“Estávamos à sua espera”, ou a história de um telemóvel perdido em Copenhaga

Por Filipe Morato Gomes
Centro da praça Kulturvet, em Copenhaga
Centro da praça Kulturvet, em Copenhaga

Fim da manhã do segundo dia em Copenhaga. Andava a desbravar o centro da cidade há praticamente três horas, visitando alguns museus e atrações turísticas e procurando lugares menos óbvios para incluir num trabalho que estou a preparar. Perdi-me especialmente na zona do chamado Bairro Latino, com ruas pedonais, cafés acolhedores, lojas alternativas e ambiente descontraído, quando cheguei à praça Kulturvet.

O sol apareceu, finalmente, e eu imitei os dinamarqueses, pousei os meus pertences – mochila, telemóvel e casaco – e sentei-me no centro da praça. Havia um candidato às eleições europeias a distribuir panfletos de campanha aos transeuntes, pais e crianças em correrias familiares e muita gente a circular. Muita mesmo. Porque estava sol e a praça Kulturvet é um ponto de passagem no centro de Copenhaga, a caminho de Norreport, a mais movimentada estação de metro da cidade.

Terão passados uns 15 ou 20 minutos, entre leituras, um cigarro e muito people watching ao som de uma banda de rua que tocava música estranha mas divertida, até que a fome apertou. Por essa altura, abandonei o bulício da praça e dirigi-me para Torvehallerne, um mercado de comida muito próximo que eu queria conhecer.

Visitei o mercado tranquilamente, analisei todas as bancas e optei por experimentar as famosas smørrebrød, uma espécie de “sanduíches abertas” porque só tem a camada inferior de pão – são cobertas com as mais variadas opções (de salmão a peixe frito, passando por espargos, rosbife, ovos e marisco, entre outras possibilidades). E ainda fiquei a observar o trabalho de minúcia e paciência de uma empregada de origem asiática a preparar as “sanduíches”.

No final da refeição, decidi tirar fotografias das smørrebrød expostas ao balcão para partilhar no Instagram. Meti a mão ao bolso das calças e… nada. No outro bolso, idem. Na mochila não estava, só podia estar no casaco. Mas não. A conclusão era óbvia: tinha deixado o telemóvel no centro da tal praça, à vista de todos.

Tenho escrito várias vezes a propósito da hospitalidade e honestidade persas, sei bem que as pessoas são maioritariamente boas em todo o mundo e que a Dinamarca é tida como um país seguro e de gente civilizada. Tinha, por isso, uma réstia de esperança que talvez, porventura, quem sabe numa espécie de milagre, alguém o tivesse guardado e esperasse um telefonema meu. Era o que eu ia fazer de seguida: pedir a um transeunte simpático que ligasse para mim próprio e ver o que sucedia. Antes, porém, mais por descargo de consciência que outra coisa, voltei à praça Kulturvet. Teria passado uma hora desde que abandonara a praça.

No local onde eu tinha estado sentado, encontrava-se uma senhora alta e loira, talvez na casa dos trinta e muitos, com uma criança pequena ao seu lado. Por cima do seu casaco, à vista de todos, o meu iPhone.

“Nem acredito”, disse eu, espantado por o meu telefone estar ali. “Estávamos à sua espera…”, respondeu a senhora, com um sorriso generoso. Fiquei estupefacto, agradeci uma e outra vez meio sem jeito pela surpresa da resposta e cada um foi à sua vida. “Estávamos à sua espera” – julgo que não mais esquecerei esta frase. E sabe tão bem estar em lugares onde coisas destas acontecem…

Veja onde ficar em Copenhaga.

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Filipe Morato Gomes

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.