Uma estrela cadente nos céus de Tekapo (#42)

Lago Tekapo, Nova Zelândia
A família posando em Monte John, com o Lago Tekapo em pano de fundo

Quando a realidade desmente a imaginação de uma criança é natural que surja alguma tristeza. Mas quando se encarrega de concretizar os seus desejos, a felicidade instala-se no seu rosto em doses desmedidas. Foi o que aconteceu num dos melhores observatórios astronómicos do hemisfério sul, no Monte John, Lago Tekapo, e não foi a paisagem deslumbrante que mais a encantou, nem tão pouco avistar o sol ou os anéis de Saturno – e isso já foram motivos de imensa alegria. “O meu desejo realizou-se!”. Bem-vindos à Nova Zelândia.

Ainda o avião não tinha pousado na pista de Christchurch, a principal cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia, e já se vislumbrava o sol a nascer e a pintar de laranja os picos nevados dos Alpes do Sul. Estávamos avisados: os cenários seriam de cortar a respiração, porque as forças da Natureza tinham andado por estas latitudes a desenhar paisagens mais-que-perfeitas.

É certo que essas forças também podem ser assustadoras e destrutivas, como facilmente comprovámos no centro de Christchurch, com inúmeros edifícios destruídos e boa parte dos quarteirões do centro ainda fechados ao movimento de pedestres e carros na sequência do violento sismo de Fevereiro de 2011. Mas são, sobretudo, talentosas, essas forças.

Lago Tekapo
As cores quentes de um entardecer invernal no Lago Tekapo

É preciso ser muito exigente e perfecionista para conseguir desenhar um cenário como aquele que vimos a partir do Astro Cafe, em Monte John, uma colina sobranceira ao majestático Lago Tekapo. Com águas de um inacreditável azul-turquesa, calmas e escuras, o Lago Tekapo mais parecia um espelho destinado a refletir as silhuetas alpinas onde não poderia faltar o Monte Cook, o pico mais alto da Nova Zelândia. No alto do sobranceiro Monte John, e com uma panorâmica que permite um ângulo de 360 graus sobre a bacia de MacKenzie, a beleza chega a espantar.

A paisagem alpina, as planícies de MacKenzie, muita floresta, algum gado, cores quentes do outono, e a pequena Igreja do Deus Pastor lá ao fundo – o cenário era tão perfeito que um casal japonês o escolheu como pano de fundo para as poses fotográficas do livro de noivado.

A Pikitim estava deliciada com as vistas “para baixo”, em terra, onde a pequena aldeia de Tekapo lhe parecia ter a forma de “um oito”, e deslumbrada com o cenário lá em cima, no céu. Sobretudo depois de a terem deixado “espreitar para dentro do sol”, pelo telescópio do observatório astronómico instalado lá no topo.

Monte John, Tekapo
Turistas junto ao Astro Cafe, no topo do Monte John

O Observatório de Monte John resultou de uma parceria das universidades de Canterbury (Nova Zelândia) e de Nagoya (Japão), que não quiseram deixar de aproveitar aquele que é considerado um dos céus mais limpos da Nova Zelândia, não só pela latitude em que se encontra, mas também pela estabilidade e transparência da sua atmosfera e pela poluição reduzida. E o espanto da Pikitim foi enorme: “Afinal, o sol é vermelho!”, constatou, espantada, enquanto pedia para espreitar outra e outra vez pelo telescópio para a “bola de fogo”.

Como é natural, a Pikitim gostou do poder que lhe dava um telescópio, e ficou delirante quando percebeu que poderia voltar à noite para ver as estrelas. O convite foi feito por uma portuense de gema que vive em Tekapo e reconheceu o sotaque da Pikitim mal ela entrou no Astro Cafe. Patrícia Baptista convidou-a a voltar a subir ao Monte John à noite para ver as estrelas “arco-íris” e planetas com anéis brilhantes à volta. Era um convite irresistível!

Só o percurso de regresso ao Monte John, de noite, por si só, já merecia a viagem. Foi uma emoção: subir o monte com as luzes do carro apagadas (para não interferir nos trabalhos de pesquisa do poderoso microscópio gravitacional MOA) e uma temperatura exterior a rondar os zero graus. Mas todos estávamos quentes e muito animados com a aventura.

Igreja Tekapo
Noivos japoneses posam junto à pequena Igreja do Deus Pastor, nas margens do Lago Tekapo

Chris, um dos astrónomos do observatório, começou a descrever o céu do hemisfério sul (“tão límpido que permite ver toda a via Láctea e inclusive as nuvens de Magalhães”) e a mostrar como as estrelas se mexem, mas foi só quando falou em pedir desejos às estrelas que a atenção da Pikitim ficou verdadeiramente sintonizada. “Se nós pensarmos num desejo, temos de lhe dizer qual é?”, sussurrou, preocupada. Apesar da resposta negativa, confessou que o que mais gostaria de ver naquela noite era uma estrela cadente. E não falou mais no assunto.

Depois das explicações, seguiu-se a possibilidade de ir “espreitar para o planeta dos anéis”. A Pikitim posicionou-se na dianteira da fila para ver Saturno, para logo reclamar que não via “nada!”. À segunda tentativa, ajustado o banquinho e o telescópio gigante, soltou os ansiados gritinhos: “Já vi! Já vi!”. Também “olhou para dentro” de Marte e viu que era “uma grande bola branca, muito iluminada e brilhante”, e depois foi olhando por outros telescópios para muitas estrelas e nebulosas. E foi ficando triste. “Eu pensava que as estrelas tinham muitas cores, e eu só vejo estrelas brancas. E não brilham assim tanto”. Quanto mais pensava, mais inconsolável ficava.

Desenho Saturno
Desenho (com colagem) que a Pikitim fez sobre Saturno, após ver o planeta pelo telescópio no Observatório do Monte John

Chris saiu em socorro da Pikitim, e prometeu que lhe haveria de mostrar uma “disco star”. Mas o brilho da estrela que espreitava através do telescópio continuava a ser muito diferente daquele que havia imaginado :“já percebi que vão mudando de cor, mas não brilham com todas as cores do arco-íris ao mesmo tempo! Assim não tem graça”, disse, mergulhando numa visível frustração.

Estava já ao colo, a ouvir as tentativas da mãe de explicar que, às vezes, as coisas não são exatamente como as imaginamos, quando interrompeu: “Mãe, vi uma estrela a mexer-se!”. “A sério? Então devia ser uma estrela cadente…”, entusiasmou-se a mãe. “Não sei”, respondeu ela, e continuou: “a estrela fez um risquinho no céu, mas ia muito depressa! E não estava a cair para baixo, fez assim, um risco para cima”, explicou com detalhe, apontando o dedo para os céus. “Era uma estrela cadente?”, perguntou, ansiosa. “Então, o meu desejo realizou-se!”.

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto

Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.