Procura o que fazer em São Vicente, a ilha das mornas de Cabo Verde? Pois bem, recentemente tive oportunidade de visitar São Vicente, explorando não só a bela cidade do Mindelo como também toda a ilha. E, de Salamansa à praia da Laginha, passando por Monte Verde, Calhau, artesãos talentosos e a memória de Cesária Évora, a verdade é que não falta o que visitar em São Vicente. E isto sem falar na gastronomia.
Na verdade, eu fiquei com a sensação de que o Mindelo é uma cidade de que se aprende rapidamente a gostar e de onde, ao fim de pouco tempo, não apetece sair. Não que seja a mais bonita das urbes. Mas há qualquer coisa de intangível que a torna extremamente agradável. Não por acaso, há muitos estrangeiros que acabaram por ficar a morar no Mindelo.
Eis, pois, algumas sugestões sobre o que fazer no Mindelo (e no resto da ilha de São Vicente), numa escapadinha de um par de dias à ilha mais musical de Cabo Verde. Inclui referências às principais atrações turísticas e sugestões dos melhores restaurantes onde comer bem para aconchegar o estômago. Vamos a isso.
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O que fazer no Mindelo (Cabo Verde)
- 1.1 Dar um mergulho na praia da Laginha
- 1.2 Mercado Municipal do Mindelo
- 1.3 Centro Cultural do Mindelo
- 1.4 CNAD – Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design
- 1.5 Mercado de Peixe do Mindelo
- 1.6 Quintal das Artes
- 1.7 Mercado de Legumes
- 1.8 Mural de Vhils (Mindelo)
- 1.9 Visitar o Museu do Mar (Mindelo)
- 1.10 Passear na Avenida Marginal do Mindelo
- 1.11 Escultura de João Cutileiro
- 1.12 Pôr-do-sol no Terra Lodge
- 1.13 Fazer compras na Capvertdesign+Artesanato
- 1.14 Provar cachupa cabo-verdiana
- 1.15 Um copo no Bombu Mininu
- 1.16 Ouvir música ao vivo nos bares e restaurantes do Mindelo
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O que fazer em São Vicente (fora do Mindelo)
- 2.1 Apreciar as vistas em Monte Verde
- 2.2 Visitar o Sr. Miguel na sua Cabana de Chá
- 2.3 Baía das Gatas
- 2.4 Visitar a vila piscatória de Salamansa
- 2.5 Apoiar o projeto Simili
- 2.6 Apreciar a arte urbana em Norte Baía 1
- 2.7 Estrada em Norte Baía, a caminho de Calhau
- 2.8 Visitar Calhau (aldeia piscatória)
- 2.9 Outras coisas a fazer em São Vicente
- 3 Mapa dos lugares a visitar em São Vicente
- 4 Roteiro em São Vicente
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Dicas para visitar São Vicente
- 5.1 Vistos de entrada em Cabo Verde
- 5.2 Quando visitar São Vicente
- 5.3 Quantos dias são necessários para visitar São Vicente
- 5.4 Como chegar a São Vicente
- 5.5 Segurança em São Vicente
- 5.6 Como se deslocar em São Vicente
- 5.7 Excursões em São Vicente
- 5.8 Onde ficar no Mindelo
- 5.9 Gastronomia e onde comer
- 5.10 Seguro de viagem
O que fazer no Mindelo (Cabo Verde)
Dar um mergulho na praia da Laginha
O bairro da Laginha, também conhecido como Matiota, é a zona balnear da cidade do Mindelo. É lá que fica a praia da Laginha, uma praia urbana com um vasto areal e ótimas condições para nadar nas águas tranquilas da baía, localizada a quilómetro e meio do centro histórico da cidade.
Para os mindelenses, é um local privilegiado para aproveitar o fim de semana ou um final de tarde a relaxar. Para os turistas, é ponto de paragem obrigatória – não só pelo mar, mas também pelos seus cafés e esplanadas. Se não sabe o que fazer no Mindelo após explorar as ruelas do centro e um ou outro museu, um mergulho na praia da Laginha pode muito bem ser a solução. A visitar.
