Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até à vizinha Vigo, na Galiza, Espanha, pela mão do José Leão, meu amigo desde os tempos académicos. O José é professor universitário e investigador e está a viver em Vigo há já 21 anos. Convidei-o a partilhar connosco as suas sugestões e dicas com o melhor da “sua” Vigo, tão perto do norte de Portugal.
É um olhar muito interessante sobre Vigo – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 29º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Vigo com o José Leão (entrevista)
- 1.1 Define Vigo numa palavra.
- 1.2 Vigo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Vigo?
- 1.4 Como caracterizas os galegos?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Vigo sem…”
- 1.6 Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Vigo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Tens dicas para se poupar dinheiro em Vigo?
- 1.8 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- 1.9 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.10 Como é a movida em Vigo? O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.11 Escolhe um café e um museu.
- 1.12 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Vigo?
- 1.13 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Vigo?
- 1.14 Antes de te despedires, partilha o maior”segredo” de Vigo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Vigo com o José Leão (entrevista)
Define Vigo numa palavra.
Maresia.
Vigo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Vigo é uma cidade cheia de surpresas, há sempre um espaço dentro dela para usufruir novas experiências. Se gostas de cidade sempre encontrarás um bairro típico; se preferes a tranquilidade os arredores são calmos e todos dias podemos gozar do contraste do verde dos campos com o azul intenso do mar. Acordar todas as manhãs, seja em Vigo ou nos arredores, a maresia é o melhor despertar.
Antes de chegar a Vigo, tinha a expectativa de encontrar uma cidade completamente dedicada ao mar, onde os padrões da atividade pesqueira traçavam o perfil da cidade, resumindo a expectativa de encontrar um centro urbano obreiro.
Depois de 21 anos, entre saídas e regressos à cidade, encontrei em Vigo padrões que vão mais além de uma cidade tipicamente obreira. Nela encontrei uma variedade de riqueza cultural, uma forte vontade na recuperação das tradições galegas – a maioria dos bairros da cidade têm centros de formação para a recuperação e divulgação dos cantares e danças típicas da região.
Vigo é uma cidade que aposta na inovação, é o maior centro urbano da Galiza. Nela está inserida uma das maiores fábricas de automóveis da Europa, e dá abrigo a indústrias farmacêuticas de grande prestígio mundial. Sem dúvida alguma, na cidade encontra-se a maior universidade da comunidade galega, com grande prestígio em toda a Espanha e onde atualmente se desenvolvem atividades de investigação e desenvolvimento que contribuirão para um futuro melhor da população de Vigo, da Galiza, de Espanha e fora dela.
O grande porto de mar natural permite o diário contacto dos vigueses com cidadãos de outras nacionalidades, dando à cidade um ar cosmopolita. Na, verdade, entre o meu conceito inicial de Vigo e o que aqui aprendi e vivi… sim, Vigo superou muito, mas muito, as minhas expectativas.
E o que mais te marcou em Vigo?
Vigo é uma cidade que recupera dia a dia o seu passado, trabalhando na construção de um futuro prometedor. Vigo conserva as suas tradições, ao mesmo tempo que inova. Mas o que mais me marcou foram os vigueses.
Como caracterizas os galegos?
De início, considero que os vigueses são reservados, característica muito típica, em geral, do povo galego; como diz o saber popular: “diz-me com quem andas dir-te-ei quem és”. Uma grande semelhança connosco, portugueses.
Depois de uma boa conversa, acompanhada de um bom licor de café ou crema de orujo, não tenham dúvidas que encontrarão no vigués uma pessoa amigável, afável, cordial, com sentido de humor. Atrevo-me a dizer que chegarão a escutar: “aqui está a tua família galega”.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Vigo sem…”
… subir ao Monte Castro, que permite uma fantástica panorâmica sobre a cidade olívica, a Ria de Vigo, e gozar do mágico pôr-do-sol sobre as ilhas Cíes. Um verdadeiro postal.
Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Vigo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1: Para um roteiro de três dias, em primeiro lugar recomendo a entrada em Espanha pela fronteira (via ferry) Caminha-La Guardia, como alternativa à entrada pela ponte internacional que liga Vila Nova de Cerveira com Goián. Optar pela viagem La Guardia a Vigo, junto à costa atlântica, fazendo uma primeira paragem na cidade Real de Bayona (Área Metropolitana de Vigo).
