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Visitar Saint-Louis, a alma cultural do Senegal

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Saint-Louis
Rua do centro histórico de Saint-Louis

Está a pensar visitar Saint-Louis, no Senegal? Pois bem, recentemente tive oportunidade de viajar até ao Norte do país e é sem dúvida uma das mais belas e vibrantes cidades senegalesas. E, entre um centro histórico com personalidade, música e artes em cada esquina, um excelente museu de fotografia e parques naturais nas proximidades, a verdade é que não falta o que fazer em Saint-Louis para dois ou três dias de viagem.

Há, é certo, ruas mal cuidadas e edifícios coloniais decrépitos. Tal como há cabras a pastar nas ruas, nomeadamente no populoso bairro de pescadores Guet Ndar, onde até os pelicanos parecem ser tratados como animais de estimação. Saint-Louis é um desafio para os sentidos!

Saint-Louis, Senegal
Saint-Louis, Senegal

Na verdade, talvez não se justifique uma lista detalhada com o que visitar em Saint-Louis, já que o maior prazer, para mim, é cirandar a pé pela zona histórica da cidade. Sem rumo ou plano definido. Encontram-se sempre algumas surpresas ao caminhar – seja um artista, um edifício atraente ou um sorriso.

Ainda assim, vou então tentar compilar alguma das coisas que mais me chamaram a atenção na cidade. Eis, pois, algumas sugestões sobre o que fazer em Saint-Louis numa escapadinha de um par de dias dias à capital cultural do Senegal. Inclui referência às principais atrações turísticas, a alguns artistas e aos melhores restaurantes que conheci para aconchegar o estômago. Vamos a isso.

O que fazer em Saint-Louis

Deambular pelo centro histórico

O que fazer em em Saint-Louis: visitar o Centro histórico
Centro histórico de Saint-Louis

O centro histórico de Saint-Louis é uma preciosidade. Tal como a ilha de Gorée, tem aquela decadência poética que encontrei em cidades como Havana, em Cuba, ou no centro histórico de Jeddah, na Arábia Saudita. Tudo lugares pelos quais me apaixonei.

Percorrer as ruelas de Saint-Louis é, por isso mesmo, um deleite para os sentidos. Centenas de edifícios de origem colonial, muitos deles mal preservados, é certo, com as fachadas em tons pastéis sobrepostos ao longo dos anos, conferem um ambiente peculiar ao coração de Saint-Louis.

Claro que há algum lixo e muita gente nas ruas, incluindo algumas crianças pedintes que um sexto sentido me dizem serem talibes (ver abaixo), e os edifícios devolutos são em demasia para um centro histórico que a UNESCO classifica como Património Mundial. Mas nem isso tira o charme à cidade.

Para quem procura o que fazer em Saint-Louis, deambular pelo seu centro histórico é seguramente atrativo bastante. Mas o melhor é que há coisas específicas a ver e visitar; a começar pelo chamado Mupho, o Museu da Fotografia de Saint-Louis. Entremos!

Visitar o Museu da Fotografia de Saint-Louis

Visitar Museu da Fotografia de Saint-Louis
Sala de exposição do Mupho – Museu da Fotografia de Saint-Louis

Porventura a atração mai conhecida da cidade, o Mupho – Museu de Fotografia de Saint-Louis é um projeto museológico peculiar. Está distribuído por sete edifícios, uns de grande interesse e outros nem tanto, com exposições distintas e nem sempre ligadas à fotografia.

Assim sendo, convém saber que o ponto fulcral do Mupho é a chamada Ker Messaoud, uma antiga mansão pertencente a uma família marroquina e que é assumidamente o “coração” fotográfico do museu. Nas palavras da instituição, o edifício Ker Messaoud Alberga “exposições permanentes e temporárias de grandes mestres africanos da fotografia”, com o “objetivo de colocar lado a lado jovens talentos com artistas de renome”.

