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Tajiquistão, no coração da Ásia

Por Ana Isabel Mineiro | Atualizado em 6 Ago 2017 | Viagens Ásia Tajiquistão 1 comentário
Tempo de leitura: 11 minutos

Fortaleza em Hissar, Tajiquistão
Fortaleza em Hissar, Tajiquistão

Apesar de ser o mais pequeno país da Ásia Central, o Tajiquistão é uma autêntica ilha em termos paisagísticos e culturais. Dos grandiosos montes Pamir à antiga Rota da Seda, adivinha-se que o futuro do país pode passar pelo turismo. Sejam bem-vindos neste roteiro de viagem ao Tajiquistão.

Partida de Dushanbe

Dushanbe é a capital, mas pouco nos diz sobre o país: a quantidade de jipes topo de gama que circulam pelas avenidas, os edifícios de estilo clássico europeu pintados de cores claras, as praças e rotundas com estátuas de heróis locais, os restaurantes internacionais e a última novidade, o Café Segafredo, moderno e assistido por funcionários com o tradicional avental comprido dos cafés franceses, tudo nos diz que estamos numa qualquer capital de um país que vive desafogado, talvez no Leste da Europa.

Kok Gumbaz (Cúpula Azul), Istaravshan
Kok Gumbaz (Cúpula Azul), Istaravshan

Nada indica que se trata do mais pobre dos pobres da Ásia Central, nem tão pouco que as únicas estradas alcatroadas se transformam em caminhos de cabra a pouco mais de cem quilómetros dali – mesmo a M34, que une a capital à segunda maior cidade, Khojand, é um desafio para qualquer carro normal e transforma o que poderia ser três ou quatro horas de viagem com paragens para apreciar a beleza dos montes Fan, numa gincana perigosa que dura seis a oito horas.

A capital apresenta-se como um lugar onde apetece flanar pelas ruas, percorrer a longuíssima Avenida Rudaki atentando nas fachadas das casas russas recuperadas depois da guerra civil, descobrindo o velho e o novo palácio presidencial, ambos no mesmo estilo novo-rico-soviético, ou não fosse o presidente Rahmonov alto-funcionário da nomenklatura do partido comunista soviético, eleito em 1999 sob acusações de manipulação dos resultados. Afastando-nos por uma rua paralela que sai da praça em frente à Ópera, acabamos por encontrar um dos bazares (mercados) da cidade, o Barakat.

E aí sim, estamos em plena Rota da Seda, num abundante mercado das Mil e Uma Noites cheio de mulheres de longos vestidos com reflexos brilhantes e lenços garridos na cabeça, os homens mais velhos com os casacos compridos e as botas de montar dos cavaleiros nómadas de antanho.

Os cheiros misturam-se, apesar da separação por zonas: às pirâmides de pêras vermelhas seguem-se as de romãs rosadas, uvas escuras de bagos inchados; mais à frente há bancas cobertas de rebuçados ordenados por sabor e pedras de açúcar colorido; as saladas prontas estão dispostas em tabuleiros; a seguir vem a secção dos legumes, depois os camiões de batatas, melancias e melões, descarregados em carrinhos-de-mão que se cruzam com os que trazem pilhas de pão dourado, que os vendedores põem a brilhar com a ajuda de um paninho húmido.

Fortaleza da época da Rota da Seda, em Wakhan
Fortaleza da época da Rota da Seda, em Wakhan

O fumo do carvão dos grelhadores de shashlik, as tradicionais espetadas de carne servidas a qualquer hora, começa a enevoar o bazar logo pela manhã. Massas, arroz e bolachas de um lado, frutos secos e cristalizados do outro, sabões, sabonetes e produtos de higiene a seguir, material escolar e depois bijutaria e brinquedos – não falta nada neste grande “centro comercial”, que nem sequer é o maior do país. Este teatro da abundância repete-se em cada cidade mas o mais importante situa-se em Khojand, o meu último destino no Tajiquistão, onde se produz dois terços da riqueza do país.

