Destino: Médio Oriente » Irão » Teerão

Um dia normal em Teerão (histórias de gente honesta)

Por Filipe Morato Gomes
Taxista de Teerão
Taxista de Teerão

É um facto que há muita gente boa e alguma gente má em todo o lado. Mas, enquanto nuns sítios é mais frequente depararmo-nos com pessoas sem escrúpulos e oportunistas, carregadas de segundas intenções e para quem o turista pouco mais é que um cifrão, noutros países esses são uma espécie rara. É o caso do Irão. Vou-vos contar três pequenos episódios passados no curto espaço de 24 horas.

Passeava no parque e-Laleh, uma agradável área verde onde se situa o Museu de Arte Contemporânea na zona central da capital iraniana, quando um dos viajantes que me acompanha na quinta edição da viagem Segredos da Pérsia parou para fotografar umas inscrições gravadas em farsi no tronco de uma árvore (declarações de amor?). Pousou os óculos de sol algures (ou terão caído ao chão?), fotografou e foi-se embora. Minutos depois, já afastados do local, apareceu um jovem iraniano em passo acelerado no nosso encalço. Trazia o par de óculos na mão e vinha devolvê-lo.

Um gesto simpático e até de certa forma normal (vocês fariam provavelmente o mesmo em Portugal) – poderão pensar, e com razão. Mas que dizer do taxista que, na manhã seguinte, levou quatro viajantes do parque e-Sharh, um outro espaço verde mas no sul de Teerão, até à Praça Ferdosi?

Contextualizemos o problema antes de descrever o episódio. Para quem chega ao Irão pela primeira vez, a moeda é uma confusão e é sempre preciso alguns dias até nos habituarmos a lidar com rials e tomams. A moeda oficial é o rial, mas os preços aparecem quase sempre escritos em tomams, moeda inexistente que equivale a 10 rials (algo parecido com os “contos” antigos em Portugal, que valiam 1.000 escudos). Para complicar a vida a quem vem de fora, os iranianos simplificam para não falar em milhares ou milhões. Dizem 4 quando querem dizer 4.000 tomans, ou seja, 40.000 rials; 5 quando querem dizer 50.000 rials; e assim por diante. Este episódio aconteceu neste contexto de confusão inicial.

Chegados à Praça Ferdosi vindos do parque e-Sharh, o taxista pediu 4 pela corrida mostrando 4 dedos de uma mão, ao que o nosso viajante lhe entregou 400.000 rials, dez vezes mais que o necessário. O taxista desatou à gargalhada e devolveu o dinheiro em excesso com um sorriso. Nem por um instante lhe passou pela cabeça ficar com o dinheiro. Teria ganho a tarde de trabalho, não fora a sua ética e honestidade (se conhecerem algum taxista na área das chegadas do aeroporto da Portela mostrem-lhe este texto por favor). Agradecido, o nosso viajante compensou o taxista pela sua verticalidade com uma gorjeta que deixou ambos felizes.

Noutra viatura seguia outra viajante do grupo que, já no cafezinho simpático onde parámos para almoçar, reparou que lhe faltava o telemóvel. Não era um telefone qualquer, mas sim um iPhone branquinho e bem estimado. Sentada no banco do táxi com bolsos largos nas calças, o telemóvel caíra lá. Ana deu o telefone como irremediavelmente perdido; eu, conhecendo os iranianos, estava confiante que ele ia aparecer. Sarah, uma simpática amiga iraniana que nos acompanhava no momento, foi ainda mais assertiva: “tenho a certeza que o telemóvel vai ser devolvido”.

Telefonámos para o número de Ana e, nas duas primeiras tentativas, ninguém atendeu (talvez o taxista estivesse ocupado). À terceira, um passageiro atendeu a chamada. Em farsi, Sarah explicou o sucedido e pediu ao taxista que fosse entregar o telemóvel ao nosso hotel. E o bom homem comprometeu-se a fazê-lo naquele mesmo dia. Quando, ao final da tarde, voltámos ao conforto do hotel, lá estava o iPhone à espera da nossa viajante na receção.

São pequenos exemplos como estes que definem a grandeza de um povo.

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

5 comentários em “Um dia normal em Teerão (histórias de gente honesta)”

  1. Adorei o teu post Filipe. Sem dúvida que o Irão é um país com gente muito simpática. Mas, como tu mesmo dizes no início do teu artigo, há gente boa e má em todo lado.

    Posso-te contar alguns episódios que incluem um amigo meu ter sido roubado num táxi (roubaram a máquina fotográfica) enquanto ele dormia.

    De experiência própria, posso contar que, na segunda vez que entrei no Irão, fui enganado com o câmbio por um senhor muito simpático, que, crendo eu na “pureza” dos iranianos, me passou a perna e me fez perder dinheiro.

    Também no bazaar em Shiraz, venderam-me nozes ao dobro do preço. Vim a descobrir quando perguntei o preço nas lojas seguintes. Quando voltei simpaticamente para me devolver o dinheiro chamou-me nomes e atirou-me com o saco acima (pela injustiça que foi, fui logo acolhido e ajudado pela população local).

    Em Yazd fui insultado e quase agredido por um dito “guia”, pela simples razão de simpáticamente ter recusado os seus serviços.

    De qualquer maneira, estes acontecimentos foram 1% de todas as boas experiências que tive nesse país, cheia de gente curiosa, amigável e altamente acolhedora.

    Para mim viajar só tem experiências boas, porque todas as menos boas geralmente esqueço. Mas, para mim não há excepção de países com gente boa.

    Em todos os países onde viajei tive bons encontros, mesmo nos países ditos “maus”.

    Para mim o país com melhor pessoas é: todos (incluindo o Irão), e o país com piores pessoas é: todos (incluindo o Irão).

    Abraço e boa continuação.

    Responder
  2. Viajar para o Irão era algo que nunca me tinha passado pela cabeça até encontrar alguns belos testemunhos e histórias no seu site. Neste momento, é um dos países que anseio muito visitar…parece-me ser completamente diferente do que aparece nos telejornais. Tenho desejo de conhecer um povo assim: honesto, simples e hospitaleiro.

    Responder
  3. “São pequenos exemplos como estes que definem a grandeza de um povo.”

    E é bom saber mais, especialmente sobre um povo de quem sabemos tão pouco ou – ainda pior – de quem só nos tem sido dado a ver um lado ‘mais sombrio’.

    Obrigada :-)
    Graça

    Responder
  4. Viajar… O verdadeiro remédio para matar o preconceito!!! ;)

    Responder
    • Não podia estar mais de acordo com essa frase, Nuno. Abraço!

      Responder

Deixe um comentário