Alma de Viajante

Blog de Viagens de Filipe Morato Gomes

  • Destinos A-Z
  • Portugal
  • Brasil
  • África
  • América
  • Ásia
  • Europa
  • Oceânia
Destino: Ásia » Indonésia » Java » Borobudur » Uma viagem no tempo nas aldeias de Borobudur (Pikitim #29)

Uma viagem no tempo nas aldeias de Borobudur (Pikitim #29)

Por Luísa Pinto | Atualizado em 26 Ago 2020 | Volta ao Mundo em Família Ásia Borobudur Indonésia Java Aldeias Deixe um comentário
Tempo de leitura: 8 minutos

Fazer cerâmica em Borobudur
Últimos retoques numa mini-stupa de barro

Andar de carroça, correr atrás das galinhas, brincar com os paus do caminho e dar de comer às cabras. A passagem da Pikitim por Borobudur, um lugar tão enigmático quanto envolvente, vai ficar ligada às coisas simples da vida numa aldeia de outros tempos. E aos dois novos amigos que a acolheram de braços abertos, Latif e Najwa – porque não é preciso falar a mesma língua para duas crianças se entenderem. Uma viagem no tempo… e um monumento surpreendente.

É um dos lugares mais visitados de toda a Indonésia, e o interesse por Borobudur está plenamente justificado. É o maior monumento budista de toda a Ásia, no maior país muçulmano do planeta. Mas o mais surpreendente acaba mesmo por ser a arquitetura de Candi Borobudur, uma gigantesca stupa localizada num local incrivelmente fértil, entre dois vulcões e dois rios. Com Angkor Wat, no Camboja, e os templos de Bagan, em Myanmar, o monumento de Borobudur completa a trilogia dos mais espetaculares monumentos do sudeste asiático.

Calhou visitarmos Borobudur numa altura em que decorria uma convenção anual que juntava cerca de duzentos budistas de todo o mundo. A coincidência acabou por se revelar vantajosa, apesar de um percalço inicial: o alojamento que havíamos marcado com meses de antecedência estava, afinal, fruto de um engano, sobrelotado. Para resolver o overbooking, acabámos alojados numa casa longe da vila, no coração de Jowahan, uma das muitas aldeias que circundam o monumento de Borobudur. E ainda bem que assim foi.

Crianças numa aldeia de Borobudur
A Pikitim e Latif alimentam cabras na aldeia onde nos alojámos, perto de Borobudur

Fomos recebidos por Dewi, funcionária e vizinha da casa Omahe Simbok (que em bahasa quer dizer “casa da mãe”), de braços abertos e inglês muito curto. Os adultos tiveram mais dificuldades em comunicar entre si do que a Pikitim e os dois filhos de Dewi, os pequenos Latif, de 4 anos, e Najwa, de dois anos e meio. Então passámos a comunicar por gestos, e, mesmo assim, nem sempre com sucesso.

Num ápice, a Pikitim e o pequeno Latif tornaram-se inseparáveis, e as brincadeiras que então faziam eram tão simples quanto enternecedoras. Durante um par de dias, correr atrás das galinhas à solta foi o passatempo preferido, mas esticar o braço com ramos de árvores para alimentar as cabras ou apanhar os paus da rua para fazer desenhos na estrada de terra batida também tinham muito sucesso na Pikitim-versão-criança-de-aldeia. Era com as mais simples das brincadeiras que eles melhor se entendiam. E isso deixava-nos naturalmente felizes.

Produzir tofu, Borobudur
Fazendo tofu na aldeia de Tanjung Sari, próximo de Borobudur

Num fim de tarde, após ter estado em casa (quatro paredes de tijolo com um telhado e nenhum mobiliário) dos seus novos amigos a brincar, a Pikitim disse que tinha visto Najwa a tomar banho e que a casa de banho era “engraçada”, porque “não tem porta, só tem um quadrado no chão”, e porque “a água não está na torneira, mas num rio que passa ao lado”. E concluiu, numa sinceridade desarmante: “aquela água deve estar fria, mas a Najwa não faz fitas, como eu, quando não há água quente”. Foi mais um contacto com miúdos bem menos afortunados do que ela – e felizmente ela notou.

Na verdade, toda a estadia em Borobudur foi uma espécie de viagem no tempo. Os passeios pelas aldeias eram feitos de bicicleta ou em carroças puxadas por cavalos. E as próprias aldeias pareciam estar organizadas como os antigos bairros de operários medievais. Os artesãos de cerâmica de um lado, na aldeia de Nglipoh; os produtores de tofu de outro, em Tanjung Sari; os que fazem noodles de arroz numa outra aldeia mais adiante.

