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Woh, a pizza nepalesa

Por Kiko Martins | Atualizado em 19 Jul 2017 | Gastronomia | Ásia Nepal Leave a Comment
Tempo de leitura: 7 minutos

Cozinhar woh, a pizza nepalesa

Abençoadas lentilhas

Perdido entre dois países colossais, a Índia e a China, e a dois passos do Monte Evereste, o Nepal seduz gente de todo o mundo com promessas de trekkings ines­quecíveis. Ninguém se lembra de visitar o país por causa da comida, até porque está entre os mais pobres do mundo. Mas todos os que caminham junto ao monte mais alto do planeta – aquele que entre os nepaleses é conhecido por Sagarmatha, a deusa dos céus – nunca mais esquecem o valor do daal bhaat, o arroz com lentilhas preparado de propósito para alimentar quem chega.

Quando descobri, em abril de 2015, que o coração dos Himalaias (como me recordo sempre do Nepal) tinha sido atingido por um sismo muito forte, lembrei-me imediatamente dos Battachan: do sorriso de Sushil e da forma carinhosa como ele e a sua família me receberam em casa para almoçar. Sem me conhecerem de lado nenhum.

Acho que nunca mais me vou esquecer das primeiras imagens que tive do Nepal, em modo arrastamento, à medida que o táxi que apanhei no aeroporto serpenteou veloz e ágil entre as centenas de carros, motas, outros táxis, rickshaws e bicicletas com que se cru­zou na rua. O condutor sorriu de cada vez que viu a minha barriga encolher com medo de ficar espalmada entre duas ro­das. No Nepal, confiam bastante na sorte. À minha frente, misturavam-se cores, pessoas, fumo de escape, ar abafado e verde, muito verde. Ou não estivesse apenas a dois passos do Monte Evereste.

O Sushil Bhattachan tem o sorriso mais puro que alguma vez vi. Quando o conheci, contou-me que era guia de trekkings para grupos nipónicos há vá­rios anos. Tinha tido a sorte de poder aprender a língua com um irmão que tinha vivido duran­te muitos anos no Japão. “Eu falo melhor japonês mas a minha mulher fala inglês”, explicou-me na primeira vez que nos encon­trámos depois da conversa entrecortada ao telefone que tivéramos nessa manhã. Como ainda não tinha provado daal bhaat, propôs-me irmos jantar a um bom restaurante que conhecia na cidade. “É simples, mas mui­to bom”, justificou-se.

Consegui o contacto do Sushil através de um nepalês, amigo de uma grande amiga nossa. Fiquei todo con­tente quando ela me passou o número, mas confesso que pensei que nunca fosse passar de um nú­mero de telefone sem cara, convencido de que não ia ter resposta do outro lado. Quando me sentei no restaurante, à mesa com Sushil, percebi que não valia a pena ter sequer pensado nisso.

Em viagem, aconteça o que acontecer, só nos cabe acolher o que vier. E aproveitar o melhor possível. Lembro-me de ter desconfiado de que isto talvez também tivesse passado pela cabeça de Sushil quando me confidenciou que a mulher tinha sugerido ele convidar-nos para almoçar no dia seguinte mas que antes tinha de nos conhecer. “Amanhã, às onze da manhã, ve­nho buscar-te”.

Mercado no Nepal
Mercado

A lição de culinária nepalesa começou com a pre­paração de achar de tomate, uma espécie de puré a que o peixe seco dá um toque especial. Era apenas um dos achar que ia acompanhar a galinha que Radhica queria fazer para a Maria e eu provarmos. “Podia preparar um pra­to mais rico, mas o que vão provar hoje é uma das refeições de que os nepaleses mais gostam”, explicou a mulher de Sushil.

A mãe da Rhadica vivia lá em casa e foi ela quem me mostrou como era feito o achar de batata. Preparava-se uma mistura de bata­ta cozida, açafrão-das-índias, malague­ta em pó, sementes de sésamo moídas, sumo de limão, sal e um pouco de água. Depois, juntava-se as sementes de feno grego, cominhos e malaguetas ver­melhas, previamente salteadas em óleo de mostarda.

