Berat, a cidade das mil janelas

Tanto Berat como Gjirokaster (para onde iria a seguir) chamaram a minha atenção há alguns anos, após ver fotografias do casario de bairros como Magalem, em Berat, ou da cidade velha de Gjirokaster. São ambas classificadas pela UNESCO como património mundial e é, aliás, uma dúvida comum aos viajantes com pouco tempo: tendo que optar, devem visitar Berat ou Gjirokaster? Para não ficar arrependido, decidi conhecer ambas.

Cheguei a Berat vindo de Ohrid, na Macedónia, com as expectativas em alta. Era o primeiro destino que conhecia em território albanês. Um minibus que apanhei no entroncamento de Rrogovina deixou-me no terminal de camionagem de Berat, localizado a cerca de três quilómetros do centro da cidade. Esperei por um autocarro urbano e segui viagem para o centro, onde começa a rua de acesso ao castelo.

Para a minha primeira noite, tinha optado por ficar alojado no interior do Castelo de Berat. É uma das atrações mais icónicas da cidade e pareceu-me uma excelente opção pernoitar no seu interior. Subi a ladeira com a mochila às costas e posso afiançar que, naquelas condições, aqueles mil metros me custaram bastante.

Uma vez no castelo, instalei-me no Hotel Kalaja, tomei um chuveiro rápido e decidi aproveitar os últimos fogachos de um dia soalheiro mas que, por ser outono, acabava muito cedo. De máquina fotográfica em punho, explorei todos os recantos do Castelo de Berat e observei o exterior da Igreja da Santíssima Trindade – adjacente ao castelo. E o melhor de tudo é que não estava a visitar um museu ou um local arqueológico; o castelo é ainda hoje habitado!

Quando regressei ao hotel, era demasiado cedo para não voltar a sair, pelo que decidi ir jantar à cidade. Desci, comi, dei uma volta pelo boulevard Republika, tomei café numa esplanada e, na hora de voltar para o castelo, não resisti a apanhar um táxi. No final do dia, tinha já a certeza que dormir no castelo não tinha sido a melhor opção.

Nos restantes dias em Berat, explorei diversas vezes a pé os bairros de Mangalem e Gorica, atravessei a ponte sobre o rio Osum vezes sem fim e deixei-me ficar nos cafés da boulevard a beber a ambiência.

Berat não é uma cidade grande. Mas, como me disse um viajante norte-americano, “vai crescendo dentro de ti”. É isso. Desfrutei imenso da cidade. Ao ponto de, na hora de rumar a Gjirokaster, o ter feito sem grande vontade. Foi o meu primeiro amor na Albânia.

Eis uma lista com o que fazer em Berat, sendo as escolhas baseadas na minha experiência (não visitei qualquer museu, por exemplo). Note que Berat não tem muitas atrações turísticas; a própria cidade é a principal atração!

O que fazer em Berat

Visitar o castelo

É incontornável. Uma vez em Berat, vai fazer os quase mil metros a subir desde a marginal da baixa citadina até à porta do castelo. E a verdade é que vale bem a pena. Antes de tudo porque, como disse, o Castelo de Berat é habitado. No seu interior há casas de habitação, alguns restaurantes e cafés, uma ou outra pousada para alojar turistas e comerciantes que penduram os seus atoalhados nos muros de pedra das ruelas.

É um castelo vivo. E só por isso já valeria a pena visitar. Mas está bem conservado, as ruelas estão arranjadas, é um prazer cirandar sem rumo pelas ruas empedradas e, qual cereja no topo do bolo, há locais com vistas muito bonitas sobre a cidade de Berat, lá em baixo.

Por último, a Igreja da Santíssima Trindade fica do lado de fora das muralhas. É a nossa próxima paragem.

Visitar a Igreja da Santíssima Trindade

Desconheço se algum viajante teve a sorte de conseguir entrar na Igreja da Santíssima Trindade. No dia em que por lá passei, as portas estavam fechadas, sem qualquer sinal de poderem vir a ser abertas. Ainda assim, a igreja é um ícone de Berat e o seu edifício vale a visita. Pode ser que tenha mais sorte do que eu…

Explorar o bairro Mangalem

Mangalem é um bairro protegido pela UNESCO. Fica no sopé da colina do castelo e as fachadas das suas casas são porventura a imagem mais emblemática de Berat. As ruelas são empedradas, estreitas e labirínticas, ideais para a utilização de burros. As habitações encavalitam-se encosta acima, harmoniosamente. São quase todas de pedra, caiadas de branco e com inúmeras janelas de madeira. Berat é, aliás, conhecida como “a cidade das mil janelas”. Faz sentido.

Todo o conjunto é visualmente muito atrativo. De dia, vale a pena calcorrear o labirinto urbano de Mangalem, porventura até lá alojar-se (eu fiquei no Mangalem Hostel, que recolhe 9,9 de pontuação no booking). E, na escuridão da noite, a iluminação urbana torna a visão ainda mais espetacular. Por esta altura estava já conquistado. Sim, Berat “vai crescendo” dentro do viajante!

Percorrer as ruas de Gorica

Na outra margem do rio Osum fica Gorica. É quase como se fosse outra cidade, igualmente bela e atraente, porventura mais rudimentar. Quando por lá passei, nas ruas de piso irregular encontrei pouco mais que miúdos a jogar à bola, velhotes sentados à conversa e um homem com um burro de carga. De resto, muita tranquilidade.

Passeio de fim de tarde na boulevard Republika

Tal como em muitas zonas dos Balcãs, todos os finais de tarde os habitantes de Berat saem à rua. Percorrem a boulevard Republika, recentemente transformada em rua pedonal, de ponta a ponta, várias vezes; ou sentam-se numa das muitas esplanadas a tomar o seu café expresso ou macchiato. É o lugar para ver e ser visto em Berat. Faça o mesmo; em Roma sê romano.

Provar pimentos recheados

Vai encontrar em muitos restaurantes e são deliciosos. Os pimentos são fininhos e compridos, muito distintos dos que se encontram em Portugal. O recheio é normalmente composto por arroz, vegetais e ervas aromáticas. É tudo levado ao forno e servido assim mesmo. Uma delícia.

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