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Da fé de Mar Musa ao inferno de Lattakia (Eurasia #15)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo | Eurasia Médio Oriente Síria
Atualizado em 19.07.2017 | Tempo de leitura: 6 minutos

Da fé de Mar Musa ao inferno de Lattakia - Eurásia

Sair de Mar Musa e comovermo-nos com a fé, tentar estender os vistos a toda a velocidade e sermos surpreendidos com a ausência de problemas, conhecer um francês caloroso, uma família hospitaleira e uma costa do Mediterrâneo fechada às pessoas, com grades de ferro – assim foram os nossos últimos dias na Síria. A Turquia estava agora muito perto.

Saímos de Mar Musa uma semana depois de lá termos chegado com o objetivo de ficar apenas dois dias. Saímos entre abraços e promessas de reencontros, um dia, em Portugal. Saímos juntamente com outros viajantes que, como nós, ali chegaram para vivenciar o silêncio e o misticismo daquele local. De França, da Coreia do Sul, da Alemanha, do Equador, do Irão, despedimo-nos de todos eles já com saudades.

À nossa frente, o caminho que havíamos feito para ali chegar, desta feita em sentido ascendente. Quando começámos a ver as montanhas cobertas de neve que dividem a Síria do Líbano, sabíamos que, a partir dali, seria quase sempre em terreno plano. Boas notícias para quem já tinha perdido as calorias do pequeno-almoço.

A paisagem não revelava nada de interessante: uma estrada com duas vias para cada lado, repleta de camiões e automóveis circulando com pressa de chegar a algum lugar, apesar de ser sábado e tudo estar fechado. À primeira paragem para remendar um furo na bicicleta da Tanya, o primeiro polícia simpático desde que tínhamos entrado na Síria ofereceu-nos um chá. Momentos depois, uma carrinha parava e oferecia-nos duas laranjas. Mais tarde, um senhor parou e ofereceu-se para conduzir uns quilómetros e depois nos telefonar para nos dizer se o convento que procurávamos ficava para norte ou para sul. Mas ainda bem que não seguimos as suas indicações, ou teríamos pedalado em sentido contrário ao nosso destino desse dia: o Mosteiro de Saint Jacques.

Mosteiro de Mar Musa, Síria
Mosteiro de Mar Musa, Síria

Tinham-nos dito em Mar Musa que existia um mosteiro ali perto, a uns quarenta quilómetros, onde estava uma Irmã portuguesa. Encontrar alguém que partilhasse connosco o mesmo idioma, que tivesse as mesmas raízes e que – pensámos nós – ficaria contente por ver compatriotas tão longe de sua casa, era razão mais do que suficiente para parar uma noite naquele local. Depois de quatro sandes de falafel para recuperar a energia perdida, entrámos no mosteiro e perguntámos se podíamos ficar. Fomos acolhidos com uma simpatia sem limites e, quando vimos sair da cozinha uma pessoa com as mãos molhadas, no ar, perguntando “o que é que vocês estão a fazer aqui?”, percebemos que a simpatia continuaria.

Se há uma coisa que levamos desta viagem, e que tem crescido à medida que ela se desenrola, é o respeito pela fé das pessoas. Se antes levávamos as questões da fé com ar de gozo, não pensando e julgando até quem dizia que a tinha, neste momento estamos completamente rendidos e acreditamos que sim, que a fé move montanhas, cria felicidade e faz milagres. Em algumas mesquitas, e falando com algumas pessoas, já havíamos sentido isso, mas foi no tempo passado em Mar Musa e depois neste convento que tivemos uma das mais comoventes experiências desta viagem. Passar em palavras o que vimos e sentimos nunca será suficiente, mas dizer que as lágrimas nos apareceram nos olhos uma série de vezes explica um pouco desses sentimentos. Enquanto pessoas cantavam, outras gritavam e levantavam a Bíblia no ar, outros ajoelhavam-se e rezavam, sorrindo com um ar tão sincero como nunca tinha presenciado, ao mesmo tempo que o padre saltava do “altar” e fazia uma roda com as crianças que pulavam de felicidade. Não há palavras – e mesmo para pessoas sem qualquer tipo de ligação à religião, como nós, era comovente. Incrivelmente comovente.

