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Al Ain por quem lá vive: Tiago Leal

Viver em Al Ain, Abu Dhabi: Tiago Leal
O Tiago em Al Ain, segunda maior cidade do Emirado de Abu Dhabi

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Al Ain, nos Emirados Árabes Unidos, pela mão do Tiago Leal. O Tiago tem 37 anos, é professor de Educação Física e está a viver em Al Ain há dois anos. Desafiei-o a partilhar as suas experiências na segunda maior cidade do Emirado de Abu Dhabi, bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Al Ain.

É um olhar diferente e mais rico sobre Al Ain – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 44º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Al Ain com o Tiago Leal (entrevista)

Define Al Ain numa palavra.

Oásis, no meio do deserto.

Al Ain é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Al Ain é uma cidade verde rodeada por uma imensidão de dunas de tons avermelhados. É uma cidade de pequenas e belas mesquitas intercaladas com palmeiras e jardins impecavelmente arranjados. É uma cidade tradicional e com gente local, onde se respira ainda a cultura beduína.

Para mim, não existe cidade melhor para se viver nos Emirados Árabes Unidos. Só tenho pena que não tenha mar, vindo eu de um local relativamente perto da praia.

Mas Al Ain é, sem dúvida, uma cidade tranquila, que ainda não foi invadida pelas construções artificiais como acontece nas principais cidades dos EAU. Está cheia de moradias lindíssimas e, por norma, os prédios não ultrapassam os quatro andares.

Al Ain é também uma cidade rica em cultura, com museus, fortes e ruínas, interessantes para visitar; cheia de parques verdes onde se pode relaxar, ler um livro ou praticar desporto; e também tem alguns passeios, que ladeiam jardins muito bonitos e que convidam a umas boas caminhadas.

Mais afastada do centro, a montanha Jebel Hafeet, com cerca de 1300 metros de altitude, é um local muito agradável para descobrir num passeio já fora da cidade.

Conduzir em Al Ain é super fácil: as estradas são largas e estão sempre em ótimas condições e, melhor que tudo, nunca há engarrafamentos.

No que respeita a despesas, os preços genericamente são mais baixos, comparando com Dubai e Abu Dhabi; a habitação é cara mas mais barata do que nas maiores cidades dos Emirados Árabes Unidos. Se compararmos com Portugal, a gasolina é baratíssima e os produtos alimentares são mais ou menos ao mesmo preço.

Em relação ao tempo, é espetacular a partir de final de outubro e até abril, mas durante o resto do ano é excessivamente quente. Felizmente, os meses de maior calor coincidem com as férias escolares – nessa altura “fujo” dos EAU.

Respondendo à tua questão, eu não tinha nenhuma ideia preconcebida sobre o que me esperava, pois cheguei a Al Ain de uma forma repentina. Foi um amigo que dava aulas na escola onde trabalho que me disse que estavam a precisar de um professor de Educação Física; e então vim viver para Al Ain “às escuras”. Apenas li o básico sobre a cidade na internet.

E o que mais te marcou em Al Ain?

Mercado de camelos de Al Ain
Mercado de camelos de Al Ain, Emirados Árabes Unidos

É uma cidade de contrastes, que reflete bem a cultura muçulmana.

Em termos visuais é uma cidade muito limpa, com amplos parques e jardins lindos e refrescantes. Há uma grande quantidade de belas e enormes mansões, com um parque automóvel de veículos topo de gama.

Impressionou-me, no entanto, encontrar mulheres totalmente cobertas da cabeça aos pés a circular junto a mim num supermercado e o facto de existirem salas de estar apenas para homens, junto à entrada das grandes mansões, pois os homens que não são da família por norma não entram em casa dos amigos.

Impressionou-me igualmente ver os miúdos locais, descalços, a jogar futebol nas ruas com os chinelos a fazerem de balizas, como eu fazia quando era criança.

