Mosteiro da Batalha, a pérola do Gótico em Portugal

Por Filipe Morato Gomes
Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha
Exterior do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha

Mandado erigir pelo rei D. João I na sequência da vitória sobre as tropas castelhanas na batalha de Aljubarrota, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, popularmente conhecido como Mosteiro da Batalha, é um tributo à independência de Portugal.

É considerado o ex-líbris da arquitetura gótica em Portugal (numa vertente conhecida como Gótico Flamejante), exibindo uma exuberância que contrasta de forma gritante com o despojamento do vizinho Mosteiro de Alcobaça.

Claustro Real
O Claustro Real visto a partir dos terraços do mosteiro

A esse respeito, o Turismo Centro de Portugal escreve o seguinte:

“Embora tenham já desaparecido dois claustros do século XIV, o Gótico está bem representado em pontos como a igreja, a sacristia e o Claustro Real. Na fase seguinte de construção do mosteiro, e já sob a liderança de um novo mestre (ou arquiteto, seguindo a designação atual), foi introduzido o Gótico Flamejante, ou seja, um estilo com detalhes mais rebuscados, que podem ser observados, por exemplo, em certos pontos das colunas e abóbadas. O Manuelino, tão típico da época dos Descobrimentos, é visível nas bandeiras das janelas, no lavabo do Claustro Real e no portal das Capelas Imperfeitas.”

Assim, da igreja à Capela do Fundador, passando pelo Claustro Real e pelas Capelas Imperfeitas, são vários os monumentos extraordinários do Mosteiro da Batalha, criando um conjunto magnífico que integra, aliás, a lista de Património Mundial da UNESCO em Portugal.

São 150 anos de construção “que testemunham um encontro único de influências arquitetónicas”. “O esplendor do Gótico e do Manuelino é avassalador na sua escala e surpreendente nos seus detalhes; sobretudo quando pauteado pelos complexos jogos de sombra, de luz e de cor, dos vitrais e nervuras rendilhadas”, acrescenta a literatura oficial.

Pormenor do Claustro Real
Pormenor do Claustro Real

Era esse complexo monástico, exemplar único do Gótico em Portugal e símbolo da vitória na batalha de Aljubarrota, que tinha muita curiosidade em visitar. Segue-se um pequeno guia com informações e dicas sobre o grandioso Mosteiro da Batalha.

Guia para visitar o Mosteiro da Batalha

Eis alguns dos pontos mais emblemáticos do Mosteiro da Batalha. Ou, pelo menos, os que me chamaram mais a atenção.

As referências históricas e descrições arquitetónicas, que requerem rigor e um vasto conhecimento especializado são, em grande parte, retiradas do site oficial do mosteiro.

Portal principal

Porta da Igreja do Mosteiro da Batalha
Tímpano da porta principal

O pórtico de entrada no Mosteiro da Batalha, obra do arquiteto irlandês David Huguet, é único na história da arte portuguesa. Exibe um conjunto escultórico grandioso, com um complexo programa iconográfico que inclui os Apóstolos, figuras angélicas, evangelistas a ler, e a representação de Cristo e da Coroação da Virgem.

É impossível não reparar no minucioso trabalho escultórico – um prenúncio para o que iria encontrar no interior do mosteiro!

Igreja de Santa Maria da Vitória

Nace central da igreja da Batalha
Nave central da igreja

A igreja do Mosteiro da Batalha é absolutamente majestosa. Com mais de 30 metros de altura, a sensação de pequenez, assim que se cruza a porta de entrada, é bem real.

Trata-se de um efeito amplificado pelo denso conjunto de enormes colunas laterais que “formam um muro visual contínuo, acentuam o sentido ascensional do espaço”. Numa palavra, é um espaço brutal!

Capela do Fundador

Capela do Fundador, Mosteiro da Batalha
Vista da magnífica Capela do Fundador

Encostada à direita da fachada principal do mosteiro, a Capela do Fundador não estava prevista no plano inicial do Mosteiro da Batalha.

