Tarrafal de Monte Trigo fica, literalmente, no fim da estrada. A partir dali, só a pé ou de barco se pode chegar à ainda mais isolada aldeia de Monte Trigo. E, apesar disso – ou talvez por isso! -, é um lugar mágico.
Na verdade, não há muita coisa para fazer no Tarrafal de Monte Trigo. Pode-se ficar na praia e tomar banhos de mar, passear pelas ruelas ou, para os mais ativos, fazer mergulho ou, quem sabe, percorrer a pé o trilho até Monte Trigo. E pouco mais. Mas que importa? É um lugar pequeno, daqueles onde o viajante se sente imediatamente bem. As pessoas são afáveis. O ritmo é lento. A comida é maravilhosa. E ao fim de pouco tempo quase todos o conhecem.
Neste artigo não tenho, pois, muito para contar. Não dá para escrever um artigo sobre o que fazer em Tarrafal de Monte Trigo porque, como disse, as atividades são escassas. As principais atrações turísticas estão no mar (snorkelling ou mergulho) e, principalmente, na arte de estar, sentir e viver um lugar. Sem pressas.
Ainda assim, vou contar como foi a minha visita ao Tarrafal de Monte Trigo, no extremo oeste da ilha cabo-verdiana de Santo Antão, na esperança que inspire outros viajantes a irem até lá. Porque vale mesmo a pena!
Visitar Tarrafal de Monte Trigo
Ao sétimo dia da minha viagem a Santo Antão tomei a decisão de sair de Paúl e rumar ao Tarrafal de Monte Trigo para passar as duas últimas noites da estadia. E assim, o relógio marcava 7:10 quando Kalú passou com o seu coletivo diante da pousada Black Mamba, em Paúl. Entrei.
A viagem até Porto Novo demorou menos de uma hora, pelo que ainda estavam a ser oito da manhã quando o carro parou junto à Residencial Antilhas, perto do porto marítimo, onde Maiuca tinha a sua carrinha estacionada. Tinha combinado com ele o transporte entre Porto Novo e o Tarrafal de Monte Trigo, pelo que deixei a mochila na traseira da carrinha de caixa aberta e fui tomar o pequeno-almoço. “Só saímos lá para as 11 horas”, disse.
E assim tive oportunidade de explorar a povoação de Porto Novo, caminhar pelas suas ruas, sentir o bulício da “capital”, ver a praia, levantar dinheiro num dos poucos ATM em funcionamento e, claro, tomar o pequeno-almoço. Eram 10:30 quando Maiuca decidiu partir.
A estrada que une Porto Novo ao Tarrafal de Monte Trigo é verdadeiramente espetacular. Ao longo de hora e meia, o ambiente passa de relativamente plano e verdejante para absolutamente árido e montanhoso, com múltiplos tons de castanho que proporcionam um desfile de cores estonteante.
Já bem perto de Tarrafal de Monte Trigo e com vista para o vulcão Topo de Coroa, foi instalado um miradouro num local com um ponto de vista privilegiado. Chama-se Miradouro de Campo Redondo e merece uma curta paragem para esticar as pernas e observar a estrada nova serpenteando pelas colinas acastanhadas. Maiuca fez-nos essa vontade.
Pouco depois, chegava ao destino.
Como referido, Tarrafal de Monte Trigo é uma pequena aldeia piscatória. Tem beneficiado de um crescimento turístico gradual (há muita construção na aldeia), mas nem por isso perdeu o charme dos lugares pequenos nem as pessoas se tornaram agressivas. É um lugar para se estar e comer bem, tranquilamente, sem pressas nem compromissos.
Foi exatamente isso que fiz na primeira tarde na aldeia: caminhar pelas ruas, beber uma cerveja num dos seus cafezinhos, dar um salto até à praia, falar com os pescadores. Coisa pouca mas que me soube tão bem!
Um dos pontos altos do primeiro dia em Tarrafal de Monte Trigo haveria de acontecer ao jantar. Eliseu preparou uma lagosta absolutamente divinal, de que não me esquecerei tão cedo. Não foi barata, mas valeu cada escudo cabo-verdiano.
