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Khiva: os meus lugares preferidos (o que fazer)

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Khiva: cidadela Itchan Kala
Vista do interior da cidadela Itchan Kala – o coração de Khiva – ao entardecer

É praticamente impossível um viajante não se apaixonar por Khiva, porventura a pérola maior da Rota da Seda em território uzbeque. A cidadela Itchan Kala, o centro histórico de Khiva, está relativamente bem preservada, é certo; mas o mais interessante é que não se transformou num museu. Ao invés, as pessoas continuam a habitar o centro histórico de Khiva. E isso dá-lhe em encanto inigualável.

Infelizmente, por qualquer motivo que desafia a mais elementar racionalidade e tal como em Samarcanda e Bukhara, também na cidadela Itchan Kala os principais monumentos históricos estão pejados de lojas e vendedores que, não raras vezes, tapam as atrações com as suas bancas e produtos.

Fortaleza Kunya Ark, Khiva
Fortaleza Kunya Ark, localizada no interior da cidadela de Khiva

Não compreendo como se permite tal poluição visual no inestimável património de palácios, madrassas e mesquitas. Bastava os vendedores ficarem no exterior dos monumentos – não dentro! -, e tudo seria diferente.

Ainda assim, Khiva foi um dos pontos altos do meu roteiro no Uzbequistão. Eis, pois, uma pequena lista com o que fazer em Khiva, de acordo com a minha experiência de quatro dias na cidade.

O que visitar em Khiva

1. Mesquita Juma

Mesquita Juma, Khiva
Interior da Mesquita Juma, em Khiva

Localizada no coração da cidade velha, a Mesquita Juma (ou Mesquita das Sextas-feiras) é o mais importante espaço religioso de Khiva.

Composta por mais de duzentas colunas de madeira em olmo preto – boa parte delas antiquíssimas e trabalhadas – e dada a quase ausência de entradas de luz, o ambiente no interior da mesquita é deliciosamente sombrio, quase místico. Não menos relevante, é muito fresco, proporcionando um merecido descanso do sol implacável de Khiva.

Pela minha parte, estava tão fascinado que acabei por ficar tempos infinitos a contemplar o interior da velha mesquita, enquanto pequenos grupos de visitantes iam entrando e saindo de forma mais apressada.

Tudo somado, a Mesquita Juma é uma das mesquitas mais extraordinárias (e antigas!) que tive oportunidade de visitar, tendo causado em mim uma emoção porventura apenas comparável à que senti quando entrei pela primeira vez na velha mesquita de Abyaneh, no Irão. Imperdível!

2. Minarete Islam Khoja

O que fazer em Khiva: visitar Minarete Islam Khoja
O Minarete Islam Khoja visto “do outro lado”, a caminho da minha guesthouse em Khiva

O complexo da madrassa Islam Khoja é um dos locais mais importantes de Itchan Kala, que integra a lista de Património UNESCO no Uzbequistão. Ora, quando soube que era possível subir ao topo do Minarete Islam Khoja, a estrutura mais alta da cidade velha e de cujo topo se desfruta de vistas incríveis, não poderia deixar de o fazer.

A subida, essa, não é nada confortável. Faz-se através de uma escadaria muito íngreme e cada vez mais estreita e claustrofóbica à medida que, qual saca-rolhas em movimento perpétuo, se vai subindo agarrado às paredes poeirentas pelo interior do minarete céus adentro. Não é fácil, mas posso garantir que o esforço compensa.

Convém no entanto estar ciente que, ao contrário de outras estruturas arquitetónicas de Khiva, o Minarete Islam Khoja é relativamente recente, datando do início do século XX.

3. Fortaleza Kunya-Ark

Kunya-Ark
Kunya-Ark, um dos edifícios mais imponentes de Khiva

Dentro da cidadela de Khiva existe uma outra fortaleza chamada Kunya-Ark. Trata-se de um dos mais emblemáticos edifícios de Khiva, uma antiga residência dos governantes da cidade entretanto convertida em museu.

O projeto museulógico tem notórias deficiências que dificultam a visita (algumas salas nem iluminação tinham), mas ainda assim vale a pena.

Encontrei belas peças de cerâmica dos séculos XVIII e XIX; mas o que mais me fascinou foi, na verdade, uma sala que estava fechada para obras de restauro. Por sorte, vi um uzbeque entrar e pedi para espreitar. Lindo!

Sala no Kunya-Ark
Sala maravilhosa no interior de Kunya-Ark

Curiosa é a existência de um auditório ao ar livre para projeção de cinema, com o Minarete Kalta-minor em pano de fundo. Não me ocorre melhor local para ver um filme sobre a antiga Rota da Seda.