Vem gente de todo o mundo trabalhar para Al Ain. Gente de diversas profissões, à procura de melhores condições de vida do que as que deixaram nos países de origem. Felizmente, muitos conseguem encontrar uma vida melhor. Infelizmente, alguns veem as ilusões desfeitas e até há quem nem sequer tenha condições dignas para trabalhar.

Como caracterizas as pessoas dos Emirados Árabes Unidos?

Posso afirmar que os Emiratis são pessoas generosas e bastante hospitaleiras, em geral, mas têm características que, de alguma forma, acabam por entrar em choque com a nossa cultura ocidental.

Habitualmente convivo com alguns Emiratis, que costumam fazer ciclismo comigo, que têm uma visão um pouco mais ocidentalizada, apesar de continuarem a respeitar os valores da sua cultura, marcadamente vincada pela religião.

Como em todo o lado, também aqui há gente com menos escrúpulos. Alguns Emiratis inferiorizam as pessoas de outros países, nomeadamente daqueles que consideram “menores”, casos de nacionais da Índia, Paquistão, Bangladesh ou Filipinas.

Outra característica dos Emiratis, também não muito abonatória, está relacionada com o facto de o governo lhes dar ótimas condições de vida. Isto faz com que acabem por se tornar pessoas ociosas e até um pouco caprichosas, chegando ao ponto de, quando têm que ir comprar alguma coisa às pequenas mercearias de bairro, não saírem do carro, onde estão no conforto do ar condicionado, limitando-se a apitar para que um funcionário os venha atender.

Como é um dia “normal” em Al Ain?

Para mim, um dia normal de rotina passa por sair de casa por volta das 6:45 da manhã, pedalar de bicicleta até à minha escola, dar as minhas aulas e regressar a casa ao bater das 15:30.

O resto do dia é partilhado com a minha cara-metade. Faço bastante desporto (corrida, bicicleta ou natação), cozinho, vejo televisão.

Como observador, num dia normal em Al Ain, posso observar os trabalhadores na sua azáfama diária, vejo passar carrinhas de caixa aberta com camelos e cabritas, ouço, várias vezes ao longo do dia, o chamamento para a oração, o que provoca uma romaria de gente local, vestida com as suas kandoras, a caminhar em direção à mesquita mais próxima para rezar, e distraio-me com as muitas crianças que brincam na rua, aparentemente sem qualquer supervisão.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Al Ain sem…”

Ver o pôr-do-sol no deserto.

Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Al Ain e arredores. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Al Ain Palace Museum
Al Ain Palace Museum

Dia 1

Para o primeiro dia, sugiro uma visita ao Al Ain Palace Museum. Neste palácio residia a família real do Sheikh Zayed Bin Sultan Al Nahyan, o homem que colocou os Emirados Árabes Unidos na rota do crescimento e da evolução. Depois, podem visitar o Al Ain Oasis e os seus eficientes canais de rega e irrigação. Mais tarde, proponho uma passagem pelo Al Ain National Museum e, por fim, não deixem de conhecer o Al Ain Fort.

Dia 2

No segundo dia deste roteiro, proponho começarem com uma visita ao mercado de camelos de Al Ain para assistirem à compra e venda de camelos. Depois, é obrigatório fazerem um safari no deserto, verem as caçadas com falcões, conviverem com os beduínos e, imperdível, deliciarem-se com o pôr-do-sol no deserto. Para o dia ser perfeito só falta pernoitar e assistir ao nascer do sol também (e ainda) no deserto.

Dia 3

O terceiro dia é mais variado. Pode passar por fazerem um piquenique no Green Mubazzarah, no sopé da montanha Jebel Hafeet. Percorrerem a estrada que serpenteia a montanha, considerada uma das estradas mais bonitas para se conduzir, e contemplar a cidade de Al Ain. Aventurarem-se num tour fotográfico pelas muitas, bonitas e variadas mesquitas existentes na cidade. E por fim sentarem-se algures no centro de Al Ain, simplesmente a apreciar o ritmo de vida enquanto saboreiam um delicioso chá.

