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Visita guiada à Tanoaria Josafer, Esmoriz

Por Filipe Morato Gomes
Tanoeiros na Tanoaria Josafer
Produção de barris na Tanoaria Josafer

Na indústria vinícola, os barris de madeira são muito mais do que um recipiente para transportar ou guardar vinho. Conferem sabor e complexidade à bebida, moldando-a e contribuindo de forma vincada para a alma de um vinho. A arte aperfeiçoada durante séculos por tanoeiros como os artesãos da Tanoaria Josafer é, por isso mesmo, de suprema importância.

Tinha, pois, grandes expectativas quando, durante a minha visita a Ovar, decidi conhecer o trabalho dos tanoeiros em Esmoriz, uma povoação instalada no extremo norte do concelho. Gosto deste tipo de experiências; e a verdade é que em nada me desiludi. Pelo contrário.

Tanoeiros a trabalhar
Tanoeiros em ação na Tanoaria Josafer

É sabido que tenho familiares ligados à produção do vinho na região do Douro Vinhateiro. Já participei também em inúmeras vindimas no Douro e estou habituado a ver barris e tonéis na adega da família (o melhor vinho do Porto que conheço repousa há décadas numa pipa caseira em Mesão Frio).

O meu interesse nos tanoeiros era, por tudo isto, genuíno. Até porque, incompreensivelmente, esta seria apenas a segunda vez que visitava uma tanoaria.

Venha daí nesta fantástica viagem ao coração da produção artesanal de barris (tonéis). Eu, como disse, saí de lá fascinado.

Os tanoeiros da Tanoaria Josafer

Madeira para fazer barris
Madeiras usadas pelos tanoeiros na produção dos barris

A tanoaria é a arte de fazer barris e tonéis. E tudo começa com simples ripas de madeira.

Na Tanoaria Josafer, utiliza-se principalmente o carvalho americano, oriundo da costa oeste dos Estados Unidos da América (“madeira de grande densidade e baixa porosidade”); o carvalho europeu, da região francesa de Aquitânia; e o carvalho português (que, apesar de ser uma madeira “mais propensa a sofrer deformações e fendas durante o processo de secagem”, tem uma enorme “capacidade aromática”).

Corte da madeira na Tanoaria Josafer, entre os melhores tanoeiros de Portugal
Corte da madeira na Tanoaria Josafer

A produtora de vinhos chilena Concha y Toro explica o processo, de forma clara, no seu site oficial.

“Basicamente, os barris são feitos de peças de madeira chamadas aduelas. Antes de serem cortadas, essas peças são secadas ao ar livre (e expostas ao rigor do clima) durante, no mínimo, dois anos, para suavizar as suas características verdes, como os taninos que poderiam conferir amargor ao vinho. Assim, desenvolvem sabores e aromas mais agradáveis”.

E prossegue: “Em seguida, as aduelas são cortadas na mesma altura e colocadas uma por uma dentro de dois aros metálicos, que fazem pressão sobre elas. A forma aparece no processo conhecido como tosta [ou queima], e é obtida graças ao fogo a lenha colocado no interior do barril e que permite curvar as aduelas”. Uma fase fundamental para produzir barris de qualidade.

Tanoeiro a marcar a tampa dos barris
Todo o processo é manual e feito praticamente da mesma forma ao longo dos séculos

Sandra Fernandes, uma das responsáveis da Tanoaria Josafer e cicerone da visita guiada à empresa, corroborou a importância do processo da queima da madeira no fabrico dos barris, enquanto me mostrava a fábrica e falávamos com os tanoeiros.

A tosta da madeira na tanoaria

O processo da queima pode ter várias intensidades, em função dos objetivos:

  • Tosta ligeira, para se extrair “um maior sabor aromático da madeira, produzindo sabores de coco e baunilha, assim como também sabores frutados” (muito usada em vinhos brancos);
  • Tosta média, para se obter “um melhor equilíbrio sensorial, conseguindo extrair sabores a mel, café e frutos secos tostados, assim como notas muito ligeiras de coco e baunilha” (usada em vinhos tintos);
  • Tosta forte (ou extra forte), um tipo de tosta mais intensa usada especialmente na “maturação de destilados delicados”.

Uma vez terminada essa fase, são então “colocados o fundo e a tampa, e o barril é lixado”. É uma das etapas finais da produção dos barris, faltando no entanto algo fundamental para assegurar a qualidade do trabalho: “certificar-se não ter ficado nenhum tipo de fresta por onde o vinho possa vazar”, explica a Concha y Toro.

