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Aldeia do Juízo: um belo fim de semana nas Casas do Juízo

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Aldeia do Juízo
Manhã cedo, Maria Adília Eusébio leva as suas ovelhas da aldeia do Juízo para as pastagens em redor

José Guerra é natural da aldeia do Juízo. Regressado de uma vida de trabalho, decidiu investir na sua aldeia-natal com o intuito de trazer alegria renovada às ruas do povoado. O objetivo último era ajudar a combater o esquecimento a que o Juízo tem sido votado; um mal comum a boa parte do interior rural de Portugal. E, aos poucos, com a recuperação e transformação de casas de família no acolhedor turismo rural Casas do Juízo, vai conseguindo os seus intentos.

A noite tinha já caído quando cheguei à aldeia. As ruas estavam desertas, o tempo frio e a ameaçar chuva mas, assim que saí do carro, vi um vulto aproximar-se. Vinha de sobretudo vestido, boné na cabeça, guarda-chuva na mão e sorriso no rosto: “sejam bem-vindos à aldeia do Juízo”.

Era José Guerra – proprietário das Casas do Juízo e grande responsável pelos ventos de mudança que se respiram na aldeia -, que de imediato me encaminhou para a receção e me ofereceu um cálice para aquecer a alma.

A minha experiência na aldeia do Juízo

Folhas de outono
Cores de outono ao longo da Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal

No dia seguinte levantei-me cedo. Não porque a cama do turismo rural fosse desconfortável; não porque estivesse um calor de São Martinho na aldeia do Juízo (pelo contrário); mas sim porque ver um lugar a acordar é das coisas mais recompensadoras que se pode fazer em viagem. É como correr, ir ao ginásio ou à piscina: no início não apetece, mas depois sabe muito bem. Foi o que aconteceu naquele sábado de manhã na aldeia do Juízo.

Quando saí de casa não havia vivalma nas ruas do Juízo. Apenas um cão ladrou à minha passagem enquanto deambulava pela pequena aldeia do concelho de Pinhel, distrito da Guarda, em plena Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal.

Pastora
A simpatia de Maria Adília Eusébio na aldeia do Juízo

E assim fui calcorreando os paralelepípedos das ruas, sozinho e em silêncio, sentindo os primeiros raios de sol a aquecerem as pedras das fachadas, até que o sorriso envergonhado de Maria Adília Eusébio dobrou a esquina lá ao fundo. Vinha acompanhada pelo seu rebanho de ovelhas, que ia levar para as pastagens.

“Faço isto todos os dias”, respondeu-me com simpatia, cajado numa mão, balde preto na outra, a idade marcada nas rugas do rosto e a calma de quem tem todo o tempo do mundo no olhar. Cada vez tenho mais pruridos em fotografar pessoas, mas não resisti a pedir-lhe uma foto. Ela – uma das 15 pessoas a viver em permanência na aldeia – aceitou, e por ali ficámos à conversa durante alguns minutos. “Volto com as ovelhas antes da uma da tarde”, despediu-se, antes de me desejar um bom dia e de retomar a marcha aldeia fora, seguida pela sua trintena de ovelhas.

Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal
GR22 – Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal

Quando por fim regressei à Casa do Forno, José Guerra estava já junto à Capela do Senhor do Bom Despacho, preparado para o combinado passeio pelo carrascal do Juízo.

Um passeio ao carrascal do Juízo

A ideia era percorrer um curtíssimo trecho da GR22 – Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal, quase plano e sem dificuldade, até à chamada Ribeira do Porquinho. Mas a realidade revelou-se muitíssimo mais acidentada e interessante, principalmente porque José Guerra é um poço de conhecimentos e não se furtou a sugerir vermos – eu e um grupo de amigos – mais uma coisa, e outra… e outra!

O carrascal, por exemplo, viria a descobrir, é o termo usado para uma mata de carrascos (ou carrasqueiros) – arbustos de folha persistente, por vezes bastante densos, muito comuns na região. Apesar das diferenças, as suas folhas fizeram-me lembrar pequenas folhas de azevinho, e foi nesse ambiente que fomos caminhando já com as vinhas e os olivais para trás.

Paisagem Beira Alta
Paisagem em redor da aldeia do Juízo, Beira Alta

O que se passou a seguir foram momentos de puro prazer. Uma caminhada leve, primeiro pelo trilho da GR22, onde encontrei marcações com a indicação “Aldeias Históricas de Portugal – 1 destino que são 12”; depois por caminhos de cabras que só José conhecia e por onde nos levou para que pudéssemos ver, entre outras coisas, uma incrível floresta de liquens. Lindo!

Seres vivos extraordinariamente complexos, os liquens são também visualmente espetaculares e muito fotogénicos. Foi uma parte muito bonita do passeio, a reforçar a convicção de estarmos perante uma paisagem de enorme beleza, perfeita para explorar tranquilamente durante um fim de semana com amigos (ou em família) na aldeia do Juízo. Ou então, para os viajantes mais ativos, a percorrer a pé ou de bicicleta parte da Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal.