É também possível subir ao topo do edifício para umas belas vistas sobre a cidadela de Khiva. Vale a pena.

Madrassa Mohammed Rakhim Khan

Madrassa Mohammed Rakhim Khan, Khiva
Entrada para a Madrassa Mohammed Rakhim Khan

Uma nota sobre a Madrassa Mohammed Rakhim Khan, localizada em frente à fortaleza Kunya-Ark. Não me foi permitido visitar a madrassa propriamente dita. Visitei apenas duas salas à entrada, de interesse reduzido. Dispensável, portanto.

4. Mausoléu Pakhlavon Mahmoud

O que fazer em Khiva: mausoléu Pakhlavon Mahmoud
Sarcófagos no Mausoléu Pakhlavon Mahmoud, em Khiva

Pakhlavan Mahmoud foi um poeta, filósofo e lutador lendário tornado santo padroeiro de Khiva. O mausoléu construído em sua honra é visualmente avassalador – lindo, em tons de azul, com alguns dos azulejos mais bonitos da cidade.

Um daqueles lugares que, inexplicavelmente, me deixam com os olhos humedecidos e a boca aberta de espanto.

5. Palácio Tash Khovli

Palácio Tash Khovli, Khiva
O pátio do harém do Palácio Tash Khovli, em Khiva

O Palácio Tash Khovli foi construído entre 1830 e 1838 por ordem de Allakuli-Khan. Fica na zona oriental de Itchan Kala e é, para mim, outro dos edifícios mais marcantes de Khiva.

Dos aposentos do khan e suas esposas ao pátio do harém, decorado com belíssimos azulejos em tons de azul, colunas de madeira profusamente trabalhadas e bonitos tetos também de madeira. É mesmo muito, muito bonito!

6. Minarete Kalta-minor

O que ver em Khiva: Minarete Kalta-minor
O inacabado Minarete Kalta-minor, na cidadela de Khiva

Sem dúvida um dos monumentos mais conhecidos de Khiva, o Minarete Kalta-minor é, na verdade, uma obra incompleta. Foi mandado construir por Muhammad Amin-Khan com o objetivo de ser o maior minarete de Khiva (teria 80 metros de altura); mas, após a sua morte no campo de batalha, o minarete acabou por nunca ser terminado.

Ainda assim, com um diâmetro impressionante e uma decoração vibrante e colorida, o Minarete Kalta-minor é, ainda hoje, um dos ex-líbris da cidadela de Khiva.

7. Explorar as áreas menos turísticas de Khiva

Rua de Khiva
O lado B de Khiva, sem turistas

Apesar da fortaleza de Khiva ser relativamente pequena e ter uma zona central muito turística, saindo dessa área em direção às portas Norte ou Sul encontra-se uma Khiva totalmente diferente.

Uma faceta menos arranjadinha, com um labirinto de ruelas de terra batida e casas habitacionais simples e antigas. É onde vivem as gentes locais e, por isso, o melhor lugar para tomar contacto com o lado menos turístico da cidade histórica.

Tendo tempo, pode também sair da cidadela Itchan Kala para conhecer outras partes da cidade. O Palácio Isfandiyar, por exemplo, fica bem perto das muralhas.

8. Caminhar no topo das muralhas

Muralhas de Khiva
Vista das muralhas de Khiva, junto à porta norte

Em alguns pontos das muralhas que circundam a velha Khiva é possível subir ao seu topo e caminhar, permitindo ter uma visão diferente sobre a cidadela Itchan Kala. Tendo tempo, é algo a incluir na lista com o que fazer em Khiva.

Dica: caso decida passear pelo topo das muralhas, evite as horas de maior calor.

9. Palácio Isfandiyar (ou de Nurullabay)

O que visitar em Khiva: Palácio Isfandiyar
Palácio Isfandiyar, uma atração a visitar no exterior das muralhas

O Palácio Isfandiyar fica na chamada Dishan Kala (ou “fortaleza exterior”), fora da área muralhada de Khiva conhecida como Itchan Kala.

O complexo tem vários pátios e jardins, uma área governativa, espaços cerimoniais e um salão para receção de individualidades. Diz-se que a decoração do palácio contou não apenas com os melhores artesãos da região mas também com artistas alemães, introduzindo elementos do chamado “modernismo europeu” na decoração do palácio.

É, seguramente, uma das melhores razões para sair da cidadela de Khiva e ir à procura de outros atrativos.