Mercado Municipal do Mindelo
Datado de 1874, o edifício do Mercado Municipal do Mindelo é belíssimo, e valeria por si só a recomendação. Mas, além disso, trata-se de um excelente local para tomar contacto com os produtos cabo-verdianos e conversar com os vendedores de cestaria, produtos frescos e ervas medicinais.
É também no interior do mercado que se encontra a loja do Centro de Turismo e Economia Solidária, que organiza tours para conhecer a ilha de São Vicente [ver “Excursões em São Vicente, mais abaixo].
Tudo somado, creio que o Mercado Municipal do Mindelo é daqueles locais que têm mesmo de visitar. Pelo menos todos aqueles que, como eu, gostam de mercados (razão pela qual neste artigo recomendo a visita a mais dois mercados).
Centro Cultural do Mindelo
Dada a proximidade geográfica, passei no Centro Cultural do Mindelo curioso com o que encontraria. E a verdade é que, quando visitei o centro, estava patente uma exposição resultante de um concurso de ideias na área do design. A maioria das obras expostas era de autores cabo-verdianos, pelo que deu para ver um pouco o trabalho dos designers locais.
Em suma, tendo tempo limitado, a maioria dos viajantes dará natural prioridade a outros museus, passeios ou coisas a visitar em Mindelo. Mas, podendo dedicar um dia e meio à capital de São Vicente, passe pelo Centro Cultural do Mindelo e indague sobre as exposições patentes nesse momento. Talvez tenha sorte.
A visita ao Centro Cultural do Mindelo é gratuita.
CNAD – Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design
O Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD) tem por missão estimular, potenciar e fomentar o desenvolvimento das diversas linguagens artísticas, com particular destaque no artesanato e no design nacional num diálogo permanente com o extenso campo das artes visuais.
in site oficial do CNAD
O Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design do Mindelo, mais conhecido por CNAD, chama a atenção desde logo pela arquitetura do edifício onde está instalado. Coberto por círculos a fazer lembrar tampas de bidões, vibrantes e coloridos, marca de forma vincada a paisagem em torno da Praça Nova.
No seu interior, encontrei uma exposição de pintura que, com toda a honestidade, não me disse muito. Mas arte é arte – e gostos não de discutem – pelo que é visitar e pronto (até porque as exposições vão mudando). O restante espaço, palco de outras exibições, estava encerrado por algum “motivo técnico” que não consegui descortinar – razão pela qual não consegui ver a totalidade do espólio. Ainda assim, creio que o CNAD vale muito a pena!
Estou, aliás, certo de que, para quem procura mais do que sol e grogue, o CNAD – Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design tem de estar incluído no roteiro de visita ao Mindelo.
Nota: ao contrário da informação disponível no Google Maps, o CNAD – Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design não está aberto às segundas-feiras. O horário oficial é de terça a sexta-feira das 10:00 às 13:00 e das 15:00 às 19:00; aos sábados nos horários 10:00-14:00 e 18:00-21:00; e aos domingos entre as 17:00 e as 21:00. A entrada é gratuita custa 500 CVE por pessoa.
Mercado de Peixe do Mindelo
Localizado ao lado da “Torre de Belém” do Mindelo, na avenida marginal da cidade, o Mercado de Peixe é outro dos lugares que mais gostei de conhecer na capital de São Vicente.
Lá fora, um pescador amanhava o peixe acabado de pescar, rodeado por dezenas de homens à conversa. Lá dentro, as vendedoras apregoavam, à minha passagem, aquilo que tinham para vender. Nunca senti qualquer hostilidade e, tal como haveria de comprovar em todo o meu roteiro de viagem a São Vicente e Santo Antão, o povo cabo-verdiano é de uma cordialidade e simpatia ilimitadas.
No mercado, vi peixe de várias espécies e tamanhos, mas não pude deixar de reparar no muito atum disponível. Na verdade, tal como pude comprovar ao longo desta viagem, São Vicente e Santo Antão são locais excelentes para comer atum bom e relativamente barato.
Em frente fica o Quintal das Artes, que um emigrante cabo-verdiano de regresso à sua terra me aconselhou a visitar quando nos cruzámos no exterior do Mercado de Peixe, apontando para o outro lado da rua: “tens de lá ir”. E eu fui.
