ser negro ou de cores discretas, liso ou com estampados miudinhos.
Andam pelas ruas de Bandar-é-Abbas e pelo mercado de Minab nas suas compras, vendem tecidos e festões bordados, coisas de mulher, enquanto fumam o seu qalyan, o cachimbo de água iraniano, agachadas no chão junto às mercadorias.
Os preços discutem-se durante algum tempo, as notas passam de mão em mão, os tecidos brilhantes e metalizados, os cetins rosa-fúcsia e os cordões dourados são embalados em sacos plásticos.
Para onde vão aqueles brilhos coloridos, toda aquela garridice exagerada, se estas mulheres parecem fantasmas cinzentos e informes debaixo de uma espécie de lençol e com uma estranha máscara a cobrir metade do rosto?
Um pouco mais de atenção e reparamos que por baixo do chador, que algumas levantam ao agachar-se ou para mover com maior liberdade os braços, a exuberância é a regra: não há cor a mais nem brilho exagerado, dos florões cor-de-rosa e amarelo dos vestidos compridos ao dourado metálico das calças tufadas que apertam nos tornozelos.
Um festival de cor e brilho desenrola-se por baixo dos tons obrigatórios, como uma vingança contra o tédio, a tristeza e a monotonia forçadas.
É preciso ir até ao Sul do Irão, na costa do Golfo Pérsico, para encontrar estas misteriosas mulheres bandari, da palavra persa para porto, “bandar”.
Descendentes de árabes e negros, os bandari, homens e mulheres, preservam ainda o seu dialecto e a sua cultura arábica; muitos são até sunitas, como a maioria dos árabes da região, enquanto o Irão é maioritariamente xiita.
Na cidade portuária de Bandar-é-Abbas, localizada no estreito de Ormuz, surgem como aparições em ruas comerciais ou junto aos pequenos barcos do porto que os portugueses chamaram Porto Camarões. Mas é na pequena cidade de Minab, ali próxima, sobretudo à quinta-feira, dia de mercado, que a sua imagem se torna comum.
Dizem que as máscaras datam do século XVI, altura em que os portugueses se estabeleceram na pequena ilha de Ormuz, onde ainda é possível visitar a fortaleza mandada construir por Afonso de Albuquerque.
Mas a verdade é que António Tenreiro, que por aí andou na mesma época, diz-nos no seu «Itinerário» que “as mulheres saem de casa poucas vezes, e quando vão fora vão todas cobertas com um pano grande, como lençol com buracos, por onde vêem”.
Nem uma palavra sobre as misteriosas máscaras, que não são usadas em mais nenhum lugar do Irão – nem do mundo. Dos lugares que habitam, as cidades costeiras do Sul, verdade se diga que pouco fica na memória: nem monumentos fantásticos nem as magníficas mesquitas que vemos em Shiraz ou Esfahan; apenas este pormenor cultural que sobrevive por milagre nas suas ruas quentes e húmidas, onde o mar do golfo se espraia placidamente contra uma costa baixa e rochosa.
Guia de viagens a Minab
Este é um guia prático para viagens a Minab, no Sul do Irão, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Quando ir
O Outono e a Primavera são as épocas mais suaves em termos de clima, mas o clima no Sul do país é tudo menos suave durante o Verão, rondando facilmente os 50 graus. Recomenda-se o Inverno até princípio de Março, quando está apenas calor, embora chova um pouco. A humidade do ar é sempre muita, e desagradável todo o ano.
Como chegar a Minab
Voar de Lisboa para Teerão com a Lufthansa, que parece ter os voos mais baratos, fica por cerca de 700€. Daí terá de fazer um voo interno ou apanhar um autocarro até ao porto de Bandar-é-Abbas, de onde saem autocarros todas as horas para Minab. E se a viagem por terra é demasiado longa para ser feita apenas para ir a Minab, é a mais lógica se quiser conhecer um pouco do país, já que pode aproveitar para fazer paragens em Esfahan e Shiraz (e Persépolis, mesmo ao pé), pelo menos.
Onde ficar
A cidade portuária de Bandar não é propriamente um destino turístico internacional, mas os hotéis, para além de não serem baratos para os estrangeiros (têm preços mais baixos para iranianos) enchem com alguma rapidez, sobretudo de Inverno. Experimente o Hotel Hamze, na Rua Abuzar ou o Atilar Suites Hotel Nº1, que rondam os 50€ a 70€.
Restaurantes
A coisa mais fácil de encontrar é pizza e kebab (espetadas de carneiro). A mais difícil é um bom restaurante com comida local. O melhor é informar-se uma vez na cidade, ou tentar o restaurante do Hotel Atilar.
Informações úteis
É necessário visto; contactar a Embaixada do Irão em Lisboa, na Rua Alto do Duque nº49 (Telf. 213041850), para mais informações. Se for mulher, prepare-se para andar sempre com calças e túnicas largas e de manga comprida, para além de um lenço que tape cabeça e pescoço – é obrigatório em público e há uma “polícia dos costumes” que verifica a “decência” das mulheres na rua.
Tudo o que é considerado “turístico” (hotéis, entradas em monumentos, etc.) tem um preço muito mais alto para estrangeiros do que para iranianos. Se comer nos pequenos restaurantes populares e ficar em hotéis igualmente populares, a vida não é muito cara, até porque 1 Euro vale cerca de 18 Rials iranianos. Por causa do excesso de zeros que a inflação traz aos preços, 10 Rials chama-se 1 toman e muitas vezes os preços são dados em tomans, ou seja, às dezenas – preste atenção.
Cada vez há mais gente a falar o inglês, para além da língua nacional, o persa, sobretudo entre os jovens. Ao contrário do que se possa pensar, a população das cidades é muito aberta e interessada em relação aos estrangeiros, tentando conversar sempre que possível. Também é comum ver mulheres sozinhas, seja a conduzir ou em lugares públicos, como cafés, jardins ou internet. Mas todas, incluindo as estrangeiras, são obrigadas a cobrir todo o corpo, à excepção de cara, mãos e pés. Este é o aspecto mais estranho de uma visita ao Irão; de resto, considere-se num país asiático e muçulmano comum.
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