10. Velhos cemitérios de Khiva

O que visitar em Khiva: cemitérios
Um dos velhos cemitérios de Khiva que visitei

Numa das minhas incursões para fora da cidadela encontrei a Mesquita Bikajon Bika, localizada quase em frente à porta Oeste de Itchan Kala. Nas suas traseiras, ficava um dos mais bem cuidados entre os característicos cemitérios que vislumbrei na velha Khiva. Vale bem a visita.

Nota: existem outros velhos cemitérios no interior de Itchan Kala, e alguns deles têm vindo a receber obras de restauro. Procure, por exemplo, o Mausoléu Horis Bobo, no extremo sudoeste da cidadela; ou junto ao Mausoléu Pakhlavon Mahmoud.

11. Fim de tarde no Terrassa Cafe

Durante a viagem a Khiva, poucas coisas me souberam tão bem, no final de um dia de sol abrasador, como subir ao terraço do restaurante Terrassa Cafe para petiscar qualquer coisa e beber uma cerveja gelada a preços inflacionados. A brisa, a vista e uma refrescante cerveja gelada para contrabalançar com o calor tórrido de Khiva. Recomendo.

12. Passear à noite na cidadela Itchan Kala

Minarete Kalta-minor, Khiva
Ao fundo, o Minarete Kalta-minor

Assim que a tarde desmaia, os turistas desaparecem das ruas e a iluminação pública se acende, Khiva ganha um ambiente indescritivelmente belo. É, para mim, um dos prazeres secretos de uma visita à pérola maior da Rota da Seda.

Mapa: o que fazer em Khiva

Cafés de Khiva
Vagueando pela cidadela, encontram-se muitos recantos acolhedores

Guia prático

Como chegar a Khiva

Por terra, a melhor forma de viajar até Khiva é de comboio. Prepare-se, no entanto, para uma viagem de aproximadamente 14 horas. Quanto aos bilhetes, eu pesquisei online na tutu para planear todo o itinerário no Uzbequistão; mas comprei-os pessoalmente na estação da capital Tashkent, no meu primeiro dia na cidade.

Se preferir voar, o aeroporto mais próximo de Khiva é o de Urgench, a pouco mais de 30 km da cidade. A Uzbekistan Airways tem dois ou três voos diários entre Tashkent e Urgench.

Pesquisar voos para Urgench

Dicas úteis

Entrada na cidadela

As autoridades de Khiva criaram dois bilhetes únicos que permitem visitar quase todas as atrações na cidadela Itchan Kala: um standard (100.000 SOM) e um V.I.P. (150.000 SOM). A diferença entre eles é que o VIP permite subir a três minaretes. Ambos os bilhetes permitem duas entradas em cada atração durante um período de dois dias.

Dinheiro

Ao contrário do que li em vários blogs, atualmente já existem ATM em Khiva ligados às redes internacionais Visa e Mastercard. Pondere a utilização de um cartão como o cartão Revolut para pagar menos taxas.

Onde ficar

Para informações mais detalhadas, veja o post que escrevi precisamente sobre onde ficar em Khiva, onde tem muitas sugestões, incluindo de novas pousadas. Em resumo, eu fiquei numa guesthouse muito recente e super bem referenciada chamada Islam Khodja, com anfitriões muito simpáticos e prestáveis. É mais parecido com ficar em casa de alguém do que num hotel, num registo bastante simples e agradável. Recomendo, desde que modere as expectativas.

Outras alternativas na mesma faixa de preço incluem os muito elogiados Meros B&B (tem um terraço magnífico dentro da cidade velha), Art House Hotel e Qosha Darvoza (fora das muralhas). Tendo um orçamento mais folgado, ficará seguramente bem hospedado em unidades hoteleiras como o Arkanchi Hotel (relativamente acessível) e o Silk Road Caravan Sarai.

Seja como for, todos os meses aparecem novos hotéis em Khiva – vá pesquisando no booking usando o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Khiva

Onde comer

Há vários restaurantes com boa comida na cidadela de Khiva. Entre os que experimentei, referência para o mais turístico Zarafshon Cafe (quando há grupos grandes e barulhentos perde o encanto), localizado mesmo ao lado do Minarete Islam Khoja; e para a já referida esplanada do Terrassa Cafe.

Dito isto, o lugar onde almocei mais vezes foi o simplérrimo e baratíssimo Chaixana Rustamboi, localizado em frente à porta Oeste (fora da cidadela). Não espere refeições gourmet.

Seguro de viagem

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.