Destino: Europa

Ushguli e as suas torres defensivas (UNESCO)

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Ushguli, Svaneti, Geórgia
Vista da aldeia de Ushguli, na região montanhosa de Svaneti

O termo “Torres Svan” refere-se às casas em forma de torre construídas como habitações defensivas unifamiliares, muito comuns na região montanhosa de Svaneti, no noroeste da Geórgia.

As torres têm, regra geral, uns impressionantes 20 a 25 metros de altura, divididos entre quatro ou cinco pisos edificados com recurso a paredes de pedra extremamente grossas (podem chegar a 1,5 metros de espessura). São uma visão extraordinária!

Nas palavras da UNESCO, que inclui o Alto Svaneti na lista de Património UNESCO na Geórgia, “a região do Alto Svaneti, preservada em virtude do seu longo isolamento, é um exemplo excecional de paisagem montanhosa, com vilas e casas em torre do tipo medieval. A vila de Chazhashi ainda tem mais de 200 dessas casas fora do comum, que foram usadas como moradias e postos de defesa contra os invasores que atormentavam a região”.

Ushguli na primavera
Ushguli na primavera

Ushguli terá, atualmente, pouco mais que trinta torres defensivas; mas é igualmente fascinante!

Foram elas o principal motivo que me levou a visitar Ushguli, mesmo sabendo do esforço necessário para lá chegar. É, indubitavelmente, um dos lugares mais remotos e inacessíveis do país; mas é também um dos mais bonitos.

Talvez esse isolamento, aliás, tenha contribuído decisivamente para a manutenção de usos e costumes seculares na região. Como é o caso da língua Svan, ainda hoje falada em algumas famílias de Ushguli.

Partilho, pois, nas próximas linhas, um pouco da minha experiência de viagem à remota aldeia de Ushguli, na região georgiana de Svaneti.

A minha visita a Ushguli

Aldeia de Ushguli, Svaneti
Ushguli foi instalada a mais de 2.000 metros de altitude, na região georgiana de Svaneti

Cheguei a Ushguli com tempo frio e o céu a ameaçar chuva. O taxista parou junto à pequena ponte sobre o Rio Inguri, na zona baixa da aldeia – que, de alguma forma, marca a divisória entre Ushguli e a vizinha Chazhashi. Sem demora, coloquei a mochila às costas e fui procurar a Guesthouse Qaldea, uma pousada familiar onde iria ficar hospedado.

Check-in efetuado, caminhei para os arrabaldes da aldeia, na direção do glaciar Tsaneri. Não que fosse fazer o trekking até ao glaciar, mas a última edificação da aldeia, localizada no topo da colina e com as montanhas nevadas em pano de fundo, era uma das atrações que queria visitar em Ushguli. O seu nome? Igreja Lamaria.

Igreja Lamaria (Santa Maria)

Igreja Lamaria, Ushguli
Interior da Igreja Lamaria, Ushguli

Datada do século XII, a pequena igreja foi edificada em honra de Lamaria, a “Deusa de Svan para a fertilidade dos cereais e do gado leiteiro, e patrona dos bordados”. É isso que se explica num painel colocado junto à igreja – que, na ausência de um guia ou cicerone no local, serviu de introdução à mesma.

As informações prosseguem com a explicação de que, apesar dos historiadores sugerirem que Lamaria está ligada a um culto pagão, é nos dias de hoje representada por Santa Maria (ao ponto de, na língua Svan, “Lamaria” significar, precisamente, “Santa Maria”).

Entrei depois na capela e, tal como haveria de verificar na Igreja de Laghami, em Mestia, também em Ushguli encontrei frescos em relativo bom estado de conservação (ainda para mais tendo em conta a sua idade). A capela era pequena e rústica, mas muito interessante.

À saída, vi uns pequenos frascos de mel com um aspeto maravilhoso à venda na igreja. É raro fazer compras em viagem, mas àquele mel caseiro e natural não resisti. Era verdadeiramente delicioso.

O que ver em Ushguli: visitar igreja Jgrag
Pormenor decorativo da porta da pequena Igreja Jgrag, em Ushguli

Afastei-me do complexo e, na companhia de um sol convidativo, sentei-me no relvado da colina com a aldeia de Ushguli diante dos meus olhos. Um deleite!

