Hoje republico a sétima e última crónica de viagem escrita para as edições de verão do jornal Diário de Notícias, publicada em papel no passado dia 26 de agosto. Foi um prazer enorme escrevê-las, e o feedback foi muito positivo – quem sabe não surgem outras oportunidades de colaborar com o DN.
#7 Profissão: vagabundo
Já tive dois empregos “normais”, com patrão e horários e chatices. E a verdade é que me diverti imenso, criando software multimédia no tempo em que as agora velhas “novas tecnologias” estavam ainda no berçário. Som, vídeo, design interativo, animação e programação multimédia faziam parte do meu dia-a-dia noite dentro. Foram bons tempos, mas com o passar dos anos sentia cada vez mais que algo me faltava. Comecei a viajar mais e a matutar frequentemente num pensamento: “qualquer dia despeço-me e vou dar uma volta ao mundo”. Repeti isto inúmeras vezes, mas nunca tive coragem de o fazer.
Certo dia, fui apanhado no turbilhão de uma re-estruturação empresarial e acabei despedido. Quando um senhor engravatado vindo da capital expressamente para o efeito me transmitiu a notícia, levei um baque momentâneo e vieram-me as lágrimas aos olhos. Depois sorri. O momento de angústia transformou-se num dos melhores acontecimentos da minha vida. Era o empurrão de que necessitava para viajar e ser dono do meu tempo. Para ser mais feliz.
Anos depois, na primeira semana da primeira série do programa televisivo 5 Para a Meia Noite, o Luís Filipe Borges perguntava-me: “posso-te tratar por vagabundo?”. A expressão ficou-me na cabeça.
Hoje não tenho emprego, mas o que então perdi em “segurança” ganhei em liberdade. Tudo o que faço está relacionado com viagens: misturo o prazer de viajar com a paixão pela fotografia e pela escrita de crónicas de viagem; viajo à procura de boas reportagens e ministro workshops sobre Escrita de Viagens; e ainda sou líder de viagens numa pequena agência de profissionais aventureiros, ofício que me permite levar outros viajantes a conhecer uma parte do “meu” mundo. Por causa disto, dizem-me por vezes que tenho “o melhor emprego do mundo” – logo eu, que não tenho emprego algum. Porquê? Simplesmente porque viajo.
Há um certo romantismo associado à vida na estrada. Viajar é quase por definição uma coisa boa e agradável, mas a verdade nem sempre é cor-de-rosa. Não é fácil estar longe quando se prevê um tsunami no local onde a família se encontra, jantar em Luang Prabang na véspera de Natal ou encontrar-se na longínqua Kisoro quando um familiar é hospitalizado em estado crítico. No fundo, é trabalho, com responsabilidades e obrigações – só que um trabalho bom!
Gosto imenso de viajar sozinho, mas dá-me igual deleite partilhar com outrem algumas das preciosidades que fui encontrando mundo afora. É o que acontece quando levo viajantes à antiga Pérsia. Uma mesquita belíssima e o som dos muezzins chamando para as orações, uma casa de chá com carisma, uma tasca de rua especial, uma cidade vista a partir dos telhados, um pôr-do-sol no deserto, a simpatia de um amigo local – são tudo coisas que reparto com um sorriso e infinito prazer.
Em viagem, posso montar o “escritório” junto a um glaciar neozelandês, num areal caribenho ou numa esplanada colombiana; posso partilhar momentos de felicidade com outros viajantes; e, mais importante, sou dono do meu tempo. Sim, talvez vagabundear seja o “melhor emprego do mundo”. Porque não me faz rico, mas sim feliz.
Série de Crónicas DN – Verão 2013
- O país mais “perigoso” do mundo
- Os imprevistos em viagem
- A viagem como escola da vida
- É preciso coragem
- Viajar não é coisa de ricos
- A gastronomia em viagem
- Profissão: vagabundo
Seguro de viagem
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