Hoje publico a quinta crónica de viagem escrita para as edições de verão do jornal Diário de Notícias, publicada em papel no passado dia 12 de agosto. As crónicas são publicadas até ao final do mês, sempre às segundas-feiras, na secção DN – Verão do jornal (e aqui com duas semanas de atraso).
#5 Viajar não é coisa de ricos
“Quem me dera…” deve ser a expressão que mais ouço quando falo do meu próximo destino de viagem. Como se viajar fosse algo inatingível, como se fosse preciso muito dinheiro para sair de casa. Não é! Conheço quem tenha viajado mundo fora com um orçamento de apenas 300€ por mês. Conheço quem tenha ido viver uns meses para a Índia para diminuir o seu custo de vida. E sei por experiência própria que não é preciso gastar fortunas para viajar. Mais do que tudo, é preciso querer. Querer mesmo.
Lembro-me de estar de partida para três meses pelo Médio Oriente quando ouvi esse mesmo “quem me dera” da boca de um amigo. “Queres vir comigo?”, perguntei-lhe perante o interesse demonstrado. “Quem me dera”, resignou-se. O emprego, a família ou namorada, a renda da casa ou o crédito do carro – não me recordo em pormenor -, para além da suposta insegurança do Médio Oriente, foram alguns dos seus argumentos para não fazer uma coisa que – dizia – queria fazer. “Mas queres vir comigo ou não?”, insisti. Não veio.
Noutra vez, quando à mesa de um café contei ao núcleo de amizades que ia viajar mais de um ano, outro amigo disparou: “Mas saiu-te o totoloto? Estás rico?”. E minutos depois estava a falar de um carro que gostava de comprar e que provavelmente custaria duas voltas ao mundo. [ver quanto custa uma volta ao mundo]
Como em tudo na vida, há que fazer opções para que uma grande viagem seja exequível. E, quase sempre, optar implica deixar de ter ou fazer coisas de que gostamos em nome de um objetivo maior: no caso, conhecer o mundo, viajar.
Aquela saída noturna com os amigos de sempre, com farta jantarada e copos noite fora, equivale a vários dias de viagem na Tailândia. Aquele cinema adiado dá para muitos almoços nas ruas do Vietname. Aquela peça de roupa que há muito se namora converte-se em múltiplas viagens de autocarro ou comboio. Já para não falar dos sapatos, botas, sapatilhas ou carteiras, do ato de deixar o carro em casa e caminhar, andar de bicicleta ou de transportes públicos, de cozinhar em vez de almoçar fora, de evitar comprar revistas e jornais diariamente, de diminuir o número de cafés por dia ou até parar de fumar. Sim, um mês sem cigarros é uma semana em muitos países do mundo. E arranjar um part-time extra se preciso for. Numa palavra, poupar para viajar.
Mais. Se todos os truques de poupança falharem, há sempre a possibilidade de se ir trabalhando em viagem, seja na receção de um hostel, às mesas de um restaurante, na apanha da fruta ou, melhor ainda, no ensino de línguas, em tarefas criativas ou em qualquer negócio ou tarefa passíveis de serem executados online e, por isso mesmo, onde a localização seja irrelevante – esteja no edifício de escritórios espelhado na capital ou numa cabana de praia nas Filipinas.
Não temos todos de gostar do desconforto dos autocarros birmaneses, do lixo espalhado pelas cidades indianas, do trânsito caótico das metrópoles asiáticas, da poluição desmedida das cidades chinesas, da comida sensaborona da Mongólia, do esforço físico de um trekking no Nepal, de passar 70 horas a bordo de um comboio russo, das noites mal dormidas no chão de uma tenda, do calor infernal do deserto do Sahara ou dos perigos da selva Amazónica, ou até do dolce fare niente de um tudo incluído em Varadero. Mas temos por obrigação deixar de encontrar desculpas para não sermos felizes.
Mais que dinheiro, é preciso vontade para tomar as decisões que permitam partir. Optar. Porque viajar não é coisa de ricos – e disso tenho eu a certeza.
Série de Crónicas DN – Verão 2013
- O país mais “perigoso” do mundo
- Os imprevistos em viagem
- A viagem como escola da vida
- É preciso coragem
- Viajar não é coisa de ricos
- A gastronomia em viagem
- Profissão: vagabundo
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