Um hino ao mau gosto
Nos últimos anos, o coração de Skopje tem sofrido uma profunda e controversa renovação arquitetónica. Onde antes havia parques e flores, hoje há espaços incaracterísticos e edifícios megalómanos. Junte-se dezenas de estátuas sem sentido e que soam a imitações baratas, uma “ponte da arte” inenarrável, uma imitação do Arco do Triunfo parisiense e até – imagine-se – uma imitação de um galeão no meio do rio (transformado em barco-hotel), e o caldeirão kitsch começa a transbordar.
E o pior é que poucos macedónios parecem aprovar.
Quando perguntei à jovem rececionista do muito recomendável Get Inn Skopje Hostel o que pensava sobre a renovação da cidade, a sua resposta foi esclarecedora: “detesto, é tudo falso, kitsch, não tem nada a ver com a história da Macedónia.” E esse parece ser o sentimento dominante. A cidade perdeu alma.
Como forma de protesto, algumas construções foram pichadas com tinta de diversas cores, pouco tempo depois de terminadas. Chamam-lhe a Revolução Colorida. Contra a falta de identidade do novo espaço público; contra os custos astronómicos das obras. “Em vez de construírem escolas e hospitais, gastaram uma fortuna no centro de Skopje. E apenas no centro. Lavagem de dinheiro, sabes?”, disse-me outro habitante local com quem conversei.
Como viajante, não me cabe julgar. Mas a minha opinião sobre o que se me ofereceu diante dos olhos é clara. O centro de Skopje é um hino ao mau gosto. Kitsch, kitsch do pior. A literatura oficial do Turismo de Skopje fala numa “sinfonia visual de épocas” em que a cidade se tornou. Treta. Não me recordo de um centro urbano me ter causado tamanha perplexidade.
E agora, Skopje?
Está bom de ver que a cidade não me conquistou. Ainda para mais depois de passar uns dias excelentes em Pristina, no vizinho Kosovo, capital que me surpreendeu verdadeiramente. Mas, ainda assim, Skopje tem alguns encantos que vale a pena explorar. Como a zona do grande bazar, por exemplo, viva e atraente. E alguns outros locais que considero imperdíveis, a pouco tempo de distância.
Deixo, pois, um pequeno roteiro de coisas a fazer em Skopje, atualmente chamada de “Capital das Sete Portas”. Inclui algumas das mais emblemáticas obras da renovação urbana que detestei; para que possa ver com os seus olhos e tirar as suas próprias conclusões.
O que fazer em Skopje
#1 Passear pelo grande bazar
O velho bazar de Skopje – ou Bit-Pazar -, mantém-se ativo desde há sensivelmente 900 anos. Um mar de lojas, artesãos, cafés e restaurantes convivem com igrejas e mesquitas em ruas pedonais muito agradáveis, calcorreadas tanto por minissaias e decotes profundos como por mulheres envergando hijabs.
Para mim, foi das zonas de Skopje que mais gostei. Do ambiente vibrante, da socialização nos cafés, da multiculturalidade. Independentemente das “atrações”, é um lugar perfeito para estar, simplesmente estar. Tal como eu gosto.
#2 “Apreciar” a Ponte da Arte
As aspas são propositadas – que apreciar é coisa difícil de fazer perante tamanho disparate arquitetónico. Ex-líbris forçado da “nova” Skopje, a chamada Art Bridge é um dos exemplos mais claros do mau gosto da renovação forçada da cidade. Nada parece fazer sentido; ou melhor, talvez faça, especialmente olhando para a imitação do galeão de madeira fundeado ao lado da ponte, no leito do rio Vardar.
Seja como for, aprecie a ponte, atravesse-a, aprecie as estátuas que a adornam e depois diga-me qual a sensação com que ficou. Talvez seja implicância minha…
#3 Visitar o Museu Madre Teresa (de Calcutá)
Eu, pecador, me confesso. Fui adiando, adiando a visita ao Museu Madre Teresa e, às tantas, saí de Skopje sem o visitar. Ainda assim, recomendo.