Quintal das Artes
Uma antiga prisão construída na ilha de São Vicente durante o período colonial está agora ocupada por um grupo de artistas e artesãos, que a transformaram no chamado Quintal das Artes. Recentemente, o jornal Público dedicou-lhe uma reportagem em que dá o exemplo de Zacarias Santos, “que chegou ao agora Quintal das Artes através do Carnaval de São Vicente, a maior festa popular de Cabo Verde, já que a antiga prisão costuma ser estaleiro para o grupo Flores do Mindelo, e de alegorias e bijuterias passou para a tapeçaria, que ali confeciona”. Mas há muitos mais.
Lá dentro, encontrei pequenos ateliers com os seus artesãos a trabalhar (e alguns outros de portas fechadas), e dois artistas que, de facto, estavam a preparar as alegorias para o Carnaval.
Por agora, o Quintal das Artes ainda não é um verdadeiro ponto de atração turística, mas estou em crer que, à medida que os artistas vão dinamizando o espaço coletivo e virando o Quintal das Artes para a comunidade, este tornar-se-á num lugar marcante para o turista ligado à criação artística do Mindelo.
Mercado de Legumes
Bem perto do Mercado de Peixe fica a Praça Estrela. É lá que se encontra o chamado Mercado de Legumes, um espaço pequeno e simples mas vibrante onde se vende todo o tipo de vegetais.
Eu, apreciador de mercados me confesso: adoro as cores das frutas e dos legumes; adoro encontrar frutas que desconheço, meter conversa com os vendedores, experimentar novos sabores. É por tudo isso que recomendo que perca uns minutinhos a visitar o minúsculo Mercado de Legumes do Mindelo.
Mural de Vhils (Mindelo)
Inaugurado em outubro de 2019, numa altura em que a morna ainda procurava ser proclamada Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o Mural de Cesária Évora é uma obra do artista urbano português Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils. Trata-se de uma homenagem à “Diva dos Pés Descalços”, embaixadora maior da música cabo-verdiana, instalado na Praça Dom Luís – um espaço nobre do centro histórico do Mindelo.
Para todos os amantes do trabalho de Vhils – como é o meu caso! -, é mais um local de visita obrigatória na passagem por São Vicente.
Visitar o Museu do Mar (Mindelo)
Instalado numa pequena “réplica da Torre de Belém”, o renovado Museu do Mar é um pequeno museu. Reabriu ao público em janeiro de 2023 e tem uma exposição muito interessante dedicada à “Roda dos Naufrágios”. Eu explico.
Estrategicamente posicionado para o comércio transatlântico, entre os séculos XVI e XIX, Cabo Verde foi um “importante entreposto nas trocas comerciais entre a Europa, África e as Américas. Ora, o intenso tráfego marítimo, aliado à pirataria e ao pouco conhecimento náutico das costas e baixios dos mares de Cabo Verde fez com que muitas embarcações naufragassem nas águas do arquipélago”. E é essa a história contada no Museu do Mar.
No topo do edifício da “Torre de Belém”, é também possível ter uma vista privilegiada sobre o centro do Mindelo, os pescadores a amanhar peixe e toda a faixa litoral até ao porto marítimo.
Em suma, e apesar de não ser um museu extraordinário, não dei por mal empregado o meu tempo. Caso não tenha o que fazer no Mindelo e tenha algum tempo disponível, aproveite; de outra forma, pode dispensar a visita.
O ingresso no Museu do Mar custa 200 escudos cabo-verdianos por pessoa. Está aberto de terça a sexta-feira entre as 9:00 e as 18:00, e aos sábados das 9:00 às 13:00.
Passear na Avenida Marginal do Mindelo
A Avenida Marginal é uma importante artéria do Mindelo, principal cidade da ilha de São Vicente. Percorre a costa da Baía do Porto Grande, ligando o centro da cidade à praia da Laginha, passando pelo porto marítimo. Uma espécie de calçadão do Mindelo!
Para o turista, é um excelente local para passear, principalmente de manhã cedo e ao final da tarde. Fica a referência, com a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, passará na Avenida Marginal do Mindelo – nem que seja para ir apanhar o barco para Santo Antão!