No dia seguinte, tive tempo para trabalhar um pouco no blog. Ainda ponderei fazer o trilho entre o Tarrafal e a aldeia de Monte Trigo, mas teria de partir muito cedo para fugir ao calor e acabei por decidir ficar. Estava a saber-me pela vida estar no Tarrafal sem grandes planos.
À tarde, fui para a praia desfrutar do oceano, mas as correntes estavam fortes e traiçoeiras, pelo que não fiquei muito tempo dentro de água. Mas fiquei até mais tarde no areal para assistir à chegada dos barcos de pesca artesanal carregados com atuns de 20 ou 30 quilos – e outros peixes de grande porte. Do sistema de pesca à pesagem e armazenagem, tudo é manual e muito arcaico. Mas bom peixe é coisa que não falta no Tarrafal de Monte Trigo.
Depois de novo jantar maravilhoso preparado por Eliseu, era hora de descansar. Tarrafal de Monte Trigo tinha sido uma excelente surpresa. Daqueles lugares pequenos que penetram na alma e ficam no coração. Como eu gosto.
No dia seguinte, tinha mesmo de ir embora. A partida do coletivo para Porto Novo estava marcada para as 6:00 da manhã. Cheguei a Porto Novo pouco antes das 8:00, comprei o bilhete de ferry e embarquei rumo à ilha de São Vicente. Foi o final perfeito para a minha viagem a Santo Antão.
Veja também o artigo sobre o que visitar em São Vicente.
Guia prático
Vistos de entrada em Cabo Verde
Os cidadãos portugueses já não precisam de pedir um visto de turismo para visitar Cabo Verde. É, no entanto, obrigatório fazer o registo prévio de entrada em www.ease.gov.cv – o chamado processo Eficiente, Automático e Seguro de Entrada de viajantes em Cabo Verde -, preferencialmente com, pelo menos, cinco dias de antecedência em relação à data de entrada no país. Custa 3.400 CVE, pouco mais de 30€.
Como chegar ao Tarrafal de Monte Trigo
Há coletivos que partem de Porto Novo de manhã, em direção ao Tarrafal de Monte Trigo. Os horários não são certos, mas seguramente que depois das 11:00 não encontrará transporte (no meu caso, parti por volta das 10:00). O ideal é chegar às 8:00 a Porto Novo e indagar – ou, melhor ainda, combinar no dia anterior com um destes motoristas: Maiuca, com quem fiz as viagens (+238 981 66 33), ou Freddy (+238 997 61 82).
Quanto ao regresso a Porto Novo, os coletivos saem do Tarrafal de Monte Trigo às 6:00 da manhã, a tempo de apanhar o primeiro ferry para São Vicente.
Onde ficar no Tarrafal
Quando visitar Tarrafal de Monte Trigo, considere a guesthouse Kaza Ladera ou a Casa Baobab, duas excelentes opções de hospedagem que pode reservar online. Há mais pousadas, como a excelente Mar Tranquilidade e a humilde Pensão & Bar Amizade Delgado, mas terá de reservar por email ou telefone.
Veja também o artigo sobre onde ficar em Santo Antão para mais dicas sobre os melhores hotéis e regiões onde se hospedar na ilha.
Pesquisar pousadas em Tarrafal de Monte Trigo
Gastronomia e onde comer
Antes de descobrir o lugar perfeito para comer em Tarrafal de Monte Trigo, experimentei a Camada Casa Verde e, tirando a demora (habitual em Cabo Verde), não posso dizer que desgostei. O “problema” foi quando provei as refeições preparadas pelo cabo-verdiano Eliseu no terraço da Pensão & Bar Amizade Delgado.
Da lagosta ao bife de atum, passando por um delicioso frango frito com banana caramelizada, tudo o que Eliseu prepara na cozinha é delicioso. Foi provavelmente o lugar onde comi melhor em todo o roteiro de viagem em São Vicente e Santo Antão. Imperdível!
Dito isto, falaram-me maravilhas do jantar buffet da referida pousada Mar Tranquilidade, mas não cheguei a experimentar. A verdade é que, todas as tardes, havia um letreiro a anunciar que não aceitavam mais reservas para o jantar, por estar cheio. Só pode ser bom.
Caso queira comer lagosta na Pensão Amizade Delgado, passe por lá para reservar com algumas horas de antecedência.
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