Eu, pessoalmente, gostei muito das exposições de fotografia que vi em Ker Messaoud. Outras exposições já não me disseram tanto. Fica a dica.

Os bilhetes para o conjunto das exposições compra-se na chamada Villa Mupho.

Apreciar a Ponte Faidherbe

O que ver em Saint-Louis: Ponte Faidherbe
Vista da Ponte Faidherbe, Saint-Louis

Ex-libris de Saint-Louis, a Ponte Faidherbe, construída no século XIX, é uma ponte de metal sobre o rio Senegal, que une a ilha da cidade de Saint-Louis (onde se situa o centro histórico) ao continente africano. A construção da ponte é por vezes atribuída a Gustave Eiffel, incluindo em guias de viagem como o Lonely Planet. Mas, ao que consta, essa afirmação será um dos muitos mitos existentes sobre a Ponte Faidherbe.

Pessoalmente, não creio que, do ponto de vista turístico, seja algo de suprema relevância mas, ainda assim, fica a referência. Até porque, queira ou não, é certo que atravessará a Ponte Faidherbe para chegar ao centro histórico de Saint-Louis.

Conhecer o trabalho do escultor Fall Meissa

Esculturas Fall Meissa
Esculturas em ferro da autoria de Fall Meissa

Tinha lido algures sobre o trabalho do artista senegalês Fall Meissa, pelo que fui procurar o seu atelier. No passeio, junto à porta, o seu filho trabalhava numa nova escultura com pedaços de ferro. Tudo é feito com velhas peças de bicicletas e motos, que assim ganham outra vida.

Fall Meissa não estava, mas entrei na pequena e caótica loja para apreciar as originais esculturas. Um trabalho criativo que merece a atenção de todos quando chegar a hora de visitar Saint-Louis.

Outro artista que trabalha o ferro e cujo trabalho conheci tem uma modesta “galeria” chamada La Pintade. Chama-se Serigne Gueye e o local está assinalado no mapa de Saint-Louis, abaixo.

Fazer compras no Atelier des Femmes

Atelier des Femmes, Saint-Louis
Loja Atelier des Femmes, em Saint-Louis

Enquanto passeava pelas ruas de Saint-Louis reparei numa loja cujo nome chamou a minha atenção: Atelier des Femmes. Trata-se de um projeto da Associação La Liane, de origem francesa, estabelecido em Saint-Louis há mais de uma década, e que visa empoderar mulheres oriundas de contextos difíceis.

Ali, recebem formação e criam artigos artesanais originais feitos com tecidos e outros materiais reciclados, que comercializam ali mesmo – gerando assim rendimentos para as autoras das peças.

A associação ajuda também crianças de rua, incluindo talibes.

Apoiar o trabalho de Khose, artista e professor

Khose, artista de Saint-Louis
Khose posando diante da sua casa no centro de Saint-Louis

Tenho noção que esta sugestão não aparece em nenhuma lista com o que fazer em Saint-Louis. E, na verdade, não é qualquer atração turística. Mas, enquanto deambulava pelo centro histórico da cidade, passei por Oumar NDiaye, mais conhecido por Khose, que trabalhava diante de sua casa.

Contou-me que era artista e professor de artes para crianças com deficiência, tendo inclusive ilustrado um livro para crianças, escrito pela francesa Cathelijne Bachrach – que me mostrou orgulhosamente. E por ali fiquei à conversa.

Pareceu-me daquelas pessoas genuinamente boas – vale o que vale num contacto tão curto. E, como as pessoas contam mais do que qualquer outra coisa, apeteceu-me deixar esta referência. Passe por lá (a sua casa está marcada no mapa) e, se gostar dos seus trabalhos, não custa ajudar.

Explorar o bairro Guet Ndar

Bairro Guet Ndar, Saint-Louis, Senegal
Vista para o bairro de pescadores Guet Ndar, em Saint-Louis

Tido como um dos bairros com maior densidade populacional do Senegal, de África e quiçá do mundo, o bairro de pescadores não é para todos.