A Pikitim viu com toda a atenção a forma como um artesão culinário de aspeto franzino e sorridente fazia mais de 70 kg de tofu por dia, de tal modo que passou os dias seguintes a desenhar complexas “máquinas de fazer esparguete, pão e pizzas” saídas da sua fértil imaginação.

E adorou pôr as mãos no barro, quando foi desafiada a fazer algumas peças de artesanato improvisadas: uma taça e uma stupa em miniatura. “Parece mais fácil do que é, mãe, mas na verdade eu até tenho mais jeito do que tu”, dizia ela, não sem ponta de verdade.

A Pikitim a fazer a sua stupa de barro

Foram dias de descoberta e de desfrute, com inúmeros passeios a pé, de carroça ou bicicleta envoltos numa paisagem muito apreciada pelos pais: os arrozais. Talvez por nos ouvir falar tanto nisso, a Pikitim parece que começa a notar também este tipo de beleza. “Os arrozais são mesmo bonitos, não são?”, dizia, fosse com sinceridade ou apenas para nos agradar.

Com tantas brincadeiras, atividades e passeios, e também para evitar as enchentes de fim de semana agravadas pela convenção de budistas, acabámos por visitar o monumento classificado como Património Mundial apenas no último dia da nossa estadia na vila. E quis o acaso que visitássemos Borobudur numa altura em que havia dezenas de budistas em oração, adensando o clima de espanto e espiritualidade que, inevitavelmente, ali se sente.

Borobudur
Grupo de peregrinos no monumento de Borobudur, classificado como Património Mundial

A Pikitim olhava-os, boquiaberta, acompanhando visualmente a peregrinação circular que iam fazendo monumento acima, enquanto entoavam cânticos ou rezavam. “O que é que estão a dizer?”, perguntava. E tínhamos de responder que não fazíamos a mínima ideia, mas que deviam estar a rezar, isto é, a “conversar com Deus” (como é que se explica isto a uma criança de cinco anos?).

Ao fim de quase três meses de viagem, a diversidade de religiões e culturas que têm desfilado perante a Pikitim continuam a ser encaradas com naturalidade, sem que ela chegue a perceber o que é o céu, o paraíso ou o nirvana. Diz que os muçulmanos “tapam a cabeça”, que as hindus trazem “pintas na testa” e nos templos têm “pessoas com três cabeças e quatro braços” (numa alusão às figuras de Brahma, Shiva e Vishnu), e que os budistas andam com “lençóis amarrados ao corpo” e fazem “ruínas com estátuas de senhores sentados”. É delicioso!

Visitar Borobudur
Observando os magníficos baixos-relevos de Borobudur

Esta simplicidade infantil permite-lhe reduzir a um simples conto os fantásticos e intricados relevos que preenchem os pisos inferiores da stupa. “É a história da rainha Maia, que queria muito ter filhos, mas não conseguia; até que um dia sonhou que tinha um elefante branco na barriga, e depois estava grávida mesmo”, resumia ela ao pai a história que acabara de ouvir, minutos antes, pela boca de estudantes feitos guias turísticos voluntários para praticar o inglês. “Tu estavas a tirar fotografias e não ouviste. Mas aqui é a rainha Maia a ir a casa da sua mãe para ter o bebé, e ali [o relevo seguinte] é o bebé a nascer no meio do caminho”, concluiu, entusiasmada. O bebé era a figura de Siddharta, que muitos acreditam ter conseguido atingir o Nirvana.

Era uma delicia ver a Pikitim interessada nos baixos-relevos, a querer subir a stupa até ao topo, a desfrutar plenamente do magnífico monumento de Borobudur, antes de voltar ao seu pequeno paraíso terrestre, rodeada de terra, galinhas e cabras na companhia de Latif e Najwa. “Nirvana? Não percebo nada disso”.

Guia prático

Onde ficar

Não tenho qualquer dúvida de que o melhor sítio para ficar em Borobudur é o Rumah Dharma (aliás, o hotel só por si já valeria a viagem). Foi entretanto criado o Rumah Dharma 2 Riverside, que não conheço, mas acredito ser igualmente maravilhoso.

De resto, o alojamento em Borobudur é barato e há projetos hoteleiros de grande qualidade que merecem ser referidos. Desde logo, o elegante Amata Borobudur Resort (conforto a preço acessível); mas também unidades hoteleiras mais baratas como as acolhedoras Efata Homestay, Omah Garengpoeng, Jaswan Inn e Janur Bungalow – todas com boa relação qualidade/preço e elogiadas pelos hóspedes.

