Alma de Viajante

Blog de Viagens de Filipe Morato Gomes

  • Destinos A-Z
  • Portugal
  • Brasil
  • Europa
  • América
  • África
  • Ásia
  • Oceânia
Blog de viagens » Ásia » Indonésia » Bali

O dia do silêncio, em Bali (Pikitim #32)

Por Luísa Pinto | Volta ao Mundo em Família Ásia Bali Indonésia
Atualizado em 9.09.2018 | Tempo de leitura: 6 minutos

Templo em Ubud, Bali
Visitando um templo de Ubud, na ilha de Bali, dias antes do Niepy Day

Chegámos a Bali sem saber que daí a pouco nos esperavam vinte e quatro horas de silêncio total. Era segunda-feira de uma semana muito especial, na mais espiritual das ilhas indonésias. Estávamos, por feliz ou infeliz acaso, a poucos dias do Niepy Day, o Dia do Silêncio, e com ele as cerimónias dos Ogoh-Ogoh.

Aos poucos, fomos percebendo a forma fervorosa e rígida como o dia seria levado: portos e aeroportos são encerrados, e até as estradas são vedadas à circulação; escolas, repartições públicas, lojas, supermercados, restaurantes, tudo, mesmo tudo é encerrado. E ninguém anda na rua. É como se, durante 24 horas, Bali se transformasse subitamente numa ilha fantasma, onde não mora ninguém. “É para os maus espíritos que nos sobrevoam seguirem diretos para Java e deixarem a ilha de Bali em paz”, explicava Sri, a simpática funcionária da guesthouse onde primeiramente nos alojámos, em tom de brincadeira.

No fundo, é exatamente isso que os balineses pensam.

Bali é uma ilha profundamente espiritual. No miniautocarro que nos levou do porto de Gilimanuk até Denpasar, logo no primeiro dia na ilha, após atravessado o estreito de Bali vindo de Java, vimos o motorista parar num santuário, aos primeiros quilómetros da viagem, onde uma mulher lhe molhou a cara e colou na testa uns grãos de arroz, e colocou um pau de incenso no carro. Para ter sorte no caminho.

Logo a seguir, na bemo (uma espécie de táxi coletivo) que nos levou até Ubud, o tablier estava transformado num altar. E havia flores e arroz junto a uma pequena ganesha, uma das divindades hindus que, entre outras crenças, representa o intelecto e a sabedoria que permitem a destruição de obstáculos.

Bali é assim. Oferendas, cerimónias, procissões, flores, arroz, fruta e incenso aparecem e desaparecem ao virar de cada esquina. Nas grandes cidades e nas pequenas aldeias – em todo o lado. Nada parece ser mais importante para um balinês que o seu calendário de cerimónias – preparar o aniversário do templo da aldeia e assistir às cerimónias, participar no funeral de alguém da aldeia, celebrar a lua nova ou a lua cheia, o quinto ou o sexto mês de um filho, um aniversário, enfim, as datas são imensas.

E o exponente máximo, a mãe de todas as celebrações, chama-se Niepy Day. É a entrada no novo ano, um dia silencioso para refletir no que aconteceu de bom e expiar o que de mau se viveu no ano velho.

Oferendas Ubud
Oferendas aos deuses balineses

Fomos avisados para nos prepararmos para o Dia do Silêncio. Devíamos comprar tudo o que precisássemos – água, bolachas, carne, leite, massas, fruta, livros, tudo – com dois dias de antecedência, antes que houvesse uma corrida às prateleiras dos supermercados e que os desfiles dos Ogoh-Ogoh tornassem as ruas intransitáveis. “Ogoh-Ogoh? O que é isso?”, apressou-se a perguntar a Pikitim.

“Os Ogoh-Ogoh são uma encarnação dos espíritos maus, são como nós os imaginamos. Antes do Dia do Silêncio vamos acordá-los e mandá-los daqui para fora”, explicou Ketut enquanto nos deixava à porta de uma casa alugada na aldeia de Penestanan, onde iríamos passar esse estranho dia, com uma lanterna e o aviso de que não deveríamos acender as luzes de fora (onde estava a cozinha, a sala… a piscina) para respeitarmos o mais possível a tradição balinesa. E não poderíamos sair de casa. Mesmo.

