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Passadiços de Vila do Conde: um passeio junto ao mar, da praia da Azurara a Angeiras

Por Filipe Morato Gomes
Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo
Praia da Areia, na Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde

O concelho de Vila do Conde tem uma faixa litoral sul apaixonante, que eu conheço há muito tempo (já morei em Vilar do Pinheiro). Locais como Vila Chã, Labruge e praia de Moreiró, por exemplo, são lugares que frequento regularmente. Mas, apesar disso, nunca tinha percorrido a pé essa costa, de ponta a ponta, através da rede de passadiços de madeira.

Assim, neste artigo vou partilhar a minha experiência nos Passadiços de Vila do Conde, oficialmente chamados de Ecovia do Litoral Sul. É um belo passeio para fazer em família, entre a Praia da Azurara, junto à foz do rio Ave, e a foz do rio Onda, localizada entre Labruge e Angeiras, na fronteira com o vizinho município de Matosinhos. Vamos a isso.

Percorrer os Passadiços de Vila do Conde (a minha experiência)

Praia da Azurara

Início dos passadiços de Vila do Conde, Azurara
Pouco depois do início dos passadiços de Vila do Conde, em Azurara

Cheguei à Praia da Azurara às 7:30 da manhã. Estava um dia lindo, daqueles típicos dias de sol de inverno, não demasiado quente e sem vestígios de qualquer nortada, quase perfeito para caminhar.

Foi um início de trilho visualmente encantador, com os passadiços sobrelevados ao cordão dunar, permitindo observar o areal de uma das melhores praias da região.

Passadiços de Vila do Conde: Praia de Azurara
Praia da Azurara

Por vezes, os passadiços tinham bifurcações para permitir o acesso dos veraneantes ao areal. Desviei-me um par de vezes do trilho principal para poder apreciar de perto a Praia da Azurara, tocar na areia e sentar-me a contemplar um mar que, naquele dia, estava incrivelmente tranquilo.

Adiante, logo após cruzar um pequeno ribeiro, fiquei de frente para a Praia da Areia.

Praia da Areia

Praia da Areia

Desconheço a origem do nome, mas sempre me pareceu curioso a existência de uma praia chamada da Areia numa região em que todas as praias têm, de facto, areia. Mas a verdade é que o areal é imenso, ligando a Azurara ao Mindelo, e foi isso mesmo que pude observar sentando-me por instantes numas plataformas de madeira instaladas junto às dunas. O dia estava propício para fazer as coisas com calma!

Prossegui então a caminhada sobre os passadiços instalados no cordão dunar, muito perto da praia, em plena Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo. Em alguns locais, o piso estava coberto de areia trazida pelos ventos do Norte de Portugal, tornando a progressão um pouco mais cansativa. Mindelo, esse, estava cada vez mais perto.

Mindelo

Mindelo, Vila do Conde
Apreciando o mar em Mindelo

Sendo um dos lugares mais procurados do litoral de Vila do Conde, Mindelo estava estranhamente deserto. Estávamos em tempos de pandemia, e isso explica a ausência de pessoas e o encerramento dos cafés e restaurantes da povoação.

Por esta altura, os passadiços de madeira deram temporariamente lugar a passeios calcetados. Atravessei o povoado e entrei novamente nos passadiços, a tempo de me cruzar com uma senhora que, lá para os lados do Clube Atlântico, ao ver-me fotografar, me chamou a atenção para o trabalho solitário de um homem que, aos poucos, ia construindo uma barreira de junco entrançado para conter o avanço da areia.

Passadiços de Vila do Conde em Mindelo
Passadiços de Vila do Conde na zona de Mindelo

A partir daí, os passadiços atravessam um areal praticamente contínuo que vai mudando de nome – praia de Laderça, praia da Terra Nova, praia da Congreira -, antes de por fim chegar a Vila Chã, um dos meus destinos preferidos de Vila do Conde.

Vila Chã

Trilho do Litoral Sul de Vila do Conde: Vila Chã
Casas de pescadores à chegada a Vila Chã

Vila Chã é uma povoação piscatória pequena e encantadora. Os passadiços de madeira ladeiam umas humildes casas de pescadores, antes de se evaporarem e o trajeto me levar pelas ruas de Vila Chã. Foi então que passei junto ao porto de pesca, numa altura em que, entre amanhar o peixe e tratar das redes de pesca, ainda havia alguns pescadores e peixeiras a trabalhar.

Poderia ter prosseguido normalmente, mas dei por mim a conversar com as peixeiras, observando e absorvendo tudo em meu redor. A manhã ia já a meio, pelo que o ambiente estava calmo mas ainda assim interessante. Mas por ali me delonguei algum tempo, confesso.

