A mais alta montanha do mundo é demasiado imponente para se cingir a um só país; generosa, espalha a sua beleza imponente por território nepalês e tibetano, prolongando as suas encostas nevadas e vales glaciários por muitos quilómetros em redor do cume, por vezes mais visível ao longe do que ao perto. Neste trekking, percorremos a face Norte do Evereste, no Tibete, região sob controlo da China.
Chomolungma, a deusa-mãe da Terra
Chomolungma, Sagarmatha, Evereste, três nomes para designar uma única montanha, a mais alta do mundo. O primeiro é tibetano, o segundo é nepalês – significa “aquela cuja cabeça toca o céu” -, e o terceiro é o nome do geógrafo britânico que verificou a sua altitude. Só os nomes locais fazem prever a sua imponência majestosa, anunciada pelo Mosteiro de Rongbuk. Situado no vale do mesmo nome, a 4.980 metros de altitude, também este é considerado o mais alto do mundo.
A viagem da aldeia de Nova Tingri até ao campo-base do Evereste costuma ser um dos pontos altos de uma visita ao Tibete; pelo menos se estiver bom tempo, e Sagarmatha tiver a cabeça fora das nuvens.
A aldeia de Nova Tingri não passa de meia dúzia de edifícios administrativos, lojinhas, pensões e restaurantes baratos. O vale estende-se ao longo do rio, passando por povoações de casas baixas com terraço, enfeitadas por feixes de canas com bandeiras de orações. O asfalto já tinha acabado há algum tempo quando apareceu a cortada para o Parque Nacional de Chomolungma, anunciado por uma placa em inglês. Esta área protege cerca de 34.000 km2 da vertente norte dos Himalaias, estando a vertente sul correspondente abrangida pelos Parques Nacionais de Sagarmatha e Langtang, no Nepal.
Depois da habitual paragem para exibir a documentação necessária num posto militar, a estrada transforma-se numa rampa íngreme de terra, por onde o camião vai subindo em curvas fechadas, engasgando-se e abafando a cada cem metros. O passo mais alto, a 5.105 metros de altitude, costuma ser um excelente miradouro sobre parte da cordilheira dos Himalaias, incluindo o Evereste, mas uma grande concentração de nuvens estraga-nos esse prazer.
A partir daí, o camião que nos transporta atravessa campos de flores amarelas, ruínas de mosteiros e aldeias de outros tempos, por onde passam cavaleiros garbosos vestidos de grossos casacões, entrecortadas por rios que galgaram a estrada e nos obrigam a avançar pelas encostas pedregosas das montanhas. Mais algumas subidas íngremes e chegamos ao Mosteiro de Rongbuk, na companhia de cinco monjas a quem tínhamos dado boleia. As despedidas são rápidas, que o ar está gelado, e temos pressa de rodear a salamandra fumegante que aquece o pequeno “hotel” onde todos ficam. Só ao pôr-do-sol é que conseguimos avistar o que nos trouxe aqui: no fundo do vale, a gigantesca Deusa-Mãe do Universo vela por nós, envolvida em nuvens rosadas.
De madrugada, o ar está límpido e a visibilidade no máximo. A pé e devagar, aproximamo-nos da enorme pirâmide branca que nos espera ao fim de duas horas e meia de percurso, por uma paisagem calcinada pela neve e pelo gelo. Pelo caminho ficam mais ruínas de mosteiros e o rio cinzento, que desce do glaciar.
Evereste, para lá do campo-base
O campo-base está assinalado por uma casa do Parque, vazia. É aqui que os visitantes dão meia volta, até porque o acesso a jipes termina definitivamente, frente à grande barreira de pedras da moreia do glaciar. Nós continuamos, após um lauto piquenique, em direcção ao Campo I, três horas mais acima. Felizmente não chegamos lá nesse dia; o vento cortante, um caminho que sobe incessantemente sobre pedras que resvalam e a beleza atormentada da paisagem, acabam por nos atrasar. O lugar onde acampámos compensou largamente a falha. Abrigados num dos lados da moreia, estávamos a dois passos de um miradouro natural, muito próximos do Evereste, flanqueado pelo cone perfeito do Pumori. Em baixo corre o glaciar de Rongbuk, envolto por neblinas mal o dia nasce.