O desfile dos Ogoh-Ogoh foi, para a Pikitim, algo de “verdadeiramente espetacular” (as palavras são dela). “São monstros muito grandes, que os meninos levam às costas e andam a passear pela cidade e a fazer uóóóóó-uóóóóóóó!”, contou, entusiasmada, antes de se deter num pequeno pormenor: “Mas o mais divertido é vê-los a desviarem-se dos fios da electricidade”, resumiu.

Ora, se apreciados à luz do dia os monstros são, de facto, impressionantes, vistos à noite são ainda mais fascinantes. No fim dos desfiles, boa parte dos Ogoh-Ogoh são queimados, com todos os espíritos maus a serem levados pelo fogo. “Mas a fogueira nós já não vimos”, relatava a Pikitim, dias depois, a sua noite de Ogoh-Ogoh. Até porque, felizmente, muitos desses monstros de bambu, papel maché e cartão são tais obras-primas que os seus autores, não raras vezes, recusam-se a queimar o trabalho de um mês ao fim de um par de horas; “ficam em exposição durante uns tempos”, acrescentou Ketut.

Ogoh-Ogoh, Bali
Um Ogoh-Ogoh durante as cerimónias que decorrem na véspera do Niepy Day

Foi depois dos desfiles dos Ogoh-Ogoh que a ilha mergulhou num silêncio sepulcral. Após as seis da madrugada, e durante 24 horas, as pessoas recolhem-se religiosamente em suas casas; as luzes apagam-se; as estradas ficam desertas; não se ouve uma voz, uma mota, nada. Para nós, era um dia absolutamente estranho. Andávamos como que em câmara lenta, quase com medo de falar, de espirrar, de fazer qualquer barulho que desrespeitasse a tradição. Não queríamos, de todo, desconsiderar a devota vizinhança. Vezes sem conta chamámos a atenção da Pikitim para fazer pouco barulho; mas como vai uma criança perceber uma tal imposição sem razão aparente?

“Mas porque é que eu não posso falar alto?”, reclamava. “Mas porque é que vocês não vêm para a piscina hoje?”, desesperava. “Mas porque é que a luz está tão fraquinha?”, estranhava (sim, a potência elétrica desce para níveis intermitentes, quase nulos, ao ponto de estragar tudo o que estava armazenado no frigorífico). “Mas porque é que todos hoje têm de estar parados e a pensar?”, questionava, já de noite, antes de concluir: “Eu não quero pensar mais hoje”.

Arrozais em Ubud, Bali
Ubud é um lugar tranquilo por natureza, mas no Niepy Day essa característica alcança dimensões inimagináveis

Nos folhetos turísticos balineses pergunta-se, provocatoriamente, se não seria maravilhoso que o mundo inteiro parasse por um dia e fizesse uma reflexão profunda no que de bom e de mau aconteceu no ano que termina. A Pikitim discorda.

Como seria de esperar, a miúda achou o Dia do Silêncio tudo menos interessante, apesar de não ter sido tão mau quanto o esperado: “Afinal até está a ser um dia feliz. Pensei que tínhamos de passar o dia todo sem um pio, e isso ia ser muito triste”, desabafou antes de dormir.

Quando, dias mais tarde, a avó lhe perguntou como ela tinha passado aquele dia tão diferente, a resposta saiu pronta: “Como é que havia de ser? A fazer pouco barulho, para os senhores que moram nesta ilha pensarem que eu também estava a pensar. Mas foi só isso, que eu não pensei mesmo em nada”.

Guia prático

Onde ficar (em Ubud)

Ubud é um deleite para os amantes da boa hotelaria. É o lugar para esquecer os grande hotéis e escolher pequenas pousadas com muito charme, instaladas em complexos de arquitetura tradicional e rodeadas de arrozais. Entre elas, recomendo sem reservas as baratíssimas KT. Kuaya Homestay, Ayu Homestay e Dekwah Homestay (entre outras).

