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A beleza agreste da Quebrada de Humahuaca

Por Ana Isabel Mineiro | Viagens América do Sul Argentina Humahuaca
Atualizado em 7.07.2017 | Tempo de leitura: 9 minutos

Quebrada de Humahuaca

No Noroeste da Argentina, zona andina bastante diferente do resto do país, abre-se um desfiladeiro agreste mas encantador, cujos montes de cores inesperadas fazem as maravilhas dos amantes da natureza. Viagem ao desfiladeiro de Humahuaca.

O desfilafeiro de Humahuaca

A primeira vez que percorri a Quebrada de Humahuaca ainda a estrada de montanha era isso mesmo: uma via sinuosa e estreita de piso duvidoso que ia contornando os montes um a um até à vila de Humahuaca.

Neste momento, depois da parte que une a cidade de Salta à capital provincial de Jujuy a estrada continua lisa, mais direita e muito bem sinalizada; os restos da estrada antiga são agora passagem para peões ou miradouros sobre o rio Grande, que corre no fundo do vale e só faz jus ao nome durante o Verão.

Depois de subir a serra fazemos uma primeira paragem em Jujuy, que tem pouco que justifique uma visita turística, e que ainda está envolvida numa vegetação que se vai fazendo rara à medida que subimos o desfiladeiro. A cada paragem entram no autocarro vendedores de sandes e outros petiscos, bebidas e jornais.

Vendedoras na praça central de Humahuaca
Vendedoras na praça central de Humahuaca

A paisagem vai ficando mais seca, os montes aproximam-se da estrada, desenhando um vale estreito, por vezes quase em ravina. Grupos de choupos, altos e delgados, assinalam as aldeias, servindo ao mesmo tempo de quebra-vento, já que os ventos da “puna”, como se chama aqui às zonas mais altas, podem ser muito agressivos.

Curiosamente vão aparecendo também cada vez mais cactos “cardones”, também chamados de cacto-candelabro pela semelhança óbvia; apesar de associarmos sistematicamente a presença de cactos às temperaturas quentes do deserto, a verdade é que aqui também se contentam com os solos áridos, aproveitando apenas a humidade trazida pelas nuvens, mas parecem dar-se muito bem com o clima frio e agreste acima dos dois mil metros de altitude.

Tilcará fica uns quatro quilómetros depois da famosa Paleta del Pintor, uma série de extraordinários extractos geológicos coloridos dispostos no flanco da montanha. Nesta zona a garganta é bastante estreita e uma pequena ponte atravessa o cascalho branco onde o rio Grande se encolhe, levando-nos ao centro da aldeia.

Quebrada de Humahuaca, na região norte da Argentina
Quebrada de Humahuaca, na região norte da Argentina

Praças arborizadas, barraquinhas e casas de artesanato, cafés com pequenos-almoços e doces caseiros, um supermercado e dois grandes hotéis, para além dos pequenos. Tudo bem integrado e respeitador da mimética arquitectura local, muito feita de casas baixas de pedra e adobe com telhados de terra batida – ou das suas imitações em tijolo e cimento.
Uma volta pela aldeia mostra que basta sair do centro, adaptado para receber os visitantes, para entrar num xadrez de ruas de terra, com casas da cor do chão a subir até às encostas dos montes.

Ao fim da tarde chegam os homens do campo, na caixa de camionetas ou a cavalo, sempre em grupos que se vão repartindo pelas ruas.

Como sempre, num dos locais mais altos fica o cemitério, mais próximo do céu e mais longe das enxurradas. Desde sempre que assim foi: o vale é habitado desde há uns dez mil anos e a pucará (fortaleza, em língua quíchua) de Tilcará é prova da sua importância.

As aldeias de Tilcará e Maimará… e o toque andino de Humahuaca

Sem dúvida que este é um lugar muito especial da Argentina. Tudo já tem um cheirinho da Bolívia, diria eu, mas de facto é o toque andino: nas gentes, de cabelo negro e faces rosadas, na arquitectura, que nem é moderna nem colonial, onde a madeira de cacto faz belas aparições em portas, por exemplo, no ar fresco e cortante apesar do sol, que é típico da montanha.