Nota: a Etapa 5 da GR22 – Grande Rota Pedestre (ou BTT), com início na aldeia histórica de Castelo Rodrigo e término em Marialva (41,85km), passa na aldeia do Juízo.

Liquens no Carrascal do Juízo
Liquens no carrascal do Juízo

De regresso ao Juízo, a antiga placa dos Correios de Portugal continuava a balançar ao sabor do vento, junto à casa onde outrora as pessoas da aldeia se dirigiam para falar ao telefone. Hoje os tempos são outros, é certo, mas nem só vantagens vieram com o chamado progresso – isso mesmo os habitantes do Juízo fizeram questão de me lembrar mais do que uma vez. Foi o caso de Justino Guerra.

A certa altura, cruzámo-nos com o senhor Justino na parte alta da aldeia. Cumprimentei-o e, mais para meter conversa do que outra coisa, atirei: “viemos invadir a sua aldeia…”.

Aldeia do Juízo, Pinhel
Arquitetura tradicional na aldeia do Juízo

Mas a sua resposta foi desconcertante e reflete bem o estado de espírito dos habitantes face ao despovoamento que a aldeia do Juízo tem sofrido: “pena é irem embora, porque aqui não há ninguém; se ficassem cá era uma alegria”. São 15 habitantes, repito, a viver em permanência numa aldeia onde há já 34 anos não nasce uma criança. Fiquei sem resposta.

O resto do tempo foi passado nas Casas do Juízo a confraternizar, a comer e a beber. Por uma infeliz coincidência, nesse fim de semana a Taberna do Juiz estava encerrada, pelo que não tive oportunidade de lá fazer uma refeição. Mas o senhor José arranjou um restaurante em Pinhel que se prontificou a cozinhar e entregar as refeições já prontas em casa e, por isso, acabei por não cozinhar no conforto da minha casa na aldeia.

As Casas do Juízo

Casas do Juízo
À esquerda, uma das entradas para as Casas do Juízo

As Casas do Juízo são uma unidade de turismo rural (ou turismo de aldeia) localizada na aldeia do Juízo, concelho de Pinhel, distrito da Guarda. É composta por oito casas de família de José Guerra, com arquitetura tradicional em pedra, recuperadas para melhorar o conforto e habitabilidade mas mantendo tanto quanto possível a traça original.

Recomendo vivamente visitar a aldeia do Juízo e lá pernoitar. Até porque, além do prazer do descanso, da beleza das paisagens envolventes e do enriquecimento proporcionado por conhecer melhor a vida no interior de Portugal, é uma forma de ajudar José Guerra a concretizar o sonho de dar vida às ruas da aldeia. Vamos?

Experiências tradicionais na aldeia do Juízo

  • Fabrico do pão no forno comunitário de granito (novembro a março)
  • Fabrico de bolos da Páscoa num forno comunitário (Páscoa)
  • Malha do centeio (julho)
  • Fazer o vinho em lagar de vara (setembro)
  • Fabrico tradicional do requeijão (novembro a junho)
  • Fabrico tradicional dos bolos de amêndoa
Liquens
Pormenor dos liquens

Veja este roteiro em Portugal para outras ideias de lugares a visitar.

Guia prático

Como chegar

A aldeia do Juízo fica no concelho de Pinhel, distrito da Guarda. Do Porto (220km), a forma mais rápida de chegar ao Juízo é seguir pelo trajeto A1 – A25 – IP2. De Lisboa (370km), siga pelo trajeto A1 – A23 – IP2. Não há transportes públicos para chegar ao Juízo.

Onde ficar

Naturalmente, nas Casas do Juízo, uma excelente unidade de turismo rural existente na aldeia. É uma opção perfeita tanto para um casal como para uma família; ou até para um grupo de amigos. Isto porque há oito casas recuperadas, com capacidades distintas, que dão no total para 20 adultos e 10 crianças.

Caso não haja vagas nas Casas do Juízo, há outras casas de turismo rural de qualidade nas proximidades do Juízo, entre as quais a muito elogiada A Queijaria. Fica na aldeia de Barreira, a 7km do Juízo.

Reservar Casas do Juízo

Onde comer

As Casas do Juízo têm cozinha equipada e boas condições para a preparação de refeições (há supermercado em Pinhel, a 17km da aldeia). Seja como for, vale também a pena experimentar a gastronomia local. Nesse caso, saiba que a Taberna do Juiz fica na aldeia do Juízo e é um belíssimo restaurante. Fora disso, pode fazer refeições em Pinhel ou aproveitar os passeios pelas Aldeias Históricas de Portugal para fazer as refeições.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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