Antes de partir de Dushanbe já tinha vivido as contingências dos transportes tajiques, por isso não me espantei quando, algumas horas depois de sairmos, uma pedra mais agressiva furou o carter do veículo, que acabou por me depositar em Istaravshan ao cair da noite. Duas semanas antes tinha percorrido a estrada do Pamir num jipe de aluguer partilhado, sendo a outra hipótese a de arranjar boleia numa das raríssimas viaturas que por ali transitam, geralmente camiões de mercadorias.

Durante uns dez dias regalei-me com as magníficas paisagens dos Pamir, já cobertos de neve em Setembro, a passagem de dois colos acima dos quatro mil metros, a subida do “território de ovelhas” para o “território de iaques”. Depois entrámos no corredor do Wakhan, cujo rio marca a estreita fronteira com o Afeganistão: de novo o calor, gente atarefada nos campos. Mas uma vez abandonado o luxo do jipe ficámos à mercê dos transportes colectivos sai-quando-estiver-bem-cheio, que vão do último grito em 4×4 (poucos) às velhas carcaças deixadas para trás pelos russos, nas quais a viagem custa metade do preço e demora metade do tempo.

Para abreviar: a viagem entre Khorog e Dushanbe devia levar umas quinze horas mas demorámos dois dias. Pelo caminho ficaram três avarias e alguns descansos nos chaikhanas (casas-de-chá) de beira de estrada, que invariavelmente nos permitiam escolher entre pratinhos de carne e sopa de carne; só com muita sorte se conseguia um ovo estrelado ou uma salada de tomate e pepino. Depois da segunda avaria acabámos por dormir a meio do caminho, tendo os dez passageiros do nosso veículo procurado por conta própria locais adequados; eu acabei a partilhar com duas companheiras de viagem o pátio de uma casa próxima, onde fomos recebidas com bebidas gasosas e rebuçados ucranianos.

Mausoléu do Xeque Massal ad Din, Khojand
Mausoléu do Xeque Massal ad Din, em Khojand, Tajiquistão

A realidade é que estas demoras nos permitem ver mais de perto o país. Desligados da questão do tempo, os passageiros procuram com que se entreter e vencem a falta de língua comum para meter conversa. Este é o único país de língua persa da Ásia Central, mas meia-dúzia de palavras em russo ainda vão fazendo milagres.

E quando a fome aperta, todos tiram dos sacos aquilo que trazem e tudo é dividido irmãmente: o pacote de sumo passa de boca em boca, as pequenas maçãs do quintal têm de chegar para todos, assim como pedaços de lepyoshka (pão redondo russo) já ressequida. Para minha vergonha, vi-me obrigada a aceitar o que me davam, mas só trazia ração para um: duas maçãs, uma pequena sandes de queijo, uma barrita de cereais e um cantil de água.

É assim que se fica a saber muito do que não vem escrito nos guias: por exemplo, que um engenheiro ganha o correspondente a cem dólares, que uma viúva dificilmente volta a casar, que o alívio de estar em paz depois da guerra civil faz com que não se queixem muito da situação política. E até que, para a minoria ismaelita do país, o líder espiritual Agha Khan “é como Jesus”.

Passei um dia a descobrir Istaravshan, cidade que fica a uma meia hora de Khojand e um dos raros locais onde podemos encontrar madrassas (escolas corânicas) e mesquitas naquele estilo próprio da elegante Samarcanda – que apesar de ser tajique as contingências da história deixaram ficar no Uzbequistão -, com paredes lisas de tijolo e cúpulas verde-turquesa.

Quanto a Khojand, se é certo que foi fundada por Alexandre o Grande, também é verdade que não tem nenhum charme histórico que o testemunhe. Mas conserva uma estátua de Lenine com mais de vinte metros e uma paragem de autocarro decorada com uma gigantesca foice e martelo. E o bazar Panchshanbe, claro, frente a um complexo religioso que mistura épocas sem perder a grandiosidade. De antiga colónia persa, no ano 3000 a.C., a país independente da era pós-soviética, o Tajiquistão percorreu um longo caminho, construindo uma das mais interessantes identidades culturais da região. A descobrir o mais rapidamente possível.

