A região Centro de Portugal é riquíssima em património arquitetónico de grande relevo histórico. A não mais de hora e meia de viagem entre si, Alcobaça, Batalha, Coimbra e Tomar formam um quarteto de luxo no Centro de Portugal.
Assim, do Mosteiro da Batalha ao Mosteiro de Alcobaça, passando pelo Convento de Cristo, em Tomar, e pela Universidade de Coimbra – Alta e Sofia, eis um roteiro no Centro de Portugal que passa pelos quatro fantásticos lugares classificados pela UNESCO como Património Mundial.
Trata-se de um itinerário perfeito para fazer em três dias intensos. Na verdade, já aqui sugeri um roteiro em Portugal, de Lisboa ao Porto, que, em sete dias de viagem, explora alguns destes monumentos do Centro de Portugal. Mas não com o detalhe deste roteiro. Vamos a isso.
Roteiro pelo Património do Centro de Portugal
Dia 1: COIMBRA
Dia totalmente dedicado a visitar Coimbra, com ênfase na zona histórica da cidade protegida pela UNESCO e oficialmente denominada Universidade de Coimbra – Alta e Sofia. Não vi tudo o que gostaria, é certo; mas um dia bem preenchido já dá para ficar com uma boa impressão da cidade.
Universidade de Coimbra
Antes de mais, referência óbvia para a Universidade de Coimbra, onde se localiza, entre outras coisas, uma das bibliotecas mais extraordinárias que já tive oportunidade de visitar.
Falo, naturalmente, da Biblioteca Joanina, localizada no Paço das Escolas, e que deve o seu nome ao rei D. João V – tido como um grande patrono da cultura, da ciência e das artes -, que a mandou erigir em 1717 para substituir a antiga Casa da Livraria Universitária.
A biblioteca foi construída sobre uma prisão medieval, posteriormente utilizada como prisão académica; e é um espaço, a todos os títulos, sublime. No seu interior existem cerca de 60 mil volumes, datados do século XVI ao século XVIII – que, ainda hoje, podem ser consultados. Era um dos lugares que mais queria visitar ao longo deste roteiro no Centro de Portugal.
Toda a região denominada por Universidade de Coimbra – Alta e Sofia está classificada e integra a lista de Património UNESCO em Portugal; e é um deleite para os sentidos.
Referência, por exemplo, à emblemática Porta Férrea; à Torre da Universidade (cuja visita não foi permitida devido às restrições por causa da pandemia); ao Museu Nacional Machado de Castro; às Escadas Monumentais; à Igreja de Santa Cruz; à Sé Velha de Coimbra; à Rua Quebra Costas (passando pela estátua Tricana de Coimbra, um tributo à mulher coimbrã); à histórica Porta de Barbacã; e ainda a uma ou outra República de estudantes, parte fundamental da vivência académica de Coimbra.
Baixa de Coimbra / Rio Mondego
Mais para o final da tarde, desci até à Baixa de Coimbra, atravessei o rio Mondego e fiquei a contemplar o casario iluminado pelas cores quentes do entardecer. Confesso que mal dei pelo tempo passar, de tal forma que, quando olhei para o relógio, era hora de rumar à cervejaria Praxis para um merecido jantar.
Dormida em COIMBRA: hotel Vila Galé Coimbra.
Dia 2: TOMAR
De manhã cedo, rumei à cidade de Tomar para visitar o Convento de Cristo e a vizinha Mata Nacional dos Sete Montes; conhecer o centro histórico da cidade; e ainda explorar outro património histórico menos conhecido na região.
E assim, uma vez chegado a Tomar, fui direto ao Convento de Cristo, ex-líbris da cidade dos Templários.
Convento de Cristo
O Convento de Cristo é o nome pelo qual é geralmente conhecido o conjunto monumental formado pelo Castelo Templário de Tomar, o Convento da Ordem de Cristo, a atual Mata dos Sete Montes, a Ermida da Imaculada Conceição e o Aqueduto dos Pegões Altos.
Pérola maior da cidade de Tomar, o convento alberga alguns dos mais importantes testemunhos da história da arquitetura portuguesa. São disso exemplo a Charola românica da igreja, o Claustro de D. João III e a famosa Janela Manuelina da Sala do Capítulo. É absolutamente imperdível em qualquer roteiro pelo Centro de Portugal – ainda mais se dedicado ao Património! Aliás, se só puder visitar um local em Tomar, que seja o Convento de Cristo.
Nas imediações do convento fica a Mata Nacional dos Sete Montes, que fui conhecer de seguida.
Mata Nacional dos Sete Montes
Situada no centro de Tomar, a Mata Nacional dos Sete Montes tem quase 40 hectares e é o principal parque da cidade. Também conhecida como Cerca do Convento, a mata fazia a ligação ao castelo e era usada pela Ordem de Cristo como área de cultivo e recolhimento.
