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Por que não fotografei os pescadores sobre estacas do Sri Lanka

Por Filipe Morato Gomes | Fotografia Viagens Ásia Galle Sri Lanka
Atualizado em 1.09.2022 | Tempo de leitura: 5 minutos

Pescadores sobre estacas no Sri Lanka
As estacas sem os tradicionais pescadores do Sri Lanka, numa praia da costa sul © Rita Andrade

Quando planeei o meu roteiro de viagem no Sri Lanka, uma das coisas que queria fazer no sul do país era fotografar os pescadores que se dependuram em estacas de madeira para pescar. É uma das imagens mais icónicas do Sri Lanka, ao ponto de servir de capa para guias de viagem dedicados ao antigo Ceilão.

Chegado a Galle, conversei com o simpático casal que me acolheu em sua casa, indagando sobre locais onde seria possível ver e fotografar os pescadores tradicionais do Sri Lanka sem nórdicos ou japoneses empoleirados, eles próprios, nas estacas dos pescadores.

Estava, pois, avisado do circo em que alguns locais outrora dedicados à pesca se tinham tornado, com os pescadores a pedirem dinheiro para se deixarem fotografar. O que eu não sabia é que isso era o normal nos dias de hoje. Pensei que haveria mais pescadores autênticos, mesmo na época alta do turismo. Enganei-me.

À procura dos (autênticos) pescadores do Sri Lanka

Os meus anfitriões – ele oriundo de Colombo, ela de Galle – aceitaram levar-me a locais onde, pensavam eles, seria possível ver e fotografar os pescadores a pescar em estacas. Saímos de Galle e fomos perscrutando a costa sul até avistarmos pescadores (a estrada segue junto à costa).

A primeira paragem foi na praia de Koggala. Um autocarro de turismo acabado de estacionar denunciou os momentos seguintes (na verdade, denunciou tudo o que eu veria nesse fim de tarde). Estacionámos o carro, atravessámos a rua para o início do areal, e fomos imediatamente abordados por um pescador a pedir dinheiro para poder fotografar. E não era pouco: “1.000 rupias para tirar todas as fotos que quiser” (mais de 5€). Obviamente, recusei. O pescador funcionava como uma espécie de porteiro, e só faltava barrar a passagem a quem não pagasse.

Nas estacas, dois ou três pescadores fingiam pescar, de cana em riste. O seu olhar não estava preocupado com a pescaria; antes, tentavam encontrar prevaricadores entre os que não pagaram para fotografar. O contra-luz estava perfeito, estava roído por dentro com a frustração, mas a minha máquina fotográfica manteve-se imóvel. É uma questão de princípios.

Eu fui andando pelo areal, sem fotografar, enquanto o pescador-porteiro me foi seguindo, desconfiado, para garantir que eu não fotografava. Ao invés, o grande grupo de turistas não foi incomodado – o pagamento estava naturalmente já acertado com o operador turístico.

O casal cingalês estava estupefacto; não sabia que os pescadores cobravam pelas fotos. “Vamos mais para a frente, há muitos pescadores”. Queriam crer que seria só ali, em Koggala; estavam certos que haveria lugares em que os pescadores sobre estacas do Sri Lanka estariam … a pescar.

Prosseguimos, parando em mais quatro locais onde vimos homens pendurados nas estacas, com canas de pesca na mão. Em todos eles, havia um pescador em terra que, assim que alguém se aproximava, pedia dinheiro para que lhe fosse permitido fotografar os dois ou três pescadores pendurados nas estacas (a fingir que estavam a pescar). E o preço era sempre o mesmo: 1.000 rupias.

Às tantas, já nem parávamos – bastava ver o pescador da estrada, tipo guarda, à espera de turistas, para perceber que os pescadores, provavelmente, nem a pescar estariam. Uma e outra vez. Até que, com o sol quase a pôr-se, desistimos.

Foi uma dor de alma.

Pagar ou não pagar para fotografar

Por muito que quisesse ter fotos dos pescadores, recuso-me a entrar neste jogo que subverte a lógica das coisas. É certo que era a época alta do turismo na costa sul do Sri Lanka; e que, provavelmente, os pescadores fazem mais dinheiro a deixar-se fotografar do que a pescar (e nem sempre podem pescar). É também evidente que toda a gente tem direito a ter uma vida melhor; e que, se o rendimento da atividade de “modelo fotográfico” é mais rentável do que a pesca propriamente dita, é difícil criticar os pescadores.

Mas, por outro lado, é constrangedor vê-los participar naquela farsa, fingindo pescar para gáudio dos turistas que porventura nem se apercebem que estão a ser enganados.

Para que fique claro: o que me parece discutível não é o facto de os pescadores quererem ganhar dinheiro com o turismo. É a falta de consciência que, a prazo, essa opção é uma má aposta (os turistas procuram autenticidade); isso e o facto de muitos turistas entrarem no jogo (talvez sem saberem, reconheço).

Na minha ótica, este é um exemplo típico do lado mau do turismo. Aquele que fomenta o fim das tradições, que deturpa, que contamina a alma dos lugares. E isso é muito triste. Além de que, a médio prazo, é um suicídio. Qualquer dia, deixando de haver verdadeiros pescadores em estacas; perdendo-se a identidade que torna aquele destino único e apetecível; perdendo o lugar a sua alma, o turista perderá interesse naquelas praias e procurará outros lugares, digamos, mais autênticos.

Por outro lado, alimentar o negócio das fotografias é contribuir para retirar os pescadores da sua atividade natural, a pesca. No fundo, é contribuir para o fim daquilo que se admira. E isso, acontecendo, repito, seria muito triste. Porque os pescadores sobre estacas do Sri Lanka são um património verdadeiramente único, que deveria ser preservado.

Se cada destino abdicar da sua alma, cultura e tradições; se abdicar, no fundo, daquilo que o torna único, o mundo transformar-se-á num McDonald’s gigante.

Por tudo isso, por muito que quisesse ter fotos dos pescadores do Sri Lanka – e era um dos grandes objetivos da passagem pelas praias do Sri Lanka -, recusei-me a entrar no jogo. Talvez tenha feito mal; talvez tenha perdido uma oportunidade de ouro, mas não me sentiria bem se tivesse sido conivente.

Note que esta foi a minha experiência. Talvez haja outros lugares na costa sul do Sri Lanka onde os pescadores se dediquem apenas à pesca e não atuem desta forma junto dos turistas; mas, naquela tarde, isto foi o que vi e senti. Veja também o que fazer em Galle.

Guia prático

Como chegar às praias

É muito difícil andar de praia em praia à procura dos pescadores sobre estacas usando transportes públicos. Recomendo, por isso, que alugue uma scooter ou pergunte na sua pousada por alguém que o possa levar de carro por um preço justo.

Onde ficar

Galle é uma boa base para ver os pescadores sobre estacas do Sri Lanka. Eu fiquei hospedado numa pequeníssima homestay chamada Leisure in Galle e recomendo a estadia para quem dispensa luxos ou quer poupar dinheiro nos hotéis.

De resto, não faltam excelentes pousadas e hotéis boutique dentro do forte de Galle – a localização é perfeita -, mas são mais caros do que noutras áreas de Galle. Se estiver disposto a pagar esse extra, o The Bungalow – Galle Fort, o Khalid’s Guest House e o Le Jardin du Fort são excelentes opções.

Um pouco mais afastado do centro de Galle, eis duas outras sugestões extraordinárias (não necessariamente baratas) para se alojar em Galle: Ginganga Lodge e Indika’s Residence. Para outras opções de alojamento, conheça os melhores hotéis de Galle no link abaixo.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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