O Trilho dos Socalcos de Sistelo, oficialmente conhecido como PR24 – AVV, é uma Pequena Rota muito agradável, com cerca de 5km de extensão, ao longo de paisagens tranquilas e diversificadas. Tem início e fim na aldeia de Sistelo, pelo que não requer grande planeamento.
Nas palavras oficiais, o trilho junto aos socalcos “desvenda o maneio ancestral que muda de cor com as estações do ano”, sendo que “as [vacas] cachenas e as ovelhas lembram que o ecossistema vive da interação com a agrosilvopastoricia e as transumâncias sazonais. Os muros de granito coloridos pelas urzes sustentam os socalcos regados pelas levadas”. Fui verificar.
E é de facto bonito. Mas manda a verdade dizer que o percurso não tem a espetacularidade que eu estava à espera em função do seu nome. Até porque as melhores vistas dos socalcos têm-se a partir do chamado Miradouro dos Socalcos, por onde o trilho não passa. O trilho tem também algumas centenas de metros feitas no asfalto, facto que lhe retira alguns pontos.
Dito isto, passa por paisagens rurais muito atraentes, com esporádicas vistas para os famosos socalcos e demais campos cultivados, sendo por isso um passeio bem agradável. Tudo somado, e apesar de provavelmente não ser o melhor trilho de Sistelo, gostei bastante de o ter feito. Aqui fica, pois, a minha experiência no Trilho dos Socalcos – num dia de verão.
Trilho dos Socaldos de Sistelo (a minha experiência)
O Trilho dos Socalcos tem início na aldeia de Sistelo e, como tal, mal lá cheguei comecei a caminhar. Passei pelo cruzeiro e pelos espigueiros, percorri a rua principal da aldeia até à igreja Matriz; e, lá chegado, as marcações escaparam-me e não vi logo a continuação do percurso.
Havia um pequeno caminho – descobri de seguida! -, em escada, que descia de forma abrupta até uma ponte moderna sobre o Rio Vez, colocada sobre uma outra antiga, de pedra. A caminhada prometia ser fantástica…
Atravessei a ponte e segui por um belo e estreito caminho de pedras graníticas, ladeado por muros altos, até alcançar a ponte medieval. Foi a partir desse momento que o trilho começou a subir, em busca das tais vistas para os socalcos.
O percurso levou-me então por caminhos rurais, cénicos e tranquilos. Ouvia o chilrear dos pássaros e pouco mais quando cruzei pela primeira vez a estrada EN304.
Continuando a subir, passei por uma casa em cujo quintal estava um homem a trabalhar. Meti conversa, pedindo indicações sobre o ponto divisório entre o Trilho das Brandas e o Trilho dos Socalcos, mais para desbloquear a conversa do que por estar desorientado. Aproveitei para descansar um pouco e hidratar o corpo; e por ali ficámos uns minutos a conversar.
Adiante, vi pela primeira vez alguns dos famosos socalcos de Sistelo. Era lá que estava uma jovem agricultora, igualmente a trabalhar. Trocámos cumprimentos, fiquei algum tempo a observar os socalcos, ao fundo, e segui viagem. Gosto muito de conhecer pessoas em viagem, mas muitas vezes prefiro não incomodar.
Pouco depois, e já nas proximidades do lugar de Padrão, o trilho começou a descer rumo ao Rio Vez, através de um troço arborizado muito bonito e mais resguardado do sol. Mas não tardou a chegar a grande desilusão da caminhada.
Assim que avistei uma ponte rodoviária e carros a passar, estava longe de imaginar que iria percorrer o asfalto a pé durante algumas centenas de metros. Aí estava novamente a EN304!
Confesso que, por desconhecimento (falta de planeamento) da minha parte, foi uma espécie de anticlímax. Ir até Sistelo para caminhar na Natureza e acabar numa estrada nacional não estava nos meus planos. Felizmente, o suplício passou rápido e, em pouco tempo, cheguei ao desvio que me devolveu o prazer da caminhada.
Estava de regresso aos trilhos de montanha, no último troço de descida que, segundo um casal de Lisboa com quem me havia cruzado minutos antes (estavam a fazer o Trilho dos Socalcos em sentido contrário), era “muito perigoso” e escorregadio. “Tenha cuidado com a máquina fotográfica”, recomendaram, apontando para a câmara que sempre me acompanha.
Preparei-me para o pior, mas… o pior não chegou. A descida era linda e tranquila, com algumas pedras soltas mas nada de especialmente perigoso.
Quando cheguei à ponte medieval, faltava apenas alcançar a ponte nova e, daí, subir o caminho de pedra até à aldeia de Sistelo para um almoço na Ti’Mélia – a forma perfeita de terminar o Trilho dos Socalcos!
