Um cruzeiro de dhow pelo fiorde Khor Sham, a que chamam de “Noruega das Arábias”, é a atividade mais atraente entre as coisas que se podem fazer em Khasab. Foi isso que me levou a Musandam.
Mal cheguei a Khasab, organizei com Eldho, meu anfitrião por duas noites, o passeio pelo fiorde a bordo de um dhow, os tradicionais veleiros usados para transportar “itens pesados, como frutas, água doce ou outras mercadorias” ao longo de regiões como a costa da Arábia Oriental, o Iémen, a Índia e o leste de África.
Optei por fazer um passeio no fiorde Khor Sham com a duração de um dia, para aproveitar ao máximo a oportunidade de conhecer a principal atração da Península de Musandam. Na manhã seguinte, estava no porto de Khasab pronto para entrar num dhow da Musandam Sea Adventure.
Cruzeiro de dhow em Khasab
Pouco passava das 10:00 da manhã quando o dhow Abir al Khaleeg zarpou do porto de Khasab. O egípcio Emad era o guia de serviço e tratou de dar as boas-vindas aos presentes. Para além de mim, quatro turistas brasileiros, quatro franceses com crianças e um casal de alemães compunham o grupo a bordo do barco tradicional de Omã.
Emad fez uma pequena introdução, salientando o que nos esperava durante o cruzeiro de dhow: ver muitos golfinhos; vislumbrar um punhado de pequenas aldeias omanitas (à distância); nadar e fazer snorkelling em duas ocasiões (na Telegraph Island e na Seebi Island); apreciar a paisagem do fiorde; e relaxar.
Esse era o plano.
Apesar de ser de fibra de vidro e não de madeira, como antigamente, o barco onde fiz o cruzeiro era muito bonito. Hoje em dia, apenas se fabricam barcos dhow em Sur; mas nenhum vai para Khasab (seguem quase todos para o Qatar).
O convés estava coberto de tapetes e almofadas bem confortáveis e, não fora a paisagem deslumbrante, desconfio que não seria difícil adormecer ali mesmo, embalado pela ondulação suave das águas no interior do fiorde Khor Sham.
A primeira paragem, para grande excitação dos petizes a bordo, foi para ver golfinhos. O barco diminuiu a velocidade junto a um grupo de golfinhos, um pouco antes da aldeia de Nadifi; e, quando voltou a ligar os motores e a avançar fiorde adentro, foi acompanhado por uma dúzia de golfinhos de ambos os lados. Foi lindo (por mais vezes que veja golfinhos, é algo sempre enternecedor!).
Pouco depois, chegávamos à aldeia de Qanaha. Emad explicou que na aldeia não vivem mais de 50 pessoas, boa parte delas pescadores (nas margens vêem-se pequenos barcos de pesca tradicional, chamados batil); e que em Qanaha ainda é possível ver as antigas casas de pedra muito comuns na região.
Aparentemente, o Governo de Omã dá alguns incentivos para que as famílias não abandonem estas aldeias tradicionais. Para além de outros benefícios, a água é gratuita (transportada por barcos e armazenada em tanques na aldeia); a eletricidade tem grandes descontos; e há transporte gratuito para as crianças irem à escola em Khasab. Seja como for, é uma vida de algum isolamento, já que o único meio de acesso é o mar, e a cidade principal, Khasab, fica a pelo menos um par de horas num barco a remos.
Infelizmente, durante o passeio de barco nos fiordes de Musandam não é permitido atracar nas aldeias. Mas o motivo é não só compreensível como altamente defensável. Porventura por experiências negativas no passado, os habitantes não vêem com bons olhos a presença de turistas. Fiquei com pena, mas talvez seja melhor assim.
Adiante, nova paragem numa aldeia dos fiordes: Maqlab. Olhando para as margens, não foi nada fácil vislumbrar a aldeia e, não fora a indicação de Emad, talvez ainda hoje estivesse a perscrutar as encostas à sua procura. Na verdade, é apenas uma dezena de casas, mas com a particularidade de ali ser o acesso mais rápido ao adjacente fiorde Habalayn, cruzando as montanhas atrás de Maqlab (a alternativa seria uma “viagem de sete horas de barco desde Khasab”).
Tempo para snorkelling no fiorde
Com o calor a apertar, era altura do passeio de barco nos fiordes de Musandam rumar à chamada Telegraph Island, assim conhecida pelo facto do império Britânico ali ter instalado uma estação de comunicações telegráficas no século XIX.