A sua construção dever-se-á à decisão de D. João I de ali edificar um panteão familiar – o primeiro panteão régio do país -, tendo cabido ao mestre Huguet a responsabilidade do seu desenho e construção.

Pela minha parte, e para além do assombro arquitetónico, não pude deixar de reparar nos magistrais jogos de luzes da Capela do Fundador.

Túmulo de D. João I e D. Filipa de Lencastre

Túmulo duplo de D. João I e D. Filipa de Lencastre
Túmulo duplo do rei D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre

De planta quadrangular, o centro octogonal é coberto com uma complexa abóbada estrelada que, na interpretação dos historiadores, constitui um “autêntico dossel glorificador” do rei D. João I (que se fez representar revestido de uma armadura completa) e da rainha D. Filipa de Lencastre”.

Sobre a tampa da grandiosa arca tumular, é possível observar as figuras do casal régio de mãos dadas. E, na lateral, existem inscrições em latim que “resumem os seus méritos e ações”.

Claustro Real

Claustro Real do Mosteiro da Batalha
Vista do Claustro Real

Absolutamente deslumbrante, o Claustro Real do Mosteiro da Batalha é tido como “um dos claustros mais bem conseguidos de toda a arquitetura portuguesa, pela harmonia das proporções e pela sua grande elegância”.

Casa do Capítulo

Casa do Capítulo
Entrada para a Casa do Capítulo

A meio da galeria nascente do Claustro Real, rasga-se a porta de entrada para a Casa do Capítulo, um vasto espaço quadrangular coberto com uma impressionante abóbada estrelada sem qualquer apoio central, saída do génio de Huguet.

Depois da igreja, era a dependência de maior relevo na vivência diária dos frades dominicanos, que ali se reuniam para escutar e refletir os diversos capítulos da regra monástica e para discutir assuntos relevantes do seu quotidiano.

Para o visitante, não menos relevante é o facto da grande janela da Casa do Capítulo acolher os mais bem conservados vitrais primitivos de todo o Mosteiro da Batalha. Datam do século XVI, e exibem um tríptico de imagens representativas da Paixão de Cristo.

Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha

O que ver no Mosteiro da Batalha: Capelas Imperfeitas
O magnífico portal das Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha

Por detrás da cabeceira da igreja, no alinhamento da capela-mor, situa-se o Panteão de D. Duarte, vulgarmente conhecido como Capelas Imperfeitas (por estarem inacabadas). É um dos grandes atrativos do Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

A construção do Panteão, por iniciativa do rei D. Duarte, ter-se-á iniciado durante o primeiro ano do seu reinado (1434). Infelizmente, a sua morte, três anos depois, e a do próprio arquiteto Huguet, no ano seguinte, inviabilizaram a conclusão da nova capela funerária.

Não há palavras para transmitir a sensação de insignificância perante tamanha obra. É um continuo levantar do pescoço a exclamar wow, desde o momento em que o portal manuelino aparece diante dos olhos!

Túmulo de D. Duarte e D. Leonor

Túmulo de D. Duarte e D. Leonor
O comovente túmulo duplo de D. Duarte e D. Leonor

É nas Capelas Imperfeitas que se encontra, pois, o túmulo duplo de D. Duarte e D. Leonor, naquilo que a literatura oficial classifica como “um reencontro talvez definitivo com a História”.

Para o túmulo, D. Duarte copiou muito de perto o modelo adotado pelo rei D. João I, seu pai.

Terraços do Mosteiro da Batalha

Mosteiro da Batalha
Terraços do Mosteiro da Batalha

Subindo a estreita escadaria das Capelas Imperfeitas até à cobertura do mosteiro, dei comigo tendo a possibilidade de ver o Mosteiro da Batalha de um ângulo mais aberto; de apreciar toda a magnitude arquitetónica do edifício – incluindo o Claustro Real -; e de atentar aos pormenores dos pináculos.

