Nenhum roteiro no Cáucaso ficará completo sem uma ida à região montanhosa de Svaneti. Cercada por picos de 3.000 a 5.000 metros, Svaneti é a área habitada mais alta do Cáucaso e, muito provavelmente, a região mais cénica do país. É lá que fica Mestia – e também Ushguli -, dois dos locais sobre os quais tinha maiores expectativas nesta viagem pela Geórgia. E não foram defraudadas.
Desengane-se, aliás, quem pensa que Mestia, localizada 1.500 metros acima do nível do mar, é apenas uma aldeia envolta por montanhas imponentes. Os picos montanhosos estão lá – e ainda bem! -, mas a verdade é que, para além de toda a beleza natural envolvente, há também um conjunto de equipamentos surpreendente – a começar pelo sublime Museu de História e Etnografia de Svaneti. Já lá vamos.
Antes disso, dizer que gostaria mesmo de ter ficado mais tempo em Mestia. Gostaria de ter visitado algumas aldeias das proximidades – como Mazeri, Mele, Lentekhi, ou Soli. De ter feito o exigente trilho até aos lagos Koruldi, no sopé do Monte Ushba. Quem sabe até estar frente a frente com o glaciar Chalaadi. Infelizmente, não foi possível.
Ainda assim, estive quatro noites na região, divididas entre Mestia e Ushguli – eis, pois, o que fazer em Mestia, em função da minha experiência na pequena capital de Svaneti.
O que fazer em Mestia: a minha experiência
Museu de História e Etnografia de Svaneti
O museu foi fundado em 1936 e expõe objetos históricos da região de Svaneti, incluindo uma coleção de manuscritos, gravuras, armas medievais, ornamentos de ferro, prata e cobre, joias e uma coleção de artefactos etnográficos que retratam a vida da região de outrora.
Em suma, é um museu de alta qualidade numa vila minúscula, com um acervo muito rico e interessante. Uma verdadeira surpresa, portanto. Local de visita obrigatória em Mestia.
Teleférico Hatsvali
Continuando a caminhar para lá do Museu de História e Etnografia de Svaneti, como quem sai da malha urbana de Mestia, encontra-se a estação de teleférico que permite aceder ao topo de Hatsvali.
A viagem de teleférico, que me levou até ao topo do chamado Hatsvali Ski Resort, é absolutamente fascinante – embora não aconselhável a quem tenha vertigens ou medo de alturas.
Estava um tempo primaveril, com as pistas de esqui verdejantes e sem neve, proporcionando uma beleza distinta da vivenciada nos meses de inverno. Olhando para trás, Mestia ia ficando cada vez mais insignificante no meio dos picos montanhosos de Svaneti.
Uma vez lá em cima, aproveitei para fazer algumas caminhadas, apreciar a paisagem, deitar-me na relva e recuperar energias com uma sopa de cogumelos saborosa mas com preço exagerado.
A viagem de regresso, estando de frente para o vazio, foi ainda mais espetacular (e difícil para quem sofre de vertigens).
Igreja de Laghami
Não me recordo onde vi a primeira fotografia dos frescos da Igreja de Laghami, um pequeno tesouro também conhecido como Catedral da Transfiguração, na zona velha de Mestia. Mas nesse momento decidi que tinha mesmo de visitar Mestia.
Depois de algumas peripécias para conseguir entrar na igreja, encontrei Rezo, morador no bairro Laghami e guardador das chaves da igreja. Foi ele o cicerone de uma improvisada visita guiada ao pequeno complexo.
Rezo levou-me ao segundo piso do edifício, construído entre os séculos XIV e XV. Uma pequena porta de madeira “guardada” por muitas velas e imagens de Jesus e Maria era tudo o que me separava do interior da igreja. Até ali já tinha conseguido entrar quando tentei visitar a igreja dias antes, mas aquela porta sempre esteve fechada à chave. Assim que Rezo a abriu, começou o verdadeiro deslumbramento.
Uma capela minúscula, com frescos em excelente estado de conservação nas paredes e no teto. Foi isso que encontrei. A exceção era um pedaço de teto em que as pinturas foram literalmente lavadas por ação de chuvadas intensas ocorridas num inverno particularmente duro – informou Rezo.
