Os primeiros sketchs do meu diário gráfico

Por Filipe Morato Gomes

No rescaldo da minha última viagem ao Irão, tomei a decisão de tentar entrar no mundo do urban sketching, que tanto admiro. Entre outros, há muito que conheço o trabalho do Ricardo Cabral, de quem tenho o livro Israel Sketchbook; do Eduardo Salavisa, que acompanho no seu Diário Gráfico e de quem sou feliz proprietário dos Diários de Viagem em Cabo Verde; e, desde há dois anos, sou apaixonado pelo inacreditável talento do Luís Simões que anda a desenhar o mundo durante cinco anos.

Acontece que nunca me tinha dado para experimentar a arte do urban sketching até, como já aqui escrevi, ter privado em viagem com uma jovem de 78 anos que tinha começado nestas lides com 76 anos de idade. Sim, foi a querida Maria José que fez estalar em mim o click do desenho há apenas um par de semanas.

No sábado passado, fui então comprar o material básico indispensável: um caderno Moleskine próprio para aguarela, canetas de tinta-da-china de diferentes espessuras, uma pequena caixa de aguarelas com apenas 12 “pastilhas” (cores diferentes), e dois water brush para aguarelar os futuros sketchs. Sem demora – que a emoção era grande -, na tarde desse mesmo dia fiz o meu primeiro urban sketch, numa saída de campo acompanhado pela minha filha.

E para onde fomos? Baixa do Porto. Face à chuva que se abateu pelo Porto, acabámos por escolher a Leitaria da Baixa para desenhar. Estava a abarrotar de gente, facto que poderia dar um belo sketch com o ambiente do espaço mas, dadas as minhas limitações, optei por desenhar uma coisa simples para começar: a minha chávena de chocolate quente. Coisa simples, portanto, mas para primeiro sketch até que não ficou nada mal.

Primeira tentativa de fazer um sketch: chocolate quente na Leitaria da Baixa, Porto
Primeira tentativa de fazer um sketch: chocolate quente na Leitaria da Baixa, Porto

No dia seguinte (ontem), a chuva continuava a cair mas queria muito experimentar desenhar uma cena de rua. Linhas retas, estáticas, mais “fáceis” para mim. Desde que não fizesse em perspetiva nem desenhasse pessoas, estava na minha praia, pensei. E então saí de casa, caminhei em direção ao centro de Matosinhos, sentei-me no Café Lua e desenhei duas casas antigas à minha frente. O resultado deixou-me muito, muito satisfeito.

Segundo sketch: casario no centro de Matosinhos
Segundo sketch: casario no centro de Matosinhos

Hoje o dia amanheceu solarengo e convidativo para andar na rua. Fui até à praia de Matosinhos e decidi arriscar mais um pouco e experimentar um sketch com perspetiva, um desafio mais arrojado. Como seria de esperar, não saiu perfeito; tem com certeza erros de principiante mas ainda assim fiquei fascinado com o resultado final, que em nada me envergonha – especialmente para quem, como eu, vai apenas no terceiro sketch.

Terceiro sketch, um desafio mais arrojado: praia de Matosinhos e café Lais de Guia
Terceiro sketch, um desafio mais arrojado: praia de Matosinhos e café Lais de Guia

Não sei aonde isto me vai levar, nem tampouco se o entusiasmo será sol de pouca dura como aquelas paixões assolapadas que se desvanecem com o passar do tempo. Mas a verdade é que tenho andado um pouco cansado da fotografia e de andar com máquinas fotográficas em viagem. A câmara intimida, cria uma barreira com as pessoas, e o sketch, ao invés, une, cria laços e oferece uma oportunidade de ver e sentir os lugares da forma que mais gosto: devagar. É toda uma nova forma de viajar que se abre à minha frente.