Porto de pesca em Vila Chã
Porto de pesca em Vila Chã
Pormenor de um barco de pesca
Pormenor no porto de pesca, em Vila Chã
Vila Chã
O Trilho do Litoral Sul de Vila do Conde atravessa as ruas de Vila Chã
Reserva Ornitológica de Mindelo, Vila do Conde
Paisagem Protegida da Reserva Ornitológica de Mindelo

Saindo de Vila Chã, estava prestes a regressar a um lugar que frequentei muitas vezes enquanto vivi em Vilar do Pinheiro. Era, por assim dizer, a minha praia.

Praia de Moreiró

Praia de Moreiró, Vila do Conde
Praia de Moreiró, Vila do Conde

O Bar do Zé, como me habituei a chamar ao bar da praia de Moreiró, estava naturalmente fechado. Recordo o areal outrora imenso, entretanto cavado pelas marés vivas dos últimos anos. Quem acompanha as minhas viagens saberá que tenho um fascínio pela praia da Carriagem, no litoral alentejano, mas Moreiró continuará, sempre, a ser a minha praia no Norte de Portugal.

Bar na praia de Moreiró
Pormenor do bar da praia de Moreiró

The beach is my happy place“, estava pintado em ripas de madeira. É isso. Nunca fui pessoa de fazer praia, mas adoro o ambiente do litoral, o cheiro a maresia e uma esplanada com bons petiscos e em agradável companhia. Era tudo isso que costumava encontrar na praia de Moreiró.

Não sendo ainda época balnear, era então altura de prosseguir os passadiços de Vila do Conde em direção a outro meu velho conhecido: o vizinho Castro de São Paio.

Castro de São Paio

Castro de São Paio
Passadiços de Vila do Conde junto ao Castro de São Paio

É, porventura, uma das secções mais bonitas dos passadiços de Vila do Conde, a zona de Castro de São Paio, junto à homónima capela e à Praia Pequena. E eu já muitas vezes por ali caminhei. É lindo, lindo.

Pela negativa, fica ali a única parte dos passadiços de Vila do Conde não utilizável por passageiros com mobilidade reduzida, numa região onde há um ligeiro aumento de altitude e escadarias para a vencer, até se passar ao lado do Vértice Geodésico de São Paio, a partir de onde se pode desfrutar de amplas vistas sobre o litoral.

Praia Castro de São Paio
Vista da praia de Castro de São Paio a partir do Vértice Geodésico de São Paio
Horta, Castro de São Paio
Horta junto aos passadiços de Vila do Conde, entre Castro de São Paio e Labruge

Passando o Vértice Geodésico de São Paio, o percurso pelos passadiços de Vila do Conde sofre uma ligeira descida, acompanhada por uma horta bem cuidada entre o trilho e o areal. É o início da extensa praia de Labruge, último areal em território vila-condense.

Labruge

Passadiços de Vila do Conde: praia de Labruge
Passadiços junto à praia de Labruge

Com os passadiços de Vila do Conde de novo ao nível do mar, fui-me aproximando da povoação de Labruge. Tal como Moreiró, também a praia de Labruge é uma velha conhecida, embora, na verdade, o bar/restaurante ali instalado nunca foi dos meus favoritos.

Praia de Labruge

Curiosamente, no final da praia de Labruge, o passadiço apareceu marcado com uma cruz de Pequena Rota amarela e vermelha, orientando os caminhantes para não prosseguirem o trajeto por ali. Ao lado, uma indicação para abandonar os passadiços e virar para o interior, aparentemente pela simples razão de que os limites administrativos do concelho de Vila do Conde ali terminam – coisa que não me pareceu fazer muito sentido. Naturalmente, não respeitei a sinalética, porque queria atravessar a ponte pedonal e chegar a Angeiras.

Foz do rio Onda

Foz do rio Onda
Foz do rio Onda, no extremo Sul do concelho de Vila do Conde

Adiante encontrei a ponte sobre o rio Onda, que assinala o limite sul do município de Vila do Conde. Do outro lado, vi a primeira secção de passadiços de madeira em trabalhos de substituição, porventura uma melhoria do equipamento que visava antecipar – e muito bem – a maior procura dos meses de verão.

Assim que atravessei a ponte, tinha então deixado os passadiços de Vila do Conde para trás e estava no concelho de Matosinhos. Mas, como sempre digo, para os viajantes pouco interessam estas limitações administrativas, pelo que, ao invés de voltar tudo para trás e regressar a Azurara, decidi continuar a caminhada em direção à cidade de Matosinhos.

Litoral do concelho de Matosinhos

Obelisco da Memória, na praia da Mamória, Matosinhos
Obelisco da Memória

Passei por Angeiras, Lavra, Agudela e pela praia da Memória; mas, com boa parte dos passadiços de madeira encerrados para substituição, a caminhada foi perdendo algum interesse. E assim, chegado à Casa de Chá da Boa Nova, já depois do Cabo do Mundo, decidi dar por terminado o passeio. O objetivo original era ir a pé até casa, no centro de Matosinhos (a 4 km de distância); mas, tendo de caminhar junto à estrada devido às obras nos passadiços, fui-me desmotivando e optei por chamar um Uber. E foi uma boa decisão.