Os Emirados Árabes Unidos não são um destino barato. Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Al Ain? Conta-nos.

Fazer refeições nos restaurantes locais, indianos ou paquistaneses, onde se consegue comer por cerca de 5-6€.

Alugar um carro numa das várias agências existentes no centro da cidade. Consegue-se um carro a 12€ por dia e a gasolina fica baratíssima.

Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Al Ain?

Podes experimentar carne de camelo.

Ou então, num restaurante local, podes pedir uma cabra cozinhada inteira, que é servida numa enorme travessa, acompanhada por arroz.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Ao restaurante Bait Al Najoom, em Sanaiya, onde se consegue comer comida local, paquistanesa ou indiana. É muito barato e só tens que repetir 10 vezes que não queres a comida picante, para que ela venha picante e não SUPER picante.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Al Ain?

Em Al Ain todos os hotéis são caros. Perto do centro da cidade recomendo o Hilton Al Ain, o Danat Al Ain Resort, o Al Ain Rotana e o Ayla Hotel. Se preferires ficar alojado na montanha, podendo usufruir de uma ótima vista, sugiro o Mercure Grand Jebel Hafeet (com o senão de ficar afastado do centro).

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Escolhe um café e um museu.

Café: Windrose. O meu café preferido fica em Omã – em Al Buraymi, a cerca de 18km de Al Ain. É de um amigo meu, americano, que viveu muitos anos no Iémen. Além de beberem o café, podem assistir ao processo de torrefação.

Museu: Escolho dois. O Al Ain Palace Museum e o Al Ain National Museum. São museus muito interessantes pois consegue-se perceber toda a evolução que existiu nos Emirados Árabes Unidos num curto espaço de tempo. Toma-se conhecimento da forma como os Emiratis viviam num passado recente e como vivem actualmente.

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira “sair à noite” em Al Ain?

Sendo uma cidade muito tradicional muçulmana, os locais onde podes sair à noite e aproveitar são apenas os bares dos hotéis. É o caso do “Pacos”, no Hilton Hotel, onde há música ao vivo e onde o consumo de álcool é legal; ou então o Rugby Club, onde também há diversão e podes beber umas cervejas.

Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Al Ain? O que comprar?

Deduzo que não tenhas espaço para um camelo :); aconselho então especiarias, essências de perfumes e incensos.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Al Ain; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Souq Al Qattara. ;)

Obrigado, Tiago. Vemo-nos quando eu visitar Al Ain.

Guia prático

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

7 comentários em “Al Ain por quem lá vive: Tiago Leal”

  1. Boa tarde Filipe,

    Como poderei entrar em contacto com o Tiago? Poderias ajudar-me?
    Obrigada.

    Responder
    • Ola Rita estou no Sri Lanka neste momento e a net não funciona Mt bem .. espero que a resposta chegue !!
      O meu e-mail é tleal13@hotmail.com
      Facebook procura Tiago Leal al Ain
      Envia o teu contacto ou questões !! Abraço

      Responder
  2. Olá Tiago, tudo bem?

    Vou fazer uma viagem com um amigo e estarei em Abu Dhabi. Estou com dificuldade de descobrir como chegar em Al Ain, saindo de Abu Dhabi. Não estarei dirigindo. Existe outra alternativa que você poderia me indicar, por favor?

    Obrigado e felicidades

    Flavio

    Responder
    • Olá Flávio, segundo julgo saber, há autocarros de hora a hora de Abu Dhabi para Al Ain.
      Abraço.

      Responder
  3. Olá, em junho é muito ruim visitar Al Ain?

    Responder
    • Eu acho que junho é um mês difícil, porque vai apanhar muito calor em Al Ain. Se puder escolher outra época do ano, seria melhor.

      Responder
  4. Olá Tiago.

    Uma portuguesa pode casar com um árabe e viver em Abu Dhabi? Tendo em conta a diferença cultural, quais seriam as hipóteses? Obrigada. :)

    Responder

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