Bukhara é uma cidade fascinante. O seu velho e histórico coração é porventura ainda mais interessante que o de Samarcanda. E isto apesar de um notório exagero na reabilitação urbana levada a cabo um pouco por todo o centro. Tudo parece demasiado perfeito, quase tão falso como os ninhos de cegonha de cerâmica que decoram (!?) relvados e minaretes. Ainda assim, Bukhara acabou por conquistar-me.
Eu acabei por ficar quatro dias em Bukhara. Gosto de viajar devagar e, quando se está bem, não vale a pena mudar de poiso apressadamente. Eis, pois, o que fazer em Bukhara, segundo o meu olhar e experiência na cidade. Com calma.
Bukhara: o que visitar
1. Arca
Debaixo de um calor infernal, fui visitar a chamada Arca de Bukhara, uma imponente fortaleza localizada no noroeste da cidade contemporânea. O acesso faz-se por uma entrada cerimonial, ladeada por duas enormes torres, instalada no topo de uma rampa defronte da Mesquita Bolo Hauz.
Mal entrei na fortaleza, dei de caras com a Mesquita Jome, onde pontificam colunas e tetos de madeira profusamente trabalhados e decorados de forma muito colorida. Em exposição, manuscritos do Corão, rosários, amuletos e outros objetos de uso quotidiano – maioritariamente de finais do século XIX.
Logo a seguir, o Pátio da Coroação (ou Pátio do Trono), um belo e amplo pátio retangular, com colunas de madeira em três dos lados e um trono de pedra ao fundo, mas infelizmente povoado com atoalhados para venda ao visitante-cliente. Em frente, os estábulos. E depois várias salas do edifício transformadas em museu, onde se exibem artefactos antigos – como moedas, arcos e flechas, machados de guerra e escudos protetores, peças de cerâmica, roupas e instrumentos musicais.
2. Mesquita Kalan
Em frente à Madrassa Mir Arab fica a Mesquita Kalan e, confesso, foi para mim impossível não pensar nas mesquitas iranianas enquanto vagueava pelo seu interior. As colunas, ainda que pouco trabalhadas e caiadas de fresco, faziam de alguma forma lembrar a Mesquita Vakil de Esfahan. É lindíssima.
Do pátio, o omnipresente minarete Kalan continuava a avistar-se.
3. Minarete Kalan
Parte integrante da Mesquita Kalan, o homónimo minarete marca de forma indelével a paisagem urbana de Bukhara. É uma obra arquitetónica majestosa, com uma ponte que a liga ao topo da mesquita e a partir da qual é possível aceder ao interior do minarete.
Imagino que as vistas do topo sejam avassaladoras mas o topo do minarete tem estado inacessível ao comum dos turistas, pelo que não tive oportunidade de subir. Fica para um eventual regresso a Bukhara.
4. Madrassa Mir Arab
Sempre que passei na Madrassa Mir Arab, havia jovens caminhando pelo pátio interior de livro na mão, lendo em andamento, os lábios mexendo como se lessem em voz alta. Outros estavam sentados à sombra, estudando de livro em cima das pernas. Tudo num ambiente de grande serenidade.
Em nenhuma das vezes me foi permitida a entrada, e compreendo perfeitamente. A madrassa não é um museu, antes uma escola corânica em pleno funcionamento – e a presença de turistas apenas iria desconcentrar os alunos.
5. Toqi Zargaron
Entre a Madrassa Mir Arab e o pequeno lago Lyabi Khauz fica a principal área comercial do centro de Bukhara. É lá que se encontram as famosas “cúpulas comerciais” da cidade – hoje mais dedicadas ao turismo do que aos ofícios tradicionais, mas ainda assim interessantes.
Logo a seguir à Madrassa Mir Arab, por exemplo, encontra-se o pequeno bazar Toqi Zargaron, outrora especializado em joalharia cara sofisticada. Mesmo não fazendo compras, gostei de o visitar, uma vez que o edifício é particularmente interessante (apesar de uma recuperação arquitetónica demasiado perfeita).
Seguindo pela rua Khakikat, encontrará outro dos famosos núcleos comerciais de Bukhara: o Telpak Furushon.
6. Toqi Telpak Furushon Bazaar
O mercado Telpak Furushon fica na interseção da rua Khakikat com a zona de lazer de Lyabi Khauz, duas das principais áreas do centro de Bukhara. Debaixo da sua cúpula concentram-se lojas que vendem roupas, facas, algum artesanato e os inevitáveis souvenirs.
