Abha, arte nas montanhas (e casas muito originais)

Quando decidi visitar Abha, a motivação foi mais pela possibilidade de visitar Rijal Almaa e a região montanhosa perto do Iémen do que pela cidade propriamente dita. E, na verdade, não se pode dizer que Abha seja uma das mais emblemáticas atrações turísticas da Arábia Saudita. Longe disso.

Ainda assim, Abha é uma excelente base para explorar as aldeias da região; e também para combinar com uma jornada até às cidades de Najran ou Jizan – esta última para visitar as Ilhas Farasan. Mas não só.

No interior da malha urbana há pelo menos duas preciosidades que vale a pena conhecer. Falo do hub artístico Al-Muftaha Art Village e da arquitetura original que sobrevive no bairro histórico de Al-Bastah. Venha daí.

O que fazer em Abha (e arredores)

Explorar Al-Muftaha Art Village

Uma das grandes surpresas quando estava a planear o que fazer em Abha foi encontrar um bairro com paredes pintadas com graffiti e totalmente dedicado às artes. Foi o meu primeiro contacto com a chamada Al-Muftaha Art Village. Naturalmente, tinha de o ir visitar.

Trata-se, na verdade, de uma espécie de núcleo criativo da cidade, onde se concentram inúmeras galerias de arte e estúdios de artistas, nomeadamente pintores.

Acabei por ir a Al-Muftaha mais do que uma vez mas, na verdade, nunca a encontrei em rebuliço. De cada vez, apenas um punhado de galerias e estúdios estavam de portas abertas, deixando-me com um sentimento ligeiramente agridoce.

Por um lado, pelo significado de haver tamanho hub criativo num país como a Arábia Saudita; por outro, por ter pena de não ter tido oportunidade de ver com mais calma a arte criada, nem ter encontrado aquele espaço cheio de gente jovem e criativa.

Dito isto, é seguramente dos locais mais promissores de Abha. A visitar, sem qualquer dúvida. Talvez tenha mais sorte.

Visitar Al-Bastah (bairro histórico de Abha)

Outrora uma vila nos arredores de Abha, Al-Bastah é agora um dos dois bairros históricos onde sobrevivem algumas das tradicionais casas em forma de torre.

As casas, altas e com pequenas janelas quadradas, têm umas filas de xisto horizontais que ajudam a proteger as paredes – construídas usando pedras, barro, ardósia e madeira – das chuvas. Acho que nunca tinha visto arquitetura tão distintiva como esta.

Ora, apesar de o mau estado de conservação ser notório na maioria dos edifícios, algumas das casas estão a ser recuperadas para serem transformadas em museus e, assim, preservar tão precioso legado arquitetónico. Imperdível!

Café Black Drop

Não se pode dizer que o expresso que tomei fosse agradável a um palato habituado a cafés menos amargos; mas, como gosto de conhecer cafés, também em Abha procurei visitar pelo menos um dos cafés mais modernos da cidade.

A escolha recaiu no pequeno Black Drop e, apesar da acidez exagerada do expresso, não me arrependo de ter experimentado. Fica a dica – e o aviso!

Visitar Rijal Almaa

Encravada na região montanhosa de Asir, no Sul da Arábia Saudita, bem perto da fronteira com o Iémen, a aldeia histórica de Rijal Almaa é uma preciosidade visual.

A aldeia de xisto foi, em tempos, um ponto nevrálgico das rotas comerciais da região, e as influências iemenitas são evidentes. Desde logo, na arquitetura. Esse facto é imediatamente visível ao olhar para as seis dezenas de casas de Rijal Almaa – ou fortes, como os habitantes locais lhes preferem chamar -, integralmente construídas da forma tradicional, com recurso a pedra, barro e madeira.

É, sem qualquer dúvida, um dos principais motivos para visitar a região; e, por isso, presença obrigatória em qualquer lista com o que fazer em Abha. Para mim, foi sem dúvida um dos pontos altos do meu roteiro de viagem na Arábia Saudita.

Visitar a aldeia arqueológica de Al Kalhaf

Soube da existência de Al Kalhaf de forma surpreendente. Vagueava pelo Al-Muftaha Art Village, em Abha, quando entrei numa galeria de arte e um dos quadros prendeu a minha atenção. Retratava uma aldeia que me pareceu incrivelmente fotogénica, com casas em tudo semelhantes às de Al-Bastah, o bairro histórico de Abha; mas muito mais bem conservadas.

Sem hesitar, perguntei ao artista que lugar estava retratado e ele respondeu Al Kalhaf. Na hora, decidi que tinha de ir conhecer.

Al Kalhaf fica a mais de 90 quilómetros de Abha, mas há exemplares da arquitetura regional em tão bom estado (boa parte deles recuperados) que tenho por certo que a viagem vale mesmo a pena. Pelo menos para quem aprecia arquitetura. É o meu caso.

Na aldeia, caminhei pelo meio das casas, muitas delas em ruínas mas outras com o glamour de outrora.

Descer de teleférico até Habala

Localizada sensivelmente a 60 quilómetros de Abha, a aldeia de Habala fica nas profundezas de um vale nas montanhas de Asir, atualmente acessível através de um teleférico.

Conhecidos pela sua bravura e produtores de khat, uma droga estimulante, os homens da região usavam como adorno – e usam, ainda hoje! – uma colorida coroa de flores na cabeça. São por isso conhecidos como flower men.

Infelizmente, desde que nos anos 1990 os seus habitantes foram forçados a abandonar as suas casas que a aldeia se encontra desabitada e em mau estado de conservação. Gostava de ter descido ao vale de Habala mas, sendo inverno, o teleférico estava encerrado. Tive, por isso, de me contentar com as vistas magníficas sobre o vale, a partir do topo do planalto!

Estas são apenas algumas dicas sobre o que fazer em Abha, com a certeza de que, mesmo sem ser o mais atrativo do país, é uma boa base para explorar a região.