Ainda estou muito “verde”, mas não queria deixar de vos mostrar estes primeiros desenhos. Bons ou maus, ficarão registados como os primeiros esboços de alguém habituado a viajar, escrever e fotografar, mas não a desenhar. Na verdade, nunca me tinha passado pela cabeça tornar-me num urban sketcher, mas estou a adorar desenhar. E estou fascinado com as aguarelas, que parece terem vida própria e um estilo meio vagabundo – bem a propósito da vida que tenho vivido.

Agora, é praticar, praticar, praticar. E vou começar a estar atento aos eventos e workshops dos Urban Sketchers Portugal Norte para aprender com quem já faz isto há muito tempo.

Nunca é tarde!

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

14 comentários em “Os primeiros sketchs do meu diário gráfico”

  1. Parece-me que também vou querer e tentar. Pode ser que seja bom para eu encarar os dias que tenho que ir à Holanda…

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  2. Gostei muito Filipe, para mim estão muito bonitos, não percas o entusiasmo, abraço

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  3. Sem pretensiosismos, sou um apaixonado e um pouco conhecedor de aguarela. Que, ao contrário do que se pensa, é uma técnica difícil. Diria mesmo muito difícil. O meu ex-sogro era um aguarelista de mão cheia e eu guardo preciosamente quadros que ele fazia em meia hora. Motivos do mar da Póvoa. De (não do) Varzim. Deparei-me agora com as tuas pinturas e fiquei surpreendido! Como é que um gajo que vai ali comprar uns materiais e começa a dar-lhe faz estas coisas? A perspectiva (que dá cabo da cabeça aos melhores), as cores (como é difícil lá chegar), a firmeza do traço… VAI EM FRENTE!!!

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    • Muito obrigado, Rocha. Também eu estou surpreendido. Com as cores entendo-me bem (sempre adorei o mundo da comunicação visual), com as perspetivas nem tanto. Aos poucos chego lá!
      Grande abraço.

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  4. Sem dúvida que nunca é tarde! o processo criativo existe ele mesmo em todos. Quem cria com letras, é ele também criador com cor – é só preciso uma coisa (como para tudo na vida) -> coragem de começar, enveredar, desenvolver e consequentemente CRIAR. Parabéns! gosto particularmente do segundo sketch: da praia de Matosinhos e café Lais de Guia. Basicamente, mexer com cor é super fácil, as olhos de alguém vai sempre ficar bonito. As perspectivas… bem é simples na verdade, faz linhas de apoio finas/leves com uma lapiseira até alcançarem um ponto de fuga, não imagines o ponto de fuga, desenha mesmo é mais fácil, depois com a cor desaparece. Um desenho se tiver uma má perspectiva perde logo muita da sua graça ao olho Humano. Grande abraço desde Ouarzazate! Quero ver mais!

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  5. Para primeiros sketchs, espectacular :D Agora aguardamos mais das próximas viagens!

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  6. Adorei! Os textos já me deixam fascinada, agora em traços e cores…
    Parabéns!

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  7. Já tentei em tempos mas não dei continuidade! E nunca lhes tinha dado cor! A tua coragem pode ser um incentivo para mim… Parabéns Filipe!

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  8. Muito bom Filipe!!! :)
    A parte da perspectiva não é assim tão complicada, segue as dicas do João Leitão, para mim o mais complicado é a aguarela e isso tu já dominas, o resto vem com a prática… ;)
    Abraço

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  9. Estão espectaculares Filipe, espero que continues. Um abraço desde Dublin.

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  10. Muitos parabéns Filipe! Gostei muito dos desenhos. Beijinhos.

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  11. Quem diria, às primeira tentativas e sai este material de qualidade? Sim senhor, isto é para continuar!

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  12. Estão lindos esses sketches, definitivamente não parecem ser de um principiante!! E a ideia de retratar o quotidiano através de sketches é maravilhosa, imprime um charme que as fotografias não são capazes de captar. Continue!

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  13. Muitos lindos. E o segundo sketch foi feito no dia do meu aniversário! Me senti presenteada :-)

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