Noutro segmento, as belíssimas villas do romântico Samkhya Villas e do Kano Sari Ubud, ou ainda o excelente Alam Pracetha Bali Ubud (afastado do centro, o que pode ser visto como uma vantagem ou uma desvantagem) são excelentes escolhas a um preço aceitável.

Para quem procura o luxo com bom gosto, dificilmente encontrará melhor do que o Natya Resort Ubud. Trata-se de um dos melhores hotéis de Ubud, perfeito para uma estadia a dois. Para outras opções de boa qualidade, veja o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Ubud

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas em 2012 na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o post intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Saiba mais sobre: Volta ao Mundo em Família Ásia Bali Indonésia

Planeie a sua próxima viagem

A melhor forma de ajudar o Alma de Viajante a manter-se sem anúncios e continuar a inspirar e a dar dicas de viagens gratuitamente é usando os links disponibilizados neste artigo para fazer as suas reservas. Nomeadamente:

Reserve um hotel em Ubud e aproveite as promoções do booking (é onde eu faço a maioria das minhas reservas).

Se precisa de viatura própria, alugue um carro na Discovercars. Passei a recomendá-la desde que descobri que têm preços bem mais baixos do que a Rental Cars.

E não se esqueça de fazer um seguro de viagem na IATI Seguros (tem 5% de desconto usando este link). Eu nunca viajo sem seguro.

Livro grátis

Junte-se a +25.000 viajantes e receba por email uma newsletter (em português) com muita inspiração e dicas para viajar mais e melhor. E ainda lhe ofereço o livro Alma de Viajante, há muito esgotado nas livrarias, com as crónicas da minha primeira volta ao mundo.

Sucesso! Por favor verifique o seu email para confirmar a subscrição.

There was an error submitting your subscription. Please try again.

Powered by ConvertKit

« Cruzeiro Azul
Kilimanjaro Express (De Cabo a Cabo #15) »

Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 51 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

SEGUIR NO INSTAGRAM

Assine a newsletter e receba o livro da minha primeira volta ao mundo gratuitamente (está esgotado nas livrarias).

Destinos em destaque

  • Japão
  • México
  • República Dominicana
  • Zanzibar
  • Puglia
  • Sardenha
  • Malta
  • Maiorca
  • Menorca
  • Lanzarote
  • Tenerife

Ubud

Reserve um hotel em Ubud ao melhor preço.

Faça um seguro de viagem com proteção Covid-19 (5% de desconto usando este link).

Alugue um carro para a sua próxima viagem.

Sobre

Alma de Viajante é um blog de viagens sob o mote “Viajar. Partilhar. Inspirar.”, onde partilho de forma pessoal e intimista as minhas viagens pelo mundo. O objetivo é “descomplicar” e inspirar mais gente a viajar como forma de enriquecimento pessoal. Há também guias, roteiros e dicas para o ajudar a viajar. Note que sou um blogger de viagens, não um operador turístico. Saiba mais sobre o Alma de Viajante.

Política editorial

Alma de Viajante é um blog completamente independente. Nenhum eventual parceiro tem qualquer influência no conteúdo editorial publicado e só recomendo aquilo que uso nas minhas viagens. Conheça a minha política editorial e comercial. Este blog contém links de afiliados.

Contactos · Na imprensa · Prémios

Explore o blog

  • Comece aqui
  • Artigos de viagens
  • Planear viagens
  • Trekking
  • Notícias
  • Blogging

Grandes viagens

  • Volta ao Mundo
  • Diário da Pikitim
  • Do Cairo a Teerão

Os meus convidados

  • Portugueses pelo Mundo
  • Viagens na Minha Terra

Redes sociais

Mais de 250.000 pessoas viajam com Alma de Viajante nas principais redes sociais. Junte-se a esta comunidade de amantes de viagens, assine a newsletter e inspire-se com as minhas aventuras em destinos de todo o mundo.

Blog de viagens fundador da ABVP

ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses

Copyright © 2023 Alma de Viajante · Um blog de viagens com roteiros, dicas e muita inspiração para viajar mais e melhor · Jornalismo de viagens