Nascida em Skopje no ano de 1910, Madre Teresa dedicou a sua vida a ajudar os menos favorecidos nos bairros de lata de Calcutá, Índia. Acabaria laureada com o Prémio Nobel da Paz em 1979 por todo o seu trabalho em prol dos “mais pobres entre os pobres”.
#4 Desfrutar de um sábado à noite na zona velha
O fim de semana é muito animado em Skopje. As ruas enchem-se de grupos de jovens bem vestidos (mais elas do que eles), e todos os caminhos parecem ir dar à zona antiga da cidade, em torno do bazar a céu aberto. Foi exatamente isso que fiz, na companhia de dois simpáticos norte-americanos, tio e sobrinho, excelentes companhias para duas experiências quase contraditórias.
Primeiro, chá e cachimbo de água num bar turco muito movimentado e agradável; depois umas cervejas na esplanada de um café transformado em bar, com direito a DJ ao vivo em plena rua e muita animação. A noite terminou aí, mas consta que há um par de discotecas muito boas em Skopje.
#5 Visitar o Mosteiro de São Pantaleão
Quando cheguei perto do mosteiro comecei a ouvir cânticos. Pareciam vir de dentro do mosteiro. Aproximei-me e a sensação confirmou-se: as vozes, masculinas, vinham mesmo de dentro do Mosteiro de São Pantaleão. À porta, meia dúzia de homens conversavam. Havia duas mulheres vestidas como que para um casamento.
Cheguei-me à porta e fiquei a observar. Era mesmo um casamento. As pessoas cumprimentavam os noivos; outras deixavam dinheiro num recipiente colocado no centro do mosteiro. Fiquei sossegado, observando, até que os sacerdotes saíram e fiquei com São Pantaleão só para mim, ignorando-me como se fosse mais um fotógrafo oficial do casamento.
Vale mesmo a pena visitar, na esperança que esteja aberto. Eu tive uma sorte incrível – quem sabe o mesmo não acontece consigo?
Saiba mais sobre o Mosteiro São Pantaleão.
#6 Caminhar pelos trilhos do desfiladeiro Matka
Mesmo antes de rumar a outras paragens, decidi visitar o desfiladeiro Matka. O dia estava enublado, a ameaçar chuva, mas mesmo assim decidi ir. E ainda bem que o fiz. O desfiladeiro é habitat de dezenas de espécies endémicas de plantas e animais (nomeadamente borboletas), tem trilhos belíssimos e várias grutas que é possível visitar. Eu optei por caminhar.
Na companhia dos amigos norte-americanos, fiz o trilho ao longo da margem, junto ao lago artificial criado com a construção de uma barragem. Seriam uns cinco ou seis quilómetros – não mais que isso -, ida e volta. Rodeado de escarpas e ambientes florestais, a caminhada foi o antídoto perfeito para o ambiente urbano de Skopje.
Saiba mais sobre o Desfiladeiro Matka.
#7 Visitar a mesquita Sarena Dzamija, em Tetovo
Se tiver mais algum tempo, aproveite para conhecer também a mesquita pintada Sarena Dzamija, em Tetovo, sensivelmente a uma hora de distância da capital da Macedónia. Eu fui e fiquei impressionado. Já vi muitas mesquitas um pouco por todo o mundo islâmico, mas a Sarena Dzamija é verdadeiramente original. Imperdível.
Saiba mais sobre a mesquita pintada Sarena Dzamija.
Em suma, não deixe de visitar Skopje, mas vá preparado para o pior. Talvez assim se surpreenda pela positiva. Porque, no fundo, o novo centro urbano está longe de representar a Macedónia. Ou, como um habitante afirmou a uma repórter do The New York Times, “neste momento a cidade está a viver uma crise de identidade”.
Pode ser. Só não sei como vão ultrapassar essa “crise”.
Veja o roteiro de uma semana na Macedónia.
Dicas para visitar Skopje
Onde ficar
Não faltam opções de alojamento em Skopje, para todos os gostos e bolsas. Eu fiquei num quarto privado do Get Inn Skopje Hostel e adorei. O pessoal é incrível, a localização é ótima e as instalações são bonitas e bem cuidadas; absolutamente recomendável. Se preferir outro tipo de alojamento, saiba quais são os melhores hotéis de Skopje ou pesquise no link abaixo.
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