Está a pensar visitar a ilha de Gorée, ao largo de Dakar, a capital do Senegal? Pois bem, recentemente tive oportunidade de viajar até Gorée, explorando tranquilamente toda a ilha durante algumas horas, e posso garantir que fiquei agradavelmente surpreendido. Foi, aliás, um dos pontos altos do meu roteiro no Senegal. É uma preciosidade!
Assim que desembarquei em Gorée, saltou à vista a limpeza da ilha – pelo menos quando comparada com Dakar. Caminhei, explorei, falei com artistas locais, apreciei a decadência poética dos edifícios de Gorée, muito coloridos, mas com a tinta a descascar.
A esse respeito, devo dizer que, de certa forma, ao caminhar pelas ruas de Gorée as memórias voaram até Havana, em Cuba, e até ao bairro histórico de Al-Balad, em Jeddah, na Arábia Saudita – dois locais pelos quais me apaixonei. Uma preciosidade!
Infelizmente, a história de Gorée é tudo menos cor-de-rosa. Comecemos por aí.
O comércio de escravos em Gorée
Apesar das controvérsias académicas, boa parte dos estudiosos concorda que a ilha de Gorée foi um relevante entreposto comercial de escravos entre os séculos XV e XIX. Trazidos principalmente da costa ocidental do continente africano, sobretudo da região da Senegâmbia, os homens seguiam à força através da chamada “porta de não retorno” para destinos no continente americano.
Ora, reza a história que era na atual Casa dos Escravos – ou Museu dos Escravos – que os homens outrora encarados como mercadoria ficavam enclausurados e acorrentados, até serem vendidos e embarcados para as Américas. Hoje, a mansão está transformada em museu, para que a memória perdure e a história não se repita.
Não por acaso, a UNESCO classifica a ilha como Património Mundial desde 1978.
Infelizmente, os portugueses tiveram um papel crucial nessa fase negra da História da Humanidade, pelo que não há como não sentir uma ponta de vergonha ao passar diante do edifício.
Eu visitei Gorée numa segunda-feira, dia em que o museu está encerrado. Fiquei com muita pena, mas não tive alternativa. Fica a informação, caso possa organizar a visita para outro dia da semana. Veja também o artigo sobre o que fazer em Dakar, onde encontra, entre outras sugestões, referência ao excelente Museu das Civilizações Negras.
A ilha de Gorée
A minha visita a Gorée
A viagem para Gorée começou no porto marítimo de Dakar, onde subi a bordo de uma embarcação que haveria de me levar até à ilha.
Chegado a Gorée, recusei amavelmente a oferta de vários guias turísticos locais, que procuravam angariar turistas para fazerem o seu trabalho. Bem sei que é uma forma de garantir que o turismo deixa recursos nas comunidades, mas eu prefiro sempre – ou quase sempre! – vaguear ao meu ritmo. Ainda que, com isso, perca informações relevantes. Mas, estar sozinho, é a forma que encontrei para sentir melhor os lugares.
Assim, fui explorando as ruelas de Gorée, absorvendo o ambiente tranquilo da ilha que o Google Maps resume assim: “ilha minúscula com um papel importante no comércio de escravos no Atlântico, com edifícios e museus coloniais”.
Sim, é impossível ficar indiferente ao charme colonial de Gorée. Apesar da decadência de muitos edifícios, outros há em excelente estado de conservação, recuperados com gosto e pintados a rigor. Talvez por isso, fotografei com uma avidez desmesurada. Estava verdadeiramente fascinado, e tudo me parecia motivo para apontar a máquina fotográfica.
Ora, com o turismo surgiram naturalmente novas oportunidades de negócio. Além da tristemente célebre Casa dos Escravos, há inúmeros restaurantes junto à pequena praia de Gorée; e incontáveis artistas plásticos exibem as suas obras em singelas galerias ou mesmo em plena rua.
Pinturas, tecidos trabalhados em batik, desenhos feitos com areias coloridas, máscaras e artefactos decorativos criados com ferro e despojos tecnológicos, como ratos de computador ou telemóveis velhos. De tudo um pouco se encontra em Gorée.
E isso – a profusão de artistas – ajuda a tornar o ambiente da ilha ainda mais vibrante e colorido.
Há, claro, os restos de bunkers da Segunda Grande Guerra, canhões alegadamente de origem portuguesa e o velho forte francês de forma circular, entretanto reconstruído.
Mas, além da arquitetura colonial, o meu fascínio estava em pessoas como Ousmane Ndiaye. Um homem afável que encontrei “pintando” quadros com cola e areias coloridas no seu modesto atelier, já na zona alta de Gorée – conhecida como “castelo”.
Estando disponível, as coisas acabam por acontecer com naturalidade. Além de múltiplos artistas, estive à conversa com um pescador que pintava o seu barco (“isto está mal feito, mas eu sou pescador, não sou pintor!”) e ainda dei por mim a jogar uma partida de damas senegalesas. Ao contrário do jogo que conheço, aquele tinha quatro filas de damas para cada jogador, sendo jogado num tabuleiro gigante.
E assim, a ilha de Gorée – e suas gentes! – foi-se revelando aos poucos, enquanto caminhava sem rumo pelas ruelas empedradas da ilha.
Terminada a caminhada, dei por mim a almoçar num dos restaurantes existentes junto à doca de Gorée, findo o qual era então tempo de prosseguir a minha visita a Dakar.
Confesso que, à medida que o ferry se afastava da ilha, não pude deixar de pensar que teria sido uma excelente ideia ficar a dormir em Gorée, após todos os turistas abandonarem a ilha. Tivesse eu mais dias para o meu roteiro de viagem no Senegal e seguramente teria feito isso.
Mais fotos de Gorée
Dicas para visitar a ilha de Gorée
Como chegar a Gorée
A partir de Dakar, basta apanhar um ferry no porto de Dakar (ver localização exata) com direção a Gorée. Deve ir a dois guichets, lado a lado. No primeiro paga a “taxa municipal” de acesso a Gorée (500 XOF), e no segundo compra o bilhete propriamente dito, que custa 5.200 XOF para a viagem de ida e volta.
No que toca a horários, quando fiz a viagem havia pelo menos 11 partidas diárias de Dakar (e outros tantos regressos de Gorée), às 6:15, 7:30, 10:00, 11:00, 12:30, 14:30, 16:00, 17:00, 18:30, 20:00 e 22:30. Deve chegar ao porto meia hora antes.
Excursões de Dakar até à ilha de Gorée
Se preferir o conforto de uma visita organizada, veja esta excursão privada de meio dia à ilha Gorée com partida de Dakar (ou Saly). Desta forma não terá de lidar com a logística da viagem e terá a companhia de um guia durante a visita a Gorée.
Onde ficar em Gorée
A maioria dos turistas opta por fazer um passeio a partir de Dakar, não ficando a pernoitar na ilha de Gorée. Foi exatamente isso que eu fiz, pelo que recomendo que veja o artigo sobre onde ficar em Dakar para todas as dicas de hospedagem na capital senegalesa.
Caso opte por ficar a dormir em Gorée para desfrutar da ilha sem turistas, considere a maravilhosa pousada Chez Coumbis, a muito boa Maison Augustin LY ou a mais económica Chez Eric – uma opção de alojamento muito popular entre os viajantes independentes. Ficará bem hospedado em qualquer uma destas pousadas – e eu estou em crer que teria gostado de pernoitar na ilha. Para outras opções de alojamento em Gorée, pesquise no link abaixo.
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