A maioria dos habitantes é de origem “coya”, mas foram várias as tribos que o habitaram, até porque esta já era uma importante rota durante o império inca, no século XV, e continuou a ser a “estrada” que unia o Vice-reinado do Peru ao Vice-reinado de Rio de la Plata, durante a ocupação espanhola, no século XVI. Mais tarde, durante a guerra da independência Argentina, o desfiladeiro foi ainda palco de importantes batalhas, ficando para sempre ligado à história do país. Hoje é protegido pela UNESCO, também pela beleza natural única que importa preservar.

Cactos-candelabro na Pucará de Tilcará
Cactos-candelabro na Pucará de Tilcará

Tilcará é o nome da tribo que construiu a fortaleza ao lado da aldeia, sobre um monte, oitenta metros acima do rio, um lugar maravilhoso pelas vistas – embora a ideia fosse mais a de avistar o inimigo ao longe, e não a paisagem. Tem oito hectares e é antecedida por um Jardim Botânico de Altura, onde podemos ver a riqueza de espécies que este clima consegue abrigar, com grande predominância para os cactos. Grandes, pequenos, de tronco único ou não, alguns cobertos por uma lã branca que lhes valeu o nome local de “vicunhita”.
O vento corta a pele apesar do calor do sol e a poeira alaranjada que levanta cola-se a tudo. A pucará reconstruída é feita de casas pequenas com um pátio exterior murado e telhados de caniço apoiado sobre tábuas de madeira de cacto, cobertas por terra batida.

Frescas no verão e, com a ajuda de um fogo, quentes de Inverno, as casas eram a habitação da família, mesmo dos mortos, que eram sepultados nos pátios e esquinas das casas, ao contrário do praticado hoje pelas populações convertidas ao catolicismo.

Os cactos-candelabro invadiram tudo e formaram aqui uma pequena floresta, tão interessante como os vestígios históricos. Os campos de cultivo em degraus, que se podem ver um pouco por todo o lado, são agora território da puna selvagem, onde nem faltam os lamas, agrupados num curral junto ao Jardim Botânico.

Um dos cemitérios mais curiosos da zona fica a poucos quilómetros daqui, na aldeia de Maimará. Um “remis” (táxi colectivo) deixa-me na estrada, junto ao Monte Monolito e ao cemitério. As campas descem por um pequeno morro abaixo, um pouco fora da povoação que se estende pelo fundo plano do vale, junto ao rio. As cruzes de madeira e os enfeites de coroas de flores de plástico e papel colorido dão-lhe um aspecto singelo e quase infantil, muito diferente dos monumentais e solenes cemitérios de Buenos Aires.

Mas mais interessante ainda é a cortina de montanhas baixas que se levanta do outro lado do rio, a Paleta do Pintor que se avista da estrada. Aqui a natureza transformou as montanhas em arte: uma fila de triângulos quase verticais, que vão do bege e amarelo ao laranja e vermelho, parecem descolar-se do sopé dos montes, como uma gigantesca crista colorida. Do alto do Monte Monolito podemos apreciar como se estende ao longo do casario de Maimará, diluindo-se depois nos costumeiros castanhos e cinzas. Da aldeia chega uma voz ocasional, o ladrar de um cão, o fumo de uma chaminé. De resto, só o vento dá movimento à paisagem.

O turismo faz o seu caminho em Humahuaca

Tilcará e Maimará são exemplos das aldeias andinas, com o seu não-sei-quê de faroeste. É certo que há vaqueiros e mineiros, como no Oeste americano, mas o turismo tem-se imposto como actividade económica na zona, cada vez mais procurada pelos turistas.

Aldeia de Maimará
Aldeia de Maimará

A pequena aldeia de Purmamarca, por exemplo, fez do seu mercado de artesanato, que ocupa a praça toda e fecha apenas à noite e durante as horas da sesta, que são sagradas, uma atracção para os autocarros que percorrem a “quebrada” em visitas de um dia. Sai-se, compra-se e entra-se de novo no autocarro. Poucos ficam para o passeio, que não pede mais de uma hora, pelo Cerro de los Siete Colores, outra obra de arte natural feita de rochas sedimentares ocres, púrpuras e verdes, que pintam o monte mesmo por trás da aldeia.