Para além dos jardins centrais, é possível encontrar ciprestes, olaias, carvalhos e oliveiras seculares, por entre os quais se destacam trilhos para caminhar ou praticar desporto. Mas não é tudo.
É entre esse arvoredo frondoso transformado em pulmão de Tomar que se encontra a Charolinha, “um pequeno e enigmático templo de pedra, esculpido à imagem das torres-lanterna do Convento de Cristo e rodeado de um tanque circular que parece isolá-lo do mundo”. As palavras fazem parte do folheto de um belo Roteiro pelo Património Mundial do Centro, que recomendo entusiasticamente.
Tudo somado, a Mata Nacional dos Sete Montes é um excelente local para visitar em Tomar. Tanto para gastar energias, praticando desporto, como para as retemperar após deambular pela cidade.
Centro histórico de Tomar
De tarde, aproveitei para passear pelo centro de Tomar e conhecer outros locais cuja visita recomendo. Desde logo, o Complexo Cultural da Levada de Tomar, a Igreja de São João Baptista, a Sinagoga de Tomar e a Capela de Santa Iria. Não falta, aliás, o que fazer em Tomar – assim o visitante tenha tempo.
Pela minha parte, e após um merecido descanso no excelente hotel (estava um calor abrasador!), fui ainda visitar o Aqueduto dos Pegões Altos, nos arredores da cidade.
Aqueduto dos Pegões Altos
O Aqueduto do Convento de Cristo, mais conhecido como Aqueduto de Pegões (ou Aqueduto dos Pegões Altos), foi projetado no início do reinado de Filipe I de Portugal, em finais do século XVI, com o objetivo de melhorar o abastecimento de água do Convento de Cristo.
Segundo a Direção-Geral do Património Cultural de Portugal, o aqueduto “estende-se ao longo de cerca de seis quilómetros, sendo composto por um total de 180 arcos de volta perfeita – que, na zona de maior declive, sobre o vale de Pegões, assentam num conjunto de 16 arcos quebrados”.
É uma estrutura incrível; e, visitá-la foi a oportunidade perfeita para ficar a conhecer um pouco mais do restante património histórico da cidade dos templários – naturalmente ofuscado pela presença do majestoso Convento de Cristo. Recomendo vivamente!
De regresso a Tomar, tempo ainda para um jantar medieval no restaurante Taverna Antíqua; antes do merecido descanso num dos melhores hotéis da cidade.
Dormida em TOMAR: Thomar Boutique Hotel.
Dia 3: BATALHA E ALCOBAÇA
Dia muito intenso, só possível de completar porque comecei bem cedo e viajei no final da primavera – altura em que os dias são longos e ensolarados. A primeira paragem foi no Ecoparque Sensorial Pia do Urso, já no concelho da Batalha.
Pia do Urso
O Ecoparque Sensorial da Pia do Urso é um espaço rural que foi requalificado para o turismo, localizado no lugar da Pia do Urso, Batalha. As casas antigas foram reconstruídas, tendo-se implantado um parque temático ecológico, com um percurso pedestre “sensorial” (adaptado a invisuais), composto por várias estações interativas e lúdicas.
O local conta com um centro de acolhimento e interpretação, lojas, cafés e restaurantes, um parque de estacionamento, um parque de merendas e um parque infantil para os mais pequenos.
Não menos importante, na Pia do Urso foi criado o Centro de BTT da Batalha, tido como o primeiro de Portugal a ser reconhecido pela Federação Portuguesa de Ciclismo. Talvez por isso, no dia em que visitei a Pia do Urso cruzei-me com dezenas de ciclistas junto ao ecoparque.
Depois de uma breve caminhada pelos trilhos da Pia do Urso, prossegui viagem em direção à Batalha.
Mosteiro da Batalha
Mandado erigir pelo rei D. João I na sequência da vitória sobre as tropas castelhanas na batalha de Aljubarrota, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, popularmente conhecido como Mosteiro da Batalha, é um tributo à independência de Portugal. E, sem qualquer dúvida, um dos monumentos mais impactantes de qualquer roteiro pelo Centro de Portugal focado no património edificado.
O Mosteiro da Batalha é considerado o ex-líbris da arquitetura gótica em Portugal (numa vertente conhecida como Gótico Flamejante), e exibe uma exuberância que contrasta de forma gritante com o despojamento do vizinho Mosteiro de Alcobaça – que iria visitar mais tarde.
Vale a pena dedicar-lhe um par de horas, antes de prosseguir para outras paragens. No meu caso, fui ainda visitar o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha.