A ilha não tem nada de especial para lá do simbolismo; mas foi nas suas proximidades que o barco dhow fundeou âncora para o primeiro banho de mar e snorkelling no fiorde. Os peixes não eram assim tantos mas a água estava inacreditavelmente quente!
Quando regressei ao barco estava tudo preparado para um almoço a bordo. Uma refeição de peixe teria sido mais condizente com o ambiente mas, em seu lugar, havia a omnipresente galinha, com arroz, para além de um estufado de vegetais, delicioso, e salada. Tudo muito saboroso, admito.
De estômago reforçado, o barco Abir Al Khaleeg navegou até ao final do fiorde. Avistei a aldeia Seebi lá ao fundo, antes do barco circundar a homónima ilha e fundear numa pequena baía de águas esverdeadas. Era tempo do último mergulho do dia.
No regresso, embalado pelas águas calmas do fiorde, julgo que cheguei a dormitar. Mas, à medida que o sol se ia aproximando do horizonte, a paisagem ia ficando mais misteriosa. Por momentos, o contraluz fez-me lembrar algumas fotos que tirei em Halong Bay, no Vietname.
Às tantas, Zaid, o velho capitão omanita aos comandos do barco dhow, de olhos sorridentes mas de poucas palavras, apontou para estibordo. Os golfinhos tinham-se juntado ao barco e fizeram-nos companhia por longos momentos, como que a celebrar o final de um dia extraordinário.
Guia prático
No post sobre o que fazer em Khasab tem mais dicas úteis para organizar a sua viagem à Península de Musandam, incluindo como chegar. Escrevi também um artigo específico sobre o visto de Omã.
Como organizar o passeio de barco em Khasab
Os passeios pelos fiordes de Musandam podem ter a duração de meio dia, com partida de Khasab por volta das 10:00 ou das 13:00 (15 rials); ou de “um dia”, com partida às 10:00 e regresso às 16:00 (20 rials).
Em teoria, basta chegar ao porto de Khasab e perguntar por um barco dhow que vá fazer o passeio; mas, pelo sim pelo não, especialmente ao fim de semana (sextas e sábados), talvez seja mais seguro reservar antecipadamente. O seu hotel em Khasab poderá ajudar nessa tarefa.
Eu fui com a agência Musandam Sea Adventure e recomendo vivamente. A tripulação era simpática, atenta e profissional; e o barco dhow era limpo, bonito e confortável (pareceu-me bem melhor que outros barcos que vi a fazer passeios nos fiordes de Musandam). A reserva foi feita diretamente pelo Eldho (telefone +968 9335 6053), responsável pelo local onde fiquei a dormir.
Onde ficar em Khasab
Não há muitos hotéis em Khasab, pelo que a escolha é limitada e os preços elevados para o que oferecem. Os hotéis mais recomendáveis são o Khasab Hotel, localizado perto do aeroporto, e o requintado Atana Musandam Resort, que fica junto ao porto (uma boa escolha caso o seu orçamento seja generoso). O hotel Diwam Al Amir foi-me também recomendado por um habitante local, como sendo um bom hotel de categoria média, mas a localização não me convenceu.
Pela minha parte, fiquei na Al Taif Villa, uma casa muito simples e mais barata, construída a pensar nas viagens de fim de semana dos árabes do Dubai. Fica um pouco afastada do centro, na zona do aeroporto; mas o problema foi ultrapassado pela inesgotável disponibilidade de Eldho, o indiano de Kerala que gere a propriedade e me levou no seu carro a todo o lado, sempre que eu precisava. Recomendo para quem dispensar luxos e quiser poupar dinheiro.
Veja todas as opções de alojamento em Khasab no link abaixo.
Por último, para quem procura luxo sem olhar a custos (cerca de 1.000€ por noite), o melhor hotel de Musandam fica no extremo oposto da península, na região de Dibba. Chama-se Six Senses Zighy Bay e as fotos falam por si.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Olá.
A semana passada fui ao Dubai e o último dia foi dedicado a passear de barco em Khasab. Foi um dia ótimo. Penso que tive sorte com as pessoas do barco (tripulantes e guia-este de Tunes). Quando apareceram os golfinhos tentaram que eles se aproximassem, enquanto outras pessoas que estavam no mesmo hotel foram noutro barco e não viram nenhum. Mergulhar na água a 23º, transparente e com os peixes a nadar ao nosso lado… apetece ficar para o dia seguinte. Vale mesmo a pena. Do Dubai até lá são cerca de 3 horas de viagem. No porto não há onde gastar dinheiro. Há lojas a caminho mas não para comprar recordações.