É precisamente na Avenida Marginal que se encontra uma interessante escultura do artista português João Cutileiro.
Escultura de João Cutileiro
Ao caminhar pela Avenida Marginal do Mindelo, é impossível não reparar na escultura de João Cutileiro, na Pontinha, colocada no lugar onde Gago Coutinho e Sacadura Cabral terão amarado o seu hidroavião Lusitânia em São Vicente, em abril de 1922, durante a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, ilha onde terão ficado durante 10 dias, antes de prosseguirem viagem. A crer nas palavras do periódico Expresso das Ilhas, “a passagem dos aviadores por São Vicente permanece na memória da ilha cabo-verdiana”. Fica a referência.
Pôr-do-sol no Terra Lodge
Seguramente um dos espaços mais agradáveis do Mindelo, o terraço do hotel Terra Lodge é um daqueles lugares maravilhosos para um petisco e um copo ao final da tarde, de onde não apetece sair.
As vistas são lindas, o ambiente tranquilo, e os bolos e sumos muito bons. Eu provei bolo de batata doce com chocolate, um delicioso sumo de ananás e ainda cuscus com manteiga, mel e “queijo da terra” (queijo com origem em Santo Antão).
Tudo somado, é daqueles lugares que tem mesmo de visitar no Mindelo!
Fazer compras na Capvertdesign+Artesanato
Para quem aprecia conhecer o que fazem os artesãos locais, a loja Capvertdesign+Artesanato é um dos melhores lugares de São Vicente para tomar contacto com o trabalho dos artistas cabo-verdianos na área da decoração, incluindo todo o tipo de peças utilitárias e decorativas.
Passando por lá, aproveite e pergunte pelos produtos da Simili. Fui informado que, além das bolsas e tote bags feitas a partir das redes de pesca que recolhem na praia de Salamansa, em breve começarão a produzir candeeiros com a mesma matéria-prima.
Provar cachupa cabo-verdiana
Prato emblemático de Cabo Verde, a cachupa apresenta diversas versões. Desde logo, a chamada cachupa rica, elaborada com vários tipos de carne e normalmente comida ao almoço. Era essa a cachupa que tinha na cabeça, mas nunca vi nos restaurantes por onde passei.
A cachupa que encontrei mais frequentemente nesta viagem foi a cachupa guisada, uma versão totalmente distinta da cachupa rica. Pelo que me explicaram, quando a cachupa é deixada sem o caldo de um dia para o outro e, depois, é aquecida e refogada numa frigideira, o prato resultante é conhecido por cachupa guisada.
Fica muito mais seca (não tem caldo), e é o que toda a gente come ao pequeno-almoço. É normalmente acompanhada por um ovo estrelado e/ou linguiça (como na foto) e, às vezes, com peixe frito.
Um copo no Bombu Mininu
Na Rua de São João fica uma das maiores preciosidades do Mindelo. Pelo menos para mim, que fiquei siderado mal cruzei a porta de entrada. Chama-se Bombu Mininu e, tal como a Helena Moscoso referiu na entrevista sobre viver no Mindelo (na série de “Portugueses pelo Mundo“), é “um lugar de encontros” onde se pode “ouvir boa música em vinil, tomar um chá ou um grogue, ter conversas com sentido e dançar rodeados de arte em todas as paredes”.
Além da simpatia e boa onda do casal de proprietários, foi lá que bebi o melhor ponche de maracujá de que tenho memória! Imperdível.
Ouvir música ao vivo nos bares e restaurantes do Mindelo
Mindelo é música. Um pouco por todo o lado, a partir do final da tarde, boa parte dos bares e restaurantes do Mindelo oferece música ao vivo aos seus clientes. É uma oportunidade de ouro para ouvir artistas cabo-verdianos interpretarem mornas e coladeras de ícones como Cesária Évora e outros intérpretes locais.
É muito difícil saber onde vai encontrar boa música, pelo que o ideal é perguntar localmente ou simplesmente arriscar. Seguindo esta última lógica, ouvi música de péssima qualidade no Café Royal (onde, ao que consta, costumam passar artistas excelentes) e bons sons no restaurante da Casa Café Mindelo.