O cenário é um complexo. Milhares de pescadores de aspeto maltrapilho deambulam pelas estreitas ruas de areia. As crianças correm, brincam, pedem dinheiro à sua passagem e jogam futebol no meio de muito lixo, cabras e pelicanos.

A maioria das habitações são demasiado precárias para terem condições de habitabilidade dignas. Confesso que não me senti confortável – uma espécie de voyeur num mundo de pobreza e exclusão social. É um murro no estômago.

Porventura por preconceito, não me senti confiante para pegar na máquina e fotografar o bairro de pescadores Guet Ndar. Por essa razão, não tenho fotos no interior do bairro.

Desfrutar do ambiente do café Ndar Ndar

Café Ndar Ndar, Saint-Louis
Interior do Café Ndar Ndar, em Saint-Louis

Está bom de ver que passei algum tempo no Ndar Ndar. Para além de ter ficado hospedado na guesthouse, também me souberam pela vida aqueles momentos em que entrava o café para trabalhar ou beber um copo, fugindo do calor abrasador de Saint-Louis.

O Café Ndar Ndar tem um ambiente muito agradável, com boa música e uma enriquecedora mistura de frequentadores. Recomendo.

Provar thieboudienne

Thieboudienne
Thieboudienne, o prato nacional do Senegal @Mariel – licença Creative Commons

Thieboudienne é um prato tradicional da Senegâmbia, sendo inclusive o prato nacional do Senegal. É preparado com peixe, arroz e molho de tomate cozido com vegetais – couve, mandioca, cenoura e outros -, sendo tradicionalmente comido à mão a partir de um grande prato comunitário.

Ora, reza a história que o ícone gastronómico do Senegal terá sido criado precisamente na cidade de Saint-Louis algures no século XIX, pelo que é o local ideal para o experimentar. Da minha experiência, e apesar de não ser especialista, elejo o restaurante Galaxy como um excelente restaurante em Saint-Louis onde provar thieboudienne. Foi lá que comi e gostei bastante de quase todos os ingredientes – entre os vegetais havia um elemento desagradável para o meu palato e que não consegui identificar, mas, tirando isso, adorei.

Outras coisas a fazer em Saint-Louis

Acima encontra algumas sugestões do que pode fazer em Saint-Louis. Mas, tendo tempo, pode naturalmente fazer outras atividades ou visitar mais um ou outro local além das atrações referenciadas no artigo (e no mapa). A saber:

  • Sair à noite para ouvir música ao vivo num dos muitos bares da cidade. E, se fizer a viagem coincidir com as datas do evento, não perca o icónico festival de jazz da cidade.
  • Visitar o Parque Nacional Langue de Barbarie, localizado numa península arenosa perto de Saint-Louis.
  • E, estando lá, poderá tentar usar os espaços comuns (incluindo as piscinas) dos hotéis na praia Hydrobase. Eu não fui a Langue de Barbarie, mas disseram-me que, regra geral, se for almoçar ou consumir algo, os hotéis permitem o usufruto da piscina e áreas exteriores. Pode dar uma tarde bem passada.
  • Visitar o Santuário Nacional de Aves de Djoudj, um dos locais classificados pela UNESCO como Património Mundial no Senegal. Fica a hora e meia de carro de Saint-Louis.

Os talibes do Senegal

Saint-Louis aparenta ser uma região relativamente pobre. E há muitas crianças pequenas, sujas e mal vestidas, que abordam os turistas estrangeiros pedindo dinheiro ou comida.

A situação é por vezes desconfortável – quanto te pedem para comprar leite numa mercearia, por exemplo! – mas, depois de conhecer o magnífico trabalho Talibes – Escravos dos Tempos Modernos, do amigo e grande fotógrafo Mário Cruz, desconfio que muitas delas são talibes, crianças ao cuidado de falsas escolas corânicas forçadas a mendigar em benefício dos seus “educadores”. Não estou naturalmente seguro desta minha suspeita, mas algo me diz que estão ali obrigadas em benefício de terceiros.