Por essa altura, era tempo de procurar um restaurante para reconfortar o estômago. Desci à aldeia, admirei de caminho a porta da pequena Igreja Jgrag (fechada a cadeado) e fui procurar um espaço onde comer em Ushguli. A escolha acabou por recair no Koshki Cafe. Havia alguns pratos tradicionais bem confecionados – como o inevitável khachapuri e sopa de cogumelos, que já provara noutros destinos da Geórgia.

Após o almoço, a ideia era passar a tarde a explorar Ushguli e a contígua aldeia de Chazhashi.

Torre Tamar (Supra)

Torre Tamar (Supra), Chazhashi

Atravessei toda a aldeia de Ushguli, regressando à ponte sobre o Rio Inguri onde o taxista me tinha deixado pela manhã, e dirigi-me à vizinha Chazhashi. É lá que se encontra a maioria das ímpares torres defensivas da região, que a UNESCO protege.

Antes de descer ao coração de Chazhashi, aproveitei para ver de perto a torre que resta da chamada Supra, ou “ponto de encontro” na língua Svan. Trata-se do local onde a população se reunia, para discutir e tomar decisões importantes para a comunidade, composto por uma igreja e quatro torres, das quais resiste apenas uma – que fui visitar pelo exterior.

Chazhashi

Chazhashi, Svaneti
Núcleo urbano da aldeia de Chazhashi, vizinha de Ushguli, com as típicas torres defensivas protegidas pela UNESCO

Prossegui então para o núcleo urbano de Chazhashi, onde, juntamente com várias torres em ruínas, notei várias outras que tinham recuperado a altivez e imponência de outrora. E que privilégio cirandar por aquelas ruelas!

Pretendia fazê-lo por algum tempo, quiçá conversar com os moradores resistentes, mas os deuses do clima tinham outros planos: chuva, muita chuva, que me obrigou a interromper a caminhada!

Regressei a Ushguli e refugiei-me no Café Bar Enguri, localizado junto ao rio, onde encontrei duas dezenas de caminheiros que, suponho, deveriam estar a terminar o trekking Mestia – Ushguli ou, então, a regressar de um passeio até ao glaciar mais próximo.

Guesthouse Ushguli
Pormenor arquitetónico de uma guesthouse em Ushguli

Seja como for, o ambiente estava demasiado movimentado e barulhento, coisa que não estava à espera de encontrar na pacata Ushguli. Felizmente, fora do Enguri tudo prosseguia tranquilo; até porque pouco depois a maioria deslocou-se para os carros e abandonou Ushguli.

Para os poucos que ficaram, o sol não voltou a brilhar. Recolhi à guesthouse, jantei por lá (muitíssimo bem!), e fiquei a saber fruto da experiência que as noites nas montanhas de Svaneti são incrivelmente gélidas.

A manhã seguinte acordou soalheira e a alegria voltou a Ushguli. Mas, para cumprir o meu roteiro na Geórgia, tinha mesmo de regressar a Mestia.

Tudo somado, talvez não seja exagero afirmar que Svaneti é o melhor da Geórgia.

Guia prático

Como chegar

A partir de Mestia, são umas três horas de carro para percorrer os pouco mais de 43km que separam as duas povoações. Informe-se no posto de turismo de Mestia, na sua pousada ou diretamente nos locais onde se concentram marshrutkas e taxistas.

Onde ficar

Eu fiquei hospedado na Guesthouse Qaldea, uma casa familiar no topo da aldeia de Ushguli. Uma vez que as instalações são básicas, recomendo apenas para quem dispensa luxos e mordomias. O jantar que fiz lá (encomendado com antecedência) também valeu a pena.

Alternativamente, as guesthouses Maspindzeli, Mshvidoba e Angelina recebem elogios constantes dos seus hóspedes. Esta última – Guesthouse Angelina – é provavelmente a pousada familiar mais acolhedora de Ushguli.

Note que quase todos os alojamentos em Ushguli não são hotéis, mas sim pequenas pousadas familiares sem luxos. Veja bem as fotografias e descrições antes de reservar. Para conhecer todas as opções de hospedagem, use por favor o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Ushguli

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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