Bazar de Istaravshan, Tajiquistão
Bazar de Istaravshan, Tajiquistão
Istaravshan
Vendedor de açúcar no bazar de Istaravshan
Montes Pamir
Montes Pamir

Guia prático

Este é um guia prático para viagens no Tajiquistão, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis da capital Dushanbe e sugestões de actividades no país.

Quando ir

A Ásia Central é o paradigma do clima continental: no pico do Inverno, de Dezembro a Fevereiro, o frio é intenso (nos montes Pamir as temperaturas podem descer até aos -45°); de Verão, o território fica insuportavelmente quente, com temperaturas bem acima dos 40°.

Como chegar ao Tajiquistão

Geralmente esta região é apenas abordada em algumas viagens organizadas que procuram seguir a antiga Rota da Seda. Para viajar de forma independente, a opção mais directa e barata será voar de Istambul para Dushanbe com a Turkish Airlines por cerca de 700€. Uma vez no Tajiquistão, os problemas de transporte ainda só começaram: não existem transportes públicos com hora de saída ou chegada; é preciso comparar preços, ver o estado dos veículos e esperar até que haja número suficiente de passageiros para seguir viagem. Ou alugar um veículo privado, comparando e discutindo preços, de preferência partilhando com outros que desejam seguir o mesmo caminho.

Onde ficar

Só há hotéis nas cidades maiores, mas no Sul e nos montes Pamir os viajantes podem ficar em casas de família. Em Dushanbe recomendaria o Hotel Vahksh, bem central, na Avenida Rudaki junto à Ópera, não pelo que é (asseado e antiquado) mas pelo que foi: com a sua fachada de casa colonial russa e os corredores largos e infindáveis, interrompidos por salas alcatifadas e despidas de móveis, é o retrato perfeito dos hotéis da era soviética. Um quarto duplo, com casa-de-banho e chuveiro quente, fica por 120 somanis (cerca de 20 euros).

Pesquisar hotéis em Dushanbe

Informações úteis

Bazar Barakat em Dushanbe, capital do Tajiquistão
Bazar Barakat em Dushanbe, capital do Tajiquistão

O Tajiquistão é o país mais pequeno da Ásia Central, fazendo fronteira com o Afeganistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão e China. Mais de metade do seu território fica acima dos 3.000 metros de altitude e as principais produções são o algodão e o alumínio. Já fez parte do Uzbequistão, na altura em que ambos estavam integrados na União Soviética, e já na altura era dos territórios soviéticos menos desenvolvidos.

Em 1929 foi criada uma região autónoma tajique, que hoje corresponde às fronteiras do país, retirando-lhe as cidades de Samarcanda e Bukhara, que permaneceram no Uzbequistão – facto que o Tajiquistão ainda hoje contesta. A independência chegou em 1991, mas em 1992 o país caiu numa guerra civil brutal que durou cinco anos. Em 2000, o principal sustento da população era a ajuda internacional, mas desde então o crescimento económico tem sido maior que o dos seus vizinhos.

A língua oficial é o tajique, de origem persa, e a segunda língua mais falada é o russo, por razões óbvias. São ainda raros os que dominam uma língua internacional como o inglês. A maioria da população é muçulmana sunita, mas nos montes Pamir são ismaelitas. A moeda é o somani, e 1 euro vale cerca de 6,4 somanis.

Para visitar a região do Gorno-Badakhshan (montes Pamir e corredor do Wakhan), é necessário obter na embaixada uma autorização especial, para além do visto normal.

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Comentários

  1. Elisa

    Adorei seu relato. Está aí um país que eu pretendo conhecer em breve.

    Responder

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 49 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

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