Depois de almoço, prossegui viagem até à cidade de Alcobaça, com o objetivo principal de visitar o Real Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Mosteiro de Alcobaça
É natural que visitar o Mosteiro de Alcobaça esteja no topo da lista de coisas a fazer no Centro de Portugal. E por bons motivos. Tido como o “primeiro monumento integralmente gótico do país”, o conjunto monumental do Real Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça constitui um dos mais notáveis e bem conservados exemplos da arquitetura e filosofia espacial Cisterciense.
O local escolhido para a sua construção tinha elevado potencial agrícola, algo tido como fundamental para os monges da Ordem de Cister. Foi construída uma levada desde o rio Alcoa, e o território envolvente foi “polvilhado de granjas, vinhas, pomares e pântanos reconvertidos em terrenos aráveis”.
Lá dentro, não falta o que visitar com atenção. Das dependências medievais – Sala do Capítulo, Refeitório, Sala dos Monges e Dormitório – ao Claustro do Silêncio, mandado construir por D. Dinis, passando pela Sacristia Nova e pelos túmulos de D. Pedro e D. Inês de Castro. Numa palavra, imperdível!
Centro de Alcobaça
Estando em Alcobaça, seria uma pena não aproveitar para deambular pelo centro da cidade. Foi o que fiz.
Entre outras coisas, pode conhecer o chamado Percurso Pedro e Inês em Cerâmica de Alcobaça, uma intervenção urbana que presta homenagem à cerâmica artística da cidade; o Jardim do Amor, espaço urbano requalificado e que evoca, igualmente, a história de Pedro e Inês; e, porque não, o Museu Raul da Bernarda, dedicado à louça artística de Alcobaça.
Acabei por não ir conhecer esse museu… mas havia outro museu excelente no meu roteiro.
Museu do Vinho de Alcobaça
Cheguei ao Museu do Vinho de Alcobaça sem qualquer expectativa de que iria ver algo interessante. Mas, surpreendentemente, saí de lá com a convicção de ter visitado um dos melhores museus ligados ao vinho existentes em Portugal.
A autarquia alcobacense garante que o Museu do Vinho de Alcobaça dispõe do “acervo museológico mais completo do país na temática vitivinícola”, com mais de 10 000 objetos relacionados com o processo de produção do vinho.
Seja como for, foi um verdadeiro prazer deambular pela antiga adega da Quinta do Olival Fechado, datada do século XIX e criada pelo ilustre alcobacense José Eduardo Raposo Magalhães. Foi ele um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento da vitivinicultura na região de Alcobaça, aplicando na construção da adega a tecnologia mais avançada disponível à época, facto evidente na racionalidade dos espaços, na qualidade dos materiais e até na preocupação com as condições de higiene.
Recomendo vivamente a todos os que se interessam pela cultura vinícola de Portugal.
Mosteiro de Coz
Porventura a surpresa maior do meu roteiro pelo Centro de Portugal focado no Património, visitar o Mosteiro de Coz enriqueceu um dia já de si recheado de locais de grande relevo histórico.
No século XVI, o Mosteiro de Santa Maria de Coz tornou-se num dos mais ricos mosteiros femininos da Ordem de Cister em Portugal. Com o seu esplendor artístico barroco, a igreja testemunha a riqueza dessa comunidade. Foi tudo isso que fui visitar, aproveitando também para conhecer o incrível projeto Coz’ART (ART significa “Artesanato Ruralidade Turismo”), onde se revitalizou a ancestral arte de trabalhar o junco, apostando na produção artesanal das tradicionais Cestas de Coz com recurso a inovação e novas interpretações do design tradicional.
Foi a forma perfeita de terminar uma rota pelo Património do Centro de Portugal recheada de atrativos e monumentalidade. Era hora de regressar a casa, de alma cheia e olhos a transbordar de belas imagens.
Dormida: Por limitação de tempo, não pernoitei na região. Mas, caso tenha disponibilidade, uma boa ideia será prosseguir para o litoral e dormir na Nazaré.
Pode, naturalmente, complementar este roteiro com uma ida a Fátima, que fica nas proximidades. Neste caso, recomendo sem reservas o Luz Houses Charming Hotel, em Fátima.
Mapa do roteiro no Centro de Portugal
Guia prático
Quando viajar pelo Centro de Portugal
Em teoria, pode visitar a região Centro de Portugal durante todo o ano, mas talvez a primavera e o outono sejam as épocas mais agradáveis. Caso queira juntar a este roteiro uma ida à praia, opte pelos meses de maio a julho (ou então em setembro).
Onde ficar
No contexto deste roteiro de três dias, é preferível ficar a dormir em locais diferentes em cada noite. Dessa forma evitará fazer quilómetros desnecessários.
Como pode ler acima, eu fiquei na primeira noite no Vila Galé, em Coimbra (preferia ter ficado no centro histórico); e a segunda noite no excelente Thomar Boutique Hotel, em Tomar. Dito isto, há hotéis bons e baratos nas quatro localidades referidas – pesquise usando o link abaixo.
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