Ao longo desta viagem podem desfrutar de uma paisagem tipicamente Atlântica, onde o verde dos montes e dos campos se mistura com o mar. Paragem na cidade histórica de Baiona, declarada como “Conjunto de interesse Histórico-Artístico” pela junta da Galiza em 1993.
Um passeio pela parte histórica mergulhando num passado onde as águas da baía de Baiona receberam a chegada da Caravela Pinta da sua expedição à América Latina. O ar fresco a mar da cidade convida-o a visitar a Caravela Pinta, Fortaleza de Monterreal, Centro histórico de Baiona (igreja de Santa Liberata e de Santa Maria de Baiona). Na terceira ruela do centro histórico, entrando pela zona oeste da cidade, pode encontrar o bar Bacco’s e provar as suas famosas tapas acompanhadas de um bom vinho do Ribeiro ou “Albariño”.
Seguindo a viagem em direção à cidade de Vigo, uma paragem para um café ou um refresco na Praia de Samil, e gozar de um excelente entardecer.
Durante a noite, pelo centro da cidade (Rua Rosalía de Castro), a esplanada do Café Van Gogh, permite apreciar o lado boémio da cidade de Vigo, acompanhado de um café ou licor da região (Licor de café, ervas, ou crema de orujo).
Dia 2: As manhãs frescas de Vigo convidam a um passeio pelas ruas da zona histórica, gozar da tranquilidade da Praça da Princesa seguindo em direção ao bairro do Berbés, onde se podem ver as edificações marítimas mais antigas da cidade e se pode saborear a gastronomia típica viguesa: o marisco.
Passe pela feira mais típica de Vigo, o Mercado da Pedra, que é um dos pontos mais turísticos da cidade. A maior atração desta feira é o ambiente barulhento. Aproveitar para se sentar na Rua das Ostras a degustar o prato típico da cidade olívica, regado com um bom vinho “Albariño”.
Vigo é mar e mar é Vigo. Desça até ao porto de embarcações e compre uma passagem de ferry desde Vigo até à outra margem da ria (Moaña ou Cangas); atravessar a ria de uma margem à outra dura aproximadamente 20 minutos para Moaña e 45 para Cangas. Durante a viagem pode gozar de uma vista panorâmica sobre a cidade de Vigo, destacando-se o Monte da Guía, o Porto de Vigo e a Ponte de Rande, e as diversas jangadas onde se cultiva mexilhão e amêijoa.
De regresso a Vigo, aproveite que está próximo da Rua Montero Ríos e descubra as cervejarias mais típicas da cidade. Esta zona central oferece o ócio afterwork. Aqui pode encontrar diversos bares onde servem as típicas tapas galegas e vinhos da região.
Próximo desta rua, encontra-se la movida de Vigo. Na Rua Areal, uma variedade de pubs e discotecas permite gozar da vida noturna da cidade. Uma passagem por Ferrer, Tweenty, Atlanta e Rouge, assim como na Rua Rosalia de Castro o bar Marmara ou Porchaba, permitirão escolher uma variedade de músicas e ambientes a seu gosto, desde latinos a internacionais.
Dia 3: Um passeio tranquilo pelo Monte do Castro para desfrutar da frescura dos jardins e das vistas sobre a cidade e a ria. Para quem tem possibilidade de deslocar-se de carro, passar pelo Parque de Castrelos e visitar o Palácio Quiñones de León, um dos documentos históricos onde se resume grande parte da história de Vigo e dos vigueses, especialmente relacionada com a idade Moderna e Contemporânea da cidade.
De carro, continue a viagem em direção ao Monte Alba para ver as magníficas vistas panorâmicas sobre a cidade de Vigo – e pode aproveitar para almoçar no restaurante Cepudo. Não pode sair de Vigo sem passar pelo Monte da Guía, assim como cruzar a ponte de Rande; aproveite e vá até à Península do Morrazo, até chegar ao Cabo Home, onde se encontram as praias e paisagens mais soberbas da área metropolitana de Vigo. São praias de águas cristalinas numa zona costeira que, por momentos, fará confundir uma paisagem galega com irlandesa.