Há também grupos de dança, nomeadamente kizomba, que após os ensaios vão para a rua (Parque Nhô Roque) continuar a festa. Para os mais festeiros, essa pode também ser uma boa opção de divertimento.
O que fazer em São Vicente (fora do Mindelo)
Apreciar as vistas em Monte Verde
Do alto dos seus 747 metros de altitude, o Monte Verde é o ponto mais alto de São Vicente. Integra o chamado Parque Natural de Monte Verde, a única área protegida da ilha cabo-verdiana.
Para mim, visitar o Monte Verde permitiu conhecer uma outra faceta de São Vicente. Um lado mais verdejante. É até possível observar o cultivo em socalcos, forma utilizada para “vencer” o declive dos terrenos, tal como na região portuguesa do Douro Vinhateiro.
No baú da memória, fica também o momento em que me cruzei com um rebanho de cabras e o seu jovem pastor, já no regresso do topo do Monte Verde e da passagem pela icónica Cabana de Chá.
Não é possível visitar o Monte Verde usando os transportes coletivos, pelo que é fundamental ter carro alugado ou integrar um tour. Ver “Excursões em São Vicente”, abaixo.
Visitar o Sr. Miguel na sua Cabana de Chá
Miguel Durão é um agricultor de São Vicente que em 2017, com a ajuda do projeto Rede de Turismo Sustentável, reconstruiu em pedra local a sua cabana de chá, destruída dois anos antes com a passagem do furacão Fred.
É, hoje em dia, um ponto de paragem muito agradável no Monte Verde, onde pode provar chás e licores locais, bem como cuscus com mel, queijo de cabra e pastéis de milho. A cabana é ladeada por uma horta abastecida através de um sistema simples mas eficaz utilizado para a captação da água das nuvens. E, qual cereja no topo do bolo, tem um miradouro que oferece vistas deslumbrantes sobre a Baía das Gatas. Imperdível.
Dica: vá preparado com um agasalho para o vento constante e para o frio.
Baía das Gatas
Referência de uma das maiores manifestações culturais de Cabo Verde, a pequena povoação de Baía das Gatas recebe todos os anos, no primeiro fim de semana de lua cheia do mês de agosto, um grandioso festival internacional de música. Milhares de pessoas rumam até à praia da Baía das Gatas para desfrutarem de um animado “festival de verão” onde predominam os ritmos africanos, com grandes nomes da música de Cabo Verde e não só.
Tirando esse evento, tanto a povoação como a homónima baía natural têm pouco interesse turístico. Mas fica a referência, caso queira visitar a Baía das Gatas, conversar com os seus pescadores ou, simplesmente, conhecer o espaço onde decorre o Festival de Música da Baía das Gatas.
Visitar a vila piscatória de Salamansa
Não muito longe da Baía das Gatas fica Salamansa, uma pequena localidade de pescadores na região nordeste da ilha de São Vicente. Gostei bastante de conhecer, ainda que a minha passagem por Salamansa tenha sido muito breve.
As pessoas pareceram-me humildes e acolhedoras, apesar das carências básicas que muitas enfrentam, como a ausência de água canalizada nas suas casas (sim, em Salamansa é preciso ir comprar água com bidões de plástico).
Caminhei pelas ruas de Salamansa, deixei-me ficar a ver um jogo de futebol no recinto desportivo local, e ainda fui espreitar a praia e os seus humildes bares de praia.
Tudo somado, não creio que Salamansa seja um destino turístico em si mesmo, mas, para quem gosta de conhecer um destino de forma um pouco mais profunda, creio que é daqueles lugares que tem de visitar em São Vicente. Até porque é lá que fica o atelier do meritório projeto Simili.
Apoiar o projeto Simili
Simili é um projeto criado por Helena Moscoso, que está a viver no Mindelo há já muitos anos, que procura “fazer algo relativamente ao lixo que se acumula nas praias de São Vicente”. E assim surgiu a ideia de fazer tecelagem com restos de redes de pesca velhas.
