
“Não vão a Mondesa”, disseram-nos, “é muito perigoso”. Parámos um táxi numa rua de Swakopmund, dentro do qual se encontrava já uma passageira. Destino? “Mondesa, humm… Location”. Location? Isso mesmo. A passageira era professora num jardim-de-infância de Mondesa, ia para lá nesse instante. Chamava-se Pupeza. Podemos ir? Com certeza, mas olhe que é muito simples, não tem condições, não repare.
A visita a Mondesa
Chegámos. Na verdade, não era mais do que um barracão de madeira exíguo e escuro, sem condições nem material escolar suficiente. Pupeza tinha razão. Lá dentro, a pequenada estava feliz. Eram talvez umas 20 crianças de três ou quatro anos de idade. Cantaram músicas educativas em inglês em honra aos visitantes pouco habituais, outras para aprenderem os dias da semana, os meses do ano, os primeiros números. O olhar humedeceu.
Saímos da escola, percorremos ruelas de terra batida, o companheiro de viagem rapou o cabelo numa banca de rua (“você é o primeiro branco que aqui corta o cabelo”). Nas ruas, as pessoas sorriam, cumprimentavam os estranhos, olhavam com curiosidade e respeito. Só há pretos em Mondesa. “A electricidade é muito cara na cidade”, justificou a professora.
A pobreza é total, mas o ambiente é muito mais agradável do que na cidade (Mondesa fica nos subúrbios de Swakopmund e não é considerada parte da cidade), e as pessoas mais genuínas. África, afinal, é aqui.
Dias mais tarde, voltámos ao jardim infantil. Era dia do meu aniversário e não encontrei melhor forma de o comemorar do que fazer felizes, por breves instantes, todas aquelas crianças. Levámos cadernos, lápis, afias, lápis de cor, réguas, plasticina e fita-cola para oferecer aos alunos. Coisas simples e baratas, compradas numa papelaria de Swakopmund, mas muito necessárias naquele barracão onde se faz o milagre de educar crianças. Por umas semanas, Pupeza teria material para continuar a sua missão.
Cá fora, enquanto os miúdos cantavam e os professores se desdobravam em agradecimentos, só me ocorria que tinham razão de ser todos os avisos: havia perigo. O perigo de me enamorar por aquela gente humilde e simples, por aquelas crianças desprotegidas, por aqueles sorrisos genuínos, enfim, pela África real. O mesmo perigo que faz do Irão o país mais “perigoso” do Mundo.
De regresso à cidade, era então mais nítido que, apesar de Swakopmund estar localizada no centro da Namíbia, apesar de ser o mais popular destino de veraneio do país, de ter inúmeros hotéis e aparthotéis na primeira linha de mar, apesar de tudo isso, não fica em África. É certo que geograficamente fica no continente africano mas não é, definitivamente, África. É uma cidade alemã deslocada no espaço.
Por estranho que possa parecer ao primeiro olhar, quase só há brancos em Swakopmund. O que aconteceu, então, aos pretos desta cidade?
A resposta é dolorosa mas simples: há uma segregação bem explícita entre brancos abastados e pretos pobres, os que moram na town e na location, de onde acabara de regressar, encantado com o povo.
Na cidade propriamente dita, dá a nítida sensação de se estar num local de repouso para as últimas décadas de vida de alemães abastados e de descendentes de alemães estabelecidos na Namíbia há muito tempo. A povoação fica desértica a partir do meio da tarde. Há edifícios coloniais belos e imponentes, ruas aprumadas, instituições financeiras e todas as comodidades de uma cidade europeia de média dimensão, pessoas loiras ao volante de carros de alta cilindrada. Chamam-lhe the town, a cidade.
Nos subúrbios, num local de seu nome Mondesa, vivem pessoas como Pupeza, em casas de tijolo por terminar ou de madeira e lata em ruas de terra batida, com mercados de rua simples e sujos e pobreza no ar. Chamam-lhe a location, que tal local não cabe dentro da “cidade”.
Nota: infelizmente, não tenho boas fotos de Mondesa.
Guia de viagem a Swakopmund
Sobre Swakopmund
Swakopmund é a segunda maior urbe da Namíbia, mas não vá ao engano. A cidade de Swakopmund é, ainda hoje, um enclave alemão no litoral da Namíbia. A população tem raízes germânicas, os bares e restaurantes são tipicamente europeus, e a arquitetura é considerada um dos exemplos mais bem preservados da arquitetura colonial alemã.
Se isso o desagrada, rume a norte (o parque Etosha não fica assim tão distante); se, ainda assim, quiser visitar Swakopmund e conhecer um lugar tão fora da sua localização geográfica natural, vai gostar. Só não deixe de ir também à location.
Onde ficar
Em Swakopmund, as opções de alojamento são múltiplas, variadas e para todas as bolsas. Eu fiquei alojado no Vila Wiese Backpackers Lodge que, apesar de mediano, posso recomendar pelo seu caráter e apelativa relação qualidade-preço.
Pesquisar hotéis em Swakopmund
Restaurantes
Em Swakopmund e Walvis Bay, sendo cidades do litoral, o grande destaque vai para o peixe e marisco. Entre os restaurantes que experimentei com excelentes refeições de peixe contam-se o Ocean Basket, próximo do farol em Swakopmund, e o Raft, restaurante construído sobre estacas na baía de Walvis Bay.
Outras dicas de viagem
Para estadias até três meses, os cidadãos portugueses não necessitam de visto para entrar na Namíbia, podendo as formalidades de entrada ser tratadas na fronteira, à chegada ao país, seja por via aérea ou por via terrestre. A moeda local é o dólar namibiano e um euro equivale sensivelmente a 15 dólares locais (ver câmbio). Nas cidades encontra-se facilmente quem fale inglês.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Oi Filipe, acabei de voltar da Namíbia e escrevi a minha experiência em Mondesa com uma excursão local. Coloquei um link para este seu texto para complementar, já que foi por conta própria. Abraço
Obrigado, Roberta. Grande abraço e boas viagens.