De regresso a Portugal recomendo a rota Vigo-Tui. Aproveite e faça uma pequena paragem em Tui, caminhando pela zona histórica da cidade com passagem pela Catedral, até descer às margens do Rio Minho.
Se dispõe de mais tempo, sem dúvida os arredores da cidade de Vigo são soberbos. Deixo algumas dicas para desfrutar desta zona das Rias Baixas: Muiños do Folón y Picón (concelho O Rosal), Monte Santa Tecla e praia de Casmposanco (La Guardia), Monte da Baiña y Virxen da Roca (Baiona), Monte Ferro (Nigrán), Parque Natural das Ilhas Atlânticas Cíes (Vigo), Castelo Soutomaior (Redondela).
Tens dicas para se poupar dinheiro em Vigo?
Para alojamento, os hostels oferecem conforto e são mais económicos. Bares de “tapas” pela zona antiga da cidade (“Casco antiguo”)
Museu do Marco de Arte Contemporânea é gratuito e funciona de domingo a sábado – se optarem por uma visita guiada custa 1€ por pessoa.
Casa da Palavra VERBUM, em Samil, tem preço de entrada de 3€, mas se forem estudantes, professores ou investigadores é gratuito.
Museu da Cidade de Vigo, Quiñones de Leon é de entrada livre.
Não há preços especiais em Vigo para transportes, em geral o sistema de transporte de Vigo não é do melhor que existe. O serviço de autocarros de Vigo chama-se Vitrasa, tem passe turístico de 1 dia a 7,5€.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
Só por indicar uma pequena lista de especialidades gastronómicas, acho que me levanto e vou para a baixa de Vigo degustar algumas tapas.
As que recomendo (nome na língua local):
Empanada de Zamburiña, uma espécie de pie, com massa de pizza recheada de Zamburiñas. É a comida mais típica de aqui. Empanada de grelos, Pulpo a feira, ostras, lacón a feira, xoubas e pimentos de Padrón.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Bar Orensano, para tapas. É um bar típico galego, conserva um ambiente muito familiar das épocas dos anos 60-70 da Galiza. É bastante popular, com ruído contínuo de pessoas que falam do seu dia-a-dia, algumas vezes sobreposto ao som da música galega – é aquilo que designamos um bar enxebre galego, onde só se pode mesmo tomar vinho e comida da região. A base é pedir um vinho e, por cada copo é sempre acompanhado por uma tapa gratuita…o bar está sempre cheio.
O Bar Taboada também tem cozinha tradicional galega, onde o contacto direto com os donos e a proximidade das mesas favorecem o diálogo entre os clientes que, no final, o restaurante sempre convida cada um a um brinde com uma taça de licor de café, orujo, ervas ou de creme de leite. Além da alta qualidade dos petiscos, é um restaurante muito económico.
Como é a movida em Vigo? O que sugeres a quem queira sair à noite?
Começar a noite pela Calle Montero Ríos, passar pela Rua Areal (vários bares com música), terminando pelo Pub Atlanta ou Rouge – mas a oferta da movida é grande e diversa e está concentrada nestas ruas da cidade.
Escolhe um café e um museu.
Café Van Gogh. Museu de Arte Contemporânea (Calle Príncipe, centro da cidade).
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Vigo?
As zonas da cidade mais recomendadas para alojamento, centralizadas e de fácil acesso à maioria das atrações são precisamente onde se podem encontrar hotéis e hostels a bom preço: Calle Lepanto, Calle Alfonso XIII, Avenida Gracía Barbon, Plaza de Compostela, Calle Rosalía de Castro.
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Vigo?
Um passeio pela Calle Príncipe; esta é a artéria principal de Vigo direcionada ao comércio; nesta zona da cidade pode encontrar lojas de roupas, brinquedos e artesanato, por exemplo.
Antes de te despedires, partilha o maior”segredo” de Vigo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Irish Harp, na Rua Rosalía de Castro. Depois do meu Doutoramento estive, entre outras instituições de investigação, no Instituto de Tecnología de Cork, na Irlanda. Andar pelo mundo é uma aventura e o coração fica sempre dividido – novos mundos, novos amigos, a riqueza cultural. Estar no Irish Harp é como mergulhar na história dessa fase da minha vida.
Obrigado, José Manuel, e até um dia numa próxima (curta) viagem a Vigo.
Guia prático
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