Dinheiro. Ou falta dele. Este é o motivo dado pela maioria das pessoas para não viajarem – ou viajarem pouco. Muitas vezes com razão, outras apenas por desconhecimento ou falta de organização. Porque é possível viajar com pouco.
Na falta de dinheiro, o fator essencial para viajar mais é o tempo. Tendo tempo e flexibilidade de datas, é possível viajar com muito pouco dinheiro e ter uma experiência ainda mais autêntica. Aplicando os princípios da economia da dádiva, do consumo colaborativo e da troca justa pode eliminar-se totalmente a despesa com alojamento e, em muitos casos, também com a alimentação e reduzir o custo dos transportes.
Chamemos-lhes “viagens colaborativas”: o viajante tem uma necessidade e algo a dar em troca; outrem tem, ou já teve, uma necessidade complementar e/ou quer ajudar; chega-se a um acordo. O conceito não é novo, há anos que milhares de viajantes fazem isso na estrada, falando diretamente com as pessoas nos locais por onde vão passando, mas o fácil acesso à Internet e o aumento do interesse nestes conceitos levou à criação de várias plataformas que permitem cruzar os interesses de quem procura com os de quem oferece. Permitem também, pela existência de referências e comentários, trazer alguma confiança e segurança a todo o processo.
Algumas destas plataformas têm taxas de utilização associadas mas, na maioria dos casos, são pagamentos únicos ou anuais que, no final, acabam por compensar.
1. Alojamento
São várias, as opções para alojamento gratuito:
– Alojamento em casas locais
Seja pela vontade de conhecer pessoas de outras culturas, ou pelo simples prazer da hospitalidade, muita gente oferece alojamento em troca de nada. Este alojamento pode variar de um sofá, a um quarto privado, uma caravana no jardim ou um pedaço de chão. A plataforma mais conhecida para este tipo de oferta é o Couchsurfing, mas existem outras como o Globalfreeloaders e o mais recente Couchers.
De todas, esta é a opção que exige menos tempo de estadia, mas requer algum de procura e, principalmente no couchsurfing, exige que se esteja ativo na rede, com um perfil com algumas referências, para conseguir uma resposta positiva.
– Troca de trabalho por alojamento
Um truque dos viajantes de longo termo mais antigos era (e é) perguntar nos hostels e cafés dos lugares onde chegavam se era possível trabalhar em troca de estadia. Hoje em dia essa busca está facilitada com o aparecimento de várias plataformas onde os “empregadores” e os viajantes se registam e podem procurar oportunidades antes mesmo de iniciar a viagem. O tempo de estadia mínimo para se poder usufruir do alojamento varia muito com os lugares e tipo de trabalho, mas, na maioria, não é possível ficar menos que duas semanas. Em muitos deles algumas refeições, quando não todas, fazem também parte da troca.
Em sites como o Helpx e o Workaway o trabalho pode variar da básica ajuda no hostel, café ou negócio familiar, até à estadia em casas de famílias para ajudar com as tarefas da casa, ou cuidar de crianças e ajudar em quintas ou casas em construção. Têm uma taxa de adesão de 20 e 23 euros respetivamente, válida por 2 anos. O Helpstay funciona da mesma maneira, e tem uma taxa de adesão de 20€, por ano.
No Worldpackers a oferta está limitada a hostels e existe uma taxa variável cobrada para cada estadia aprovada, o que torna o seu uso mais caro. No entanto, ao contrário das outras plataformas, oferecem apoio logístico e a garantia de alojamento por 3 dias, se alguma coisa correr mal com o anfitrião.
Nota: os leitores do Alma de Viajante têm um desconto de 10USD no Worldpackers.
A rede de hostels Hosteling International tem também hipóteses de troca de trabalho por alojamento, em alguns países e em determinadas alturas do ano.
A WWOF (World Wide Opportunities in Organic Farms) foi das primeiras a aparecer e está limitada a trabalho em quintas orgânicas. Cada país tem a sua página e é necessário estar inscrito (e pagar a inscrição) em todas aquelas onde se pretenda contactar com anfitriões. Essa inscrição (anual) varia entre 0 e 56€, consoante o país.
– Cuidar de casas e/ou animais de estimação (House/Pet sitting)
Como o nome indica, o trabalho do viajante é cuidar da casa e/ou dos animais de estimação desta, enquanto os donos estão ausentes. Esta estadia pode ser de apenas uma ou duas semanas, até vários meses e variar de pequenos apartamentos citadinos a verdadeiras mansões. As obrigações do “cuidador” variam muito consoante o caso, e é necessária alguma persistência para conseguir um destes “trabalhos”, antes de se ter uma boa rede de referências. Existem casas disponíveis um pouco por todo o mundo, mas a maior quantidade concentra-se em França, Reino Unido, Itália, Estados Unidos e Caraíbas.
A plataforma mais conhecida é a Trusted Housitters, mas existem muitas outras, como a Mind My House, Luxury House Sitting, House Carers, HouseSit Match ou Nomador. Todas elas têm taxas de inscrição variáveis, anuais.
– Troca de casa
Opção mais viável para viagens curtas, mas ótima para férias, para quem tem casa própria. Também não faltam recursos para procurar, todos com inscrição paga, anual: Home Exchange, Stay 4 free, Love Home Swap, Troca Casa
2. Transporte
Para viajar totalmente de graça, só mesmo caminhando, pedalando ou esticando o dedo à beira da estrada. Mas é possível reduzir os custos do transporte através da partilha de necessidades. É mais barato que transportes públicos? Na maior parte dos casos, não, mas serve para ocasiões específicas, em que esta opção não é a mais conveniente.
Alugar carros diretamente aos donos não é uma opção que esteja disponível em todo o mundo, nem reunida numa única plataforma. Aqui pode ser um bom recurso para todos.
Este aluguer pode ser de apenas umas horas, ou vários dias, consoante a disponibilidade, e o país. Esta opção não só permite poupar dinheiro no aluguer de veículos, como otimiza a utilização destes, reduzindo a quantidade de veículos necessários e consequentemente o consumo e o impacto ambiental.
Partilhar boleias, dividindo o valor do combustível. O mesmo principio que o esticar do dedo, mas marcado antes, e sabendo exatamente para onde se vai. São exemplo destas plataformas o CarpoolWorld, BlaBla Car e boleia.net.
Todas estas opções permitem poupar na altura de viajar, mas a sua maior vantagem é promover a partilha de conhecimento, de cultura e de relações humanas. É estimular alternativas ao consumo desenfreado, à pressa, à ganância. É pôr-nos em real contacto com as pessoas que habitam nos lugares que visitamos e permitir-nos contribuir. Mais que uma passagem, a viagem torna-se assim uma verdadeira experiência de vida.
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