Desta forma, fabricam bolsas feitas com redes de pesca apanhadas na praia e com restos de tecidos que são recolhidos nas lojas e empresas da cidade. E é precisamente em Salamansa que está instalado um atelier onde as mulheres da comunidade tecem e costuram. A visitar.
Na ilha de São Vicente, os produtos da Simili podem ser adquiridos diretamente no atelier (desde que tenham stock), na referida loja Capvertdesign+Artesanato e ainda no Centro de Turismo e Economia Solidária, sito no Mercado Municipal do Mindelo.
Apreciar a arte urbana em Norte Baía 1
Norte Baía 1 é uma pequeníssima aldeia de São Vicente, que passaria totalmente despercebida não fosse o caso de muitas das suas fachadas estarem pintadas. São vários murais coloridos, pintados à mão por artistas locais, que trouxeram alma nova à comunidade que, ao que consta, vive da agricultura, da pesca e da “quebra de pedras (para fazer estradas de paralelepípedos em toda a ilha)”. Fica a referência.
Estrada em Norte Baía, a caminho de Calhau
Provavelmente a estrada mais bonita da ilha de São Vicente, o trecho rodoviário que vai da Baía das Gatas à vila piscatória de Calhau atravessa paisagens lunares, com muita rocha vulcânica e múltiplos tons de castanho, dunas de areia e o omnipresente oceano Atlântico. É lindo!
Vale a pena parar num pequeno estacionamento junto à maior duna da região e apreciar tranquilamente a paisagem. É, como digo, a estrada mais bonita da ilha.
Visitar Calhau (aldeia piscatória)
Fazendo a estrada atrás referida chegará à povoação de Calhau. Trata-se de uma pequena aldeia piscatória da zona de Ribeira de Calhau, na costa leste da ilha de São Vicente, cuja paisagem é dominada pela proximidade do cone do extinto vulcão Viana.
É lá que o cabo-verdiano Jorge Melo tem dedicado parte da sua vida a recuperar tartarugas marinhas em dificuldades, incluindo as que são atacadas por cães nas praias de São Vicente na altura da desova, e até tartarugas que ficam presas nas redes de pesca. A visitar.
Outras coisas a fazer em São Vicente
Estas são algumas sugestões do que pode fazer em São Vicente. Mas, tendo tempo, pode naturalmente fazer outras atividades ou visitar mais um ou outro local além das atrações referenciadas no artigo (e no mapa). A saber:
- Visitar o Palácio do Povo (tentei visitar mas estava encerrado).
- Visitar o Núcleo Museológico Cesária Évora, no Mindelo.
- Nadar com tartarugas na praia São Pedro (tenha em atenção com quem faz esta atividade; tenho fundadas suspeitas de que nem todos seguem as melhores práticas no contacto com os animais selvagens).
Mapa dos lugares a visitar em São Vicente
No mapa acima, encontra a localização exata de todos os lugares referenciados no artigo. Como vê, não falta o que fazer no Mindelo e em toda a ilha de São Vicente!
Roteiro em São Vicente
No dia e meio em que estive em São Vicente, antes de apanhar o barco para Santo Antão, organizei o tempo da seguinte forma.
Dia 1. Aterrei em São Vicente às 12:35. Apanhei um táxi no aeroporto, pedindo ao motorista para parar na praia São Pedro antes de rumar à cidade do Mindelo (queria ver como era a praia). Depois de me instalar no Casa Café Mindelo, almocei no mesmo local, antes de começar a explorar Mindelo. Apreciei a obra de Vhils, fui ao Mercado Municipal e de seguida passei na Casa da Cultura. Depois passei nos escritórios da CV Telecom para comprar um cartão SIM, antes de tentar visitar o CNAD (estava fechado porque era segunda-feira). Assim sendo, fui à praia da Laginha e, mais tarde, rumei ao terraço do Terra Lodge para apreciar o final de tarde. Jantar no Dokas e café ao som de música ao vivo de regresso ao Casa Café Mindelo.
