Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Viena, na Áustria, pela mão da Bárbara Figueira. A Bárbara tem 32 anos e está a viver e a trabalhar em Viena há cinco anos. Desafiei-a a partilhar as suas experiências na capital austríaca, bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Viena.
É um olhar diferente e mais rico sobre Viena – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 56º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
-
1
Em Viena com a Bárbara Figueira (entrevista)
- 1.1 Define Viena numa palavra.
- 1.2 Viena é uma cidade boa para viver e trabalhar? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Viena?
- 1.4 Como caracterizas os austríacos?
- 1.5 Como é um dia “normal” em Viena?
- 1.6 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Viena sem…”
- 1.7 Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Viena. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.8 A Áustria não é um destino barato. Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Viena?
- 1.9 Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Viena?
- 1.10 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.11 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Viena?
- 1.12 Escolhe um café e um museu.
- 1.13 Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Viena?
- 1.14 Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Viena? O que comprar?
- 1.15 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Viena; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Viena com a Bárbara Figueira (entrevista)
Define Viena numa palavra.
Completa.
Viena é uma cidade boa para viver e trabalhar? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Viena é completa porque tem tudo o que se possa procurar. Exceto mar, mas o rio acaba por ser um bom sítio para se nadar, apanhar sol e relaxar, no verão, e é um bom sítio para patinar quando congela, no inverno. A cidade tem uma beleza incrível nos edifícios, sendo muitos deles também belíssimos por dentro.
As condições de vida são ótimas. Os transportes públicos são baratos para quem é residente e funcionam com excelente frequência e pontualidade. As rendas não são exageradamente caras para o espaço disponível e a localização. Há cidades europeias onde o alojamento é bem mais problemático. O sistema de saúde é ótimo e quase todo coberto pelo Estado. O apoio social funciona muito bem (subsídio de desemprego, abono infantil, licença de maternidade, bolsas de estudo, etc).
Eu tinha visitado Viena uma vez antes de me mudar para cá e sempre achei desde o primeiro instante que queria viver aqui. Em cinco anos essa minha ideia ainda não se alterou. Talvez até tenha sido melhor do que imaginava.
E o que mais te marcou em Viena?
Já foram tantas as histórias que passei aqui que é difícil responder. Já fiz imensas coisas, conheci muitas pessoas, fui a muitas festas, aprendi a patinar, aprendi a esquiar (embora isso um pouco fora de Viena). São muito variadas as experiências para as quais despertei aqui e que nunca tinha experimentado antes.
Mas acho que é um pouco pessoal, nem toda a gente vive Viena da mesma maneira. Além de que há uma grande diferença entre viver cá e vir fazer turismo só por um ou dois dias.
Como caracterizas os austríacos?
Há de tudo: alguns mais fechados, outros com mais vontade de interação social e de “entrar na brincadeira” às vezes. A maior parte não gosta muito de falar inglês. Preferem soletrar alemão, quando percebem que és estrangeiro, em vez de mudar para inglês. É um povo muito conservador da língua e que valoriza o esforço que fazes para aprender alemão.
Não se pode dizer que não têm sentido de humor. De todo. Mas também não se pode esperar a mesma simpatia que há em Portugal, por exemplo nos cafés, supermercados, lojas, etc. Não consideram que o cliente é rei. Esperem um pouco de arrogância por parte dos vendedores e de outros empregados. Eles não têm, regra geral, a paciência dos portugueses nem a flexibilidade para ajudar ou adaptar situações; as coisas são como estão determinadas, com pouca margem para ajustes.
Festas de rua não são comuns, ou seja, não há tanta manifestação pública de alegria, mas são capazes de dar umas boas gargalhadas num café ou pub.
Como é um dia “normal” em Viena?
Trabalha-se, como em qualquer outra parte do mundo. Ou estuda-se. Ou procura-se emprego, que é o meu caso neste momento. Agora estou a fazer um curso financiado pelo serviço de emprego daqui. O sistema social funciona muito bem, a rede de apoio é gigante, não só a nível de benefícios económicos, como de aconselhamento e integração. Só não usufrui quem não quer.
Para quem vem fazer turismo, um dia normal será visitar as atrações no ring e, claro, quando sentirem frio, visitar os museus (a cidade deve ter, pelo menos, uns 200 museus) ou os palácios. É bastante comum ir patinar no gelo em frente à Rathaus (Câmara Municipal) no inverno, visitar o mercado de Natal, também lá, pela altura do advento ou então, nas noites de verão, montam lá um ecrã gigante, onde passam espetáculos – óperas, ballets, jogos de futebol importantes e outros eventos. E acaba por ser um ambiente romântico pois o edifício é em estilo gótico. Um serão típico, mesmo para os residentes, passa por ir assistir a uma ópera ou a um concerto de música clássica, que aqui são estilos muito apreciados.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Viena sem…”
Passear pelo ring e ver todas as atrações que há por lá; mas não esquecer também de visitar o Schönbrunn e o Belvedere, que são um pouco afastados do centro, pois só assim o conhecimento da cidade fica completo.
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Viena. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1
Sugiro reservar o primeiro dia para ficar a conhecer o máximo de atrações do Ring (abreviatura de Ringstrasse, a via que circunda toda a “cidade velha” ou o centro histórico de Viena): a Rathaus (a Câmara Municipal), o Burgtheater (o Teatro Nacional), o Volksgarden (o Jardim do Povo), a Maria Theresien Platz (a enorme praça que tem no centro a estátua da Imperatriz Maria Theresia), a Heldenplatz (a Praça dos Heróis), o Hofburg (o Palácio Imperial), a Staatsoper (a imponente Ópera de Viena), só para referir alguns pontos mais importantes. Podem também percorrer a Kärntner Strasse, a famosa rua pedonal e de comércio, que vai desde a Stephansplatz até à Staatsoper. E para acabar o dia, proponho uma ida à Praterstern para andar na roda gigante do Prater.