Assim que as obras de substituição dos passadiços estejam terminadas no lado de Matosinhos, essa parte do passeio ficará mais interessante; pelo que, tendo pernas e vontade, poderá valer a pena prosseguir, pelo menos, até à Praia da Memória. Ou, no limite, até à Praia de Leça da Palmeira.

Ficha técnica: Passadiços de Vila do Conde

  • Tipo de percurso: Linear.
  • Início/Final: Praia da Azurara/Foz do rio Onda (limite sul da freguesia de Labruge).
  • Distância: 8,6 km (eu caminhei quase 18 km, mas a parte pertencente a Vila do Conde, entre a Praia da Azurara e a foz do rio Onda, são os tais 8,6 km).
  • Duração: +- 2 horas, até Angeiras (eu demorei 5 horas para fazer 18 km, até à Boa Hora, mas com inúmeras paragens para fotografar).
  • Dificuldade: Fácil (sempre plano).
  • Acessível a viajantes com mobilidade reduzida: quase totalmente acessível, mas com uma escadaria junto a Castro de São Paio que impossibilita fazê-lo de ponta a ponta.
  • Sinalização: O percurso pode não estar sempre marcado com as habituais listas vermelhas e amarelas de “Pequena Rota”, mas é difícil enganar-se. Note no entanto que, no final da praia de Labruge, o passadiço aparece marcado com uma cruz, orientando os caminhantes para não prosseguirem e se manterem no concelho de Vila do Conde; se quiser atravessar a ponte sobre o rio Onda e continuar para Angeiras, ignore a sinalética.
  • Acessibilidade: Muito fácil, especialmente com viatura própria (veja como chegar, abaixo); de metro ou autocarro também é possível.

Guia prático

Como chegar aos Passadiços de Vila do Conde

Os Passadiços de Vila do Conde, ou Ecovia do Litoral Sul, podem ser percorridos a pé em qualquer sentido. Eu fiz o sentido Norte-Sul, de manhã cedo, e pareceu-me uma boa opção.

Assim, se for em grupo e tiverem dois carros, deixe um no local onde conta terminar o passeio (recomendo Angeiras, a não ser que queiram caminhar mais alguns quilómetros, como eu fiz) e sigam com a outra viatura até ao ponto inicial, na Praia da Azurara (ver localização exata do início dos passadiços no Google Maps). Ou vice-versa.

De metro, pode sair na estação de Azurara, na linha da Póvoa de Varzim, e andar cerca de 2 km até à Praia da Azurara. Mas tenha em atenção que, daí para a frente (em direção a sul), a linha de metro vai ficando cada vez mais longe da costa. Ou seja, no final da caminhada será melhor apanhar um Uber ou esperar por um autocarro – veja as linhas 104, 119, 132 e 133 na aplicação moovit.

Dicas úteis

De resto, eis algumas dicas adicionais para desfrutar dos passadiços de Vila do Conde:

  • Pode perfeitamente fazer os passadiços com crianças (desde que habituadas a caminhar!), incluindo carrinhos de bebé. Terá apenas uma escadaria para subir, em Castro de São Paio, mas com alguma ajuda não terá problemas de maior. Note que alguns trechos dos passadiços podem estar cobertos por areia, o que dificulta a progressão.
  • Não é permitido andar de bicicleta nos passadiços de Vila do Conde.
  • Se puder escolher, vá de manhã muito cedo ou ao final da tarde.
  • Em dias de sol, leve chapéu e protetor solar (as sombras são praticamente inexistentes).
  • Não é preciso levar botas de trekking, já que o trilho é sempre plano e com terreno regular – na maior parte do percurso em passadiços de madeira.
  • Ao longo do percurso, há bebedouros públicos disponíveis em várias praias (não estavam a funcionar quando percorri os passadiços, em tempos de pandemia).
  • Como é evidente, não deite lixo para as dunas.

Onde comer

Caso pense terminar o passeio na foz do rio Onda à hora da refeição, vale a pena caminhar mais alguns metros até Angeiras, para almoçar ou jantar num dos vários restaurantes especialistas em peixe e marisco. Lembro-me de ali fazer boas refeições nos restaurantes Casa do Gordo e Atlântico. Mas há muitos outros bons restaurantes em Angeiras.

Onde ficar em Vila do Conde

Caso opte por ficar hospedado em Vila do Conde, saiba de antemão que vai encontrar preços mais elevados do que provavelmente esperava. Há, ainda assim, um par de bons hotéis onde vale a pena ficar, nomeadamente o Hotel Brazão, de três estrelas, localizado no centro da cidade; ou o muito melhor (mas mais caro) Villa C Boutique Hotel, na Praia da Azurara (junto ao início dos passadiços). Para ver todas as opções hoteleiras, incluindo apartamentos, utilize o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Vila do Conde

No caso de Matosinhos, veja o artigo sobre onde ficar em Matosinhos, onde explico as melhores regiões e hotéis mais recomendados da cidade.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.