Devido à sua localização, passei vezes sem conta pelo Telpak Furushon, tendo tempo para apreciar os artigos dos comerciantes – que, infelizmente, muitas vezes pareciam mais chinesices do que artigos tradicionais.
7. Praça Lyabi Khauz
Lyabi Khauz (“perto da lagoa”, em persa) é o nome da área que circunda uma das poucas lagoas de Bukhara ainda existentes. Antigamente, havia muitas pequenas lagoas como a de Lyabi Khauz nos pátios da cidade velha, entretanto desaparecidas. É, por isso, um improvável “monumento” histórico.
Atualmente, Lyabi Khauz integra o coração turístico de Bukhara, com alguns cafés e restaurantes frequentados por locais e turistas. Ao lado fica a Nadir Divan-Begi Madrasah.
8. Madrassa Nadir Divan-Begi
A Madrassa Nadir Divan-Begi fica no lado leste da Praça Lyabi Khauz. Porventura o aspeto mais curioso da madrassa é o facto de ter notórias semelhanças com um caranvanserai – as antigas estalagens da Rota da Seda. Não consegui entrar e conhecer o seu interior, mas fica a referência caso queira tentar.
9. Museu das Carpetes de Bukhara
O interior da antiga Mesquita Magoki Attori foi transformado no pequeno mas interessante Museu das Carpetes de Bukhara. Lá dentro exibem-se mais de 100 tapetes tradicionais dos séculos XVIII, XIX e início do século XX – quase todos naqueles tons maravilhosos conseguidos a partir da casca da romã -, e ainda alforges e outros objetos de uso quotidiano.
Posso dizer que, apesar de já ter visto centenas de tapetes persas durante as minhas viagens ao Irão, gostei bastante de conhecer o Museu das Carpetes em Bukhara. O museu abriu em 1991.
Dica: não creio que se justifique pagar o custo adicional para fotografar o interior do museu.
10. Galeria de Shavqat Boltaev
Caminhava pela zona velha de Bukhara quando um letreiro me chamou a atenção: Bukhara Photo Gallery. À porta, um rapaz tímido deu-me as boas-vindas.
Entrei, comecei a apreciar o trabalho do fotógrafo Shavkat Boltaev – incluindo fotografias impressas em postais para venda – e escolhi dois postais para levar. E só aí descobri que o rapaz era filho do fotógrafo, e que a pequena loja existia há mais de 30 anos.
Um pequeno achado para os amantes da fotografia (e das artes em geral), bem no coração de Bukhara.
11. Madrassa Abdulaziz Khan
Abdulaziz Khan é uma das maiores madrassas de Bukhara. Infelizmente, é mais uma madrassa transformada em pátio de lojas. Uma pena. Faz parte desta lista com o que fazer em Bukhara apenas para que contemple a sua fachada. Com muita pena minha, esqueça o interior da Madrassa Abdulaziz Khan – transformado numa espécie de centro comercial de mau gosto.
Esse é, na verdade, um fenómeno que encontrei nas três principais cidades históricas do Uzbequistão – Samarcanda, Bukhara e Khiva. Boa parte dos palácios, mesquitas, madrassas e até mausoléus estão transformados em autênticas feiras de souvenirs de origem chinesa.
Há bancas improvisadas que tapam os monumentos, vendedoras mais ou menos insistentes que retiram qualquer possibilidade de contemplação – e tudo isso não raras vezes em locais que integram a lista de Património Mundial do Uzbequistão. Honestamente, não sei como a UNESCO permite tal coisa.
12. Chor Minor
Chor Minor (ou “Quatro minaretes”, em persa) é a porta de entrada para a atualmente inexistente Madrassa Khalif Niyaz-kulis. Não fora o interior transformado em loja e o ninho de cegonha falso num dos minaretes, e seria seguramente o edifício mais extraordinário de Bukhara.
Seja como for, não deixe de o incluir na lista com o que fazer em Bukhara. É mesmo diferente de tudo o que já viu!
13. House “Museum“
Ia a caminho do Chor Minor quando um senhor de idade avançada me abordou na rua, indicando o caminho para uma casa antiga, em péssimo estado de conservação. À porta, reparei num letreiro que dizia House Museum. Pelo que percebi – mesmo não tendo uma língua em comum – aquela tinha sido a casa do senhor e da sua família. Tinha cinco filhos, explicou por gestos.
A casa estava muito degradada, a clamar por um restauro profundo, mas por isso mesmo tive oportunidade de ver um lado de Bukhara menos embelezado para o turismo, mais autêntico (embora degradado). Foi uma experiência incrível, um feliz acaso, para contrabalançar as cegonhas de praças e monumentos. Ali, parecia ter entrado num edifício abandonado, parado no tempo há quase dois séculos. Valeu a pena.