Para todos, em visita rápida ou não, é obrigatório ir até ao cimo do desfiladeiro, antes das grandes subidas que levam ao planalto andino, a mais de três mil metros, e à fronteira com a Bolívia – é lá que fica a maior povoação da zona, a que dá nome à Quebrada de Humahuaca. Os seus fundadores foram os omaguacas, uma das tribos que a habitaram. Aqui os santos das igrejas são coloridos, o Carnaval dura oito dias, os lamas são trazidos para a praça central para os turistas verem. Não é que faltem pelos montes, e pode mesmo avistar-se o ocasional rebanho de vicunhas sem sair do autocarro, mas aqui estão mais perto.

A fala e os sorrisos não são tão espontâneos, como se a aspereza do clima tomasse forma humana na timidez. Vende-se artesanato de uma garridice andina e algumas folhas de coca, à socapa, para os que gostavam de experimentar sem passar a fronteira. No cimo de uma colina onde se acede por uma escadaria, fica o monumento à independência e uma vista sobre a cidade, inteiramente reconstruída durante o século XIX, quando ainda era um importante centro comercial, de onde se destacam as torres sineiras das igrejas.

Aldeia de Tilcará, Argentina
Aldeia de Tilcará, Argentina

Em redor ficam os campos bem cuidados, mais longe os montes áridos, e os bosques de cactos que resistem ao passar do tempo – diz-se que alguns já contam mais de mil anos. Sem ser um lugar impressionante, Humahuaca tem o ambiente de uma aldeia um pouco maior do que as que visitámos por todo desfiladeiro, o mesmo ritmo lento, o mesmo pó fino levantado pelo vento.

A “quebrada” é sem dúvida um lugar à parte, onde as montanhas são esculpidas com formas estranhas e pintadas de cores bizarras, onde parece continuar a viver-se num outro tempo.

Guia de viagens a Humahuaca

Este é um guia prático para viagens ao desfiladeiro de Humahuaca, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na região norte da Argentina.

Localização geográfica

O desfiladeiro ou quebrada de Humahuaca fica no Noroeste da Argentina, na província de Jujuy, e tem um comprimento de cerca de 155 quilómetros. É habitada desde há 10.000 anos e funcionou como uma espécie de estrada durante o império inca, no século XV. O seu interesse turístico vem-lhe do interesse histórico e da beleza paisagística, sobretudo dos montes que os diferentes minérios colorem com tons inusitados.

Como chegar a Humahuaca

A maneira mais fácil de chegar a Humahuaca é a partir da Bolívia, entrando por La Quiaca, ou de Salta, que fica a uns bons 250 quilómetros. Voar com a TAP para Buenos Aires em combinação com as Aerolineas Argentinas ronda os 900 €. Daí pode voar para Jujuy ou Salta ou, melhor ainda, viajar de autocarro; são cerca de 20 horas até Salta, mas com um dos excelentes bus-cama nocturnos nem se chega cansado: os transportes na Argentina são de excelente qualidade. De Salta e Jujuy também não faltam autocarros (vários por dia, dependendo da altura do ano) para ir até Humahuaca, subindo ou descendo o vale a seu ritmo.

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Hotéis e restaurantes

Provavelmente os lugares mais preparados para os turistas que por ali pernoitam ou comem serão Humahuaca, Purmamarca e Tilcará. Para ficar mais próximo dos montes coloridos, do cemitério de Maimará, e também da pucará, será melhor ficar em Tilcará, onde fica, por exemplo, o Camping-hotel Jardin, com campismo e quartos muito simples, o suficiente para uma ou duas noites. O preço dos quartos ronda os 6 €. Em Purmamarca há pelo menos um complexo mais “luxuoso”, o Huaira Huasi, no km 5 da estrada nacional 52. Para comer há pequenos restaurantes em todas estas povoações.

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Informações úteis

Não necessita de visto para a Argentina – apenas de um passaporte válido. Leve consigo o dinheiro que necessita para a estadia no desfiladeiro porque pareceu-me que apenas em Humahuaca se pode trocar euros e encontrar um ATM. Todos parecem perceber o “portunhol” dos portugueses e brasileiros, e cada vez há mais quem fale também inglês.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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