Barris (tonéis) de vinho em produção na Tanoaria Josafer
Barris com as aduelas já colocadas, Tanoaria Josafer

Tudo isto pude presenciar na Tanoaria Josafer, com os seus experientes tanoeiros a cumprirem todas as etapas do processo de forma manual, apenas esporadicamente ajudados por maquinaria industrial para completar tarefas específicas.

Não pude deixar de me envolver naquele ambiente de paixão pelas artes tradicionais misturado com o serrim no ar magicamente iluminado pelos raios de sol que entravam pelas janelas; o cheiro a madeira; e o odor de vinhos adocicados provenientes dos barris para reparação que repousavam na oficina. É uma atmosfera, de certa forma, mágica.

Ao ver todo o cuidado e paixão colocados na produção dos barris, a minha admiração pelos melhores tanoeiros de Portugal solidificou-se. É uma arte tradicional tão antiga quanto fascinante que importa preservar a todo o custo.

Na hora de abandonar a fábrica, estava imensamente feliz. Adorei mesmo visitar a Tanoaria Josafer e presenciar a dedicação com que todos se entregam àquela arte.

Tendo tempo, não deixe de incluir a visita a uma tanoaria como a Josafer no seu roteiro com o que fazer em Ovar.

Diferença entre barricas, pipas (ou barris) e tonéis

A diferença principal entre barricas, pipas e tonéis tem que ver com a capacidade do recipiente. As barricas (ou quartolas) têm capacidades entre 200 e 250 litros; as pipas (ou barris) levam entre 500 e 600 litros; e os tonéis têm capacidade para, pelo menos, duas pipas, cerca de 1.000 litros.

Ferramentas dos tanoeiros
Pormenor de ferramentas dos tanoeiros

Guia prático

Como chegar à Tanoaria Josafer

A Tanoaria Josafer fica na Av. 29 de Março / EN109, em Esmoriz (ver localização exata no Google Maps). Tendo a cidade do Porto como referência, o trajeto mais prático é seguir pela A29 até bem perto de Esmoriz (saída 8) e de lá seguir as indicações até à EN109. Encontrará a tanoaria 500 metros adiante. No total são pouco mais de 25 km.

Horários de visita

Antes de mais, notar que é imperioso agendar a visita à Tanoaria Josafer com pelo menos cinco dias de antecedência. A tanoaria está disponível para receber visitantes todos os dias, com exceção do mês de agosto e feriados.

  • Número de visitantes: entre 5 e 50;
  • Idade mínima: 5 anos;
  • Línguas: Português, Inglês;
  • Duração da visita: 60 minutos;
  • Preços: bilhete normal (5€); crianças até 12 anos (3€); adultos com mais de 65 anos (4€).

As marcações devem ser efetuadas pelo email geral@tanoariajosafer.com ou pelo telefone +351 256752565; ou ainda através do Serviço de Turismo da Câmara Municipal de Ovar (turismo@cm-ovar.pt).

Como comprar barris

Caso pretenda comprar barris para vinho, cerveja ou destinados, barris decorativos, mobiliário ou produtos usados pelos tanoeiros para fabricar os barris da Tanoaria Josafer, visite a Loja dos Barris.

Onde ficar (em Esmoriz e Ovar)

Hotéis em Esmoriz

Caso opte por ficar hospedado em Esmoriz, o três estrelas Hotel La Fontaine e o hostel Oporto Surf Camp apelam a públicos distintos, mas são ambos bastante elogiados.

Pesquisar hotéis em Esmoriz

Hotéis em Ovar

O Furadouro Boutique Hotel Beach & SPA é, muito provavelmente, o hotel mais popular de Ovar. Fica na praia do Furadouro, a dois passos do areal. Na mesma região, mas para um público mais descontraído, os estúdios do Furadouro Surf Camp, as instalações do Furadouro Terrace Hostel e a hospitalidade do Nine Senses são unanimemente elogiados. Ainda no Furadouro, embora mais afastado da praia, o Transats & Spa du Furadouro oferece instalações de grande qualidade, sendo uma sólida opção a considerar.

Caso prefira ficar no coração da cidade de Ovar, o AquaHotel, de três estrelas, é o hotel urbano mais consensual. Por fim, para uma alternativa diferente, no meio da natureza e com foco no bird watching, atente na casa Be & See in Nature. Fica na Ria de Aveiro.

Para outras opções de hospedagem – incluindo apartamentos para férias em família -, pesquise usando o link abaixo.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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