Os nepaleses têm por hábito co­mer num thaali, um prato de metal com vários compartimentos mais pequenos onde colocam os acompanhamentos. O meu thaali veio com um bom pedaço de frango e arroz. Para acompanhar havia espi­nafres, achar de tomate, achar de batata e daal, claro – as incontornáveis lenti­lhas. Nesse dia, fui nepalês a sério, por isso nada de talheres. A mão direita fechou-se sistematicamente em forma de concha e com o polegar fui empurrando a comida para dentro da boca, tal como o Sushil me ensinou. Fique por lá toda a tarde. Podia ter ficado o resto da vida.

Até hoje continuo sem saber se o Sushil e a família resistiram ao terramoto que abalou o Nepal em abril de 2015. Já tentei falar com eles e já pedi a amigos que viajam para Katmandu muitas vezes para tentar saber deles. Mas nada. Esta é uma homenagem sentida a esses dois dias mágicos que vivi com eles. Quem sabe um dia não nos voltamos a encontrar…

Woh, a pizza nepalesa

Woh, a pizza nepalesa
Woh, a pizza nepalesa

No postal fotográfico que qualquer um de nós guarda na memória quando faz uma viagem, é normal aparecer ampliada uma imagem perfeita. A minha mostra a entrada para um corredor encarvoado que me levou ao Honcha, o restaurante onde provámos pela primeira vez a receita que aqui partilho: woh, uma panqueca de massa de lentilhas pretas que é frita em óleo de mostarda e servida com carne picada e ovo estrelado por cima.

Numa questão de segundos, passei de Patan Durbar Square, mesmo junto ao templo de Krishna Mandir, para um cubículo de paredes negras onde estavam alguns quilos de carne estendidos a secar. E apesar de ter perfeita noção de que ali os critérios de higiene ficavam à porta, deixei-me ficar. Não vi um único estrangeiro.

Ingredientes

Para o recheio:

  • 1 c. de sopa de manteiga clarificada (ou ghee)
  • 1 cebola picada
  • ½ c. de café de cominhos
  • 1 c. de café de açafrão-das-índias
  • 1 c. de café de sementes de mostarda
  • 2 dentes de alho picados
  • 1 pedaço de gengibre com cerca de 1 cm, picado
  • 250 g de carne de borrego (ou vaca) picada
  • sal
  • pimenta

Para a massa

  • 1 e ½ chávenas de farinha de arroz
  • 1 ovo batido
  • sal
  • ½ chávena de água

 Para finalizar

  • manteiga
  • 7 ovos
  • sal

Preparação

Comece por preparar o recheio da woh. Faça um refogado com a manteiga, a ce­bola e as especiarias. Deixe cozinhar até que a cebola fique translúcida e, depois, junte o alho, o gengibre e a carne picada. Tempere com sal e pimenta e deixe cozinhar mais 5 minutos em lume brando. Apague o lume. Em seguida, prepare a massa: deite a farinha, o sal e o ovo numa batedeira e vá adicionando a água, batendo sempre. No final, a mistu­ra deve ficar elástica.

A seguir, coloque a massa numa bancada de cozinha, previamente polvilhada com farinha (a massa agarra-se facilmente aos dedos, por isso tenha sempre mais farinha à mão). Divida a massa em pequenas bolas e molde-as em pequenas pizzas. Leve ao lume uma pequena frigideira anti-aderente com uma colher de manteiga. Quan­do a manteiga derreter, junte uma pizza e frite durante 3 minutos.

Vire-a e, sobre o lado já cozinhado, coloque duas colheres do recheio. Abra um ovo por cima. Tape a frigideira e deixe cozinhar em lume brando mais 3 minutos. Volte a virar a pizza e acabe de fritar o ovo. A gema vai rebentar e ficar espalmada. Repita o procedimento para preparar o resto das pizzas.

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Kiko Martins

Cozinheiro e viajante e um dos professores da Chefs' Academy. Já deu uma volta ao mundo gastronómica, é casado, tem dois filhos e está à frente das cozinhas d'O Talho e d'A Cevicheria. Gosta de estar à mesa, ainda mais a beber pisco sour. Pode encontrá-lo em www.chefkiko.com.

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Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, e sou blogger de viagens.

Tenho, atualmente, 48 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura. Veja por onde já andei.

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