Dicas para fazer o Trilho dos Socalcos com menor impacto negativo
O turismo, por muito benéfico que seja, tem quase sempre impactos negativos; e cabe ao viajante minimizar os aspetos menos positivos da sua passagem por um destino. Eis, pois, algumas coisas que pode fazer para diminuir o impacto da sua visita a Sistelo.
- Evite visitar Sistelo durante o fim de semana ou nos feriados (é quando há mais gente na aldeia, na Ecovia do Vez e nos percursos pedestres).
- Fique a dormir em Sistelo (ou nas proximidades) – reserve aqui! Dessa forma, poderá conhecer uma faceta mais tranquila da aldeia; seja ao final da tarde ou de manhã cedo, antes da maioria dos turistas chegar a Sistelo.
- Dê preferência aos trilhos mais longos, como o Trilho das Brandas de Sistelo ou o Trilho dos Socalcos de Sistelo, em detrimento dos Passadiços de Sistelo. São menos frequentados.
- Não faça barulho nem leve sistemas de som para a aldeia.
- Respeite os moradores locais e as suas propriedades (Sistelo não é um museu).
- Não deixe lixo (nem deixe outros vestígios da sua passagem) nos trilhos.
Guia prático
Como chegar a Sistelo
Tendo como referência a cidade do Porto, a melhor forma de chegar a Sistelo é seguir pela A3 até Ponte de Lima e, daí, prosseguir pela IC28 e EN101 até Arcos de Valdevez. Depois, siga as indicações (EM505, EN202-2) e facilmente chegará a Sistelo. No total, são pouco mais de 120km de viagem.
Percursos pedestres em Sistelo: que trilho escolher
Em resumo, há quatro trilhos principais (mais a Ecovia) que pode fazer a partir de Sistelo, relativamente acessíveis a todos. A saber:
- PR 14 AVV – Trilho das Brandas de Sistelo (9km)
- PR 24 AVV – Trilho dos Socalcos de Sistelo (5km)
- PR 25 AVV – Trilho dos Passadiços de Sistelo (2km)
- PR 27 AVV – Trilho do Miradouro da Estrica (4,5km)
- Ecovia do Vez (troço de 11km, entre a Ponte de Vilela e a aldeia de Sistelo)
Eu optei por fazer o PR 24 de manhã, almoçar na aldeia, e depois o pequeno PR 25. Não sei se foi a melhor escolha, porque o caminho pelas brandas parece mais interessante do que o dos socalcos; e qualquer um deles dava para combinar com os passadiços, no mesmo dia.
Em resumo, se vai com crianças muito pequenas, fique pelo Trilho dos Socalcos. Se gosta de caminhar mas tem pouco tempo, o Trilho dos Socalcos pode ser uma boa opção; mas, em dias de muito movimento em Sistelo, talvez seja mais sensato optar pelo Trilho do Miradouro da Estrica. Por fim, se gosta de um bom desafio e tem mais tempo, siga o PR14 e suba até às brandas.
Por uma questão de segurança, sempre que possível, faça os trilhos com companhia.
O que levar para o Trilho dos Socalcos
Apesar do trilho ser relativamente pequeno, recomendo vivamente que leve botas de trekking, com proteção para os tornozelos. Isto porque, em algumas partes, o piso é muito irregular. Quanto a bastões de caminhada, não considero indispensável que os leve; mas são, naturalmente, uma ajuda.
De resto, e como é normal, leve água e alguns snacks para ir repondo as energias (frutos secos e barras de cereais, por exemplo).
Onde dormir
Caso pretenda pernoitar em Sistelo e, dessa forma, vivenciar a aldeia praticamente sem turistas, o turismo rural Casa da Ferreirinha (no centro da aldeia) é das opções com melhor relação qualidade/preço.
Se, por outro lado, preferir dormir na vila de Arcos de Valdevez, saiba que há alguns hotéis muito interessantes. Desde logo, o Ribeira Collection Hotel, um hotel de grande qualidade e localização ideal. Hipótese mais criativa, embora mais afastada do centro de Arcos de Valdevez, é o belíssimo turismo rural Moinho do Ázere; alternativamente, a Quinta do Olival merece também toda a atenção.
Gastronomia e onde comer
Sendo uma aldeia pequena, não há muitas opções de restaurantes em Sistelo. Dito isto, tenho uma recomendação perfeita para um almoço bom e barato: Tasquinha Ti’Mélia.
Entrei por puro feeling, enquanto atravessava a aldeia após terminar o Trilho dos Socalcos de Sistelo; perguntei se tinha prato do dia e a resposta foi afirmativa. O que se seguiu foram momentos de puro prazer gastronómico: sopa de legumes deliciosa, um saboroso prato de carne estufada que dava (à vontade!) para duas pessoas, bebida e café. O preço é imbatível (creio que paguei 7€) e o pessoal simpático e prestável.
O Ti’Mélia só tem menu do dia durante a semana; ao fim de semana o serviço é à la carte. Os petiscos, esses, há todos os dias!
Seguro de viagem
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