Destino: Oceânia » Nova Caledónia

Tjibaou, do Centro Cultural à tribo de Tiédanite (#51)

Museu Jean Marie Tjibaou, Nouméa
Edifício do Centro Cultural Jean Marie Tjibaou, em Nouméa, desenhado por Renzo Piano

Durante a noite que passámos no seio da tribo Tiédanite, aldeia de origem do herói nacional Jean Marie Tjibaou bem no norte da Grande Terre, a ilha principal do arquipélago, percebeu-se que há tradições milenares que são para manter, por mais europeu que possa parecer o território. Bem-vindos à Nova Caledónia.

Chegámos a Nouméa, a capital da Nova Caledónia já avisados: iria parecer que estávamos a aterrar na Europa. Na verdade, pelo menos até ao próximo ano, este arquipélago do Pacífico continuará a ser território ultramarino francês – um referendo agendado para 2013 pode trazer alterações a este estatuto. Há as padarias com baguetes fresquíssimas e crocantes, os carros de alta cilindrada, as baías urbanas de Anse Vata ou Citron a fazer lembrar as praias da Riviera francesa, mas com ainda melhor clima, como a presença de banhistas dentro de água, em pleno inverno, fazia notar. Sim, não fora a presença de corpos indígenas e poderia parecer que estávamos na Europa.

Foi precisamente algo que assinala a identidade indígena do povo kanak que mais nos chamou a atenção nos primeiros dias em Nouméa. O Centro Cultural Jean Marie Tjibaou, espaço de homenagem à cultura do povo kanak e cujo nome celebra o espírito reconciliador do homónimo líder local, é um espaço verde e amplo dominado por um singular edifício desenhado pelo pritzker italiano Renzo Piano. É também um belo ponto de partida para descobrir o que de mais genuíno poderíamos encontrar na Grande Terre, a principal ilha do arquipélago da Nova Caledónia.

Hienghène, Nova Caledónia
Hienghène, uma aldeia da tribo Tiédanite, Nova Caledónia

Desde que visitou uma aldeia maori na Nova Zelândia, a Pikitim começou a reparar nas estátuas e totens que fomos encontrando, esculturas em madeira que são uma tradição entre os povos da Melanésia, a sub-região do Pacífico em que se insere a Nova Caledónia. E, entre as estátuas situadas logo à entrada do centro Tjibaou, a primeira que captou a sua atenção foi a de um homem com uma enorme namba – uma espécie de bolsa de palha onde fica embrulhado o pénis. “O senhor tem este pau para tapar a pilinha, não é?”, perguntou, intrigada.

Não há, hoje em dia, quem se vista dessa forma na Grande Terre, mas esperávamos ainda ver as grandes cases (as casas tradicionais) que inspiraram Piano no desenho do centro Tjibaou que estávamos a visitar. “Mas são casas assim com paus muito altos?”, perguntou, intrigada com a fusão de vidro e grandes vigas de madeira de iroko que pareciam tocar o azul do céus. O que ela via era uma reinterpretação dessas casas, e isso era mais difícil de explicar. Felizmente, nos jardins do centro cultural existem três desses exemplares, e pudemos mostrar-lhe como eram as cases (construções de madeira circular) e os farés (construções retangulares, com telhado de palha, que foram sofrendo várias evoluções e adaptações ao longo dos tempos).

Depois disso, decidimos que o melhor era mesmo vê-las ao vivo, nas zonas mais a norte da Grande Terre – e, já agora, conhecer a aldeia e a tribo de origem de Jean-Marie Tjibaou, uma espécie de herói nacional.

Saímos, então, da “cidade mais industrializada do Pacífico” (graças à intensa laboração do níquel, a indústria mais importante da economia local) e rumámos a norte, com destino a Hienghène, prometendo à Pikitim que haveríamos de tentar conhecer a tribo de Tjibaou. Na Nova Caledónia, uma tribo é uma espécie de aldeia onde vive uma família alargada.