A parte mais difícil do caminho é a que leva do Campo I ao Campo Intermédio, em plena Estrada dos Penitentes – mas é justamente esta área que mais nos interessa. Os penitentes, ou seracs, são torres de gelo que saem do corpo do glaciar e se elevam, por vezes, a trinta metros de altura. Só é possível vê-los em locais privilegiados como este, em que a exacta combinação de temperaturas e ventos, esculpe o gelo de forma brutal. Para os atingir, geralmente paga-se o privilégio em horas de marcha e dificuldades extenuantes, como, neste caso, um percurso de três horas sobre o próprio glaciar, com o seu chão de vidro coberto por uma gravilha cinzenta que desliza para todos os lados, seguido da travessia de duas pontes de gelo que derretem sob os nossos pés.
Finalmente, atingimos a famosa “estrada”, subindo até aos 5.750 metros, num ponto onde o glaciar forma uma crista recta, debruada a penitentes dos dois lados – enormes, monstruosos, saem do chão como gigantescos dentes brancos. As montanhas estão queimadas pelo frio, o vento é cortante, as nuvens largam granizo sobre nós e afastam-se, dando lugar ao sol. Estranho lugar este, tão inóspito que parece um pedaço de outro planeta. Irresistível ficar ali, apesar do frio, à espera que a paisagem mude com a luz, transformando-se em algo mais familiar.
Descemos no dia seguinte, de costas para Chomolungma, olhos nas longínquas e coloridas bandeiras de oração penduradas na stupa de Rongbuk. E despedimo-nos da Deusa-Mãe de manhã bem cedo, ainda o sol lhe iluminava apenas o cume, reflectindo a luz e espalhando-a pelo vale, como uma benção divina.
O mal da montanha
Apesar de curto, o trek é todo em altitude. As regras a seguir são: não subir mais de trezentos metros por dia e, de preferência, dormir mais baixo que a altitude máxima a que se passou. Importantíssimo é conhecer os sintomas e, ainda mais importante, é não os ignorar, já que isso pode significar o coma e a morte a curto prazo, por edema cerebral ou pulmonar. Mais informações sobre o mal da montanha no texto Introdução ao trekking – guia para andar por aí.
Guia de viagens ao Evereste
Este é um guia prático para trekking no Evereste, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Viagens ao Tibete
As informações referentes às viagens no Tibete estão constantemente a ser alteradas pelas autoridades chinesas, pelo que só na altura da partida devem ser feitas todas as perguntas necessárias numa embaixada da China.
Quando viajar para o Tibete
O Verão é a única época em que é possível fazer uma aproximação ao Evereste sem recurso a técnicas e materiais especializados. Antes de Maio e depois de Outubro pode ser muito complicado.
Como chegar ao Evereste
A área do Evereste tibetano não está aberta a viajantes independentes. Duas hipóteses: voar para Katmandu (Nepal) e daí contratar os serviços de uma agência; ou ir para Lhasa (voar a partir de uma capital de província chinesa, como Pequim ou Chengdu, que são os mais populares pontos de partida) e contratar aí os mesmos serviços. É muito mais barato fazer a viagem a partir de Lhasa.
Onde dormir e comer
Como é obrigado a utilizar os serviços de uma agência para fazer a viagem, esse problema não existe; de qualquer modo, em Rongbuk só existe a pensão do mosteiro ou o campismo selvagem.
Informações úteis
É necessário um visto prévio, fornecido pela Embaixada da República Popular da China, em Lisboa. A moeda é o yuan e 1€ vale cerca de 10 yuans. O nível de vida não é muito elevado. O trekking que vai de Rongbuk até ao Campo-base I, de onde é costume ter-se uma fantástica vista do Chomolungma, demora um mínimo de quatro dias (ida e volta), se estiver bem aclimatado à altitude.
Seguro de viagem
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