Nota: à saída, preparava-me para dar uma gratificação justa pela visita quando tive uma surpresa desagradável. O senhor pediu, com gestos, 40.000 SOM (muito mais do que qualquer outra mesquita ou madrassa de Bukhara). Não gostei da atitude.
14. Mesquita Bolo Hauz
A Mesquita Bolo Hauz fica a uma centena de metros da entrada da cidadela Ark, e vale sem dúvida a visita. Tem colunas de madeira trabalhadas; belíssimos tetos de madeira com padrões geométricos e alguns frescos; e ainda painéis de azulejos que, apesar de desbotados pelo tempo, continuam incrivelmente bonitos. A visitar.
15. Café Wishbone Bukhara
Um café muito agradável para fugir do sol escaldante de Bukhara, descansar um pouco entre mesquitas e madrassas e, claro, tomar um bom café. Foi poiso que usei um par de vezes entre as visitas às atrações da cidade.
A visitar nos arredores de Bukhara
Caso esteja em Bukhara mais tempo, há algumas atividades fora da cidade que deve considerar fazer. Deixo aqui dois exemplos:
- Visitar Uba, uma aldeia famosa pelos seus fornos de barro artesanais. Quase todos os habitantes ganham a vida moldando os fornos de barro.
- Visitar o mercado animal que acontece duas vezes por semana (domingos e quintas-feiras) nos arredores de Bukhara. Peça um táxi para “Molbazaar” de manhã muito cedo; o mercado termina às 9:00 da manhã. Se ficar hospedado na Art Guest House USTO (ver abaixo), o proprietário pode ajudá-lo.
Mapa: o que fazer em Bukhara
Guia prático
Quando ir
De forma simplista, evite as temperaturas extremas do verão e do inverno. Ou seja, viaje para Bukhara preferencialmente na primavera ou no outono, quando as temperaturas são mais moderadas. Dito isto, eu visitei Bukhara em meados de maio e apanhei 35 graus centígrados; muito calor, é certo, mas longe dos 45 ou mais do pico do verão.
Como chegar a Bukhara
Por terra, quer chegue da capital Tashkent, Khiva ou Samarcanda, a melhor forma de viajar até Bukhara é de comboio. Entre Tashkent e Bukhara há inclusive um comboio rápido que faz a viagem em menos de quatro horas.
Quanto aos bilhetes, eu pesquisei online na tutu para planear o meu roteiro no Uzbequistão; mas comprei-os pessoalmente na estação de Tashkent, no meu primeiro dia na cidade.
Para encontrar os melhores voos para Tashkent, utilize o link abaixo.
Onde ficar
Eu fiquei numa excelente pousada chamada Old Bukhara, com quartos imaculadamente limpos e com uma localização fantástica, perto do minarete Kalan! Veja o post onde ficar em Bukhara para informações detalhadas sobre os melhores bairros e hotéis da cidade.
Em resumo, as pousadas Rizo Boutique, Kavsar e Minzifa Inn têm localização privilegiada, no coração da cidade; e, não sendo hotéis de luxo, são muito elogiadas pelos serviços, conforto e hospitalidade. Alternativamente, para uma opção mais barata, o Graf é um hostel recomendado pela limpeza impecável e hospitalidade (tem uns impressionantes 9,9 no booking).
Caso se interesse pelo mundo das artes, com especial ênfase na fotografia, fique na Art Guest House USTO, propriedade do fotógrafo uzbeque Shavqat Boltaev referido acima. Em menos de nada fará parte da família – absolutamente recomendável.
Por fim, saiba que em Bukhara é possível dormir em hotéis instalados em antigas madrassas. O melhor de todos é o Amulet Hotel. Para outras alternativas de hospedagem, incluindo pequenas guesthouses de qualidade, use o link abaixo.
Onde comer
Entre todos os restaurantes que experimentei, há um que merece inequívoco destaque. Chama-se Bolo Hauz, foi-me recomendado pelo dono da pousada onde me hospedei e fica no jardim em frente à mesquita homónima (ver mapa). É bom e barato – pode ir à confiança.
Recomendo especialmente que prove o lagman uzbeque, algo entre uma sopa substancial e um estufado com massa. Leva carne ou frango, cenoura, batata, pimentão, tomate e cebola, tudo misturado com especiarias. Por fim, junta-se esparguete grosso e serve-se na água da cozedura – como se fosse uma sopa. É delicioso!
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
A descrição é bastante simples mas dá uma ideia daquilo que um viajante deve saber.