Dia 2
Para o segundo dia, sugiro atrações dentro de portas, como por exemplo visitar os museus Naturhistorisches e Kunsthistorisches Museum na Maria Theresien Platz. E à noite, nada como assistir a uma ópera, a um ballet, ou a um musical (caso não saibam alemão, verifiquem se têm legendas em inglês) se for Inverno. Ou então, se for Verão, é grande a probabilidade de estar a decorrer um festival na Rathaus.
Dia 3
No último dia, têm mesmo de sair um bocadinho do centro da cidade e ir conhecer os magníficos palácios de Schönbrunn e Belvedere, por fora e por dentro.
A Áustria não é um destino barato. Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Viena?
Para alojamento barato só me ocorre o Couchsurfing. A cidade é grande e há muitos membros registados no site pelo que não deverá ser muito difícil encontrar onde dormir. Para gostos mais requintados não há muito a fazer: os hotéis são caros. Talvez sejam mais baratos fora do centro; eu optaria por ficar aí desde que estivessem bem perto de uma estação do metro. E também há os hostels, claro, como em todo o lado, com as características habituais deste tipo de alojamento.
Para comer, o mais barato são os quiosques de rua que vendem salsichas e kebabs. Ou então as cadeias internacionais de fast food. Devem conseguir comer com cerca de 3-6€. Ainda em conta, mas um pouco mais caro, há o Centimeter, um restaurante com comida tradicional que se torna barato porque serve grandes porções. Uma dose de 15€ deve dar para 2 pessoas.
Também conseguem poupar algum dinheiro se comprarem o Vienna City Card (um cartão com um preço especial, que inclui entradas em vários museus).
Veja também o post sobre restaurantes baratos em Viena
Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Viena?
Na minha opinião, a gastronomia austríaca não é de fazer crescer água na boca, a nós, portugueses. As comidas são muito à base de fritos e com pouco tempero aromático. Há pouco peixe na alimentação e o que há é bastante caro.
Mas o melhor da gastronomia austríaca são os doces, particularmente os bolos do Café Central e do Café Landtmann. Esses valem bem a pena e são umas iguarias bastante curiosas. A famosa Sacher Torte não é nada de extraordinário, mas outros bolos com mousse de chocolate ou mousse de frutos da época (morangos, castanhas, etc) são divinais.
Sobre as comidas salgadas, eu acabei por me habituar mas precisei de algum tempo de adaptação. Agora até tolero alguns géneros de salsichas e a sopa de panquecas, por exemplo.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Ao Centimeter. Há vários restaurantes espalhados pela cidade. Servem porções generosas a preços acessíveis. Como dá normalmente para dividir por dois, acaba por ficar muito em conta. E tem bastante comida típica, como fritos e enchidos.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Viena?
Melhor, melhor é o primeiro distrito, ou seja, no centro de Viena. Mas com certeza é também mais caro. Como a rede de transportes públicos é ótima e a segurança na cidade não se põe em questão, podem ficar em qualquer lado. Ou melhor, desde que haja uma estação de metro a menos de três minutos a pé está ótimo. Rapidamente se põem no centro.
Escolhe um café e um museu.
- Café: Café Central.
- Museu: Museu de História da Arte (Kunsthistorisches Museum).
Veja também o post 5 Museus (imperdíveis) a visitar em Viena.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Viena?
Os bares em Viena estão, infelizmente, um pouco dispersos. A única zona com maior concentração de bares é o Gürtel, por baixo da linha castanha do metro U6. Aliás, o red light district de Viena também fica por essa zona, mas não é uma coisa muito visível, quase só é percebido por quem tiver realmente interesse em encontrar.
O site Couchsurfing tem imensos eventos em Viena, para viajantes mas não só. Quase todas as noites há um encontro publicado lá.
Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Viena? O que comprar?
As bolas de chocolate do Mozart são uma lembrança típica; depois, a maior parte dos museus e lojas de lembranças na Kärntner Strasse têm umas coisas engraçadas. Comprar roupa não aconselho. Há bastantes centros comerciais (enormes) e a Mariahilfer Strasse cheia de boutiques. Mas os preços não são nada apelativos. Talvez umas joias na Swarovski compensem, pois a fábrica é austríaca.
Veja também o post 3 lojas criativas onde fazer compras em Viena.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Viena; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
A Hundertwasserhaus, ou melhor ainda, o museu que lhe pertence. Não é uma coisa que se encontre todos os dias e é bem diferente do resto do estilo de Viena. É especial e próprio, por isso acho que é um segredo. E fez o meu estilo quando o visitei, sobretudo por ter ficado a saber mais da vida e da filosofia do criador.
Obrigado, Bárbara. Vemo-nos numa próxima viagem a Viena.
Guia prático
Onde ficar
Encontre hotéis de qualidade usando o link abaixo. Note que não há muitos hotéis baratos e centrais em Viena, pelo que recomendo reservar com alguma antecedência. Conheça também os melhores bairros para ficar em Viena.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Leia os relatos de outros Portugueses pelo Mundo - os seus testemunhos sobre viver no estrangeiro são de uma riqueza extraordinária.