Dia 2. No segundo dia, decidi fazer um tour com o Centro de Turismo e Economia Solidária (ver “Excursões em São Vicente”, abaixo), com início às 9:00 da manhã junto ao Mercado Municipal do Mindelo. Dessa forma, conheci uma boa parte da ilha, incluindo Monte Verde, a vila piscatória de Salamansa, a Baía das Gatas, a belíssima costa do Norte Baía e a povoação de Calhau, entre outros locais. De tarde, tempo para explorar mais algumas atrações da cidade do Mindelo.
Dia 3. Na manhã do terceiro dia fui ver mais algumas coisas que queria visitar no Mindelo. A saber: o Mercado de Peixe, o Quintal das Artes e a loja Capvertdesign+Artesanato, que vende produtos artesanais de origem cabo-verdiana. Queria também conhecer o Palácio do Povo, mas, infelizmente, por algum motivo, estava encerrado.
Dicas para visitar São Vicente
Vistos de entrada em Cabo Verde
Os cidadãos portugueses já não precisam de pedir um visto de turismo para visitar Cabo Verde. É, no entanto, obrigatório fazer o registo prévio de entrada em www.ease.gov.cv – o chamado processo Eficiente, Automático e Seguro de Entrada de viajantes em Cabo Verde -, preferencialmente com pelo menos cinco dias de antecedência em relação à data de entrada no país. Custa 3.400 CVE, pouco mais de 30€.
Quando visitar São Vicente
Este é um daqueles destinos que pode visitar em qualquer altura do ano. A não ser, claro, que procure fazer coincidir a viagem com alguma época festiva.
Se for esse o caso, saiba que o afamado Festival de Música da Baía das Gatas costuma acontecer em agosto.
E, no que diz respeito ao Carnaval – a maior celebração de Cabo Verde! -, saiba que a animação no Mindelo começa muitas semanas antes do dia de Carnaval. Isso é especialmente verdade aos domingos, quando grupos de mandingas – que representam a herança africana do povo cabo-verdiano – saem dos seus bairros com cara e corpo pintados de preto e levam música e dança às ruas do Mindelo. Os mandingas de Ribeira Bote são os mais afamados e numerosos, e consta que acompanhar todo o percurso, a começar logo no seu “estaleiro”, é uma experiência inolvidável.
Veja este artigo do Expresso das Ilhas (já um pouco antigo, mas totalmente atual) para ler o relato de uma participação num desses desfiles.
Quantos dias são necessários para visitar São Vicente
A maior parte das pessoas que aterra no Aeroporto Internacional Cesária Évora tem por objetivo visitar Santo Antão, pelo que não se demora muito tempo em São Vicente. Entendo perfeitamente a opção (a ilha de Santo Antão é mágica!), mas aposte também em São Vicente e talvez seja surpreendido.
Dito isto, o que eu fiz foi ficar duas noites no Mindelo antes de apanhar o barco para Santo Antão, e mais uma noite no final da viagem. No total, foram 3 noites em São Vicente, e podia ter ficado muito mais sem sacrifício!
Tudo somado, foram dois dias completos para visitar Mindelo e as atrações da ilha cabo-verdiana de São Vicente. E creio que resultou muito bem.
Como chegar a São Vicente
A TAP opera voos diretos entre Lisboa e o Aeroporto Internacional Cesária Évora e são a ligação mais fiável entre Portugal Continental e a ilha de São Vicente. Infelizmente, e dada a limitada concorrência, os preços dos voos são incompreensivelmente altos para um voo de médio curso. Dito isto, vale a pena estar atento às ocasionais promoções: eu paguei 298€, ida e volta, a partir do Porto, valor muito abaixo do “normal” para a rota.
A Cabo Verde Airlines, mais conhecida como TACV – Transportes Aéreos de Cabo Verde, tem também ligações diretas na mesma rota, embora a minha experiência com eles seja tudo menos positiva (voos cancelados sem justificação).
No que toca às ligações entre as diferentes ilhas do arquipélago, consulte os voos disponíveis no site da Best Fly, grupo que detém a Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV), e as rotas e os horários dos ferries na CV Interilhas.
Pesquisar voos para São Vicente
Segurança em São Vicente
Tinham-me avisado que algumas zonas do Mindelo não eram muito seguras, e que o ambiente da cidade, às vezes, era um pouco “pesado”. Pois bem, manda a verdade dizer que não senti nada de desconfortável na minha estadia no Mindelo. Evidentemente, isto não quer dizer que não haja problemas de segurança na cidade; apenas que eu nunca me senti inseguro. Vá e desfrute, mantendo-se alerta mas sem dramatismo.