Se é luxo que procura, dificilmente encontrará melhor do que o sumptuoso Plataran Borobudur. Não fiquei lá a dormir, mas os hóspedes dizem maravilhas! Como vê, não faltam excelentes hotéis em Borobudur, especialmente de cariz tradicional – veja todas as opções no link abaixo.

Pesquisar hotéis em Borobudur

Seguro de viagem

A World Nomads oferece um dos melhores e mais completos seguros de viagem do mercado, recomendado pela National Geographic e pela Lonely Planet. Outra opção excelente e mais barata é a IATI Seguros (tem um seguro para COVID-19), que não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. São os seguros que uso nas minhas viagens.

Fazer seguro na World Nomads (código FMGOME5)

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas em 2012 na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o post intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Saiba mais sobre: Volta ao Mundo em Família Ásia Borobudur Indonésia Java Aldeias

Planeie a sua próxima viagem

A melhor forma de ajudar o Alma de Viajante a manter-se sem anúncios e continuar a inspirar e a dar dicas de viagens gratuitamente é usando os links disponibilizados neste artigo para fazer as suas reservas. Nomeadamente:

Procure os melhores voos no Skyscanner. Nos resultados da pesquisa, escolha de preferência a própria companhia aérea.

Reserve um hotel em Borobudur e aproveite as promoções do booking (é onde eu faço a maioria das minhas reservas).

E não se esqueça de fazer um seguro de viagem na IATI Seguros (5% de desconto usando este link) ou, em alternativa, na World Nomads (5% de desconto usando o código FMGOME5). Eu nunca viajo sem seguro.

Por fim, poupe centenas de euros em taxas bancárias usando um cartão Revolut ou TransferWise. Eu uso ambos nas minhas viagens.

Deixe uma resposta Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Em caso de dúvida, leia a política de comentários do blog.

Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 50 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Assine a newsletter e receba o livro da minha primeira volta ao mundo gratuitamente (está esgotado nas livrarias).

Temas

  • Roteiros
  • Património UNESCO
  • Hotelaria
  • Gastronomia
  • Fotografia
  • Trekking
  • Praias

Artigos mais populares

  • 25 viagens que quero fazer até 2030
  • Como cancelar viagens
  • Não tenhas medo de viajar sozinho
  • Como comprar voos baratos
  • Roteiro de viagem no Japão
  • Roteiro em Portugal
  • Passadiços do Paiva
  • Aldeias do Xisto da Serra da Lousã
  • Roteiro de viagem em Malta
  • Onde ficar em Malta
  • Guia de praias de Maiorca
  • Onde ficar em Maiorca
  • Onde ficar em Londres
  • Onde ficar em Bruxelas
  • Onde ficar em Lisboa
  • Onde ficar no Porto
  • Revolut, um cartão (quase) sem taxas
  • Voos low cost
  • Viajar com crianças
  • Como criar um blog de viagens

Borobudur

Pesquise os melhores voos no Skyscanner

Reserve um hotel em Borobudur ao melhor preço (veja as promoções).

Peça o seu cartão Revolut e poupe nas taxas bancárias.

Faça um seguro de viagem na IATI Seguros (5% de desconto usando este link) ou na World Nomads (5% de desconto com o código FMGOME5).

Sobre

Alma de Viajante é um blog de viagens sob o mote “Viajar. Partilhar. Inspirar.”, onde partilho de forma pessoal e intimista as minhas viagens pelo mundo. O objetivo é “descomplicar” e inspirar mais gente a viajar como forma de enriquecimento pessoal. Há também guias, roteiros e dicas para o ajudar a viajar. Note que sou um blogger de viagens, não um operador turístico. Saiba mais sobre o Alma de Viajante.

Política editorial

Alma de Viajante é um blog completamente independente. Nenhum eventual parceiro tem qualquer influência no conteúdo editorial publicado e só recomendo aquilo que uso nas minhas viagens. Conheça a minha política editorial e comercial.

Contactos · Na imprensa · Prémios

Explore o blog

  • Comece aqui
  • Artigos de viagens
  • Inspiração
  • Planear viagens
  • Blogging
  • Notícias

Grandes viagens

  • Volta ao Mundo
  • Diário da Pikitim
  • Do Cairo a Teerão

Os meus convidados

  • Portugueses pelo Mundo
  • Viagens na Minha Terra

Redes sociais

Mais de 250.000 pessoas viajam com Alma de Viajante nas principais redes sociais. Junte-se a esta comunidade de amantes de viagens, assine a newsletter e inspire-se com as minhas aventuras em destinos de todo o mundo.

Blog fundador da ABVP

ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses

Copyright © 2021 Alma de Viajante · Um blog de viagens com roteiros, dicas e muita inspiração para viajar mais e melhor · Jornalismo de viagens