Hienghène, Nova Caledónia
Praia em Hienghène, Nova Caledónia

Dirigimo-nos a Hienghène pela costa ocidental da ilha, conduzindo devagar e acampando. Primeiro, na mais pequena comunidade da ilha, a vila de Farino, de onde fomos até La Foa para assistir à sessão inaugural do Festival Internacional de Cinema. A sessão era ao ar livre, num relvado a preceito.

Para nossa surpresa, a Pikitim adorou conhecer Hugo Cabret pelo olhar de Scorsese e não arredou pé apesar do francês (que não percebe) e da chuva que não parou de nos molhar. Foi só depois dessa paragem cinematográfica e de atravessarmos a ilha para a costa leste que sentimos estar a chegar a uma ilha de clima tropical e começámos a ver mais kanaks na estrada. Era como se a Grande Terre fosse francesa a ocidente e kanak a oriente.

Chegámos a um belo parque de campismo de Hienghène num fim-de-semana. A cidade estava, por isso, deserta. Não havendo ninguém nas ruas e com as lojas fechadas, optámos por desfrutar das praias e percorrer a belíssima costa até à cascata de Tao, uma impressionante queda de água que cai da encosta do Monte Painié no exato sítio onde em tempos havia uma mina de ouro. Para lá chegar, é necessário atravessar o rio em Ouaième com recurso a uma vetusta balsa, que não é mais do que uma plataforma mecanizada que liga uma margem à outra do rio, ininterrupta e gratuitamente.

Hienghène
Algumas das paisagens mais bonitas da Nova Caledónia ficam na região de Hienghène

Foi aí, em Hienghène, que encontrámos as mais bonitas paisagens da ilha, e a Pikitim foi a primeira a notá-lo, ao apreciar as formações rochosas de Lindéralique bem perto do sítio onde acampámos.

Em Lindéralique vivia uma tribo homónima; na aldeia ao lado, uma outra tribo, a de Koulnoué. E era assim por todo o território: pequenos aglomerados, com uma case central, muitos farés e um chefe. E mulheres de longos vestidos coloridos e simpáticos sorrisos nos lábios.

Queríamos conhecer uma delas – a de Tjibaou -, mas a tradição ainda é o que era, e o “costume” é para se manter e cumprir. Foi por isso que aguardámos pela abertura do comércio na segunda-feira para comprar o pedaço de tecido que deveríamos levar como prenda ao chefe da tribo Tiédanite como forma de agradecimento por nos receber. Chegámos à aldeia à tarde.

A grande case ocupava o centro da vila. Um grande totem ao lado da campa de Tjibaou era a homenagem que aquele povo fazia ao antigo líder. Ficámos em casa de Charline, sobrinha-neta de Jean-Marie, que desde há pouco mais de um ano se ocupa a receber visitantes à aldeia. Os filhos estão na escola em Poindimié, a principal cidade da costa leste, e só regressam ao fim de semana. E o mesmo se passará com muitos habitantes da aldeia, que só a ela regressam aos sábados e domingos.

A aldeia estava, por isso, praticamente deserta. Por ignorância nossa, não era bem isso que esperávamos. Queríamos interagir, falar, vivenciar. E não queríamos ter visto 3 ou 4 panos de tecido iguais ao nosso inutilmente parados na casa do chefe, como se o ritual do costume já não tivesse real significado. Não foi o intercâmbio tribal que desejávamos. Voltaremos a tentar em Vanuatu, dentro de algumas semanas.

Guia prático

Língua oficial

A Nova Caledónia é um daqueles destinos onde saber ler e falar francês ajuda muito. Trata-se da língua oficial e a mais falada no arquipélago, havendo ainda quase trinta línguas não oficiais usadas por minorias étnicas. Há apps para estudar francês, como a Babbel, que podem ser úteis ao viajante.

Onde ficar

Para encontrar os melhores hotéis em Nouméa, capital da Nova Caledónia, use por favor o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Nouméa

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto
Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.

1 comentário em “Tjibaou, do Centro Cultural à tribo de Tiédanite (#51)”

Deixe um comentário