Dito isto, os habitantes locais recomendam que, à noite, utilize o táxi. Uma viagem noturna de táxi dentro dos limites da cidade custa 200 escudos cabo-verdianos (preço fixo).
Como se deslocar em São Vicente
É possível alugar carro em São Vicente mas, com toda a honestidade, não creio que se justifique. Dito isto, se o grupo for de 4 ou 5 pessoas e quiserem fazer um passeio organizado pela ilha, é natural que o aluguer do carro possa ficar mais barato do que pagar o tour.
Note que a Discovercars, que eu costumo utilizar, não lista viaturas em São Vicente. Mas há várias empresas de rent-a-car locais que pode consultar, como a DYRK (dá para pesquisar online).
Excursões em São Vicente
Caso o seu tempo seja limitado, pode valer a pena contratar antecipadamente uma excursão privada para visitar São Vicente sem sobressaltos. Nesse caso, veja estas duas propostas da empresa Bu Country Tours:
- Ilha de São Vicente: Excursão de dia inteiro
- São Vicente: Excursão privada aos destaques do Porto do Mindelo
Alternativamente, visite a loja do Centro de Turismo e Economia Solidária (do projeto Rede de Turismo Solidário e Sustentável São Vicente) no Mercado Municipal do Mindelo. Eles organizam duas tours distintas e muito interessantes – e um “mix” das duas que permite conhecer toda a ilha. Eu fiz essa rota combinada (Monte Verde, Salamansa, Norte Baía, Calhau) e, embora tenha achado demasiado caro (o preço por pessoa é de 8.500 CVE!), gostei da experiência. Veja os contactos no facebook.
Onde ficar no Mindelo
Antes de mais, veja o artigo sobre onde ficar em São Vicente para todas as dicas dos melhores hotéis onde se hospedar.
Em jeito de resumo, para o meu estilo, o hotel Casa Café Mindelo, instalado num casarão colonial no centro do Mindelo, é uma das melhores opções de alojamento. Não é um hotel de luxo, antes uma pousada com carisma e bom ambiente e uma localização imbatível no coração da cidade.
Alternativamente, ficará igualmente muito bem hospedado se escolher o Kira’s Boutique Hotel, no coração da cidade e bastante perto da praia da Laginha. É um hotel fantástico.
Caso, por algum motivo, queira dormir junto ao aeroporto, o Aquiles Eco Hotel é a escolha acertada. Para outras opções de hotéis e pousadas em São Vicente, pesquise usando o link abaixo.
Gastronomia e onde comer
Para os amantes da gastronomia de Cabo Verde, saiba que há alguns excelentes restaurantes em São Vicente. Em concreto, não posso deixar de mencionar dois restaurantes que experimentei no Mindelo e que não resisto a recomendar entusiasticamente. São eles a Casa Tchicau, onde lhe asseguro terá uma experiência gastronómica divinal ao som de boa música, ao jantar (reserve pelo telefone +238 951 54 66); e o restaurante da Casa Café Mindelo, onde também se come muito bem.
Quanto à cachupa cabo-verdiana, dizem que o Dokas é um dos melhores restaurantes de São Vicente onde comer cachupa. Eu provei a versão de pequeno-almoço (cachupa guisada), sem caldo, servida com ovo estrelado, e não fiquei apaixonado – mas “gostos não se discutem”. Referência também para os menus do Le Metalo, que me foi recomendado (mas não tive oportunidade de experimentar).
Note que, ao almoço, a maioria dos restaurantes tem pratos do dia com preços a rondar os 400 a 500 escudos. São uma excelente opção para o almoço.
Para um copo ao entardecer, o terraço do Terra Lodge (onde também se pode hospedar) é um lugar muito agradável e com excelentes vistas sobre a cidade. Vá preparado para o vento.
Por fim, caso sinta falta de comer bom pão, consta que a Pastelaria Morabeza é a melhor padaria do Mindelo. Fica a dica.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.