Quando estava a planear a minha viagem-relâmpago a Santa Maria, uma das poucas coisas que decidi foi fazer um trilho pedestre. Já assim tinha sido quando visitei Porto Santo por um dia, no arquipélago da Madeira, altura em que percorri a Vereda do Pico Branco e Terra Chã – momento que rapidamente se tornou numa das experiências mais agradáveis que vivi na ilha. Em Santa Maria haveria de ser igual.
O site oficial do Turismo dos Açores tem uma secção dedicada aos trilhos pedestres, que consultei. Queria fazer um passeio que fosse interessante, tivesse boas vistas e, acima de tudo, fosse fotogénico. Com apenas dois dias inteiros em Santa Maria, não daria para muitas caminhadas mas, em conversa com um amigo, profundo conhecedor da ilha, o passeio pedestre ficou escolhido. Iria fazer o percurso PR5SMA, conhecido como Trilho da Costa Sul.
O Trilho da Costa Sul parte junto ao Forte de São Brás, em Vila do Porto, onde estava alojado. E isso torna o trilho ainda mais conveniente. Curiosamente, tinha pensado fazer o percurso o mais cedo possível mas, durante o meu primeiro jantar na ilha, foi-me sugerido que fosse caminhar só à tarde: “vais ter melhor luz”. E assim fiz.
Trilho da Costa Sul, em Santa Maria
Forte de São Brás, Vila do Porto
Na verdade, atrasei-me um pouco ao visitar o Centro de Interpretação Dalberto Pombo e comecei a caminhar demasiado tarde. Cheguei a temer chegar à Praia Formosa já de noite. Eram quase quatro da tarde quando iniciei a caminhada, junto ao Forte de São Brás. Só havia uma solução: andar depressa.
Após sair do perímetro urbano de Vila do Porto, o trilho seguia por um caminho de terra batida suficientemente largo para passarem automóveis. Em pano de fundo, turbinas eólicas beneficiavam de algum vento – não muito – que se fazia sentir na costa sul de Santa Maria.
Preocupado com as horas, ao passar por um indivíduo que envergava uma camisola de uma empresa de passeios pedestres chamada Ilha a Pé, perguntei-lhe quanto tempo demoraria até chegar à Praia Formosa. Olhou o relógio preocupado e disse: “duas horas e meia, pelo menos”. Eram 16:30.
Nesse cenário, chegaria de noite ao meu destino. Logo a seguir, sugeriu: “se vir que está a ficar tarde, não desça para a Prainha; quando vir a placa siga em frente e depois chega à estrada e pode regressar à boleia”.
Logo a seguir, estava a chegar aos passadiços de madeira da Pedreira do Campo quando o Miguel Marques, da SMATUR, me disse: “Não te preocupes, isso é se fosses com um grupo de dez pessoas; estando sozinho, num bom ritmo, chegas à Formosa ainda de dia. Eu vou-te buscar”. Fiquei mais tranquilo; se tudo corresse normalmente, desceria à Prainha.
Pedreira do Campo
Pelo adiantado da hora, acabei por não dar a devida atenção à Pedreira do Campo, uma pequena área a oeste do Pico do Facho onde podem ser observados “depósitos estratificados de rochas sedimentares com fósseis”. A passagem pela Casa dos Fósseis antes da caminhada tinha por objetivo compreender melhor o que iria encontrar nesta zona mas, se queria chegar com luz do dia à Praia Formosa, não podia perder muito tempo.
A caminhada prosseguiu por campos verdejantes com o mar pintado de azul forte, as costas aquecidas pelo sol vespertino e o céu quase sem nuvens. Fui andando, andando, andando, sempre sozinho e sem nunca sequer me cruzar com qualquer outro caminheiro.
Descida para a Prainha
Adiante, a descida para a Prainha. Olhei para as horas, registei a posição do sol e decidi arriscar. Por entre vacas que me miravam desconfiadas, avancei em direção à escarpa. As vistas eram belíssimas e a luz quente do final de tarde em muito contribuía para o meu estado de espírito encantado. Só me apetecia fotografar, fotografar.
À minha volta, para além de um imenso mar azul, havia catos aloe vera, árvores e arbustos e um caminho que serpenteava encosta abaixo até à praia sem areia. Consta que no verão as praias da costa sul têm bastante areia, mas esse não era o cenário quando visitei Santa Maria.
Acabei por perder um pouco a noção do tempo mas meia hora depois – julgo eu! – terminei a descida até à Prainha, secção que acabou por ser a minha parte favorita do percurso.
Prainha – Praia Formosa
A última parte do Trilho da Costa Sul foi efetuada junto ao mar, subindo e descendo as escarpas entre as pequenas enseadas do litoral que separam a Prainha da Praia Formosa. Em muitas zonas, tinha de esperar pela altura em que as ondas se afastavam da costa para conseguir avançar. A maré estava já a baixar e, tivesse eu partido uma hora mais cedo de Vila do Porto, provavelmente não teria conseguido passar em algumas zonas da última parte do trilho.
As luzes da Praia Formosa foram ficando cada vez mais próximas e eu fui começando a sentir aquela emoção da missão cumprida. O sol há muito que se tinha escondido atrás do horizonte, mas a noite ainda não se tinha abatido sobre Santa Maria.
Pouco depois, chegou o Miguel no seu jeep. Foi um risco, mas valeu a pena! Adorei percorrer o Trilho da Costa Sul. E estou certo que, o facto de o ter feito durante a tarde, em muito contribuiu para as belíssimas imagens que guardo na memória.
Guia prático
Dicas úteis
A caminhada não é perigosa mas tem zonas onde um pé em falso pode ser desastroso. Recomenda-se prudência e que respeite as regras básicas de segurança em montanha:
- Desde logo, não faça a caminhada sozinho;
- Esteja atento à tábua das marés e faça por evitar chegar à Prainha na maré cheia – pode ter dificuldade em passar;
- Leve água e alguns alimentos (barras de cereais e fruta, por exemplo);
- Leve agasalhos – o tempo nos Açores é sempre imprevisível;
- Leve um telemóvel – tem rede em todo o trajeto menos na zona da Prainha;
- Use calçado apropriado (a sério, nem pense fazer o Trilho da Costa Sul de havaianas);
- O trilho está muito bem marcado e dificilmente se perderá; ainda assim, para uma segurança extra, descarregue a app Visit Azores. A app tem uma descrição do percurso e, mais importante, um mapa que pode usar durante a caminhada para verificar, em qualquer momento, se está no trilho correto.
Onde ficar
O melhor hotel da Ilha de Santa Maria é, sem dúvida alguma, o Charming Blue. Foi onde fiquei alojado e, apesar de não ser o hotel mais barato de Santa Maria, recomendo vivamente – é um pequeno boutique hotel de muito bom gosto e qualidade.
Para uma alternativa mais modesta, a Pousada da Juventude de Santa Maria é um alojamento que recomendo sem hesitações; não dormi na pousada mas visitei-a, para conhecer, e pareceu-me uma excelente escolha para quem viaja com orçamento controlado.
Note que no verão e em época de festividades é aconselhável reservar alojamento com antecedência.
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Para informações práticas complementares, veja o “Guia Prático” existente no final do relato da minha visita a Santa Maria.
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