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Quatro olhares sobre Salamanca (Eurasia #03)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo
Quatro olhares sobre Salamanca - Eurásia

Salamanca é uma bela cidade da comunidade autónoma de Castela e Leão, dominada pela imponência e espiritual da Catedral. Estes são quatro, entre muitos possíveis, olhares sobre os prazeres da urbe.

Um. São mais de 20, as filas de mesas e bancos corridos em madeira bruta que correm a sala de aula mais antiga de Salamanca, a sala Frei Luis de Léon. Eram também muitos os que frequentavam a sua aula, porém, nem todos com os mesmos direitos. Cabia aos mais pobres, aqueles que pertenciam à tuna – os que cantavam na rua para ganhar dinheiro para o pão – entrar na sala de aula 30 minutos antes de todos os outros. Mais tarde, quando os alunos nobres e os alunos convidados dos professores entravam, os pobres levantavam-se dos seus lugares já aquecidos e cediam-nos, mudando para os bancos de trás, gelados. Momentos depois entrava o professor, que permitia que os queixosos se levantassem dos bancos e batessem com os pés no chão até que chegasse ao seu lugar. Este gesto – el pataleo – era visto pelos desafortunados como um protesto, e como uma oportunidade para que aquecessem os pés, pelo professor.

Dois. Fica o visitante que olha para a fachada de Ramos da Catedral Nova de Salamanca surpreendido. Um astronauta suspenso em mais de novecentos anos de tanta história. Pergunta o visitante a si próprio se será verdade, se uma mente visionária de outro século esculpia de forma tão futurista. Olha à sua volta e repara que, além de si, outros não menos curiosos se questionam sobre o mesmo. Descobre depois mais figuras que não parecem fazer qualquer sentido: um lince ibérico, um touro, o diabo que come um gelado com três bolas.

Catedral de Salamanca
Catedral de Salamanca

Decide então o visitante pesquisar e, debruçando-se sobre o assunto descobre que, como forma de assinalar a recuperação de 1992 e seguindo a tradição dos antigos restauradores de incorporar motivos modernos como uma marca, tiveram os responsáveis a feliz ideia de marcar o feito com figuras diferentes das demais. Contudo, não se sabe se por puro prazer de vandalizar, se pelo facto dos gostos serem muito discutíveis, houve alguém, já neste século, que decidiu desmembrar o tão polémico astronauta.

Três. Caminhando por entre as várias salas, a escadaria que sobe em espiral e os corredores, o olhar mais atento prende-se em diferentes sinais que marcam o centro de cada pedra do monumento. Em tempos, houve necessidade de decidir quanto pagar a cada trabalhador na construção da Catedral, cabendo a quem trabalhava mais, um melhor salário. A solução encontrada foi a marcação de cada pedra colocada com traços, triângulos, quadrados, círculos, cada símbolo correspondente a um trabalhador ou grupo de trabalhadores e, no final, contar-se o número de símbolos e pagar-se a quantia devida a cada um.

Quatro. Chegava todos os anos o dia em que o Padre Lucas, conhecido mais tarde por Padre Putas, tinha a tarefa de levar todas as prostitutas para o lado de lá do Rio Tormes onde estas ficavam durante 40 dias sob a guarda do pároco para que os estudantes, do lado de cá do rio, não pecassem durante o período da Quaresma! Salamanca, que durante toda a história sempre teve fama de cidade abastada de prostituição, fazia os seus estudantes jejuarem de vício e luxúria durante mais de um mês. No entanto, na primeira segunda-feira a seguir à Semana Santa, todos saíam alegres à rua e, juntamente com o Padre Putas, traziam as prostitutas de novo à cidade e nas margens do rio faziam piqueniques e uma grande festa, onde a comida, a bebida e, claro está, o usufruto da prostituição era levado tão a sério que ainda hoje se comemora este dia – é o chamado Lunes de Agua.

Veja também os textos sobre o que fazer em Salamanca e onde ficar em Salamanca.

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Rafael Polónia e Tanya Ruivo

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