É um facto que há muita gente boa e alguma gente má em todo o lado. Mas, enquanto nuns sítios é mais frequente depararmo-nos com pessoas sem escrúpulos e oportunistas, carregadas de segundas intenções e para quem o turista pouco mais é que um cifrão, noutros países esses são uma espécie rara. É o caso do Irão. Vou-vos contar três pequenos episódios passados no curto espaço de 24 horas.
Passeava no parque e-Laleh, uma agradável área verde onde se situa o Museu de Arte Contemporânea na zona central da capital iraniana, quando um dos viajantes que me acompanha na quinta edição da viagem Segredos da Pérsia parou para fotografar umas inscrições gravadas em farsi no tronco de uma árvore (declarações de amor?). Pousou os óculos de sol algures (ou terão caído ao chão?), fotografou e foi-se embora. Minutos depois, já afastados do local, apareceu um jovem iraniano em passo acelerado no nosso encalço. Trazia o par de óculos na mão e vinha devolvê-lo.
Um gesto simpático e até de certa forma normal (vocês fariam provavelmente o mesmo em Portugal) – poderão pensar, e com razão. Mas que dizer do taxista que, na manhã seguinte, levou quatro viajantes do parque e-Sharh, um outro espaço verde mas no sul de Teerão, até à Praça Ferdosi?
Contextualizemos o problema antes de descrever o episódio. Para quem chega ao Irão pela primeira vez, a moeda é uma confusão e é sempre preciso alguns dias até nos habituarmos a lidar com rials e tomams. A moeda oficial é o rial, mas os preços aparecem quase sempre escritos em tomams, moeda inexistente que equivale a 10 rials (algo parecido com os “contos” antigos em Portugal, que valiam 1.000 escudos). Para complicar a vida a quem vem de fora, os iranianos simplificam para não falar em milhares ou milhões. Dizem 4 quando querem dizer 4.000 tomans, ou seja, 40.000 rials; 5 quando querem dizer 50.000 rials; e assim por diante. Este episódio aconteceu neste contexto de confusão inicial.
Chegados à Praça Ferdosi vindos do parque e-Sharh, o taxista pediu 4 pela corrida mostrando 4 dedos de uma mão, ao que o nosso viajante lhe entregou 400.000 rials, dez vezes mais que o necessário. O taxista desatou à gargalhada e devolveu o dinheiro em excesso com um sorriso. Nem por um instante lhe passou pela cabeça ficar com o dinheiro. Teria ganho a tarde de trabalho, não fora a sua ética e honestidade (se conhecerem algum taxista na área das chegadas do aeroporto da Portela mostrem-lhe este texto por favor). Agradecido, o nosso viajante compensou o taxista pela sua verticalidade com uma gorjeta que deixou ambos felizes.
Noutra viatura seguia outra viajante do grupo que, já no cafezinho simpático onde parámos para almoçar, reparou que lhe faltava o telemóvel. Não era um telefone qualquer, mas sim um iPhone branquinho e bem estimado. Sentada no banco do táxi com bolsos largos nas calças, o telemóvel caíra lá. Ana deu o telefone como irremediavelmente perdido; eu, conhecendo os iranianos, estava confiante que ele ia aparecer. Sarah, uma simpática amiga iraniana que nos acompanhava no momento, foi ainda mais assertiva: “tenho a certeza que o telemóvel vai ser devolvido”.
Telefonámos para o número de Ana e, nas duas primeiras tentativas, ninguém atendeu (talvez o taxista estivesse ocupado). À terceira, um passageiro atendeu a chamada. Em farsi, Sarah explicou o sucedido e pediu ao taxista que fosse entregar o telemóvel ao nosso hotel. E o bom homem comprometeu-se a fazê-lo naquele mesmo dia. Quando, ao final da tarde, voltámos ao conforto do hotel, lá estava o iPhone à espera da nossa viajante na receção.
São pequenos exemplos como estes que definem a grandeza de um povo.
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