Por estranho que pareça, notei mais este fenómeno em Saint-Louis do que na capital Dakar.

Mapa dos lugares a visitar em Saint-Louis

No mapa acima, encontra a localização exata de todos os lugares referenciados no artigo. Entre museus, artesões, parques naturais e bons restaurantes, há muito o que ver e fazer numa viagem a Saint-Louis.

Dicas para visitar Saint-Louis

Como chegar a Saint-Louis a partir de Dakar

Estando no plateau de Dakar, o melhor é começar por apanhar o comboio Regional Express Train (TER) até à Gare Baux Maraichers. É de lá que saem as carrinhas septe-place rumo a Saint-Louis (e outros destinos no Senegal). Apesar do desconforto, são provavelmente a forma mais prática de fazer a viagem.

Uma vez na Gare Baux Maraichers, dirija-se ao cais número 5 e procure uma septe-place, pague 5.000 XOF mais 500 a 1000 XOF pela bagagem, e espere que encha. A viagem entre Dakar e Saint-Louis demora pelo menos quatro horas.

Chegando à gare de Saint-Louis, basta apanhar um táxi até ao seu hotel (disseram-me que o preço era 1.500 XOF, mas eu paguei 2.000 XOF – no regresso paguei apenas 700 XOF).

Há também autocarros a unir as duas cidades, alegadamente mais confortáveis do que as septe-place, mas não experimentei. Por isso mesmo, não tenho dicas específicas sobre as viagens de autocarro entre Dakar e Saint-Louis. Mas vale a pena investigar, já que a viagem será, digamos, mais suave.

Dica: evite a todo custo ir no banco traseiro das septe-place (lugares 5, 6 e 7). Siga este conselho religiosamente – depois agradece-me. A viagem nos outros lugares faz-se relativamente bem, sendo que o melhor lugar é, naturalmente, ao lado do condutor.

Onde ficar em Saint-Louis

Antes de mais, veja o artigo sobre onde ficar em Saint-Louis, que permitirá compreender melhor a geografia da cidade e os melhores bairros para se hospedar.

Em resumo, e apesar de não haver assim tantos hotéis de qualidade em Saint-Louis, felizmente há uma pousada que eu recomendo vivamente. Chama-se Ndar Ndar House. A localização é perfeita, os quartos são fantásticos, o ambiente é muito bom, o preço é justo e o Mamadou é um anfitrião incansável. Que mais se pode pedir? Quando pesquisei alojamento não tive dúvidas de que seria a melhor opção para o meu estilo de viajante – e não me enganei. Dizem também muito bem da guesthouse JAMM.

Caso o objetivo seja fazer praia e explorar a Langue de Barbarie, considere ficar no Hotel Diamarek ou no Hotel Cap Saint Louis. Estará mais afastado do centro mas com um pé na areia. Para outras opções de alojamento em Saint-Louis, pesquise no link abaixo.

Pesquisar hotéis em Saint-Louis

Gastronomia e onde comer

Perto do hotel Ndar Ndar há vários restaurantes tradicionais. Entre os que me foram recomendados localmente, destaco as refeições que fiz no restaurante Galaxy (duas vezes), no La Liguere e no Chez Dasso – Slow Food. Em todos pode contar com preços baixos e comida caseira de grande qualidade. E, claro, não deixe de conhecer o ambiente do café Ndar Ndar.

Há diversos pratos típicos que vale a pena provar, seja em Dakar, em Saint-Louis ou em qualquer outra cidade senegalesa. Entre eles, o incontornável thieboudienne e o frango yassa são duas das especialidades gastronómicas que pode – e deve! – provar. E, claro, muito peixe grelhado e marisco.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

1 comentário em “Visitar Saint-Louis, a alma cultural do Senegal”

  1. Estou em Saint Louis e digo que suas dicas me valeram muito. Obrigada.

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