
A minha passagem pelo México em 2010 foi inesquecível. Entrei em território mexicano por Tijuana, essa mítica fronteira, e atravessei a Baja Califórnia de uma ponta à outra, fiz uma viagem de comboio memorável entre Los Mochis e Chihuahua, dei um salto a Oaxaca e ainda consegui ir ao distrito de Chiapas, a San Cristobal de las Casas.
Mas isso são histórias (e receitas) para outras crónicas, porque hoje vou falar-vos sobre alguns dos petiscos deliciosos que provei na Cidade do México, a capital mexicana e uma das maiores metrópoles do mundo. Guiado por um dos melhores chefs da capital, o meu amigo Jorge Vallejo, embarquei numa viagem pelo Mercado de San Juan e nunca mais fui o mesmo.
México, terra de comida exquisita
Quando, há alguns séculos, os Astecas viram pela primeira vez o fungo que nasce na planta do milho, decidiram chamar-lhe cuitlacoche. A palavra, que à letra pode ser traduzida por “fezes escuras”, condenaria para sempre o destino do que acabava de ser encontrado. Ou pelo menos foi isso que me passou pela cabeça, porque a verdade é que no México o cuitlacoche é uma iguaria muito apreciada.
O Jorge sorriu ao ver a minha cara de espanto e garantiu que o aspeto podia ser estranho mas muito saboroso. “Podes provar mesmo assim, sem estar cozinhado, e já vais conseguir perceber o sabor terroso”, desafiou-me. Agarrei um pedaço de cuitlacoche a custo e avancei para a primeira trinca. A minha cara traiu-me: “parece mesmo que acabei de enfiar a boca numa mão-cheia de terra”. O Jorge desatou-se a rir.
“Então espera para ver o que te espera na banca onde vamos agora”, avisou. Nunca me passaria pela cabeça ver lagartas e grilos à venda num mercado no centro da capital, ainda por cima comestíveis. Nessa altura, percebi o olhar intrigante de Jorge quando me apresentou vagamente a receita que tinha pensado ensinar-me: tacos com guacamole, gusanos de maguey e chapulines. Na altura, apesar de não fazer ideia do que estava a falar, sorri com a cumplicidade de quem não quer passar vergonha. E mesmo que me tivessem passado coisas estranhas pela cabeça, nunca andei sequer perto do cenário que acabaria por encontrar.
As lagartas de maguey crescem no agave – o cato a partir do qual se prepara mezcal, uma das bebidas destiladas de que os mexicanos mais gostam – mas nem isso diminuiu o arrepio que me percorreu a espinha antes de engolir uma ainda viva. Fez parte do processo de aculturação. Só depois de colocar a lagarta na boca é que Jorge revelou que, normalmente, os gusanos se comiam depois de cozinhados. Os chapulines, para mim inofensivos grilos, já se vendem preparados: depois de bem lavados, são tostados com alho, sumo de limão e sal, o que lhes dá um sabor bastante ácido e amargo.
Tudo o que acabo de contar pode parecer realmente estranho (e até meio repulsivo) mas os insetos ou lagartas fazem parte da dieta mexicana há muitos séculos. O hábito de comer gusanos de maguey já existia durante o império asteca, altura em que era considerado um alimento exclusivo da família imperial.
Além do mais, as lagartas são ricas em minerais, cálcio, magnésio e proteínas, e diz-se que têm propriedades afrodisíacas. Há estudos que defendem que alimentos preparados com insetos podem ajudar a reduzir os índices de desnutrição por serem uma fonte importante de proteínas, aminoácidos e minerais essenciais. Uma das cerejas no topo do bolo é o facto de não conterem gordura nem colesterol.
Acredito que terei deixado alguns de vocês impressionados, mas outros terão ficado bastante curiosos. O que gostava de sublinhar é que a comida mexicana é efetivamente exquisita, como gostam de dizer os mexicanos. Confesso que precisei de um mês a percorrer o país para perceber verdadeiramente o significado deste adjetivo. Descreve coisas raras e deliciosas. Fiquei fã!
O guacamole do chef Jorge
Esta é uma das receitas mais emblemáticas da cozinha mexicana. É muito mais do que um acompanhamento, faz parte da cultura gastronómica deste imenso país. Quando provei este guacamole, à mesa com o chef Jorge no último andar de um hotel na Cidade do México, vinha acompanhado por gusanos de maguey, nada mais nada menos que umas bonitas e reluzentes lagartinhas acabadinhas de saltear em manteiga.
Como sei que em Portugal não somos muito dados a estas iguarias, resolvi poupar-vos desse sacrifício. Espero que mesmo assim dêem uma oportunidade a esta receita porque é efetivamente fabulosa.
Ingredientes
2 abacates maduros, em cubos
- 1 tomate cortado em cubos pequenos
- ½ cebola muito bem picada
- 4 c. sopa de azeite
- 2 c. sopa de sumo de lima
- Malagueta picada a gosto
- 1 mão-cheia de coentros
Receita
Numa tigela, coloque todos os ingredientes: abacate, tomate, cebola, azeite, sumo de lima, malagueta e coentros. Lembre-se de que quando cortar o abacate deverá temperá-lo logo com sumo de limão; não deite fora o caroço do abacate, mas mantenha-o dentro da mistura para evitar que oxide. Envolva bem todos os ingredientes até obter uma mistura bastante homogénea.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.