Aldeia na Síria
Atravessando uma aldeia síria

No dia seguinte pedalámos em direção a Homs, onde pretendíamos estender os vistos por um mês. Não sabemos se por querer chegar cedo à cidade para partir de imediato, o facto é que fizemos a melhor média de toda a viagem: 25,5km/h. Sentimo-nos na volta à Síria em bicicleta. Já dentro do grande e inestético edifício da imigração, disseram-nos que não, não haveria problema em ficar mais tempo, pelo que também não necessitaríamos de estender o visto, pois os que eram feitos para um mês, davam para 54 dias. Nunca tínhamos ouvido tal coisa, mas insistiram que sim, que era assim mesmo e que poderíamos continuar sem problemas. E nós continuámos.

Já na rua, em busca de lugar para ficar, encontrámos um francês que nos convidou para sua casa. Casado com uma síria, vivia ali há já seis anos e não estava a pensar sair do país, que era perfeito para viver e que vivia em paz. E em paz ficámos também nós, durante duas noites em sua casa, descobrindo que, afinal, Homs tem coisas interessantes para ver e fazer, perfeito para parar por uns dias se quisermos sair da grande confusão urbana. Com um souk muito bonito, o turismo em Homs é raro, o que faz da estadia dos poucos estrangeiros um agradável momento.

Crac des Chelaviers
Crac des Chevaliers

A nossa rota continuaria rumo a Crac des Chevaliers, um impressionante legado do tempo dos Cruzados, uma das mais impressionantes e bem preservadas fortificações desse tempo e que, hoje, é Património Mundial da Humanidade. O castelo ocupa o topo de uma colina, sobranceiro, mostrando bem a sua importância estratégica para os diferentes impérios que tentaram a sua conquista. Construído pelos curdos, mais tarde ampliado pelos Cruzados e mais tarde ainda pelos muçulmanos, foi já no século XIX que foi abandonado pelo império Otomano. Hoje aberto ao público, é um impressionante exemplo de arquitetura militar.

Com o caminho todo a descer a partir de Crac des Chevaliers, vimo-nos obrigados a parar por causa da chuva e a procurar alguém que nos pudesse alojar naquela noite. Depois de muitos pedidos, um senhor de mota convidou-nos a tomar um café em sua casa e, mais tarde, a pernoitar. Acabámos por ficar quatro noites, por um lado por causa da tempestade que se abateu durante todo aquele tempo, por outro pela excelente hospitalidade das pessoas que não nos deixavam sair. Gostamos de momentos assim.

Quando, por fim, recomeçámos a pedalar, tínhamos a costa como destino. As estradas estavam fechadas na montanha por causa da tempestade e da neve, diziam as notícias, e só o Mediterrâneo nos deixava a porta aberta. Dali até à fronteira, nada de interessante. O mar de um lado, construções do outro, como em qualquer costa de qualquer país do mundo. Infelizmente. E, apesar disso, Lattakia, adiante, conseguia ser ainda pior: uma completa aberração.

Hospitalidade síria
À mesa com uma família síria

Noutros tempos, havia uma marginal que aproximava o mar à cidade; hoje, um porto ali construído por causa das águas profundas ali existentes ocupa quilómetros de costa, tirando-o aos habitantes de Lattakia. Assim, quem visita a cidade e caminha até ao mar pode vê-lo mas não tocá-lo, separados por grades que se elevam à sua frente. O mediterrâneo tão perto e tão inalcançável. Triste.

Quando saímos de Lattakia sem saudades, só a montanha nos separava da Turquia. A montanha e a polícia de imigração, claro.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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