Adiante, avistei o chamado Coruchéu da Cegonha, uma construção pontiaguda, em forma de cone ou flecha, incrivelmente belo.

Coruchéu da Cegonha
Coruchéu da Cegonha do Mosteiro de Santa Maria da Vitória

Em resumo, estes foram os elementos mais marcantes da minha visita ao Mosteiro da Batalha. Tudo somado, não tenho dúvidas de que o monumento está entre os mais extraordinários que já visitei em Portugal.

Veja também um artigo sobre a rota do Património no Centro de Portugal.

Guia prático

Quando visitar a Batalha

Em teoria, pode visitar a Batalha durante todo o ano, mas talvez a primavera e o outono sejam as épocas mais bonitas. De resto, caso opte por fazer uma escapadinha à Batalha durante o verão, tenha em mente que as temperaturas podem ser muito altas, especialmente ao início da tarde. Se possível, evite os fins de semana.

Como visitar o Mosteiro da Batalha (localização, horários e preços)

O Mosteiro da Batalha fica no coração da cidade, pelo que não há como se enganar. Note que só é possível visitar os terraços no âmbito de uma visita guiada. Informe-se antecipadamente junto dos responsáveis do mosteiro sobre essa possibilidade.

Horários

No que toca aos horários, o monumento está aberto todos os dias das 9:00 às 18:00 entre 16 de outubro e 31 de março; fechando meia hora mais tarde nos restantes meses. A bilheteira fecha 30 minutos antes. O Mosteiro da Batalha encerra ao público nos dias 1 de janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de dezembro.

Preços

A entrada no Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha) custa 6€ por pessoa. Existe um ingresso combinado chamado Bilhete Património Mundial, que permite o acesso ao Convento de Cristo, ao Mosteiro de Alcobaça e ao Mosteiro da Batalha por 15€; é válido por 7 dias. Há descontos para famílias. Aos domingos e feriados (até às 14:00), a visita ao Mosteiro da Batalha é gratuita para todos os residentes em território nacional.

Tendo tempo, aproveite para visitar também o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, localizado nas proximidades do mosteiro.

Excursão à Batalha a partir de Lisboa

Caso prefira visitar o Mosteiro da Batalha a partir de Lisboa numa excursão organizada, veja o programa De Lisboa: Excursão a Fátima, Batalha, Alcobaça e Óbidos na GetYourGuide.

Onde ficar na Batalha

Boa parte dos visitantes acaba por não ficar hospedado na Batalha; o que, na verdade, é uma pena, já que a cidade tem excelentes unidades hoteleiras a preço justo.

Entre elas, recomendo sem reservas os hotéis Lis Batalha Mestre Afonso Domingues e Villa Batalha (ambos de quatro estrelas); ou o Hotel Casa do Outeiro (três estrelas). Caso prefira um estúdio, dificilmente encontrará um melhor localizado do que os do Mosteiro View – o nome diz tudo!

Fora da cidade, em ambiente rural, a charmosa The Olive Hill Guesthouse, no lugar de Brancas, é uma opção praticamente imbatível.

Como vê, não faltam bons hotéis na Batalha, pelo que, caso estes locais não lhe agradem (ou não tenham disponibilidade), pode pesquisar alternativas de qualidade usando o link abaixo.

Pesquisar hotéis na Batalha

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

3 comentários em “Mosteiro da Batalha, a pérola do Gótico em Portugal”

  1. Quero muito conhecer o Mosteiro da Batalha. Agradeço o relato detalhado e convidativo. Abraços.

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  2. Estive no mosteiro de Batalha no ano passado e adorei, ler seu artigo foi reviver a visita que foi maravilhosa.

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  3. Amei o artigo, agora sei um pouco mais do que me espera a visita em Batalha. Obrigado.

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