Um local maravilhoso!
Mikhail Khergiani House Museum
Museu bem menos ambicioso do que o Museu de História e Etnografia de Svaneti, o Mikhail Khergiani House Museum (ou Museu do Alpinista) é uma espécie de museu familiar que enaltece o famoso alpinista Mikhail Khergiani – falecido em 1969.
Em exibição numa pequena sala encontra-se uma impressionante coleção de equipamento de alpinismo usado na época, tão rudimentar que torna difícil acreditar como era possível fazer alpinismo em alta montanha com aquele tipo de equipamento. Vale a pena visitar.
Viagem até Ushguli
No alto dos seus 2.100 metros de altitude e com estradas de paupérrima qualidade, a aldeia de Ushguli não está facilmente acessível ao comum dos viajantes. Não fica a caminho de lugar algum. É preciso mesmo querer visitar Ushguli para lá ir; e, talvez por isso, mantenha ainda boa parte das suas características seculares.
Desde logo, as originais torres defensivas de Svaneti, comummente chamadas de Torres Svan. O termo refere-se às casas em forma de torre construídas como habitações defensivas unifamiliares, muito comuns na região montanhosa de Svaneti, no noroeste da Geórgia.
Como escrevi acima, se havia uma atividade no topo na lista com o que fazer em Mestia, essa atividade era ir até Ushguli e ver mais dessas torres (que, refira-se, também existem em Mestia, embora em menor número).
Foi isso que fiz, tendo optado por ficar a dormir em Ushguli por uma noite, para absorver ainda melhor a ambiência. Fica a sugestão.
Trekking Mestia – Ushguli
Para quem gosta de caminhar e visitar Svaneti entre junho e outubro, saiba que há um trilho de montanha entre Mestia e Ushguli, com a duração de três ou quatro dias, sobre o qual li coisas muito positivas.
Eu não fiz a caminhada, pelo que não posso ajudar com dicas práticas; mas encontra muita informação online. A título de exemplo, veja esta página no site Caucasus Trekking.
Mapa: o que fazer em Mestia
Guia prático
Como chegar
Vindo de Tbilisi, a forma mais comum de chegar a Mestia é apanhar o comboio noturno até Zugdidi; e de lá uma marshrutka até Mestia (à saída da estação de comboios de Zugdidi será abordado pelos motoristas). Para comprar bilhetes de comboio pode usar a app da Georgian Railway Tickets.
Alternativamente, caso tenha pouco tempo e não se importe de pagar pelo serviço, saiba que a Vanilla Sky tem cinco voos por semana a ligar o aeródromo de Natakhtari (a 25km de Tbilisi) ao aeroporto Rainha Tamar, em Mestia. A empresa disponibiliza transporte gratuito entre Natakhtari e o centro da capital.
Além disso, há também duas ligações aéreas semanais entre Kutaisi e Mestia, igualmente operadas pela Vanilla Sky.
Onde ficar
Eu fiquei na Guesthouse with Pine Trees, uma pousada muito simples mas super bem localizada, no coração de Mestia. Na altura em que visitei Mestia, pareceu-me uma guesthouse bastante aceitável e com boa relação qualidade/preço.
Caso pretenda um bom hotel em Mestia, saiba que o Chalet Mestia é, na minha opinião, a escolha perfeita. É um hotel excelente, com ar de hotel de montanha, muito limpo e bem cuidado. Não é, no entanto, dos hotéis mais baratos de Mestia.
Num segmento mais barato, a Bapsha Guesthouse é, seguramente, uma das melhores pousadas familiares de Mestia – alguns furos acima da simplicidade da maioria dos alojamentos da vila. Igualmente boas são as Roza’s guesthouse, a Mushkudiani Manor e a Travel Inn House. Mas há muitas mais (Mestia vive do turismo) – como poderá facilmente constatar pesquisando através do link abaixo.
Onde comer
Há inúmeros restaurantes em Mestia com qualidade e bons preços, como é o caso do Panorama. Para o pequeno-almoço, queria indicar o Café Ushba por causa das suas panquecas divinais; acabei por lá ir todas as manhãs.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
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