Biertan e a sua igreja fortificada

Dada a ausência de transportes públicos a partir de Sighisoara, visitar a Igreja Fortificada de Biertan foi uma verdadeira aventura. Entre azares e alguma falta de solidariedade, aquilo que poderia ter demorado um par de horas num dia normal de carro alugado, acabou por levar mais de seis horas a concluir.

Nada de grave, é certo; apenas alguma frustração que não consegui evitar. Até porque a minúscula povoação de Biertan tem algo que me atraiu bastante. Talvez as cores, as casinhas, os telhados, a atmosfera rural – não sei explicar. Mas gostei mesmo muito de visitar Biertan – que, tal como Prejmer, faz parte das aldeias com igrejas fortificadas na Transilvânia que a UNESCO classifica como Património Mundial na Roménia.

Eis, pois, o relato da minha visita a Biertan – incluindo demasiado tempo à espera de boleias. Já lá vamos.

A minha visita a Biertan

Instalado na Casa Lia, propriedade do simpaticíssimo Marius, tomei o pequeno-almoço e saí para a cidadela de Sighisoara. O dia amanheceu muito bonito e tive vontade de por ali ficar a fotografar, aproveitando a bonita luz matinal. Mas tinha decidido apanhar um autocarro às 8:26 (dos poucos existentes), pelo que me fiz ao caminho até ao terminal rodoviário.

O meu destino era Saros pe Tarnave, uma povoação insignificante (pouco mais é do que um cruzamento) algures na estrada que liga Sighisoara a Sibiu. A partir dali, teria de percorrer a pé 8km até Biertan, ou então arranjar uma boleia. Em menos de cinco minutos, estava sentado no banco traseiro de um carro velho na companhia de um casal de velhotes romeno.

Cheguei a Biertan seriam umas 9:15 e a cidade estava bonita e deserta. Olhando para a praça central, fiquei imediatamente com boa impressão da localidade.

Dirigi-me à igreja para a conhecer por dentro, mas só daí a uma hora poderia fazê-lo, disse-me um vendedor instalado nas proximidades, antes de eu comprovar isso mesmo no horário afixado na porta da igreja. O homem sugeriu que fosse dar a volta pelo exterior da fortaleza; e assim fiz. Foi um curto mas interessante passeio.

Quando regressei à porta da igreja, uma senhora com ar de beata informou-me que, afinal, o melhor seria entrar só às 11:00. “Pode entrar e assistir à missa, mas tem de ficar lá uma hora e não pode sair”. Isto porque no segundo domingo de cada mês há uma missa na Igreja Fortificada de Biertan. E eu tinha acertado em cheio no dia da missa.

Preferi esperar no exterior.

Entretanto, foram chegando três ou quatro autocarros com grupos de turistas; e Biertan deixou de ser um deserto. Como ainda não eram 11:00, deixei-me ficar por ali. Sentei-me na praça a observar, e reparei até numa cegonha com uma cria que estava no ninho, estrategicamente colocado no telhado de um dos edifícios da praça central de Biertan.

Quando chegou a hora, comprei o ingresso e entrei finalmente na pequena fortaleza. Lá dentro, depois de subir uma escadaria de madeira, coberta, – não tão espetacular como a de Sighisoara -, estava a igreja de Biertan, motivo principal da minha visita.

Nas palavras oficiais, “a igreja evangélica de Biertan é uma das maiores e mais importantes da Transilvânia no seu estilo”, tendo uma arquitetura que “reflete o desenho típico de uma fortaleza, consistindo numa igreja fortificada cercada por muralhas reforçadas”.

Não me demorei muito no interior, até porque os grupos foram, entretanto, entrando e o silêncio da igreja desapareceu. Deambulei um pouco mais pela fortaleza, já do lado de fora da igreja, desci a escadaria de madeira e voltei à praça central de Biertan.

Era então hora de regressar a Sighisoara. Coloquei-me junto à praça, na estrada, em direção a Saros pe Tarnave, e pedi boleia. Ao longo de mais de uma hora, romenos e turistas – e até o padre – recusaram ajudar-me. Mesmo aqueles a quem dirigi diretamente a palavra, antes de entrarem no carro, inventaram desculpas ou disseram que não.

Frustrado, comecei a caminhar, preparando-me para fazer 8km a pé até Saros pe Tarnave, onde pensava ser mais fácil apanhar boleia para Sighisoara. Pouco depois, uma carroça puxada a cavalos passou por mim e os homens perguntaram se queria ir lá sentado até Saros – que fica na estrada nacional que une Sibiu e Sighisoara. Aceitei sem hesitar.

Estava de novo feliz pela ajuda de estranhos, até porque um deles me parecia saído de um filme de Emir Kusturika. Mas, uma vez chegados a Saros, os homens pediram-me dinheiro.

Pouco passava das 13:00 quando comecei novamente a pedir boleia debaixo de um sol inclemente. Sem sucesso. Os homens sentados na esplanada do café atrás de mim iam olhando, de cerveja em cerveja. Havia carros a passar – alguns deles conduzidos por turistas -, mas nenhum parou. Uma hora e quinze minutos depois, passou o mesmo autocarro em que tinha viajado de manhã, em sentido inverso.

Só assim consegui regressar a Sighisoara.

Apesar de tudo – e mesmo não sendo tão espetacular como a igreja fortificada de Prejmer -, visitar Biertan tinha valido a pena.